Palm Oil Diaspora: Afro-Brazilian Landscapes and Economies on Bahia’s Dendê Coast | Case Watkins

Quando turistas ou moradores locais conceituam a Bahia, o azeite de dendê representa uma gama diversificada de significados sociais. Como muitos acadêmicos têm observado, o estado da Bahia e a cidade de Salvador (muitas vezes simplesmente referida como Bahia) são considerados os pináculos da autenticidade africana que continuam alimentando práticas religiosas, gastronômicas, culturais e sagradas. Dentro destes repertórios sociais, o azeite de dendê é central. O dendê é parte fundamental das obrigações religiosas dos praticantes das religiões de matriz africana (principalmente do Candomblé), e é um ingrediente essencial nos alimentos sagrados e profanos da Bahia, incluindo acarajé, moqueca e vatapá. Além dessas práticas, as práticas da linguagem cotidiana reforçam a forte associação entre o dendê e a Bahia. Como observa Watkins, “dizer que algo é ‘do dendê’ é qualificá-lo como absolutamente baiano e com conexões fundamentais com a África e sua diáspora” (p. 7). Um dos objetivos deste livro é discutir como esta associação veio a ser e persiste para habitantes locais, brasileiros e mundiais. Leia Mais

Encontros e desencontros de lá e de cá do Atlântico: mulheres Africanas e Afro-brasileiras em perspectiva de gênero / Patrícia G. Gomes e Claudio A. Furtado

GOMES Patricia Godinho Mulheres africanas
Patrícia Godinho Gomes / Foto: Elaine Schmitt – UFSC Notícias /

GOMES P e FURTADO C Encontros e desencontros de la e de ca do Atlantico Mulheres africanasEm um breve ensaio na introdução é apresentada a ideia de modernidade, acentuada no desenvolvimento do capitalismo e na industrialização. Esta faz com que transformações socioculturais e de categorias como as de gênero e raça derivem de fundamentos sociais euro-peus, influenciando em desigualdades e estratificações sociais. Destaca-se uma cronologia dos estudos e temas publicados sobre mulheres e relações de gênero, representando seus impasses, como a predominância de textos