Vivir es muy peligroso: Mesiânicos y cangaceiros em los sertones brasileños – DOESWIJK (PL)

A historiografia das rebeldias no campo brasileiro nas primeiras décadas republicanas não tem repercutido como deveria no mundo de língua hispânica, especialmente por conta das proximidades históricas e sociais entre as experiências rurais na América Latina. De certa forma, o livro de Andreas Doeswijk, professor da cátedra de História Americana (séculos XIX e XX), na Universidade de Comahue, na província de Neuquén (Argentina), pode suprir essa insuficiência e contribuir para o avanço do intercâmbio entre as historiografias nacionais latino-americanas, como atestam as aproximações por ele sugeridas entre as obras de Euclides da Cunha e Domingo Faustino Sarmiento para se pensar as respectivas nações do Cone Sul. Leia Mais

Canudos: novas trilhas / Roberto N. Dantas

DANTAS Roberto Nunes Canudos
Roberto Nunes Dantas / Foto: TV Uneb /

DANTAS R N Canudos novas trilhas CanudosLivro e vídeo Canudos: novas trilhas foram lançados em Sergipe, ano passado. Ambos, resultado do projeto “Cenários e Caminhos Históricos da Guerra de Canudos: Novas Trilhas” coordenado pelo professor Roberto Dantas, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), com o patrocínio da Petrobrás. Por uma feliz coincidência, veio da Bahia, Estado adotado por José Calasans Brandão da Silva, aracajuano falecido em 28 de maio de 2001, que era um grande, senão um dos mais competentes pesquisadores da Guerra de Canudos. Na década de 1950, Calasans revolucionou a interpretação do conflito ocorrido no sertão baiano em 1896/1897, propondo sua releitura a partir do folclore, da oralidade dos sobreviventes e de outras fontes alternativas a obra euclidiana, Os Sertões, de 1902.

Assim, no decênio da morte de José Calasans, assistimos a estréia de uma perspectiva inovadora na cartografia da maior guerra civil da História do Brasil. Do que estamos falando? “Canudos: Novas Trilhas” desvela o trajeto das quatro expedições militares que marcharam para destruir o Arraial do Belo Monte, em Canudos. Em resumo: Primeira Expedição, comandada pelo tenente Manoel da Silva Pires Ferreira, reuniu efetivo de 110 homens e partiu de Juazeiro; Segunda Expedição, comandada pelo major Febrônio de Brito, reuniu efetivo de 561 homens e partiu de Monte Santo; Terceira Expedição, coordenada pelo comandante Moreira Cesar, com efetivo de 1200 homens, partiu das bases de Queimadas e Monte Santo; Quarta Expedição, teve o comando do General Artur Oscar de Andrade Guimarães e reuniu batalhões de 16 estados, quase 10.000 homens, seguindo para Canudos em duas colunas, uma saindo de Monte Santo, outra de Aracaju, Sergipe.

O mérito do projeto vertido em livro “Canudos: Novas Trilhas” foi o de mapear trilhas e lugares de bivaque, estada das tropas, a partir dos documentos e obras de referência. Mas o trabalho não foi realizado somente no Arquivo do Exército, Biblioteca Nacional, Núcleo Sertão – UFBA, CEEC (Centro de Estudos Euclydes da Cunha – UNEB) dentre outros; a equipe foi a campo e, ao passo que produzia aos registros imagéticos (áudios-visuais e fotográficos) empreendeu ao georeferenciamento dos antigos caminhos, desbravando a caatinga, enfrentando alagados, cercas, cancelas, entrevistando e cooptando guias. Dessa forma, visando cumprir seus intentos, o projeto incorporou o geoprocessamento, ou seja, a área do conhecimento que surgiu em meados do século XX e utiliza técnicas matemáticas e computacionais para tratamento da informação geográfica. E assim, combinando dados do Sistema de Informação Geográfica (GIS) e do receptor GPS (Sistema Global de posicionamento), chegou ao produto ora resenhado.

A execução do projeto permitiu ratificar o que dizem as fontes documentais e cartográficas do século XIX; retificar lugares a partir do georefenciamento e dos testemunhos coletados e, ainda, suscitar temas atinentes ao assunto. Sobre último ponto, oportuno tratar da passagem por Sergipe da chamada Coluna Savaget.

A partir do dia 27 de abril de 1897, a Coluna Savaget reuniu em Aracaju seis batalhões (12º, 26º, 32º, 33º, 34º e 35º), iniciando a marcha no dia 22 de maio. Na capital sergipana os batalhões se arrancharam no mercado, no quartel de 1º Linha e no 26º Batalhão. Em São Cristóvão uma parte aquartelou-se no Convento São Francisco, a outra, na Colônia de Patrimônio. A principal polêmica em debate foi quanto à localização da Colônia de Patrimônio. Alguns autores afirmam que o antigo Engenho Patrimônio, onde foi implantada a dita colônia, funcionou no atual Centro de Ensino Técnico Federal de São Cristóvão (IFES). Outros asseveram que a Colônia de Patrimônio funcionou na Tebaída, mais precisamente na fazenda onde religiosos fundaram a Escola Salesiana, em 1902. Mesmo oferecendo as duas opções para análise dos pesquisadores, a última probabilidade agiganta-se diante de nossos estudos e reflexões.

Tópico referente a São Cristóvão, que poderíamos suscitar, independente de não figurar na obra, é a localização do sobrado do Capitão Antônio Miguel do Prado.

Nele, o general Savaget, juntamente com Serra Martins e “todo o Estado-Maior” ficou hospedado. O imóvel não foi identificado e os atuais proprietários de sobrados na cidade desconhecem o fato.

Quanto ao alojamento das tropas no Convento São Francisco, um incêndio ficou registrado do Livro de Tombo paroquial. Consta que o acidente ocorreu por descuido de um soldado ali aquartelado e não fosse o socorro da comunidade ganharia dimensão catastrófica.

Não se deixe enganar, leitor, com o subtítulo “novas trilhas”. A novidade do trabalho se acha no equipamento utilizado para acender as antigas trilhas que conduziram as tropas a Canudos. O projeto revelou a impossibilidade de fazer das trilhas de Canudos um roteiro turístico, como propôs José Calasans em 1996, na conferência ministrada no Encontro de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Cercas e cancelas foram transpostas pela equipe visando efetivar a missão. Por uma questão interdisciplinar e salutar para sustentabilidade da ação de extensão universitária, Fernanda Groba e Débora Menezes propuseram então o Roteiro Turístico Sertanejo que terá na cidade de Monte Santo base de explorações de conhecimento.

O texto de parágrafos longos, coesos e rebuscados constitui um item positivo. Apenas um esclarecimento deve servir para sua reedição: “exagerado numerário do efetivo” (p. 46); dicionário explica que numerário é “moeda, respeitante a dinheiro”, (p. 1422).

Georeferenciados os caminhos e lugares que demandaram o antigo Arraial do Belo Monte; definido e planejado o piloto do Roteiro Turístico Sertanejo, sediado em Monte Santo, a obra encerra a pauta e etapa do projeto cultural. Rodrigo Moate observa que “geograficamente, a Guerra de Canudos foi um dos conflitos de grande dimensão territorial” (p. 62), aproveito para sugerir, na órbita da cartografia canudense, o rastro do beato Antônio Conselheiro enquanto etapa a vencer no próximo esforço. O Conselheiro peregrinou pelos sertões do Ceará, Sergipe e Bahia, tendo arrebanhado fiéis por onde passou. Então? Vida longa ao projeto Caminhos e Cenários da Guerra de Canudos: novas trilhas!

José Thiago da Silva Filho – Especialista em História Cultural pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), sócioefetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), membro do Grupo de Estudos História Popular do Nordeste (GEHPN/CNPq), diretor do Museu Histórico de Sergipe (MHS/Secult). E-mail: [email protected]


DANTAS, Roberto Nunes (Coord.). Canudos: novas trilhas. Salvador, 2011. Resenha de: SILVA FILHO, José Thiago. Embornal, Fortaleza,v.2, n.3, p.1-2, 2011. Acessar publicação original. [IF].

O sertão prometido: o massacre de Canudos | Robert Levine

Resenhista

Candice Vidal e Souza – Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília.

Referências desta Resenha

LEVINE, Robert. O sertão prometido: o massacre de Canudos. São Paulo: Edusp, 1995. Resenha de: SOUZA, Candice Vidal e. História Revista. Goiânia, v.2, n.2, p.183-189, jul./dez.1997. Acesso apenas pelo link original [DR]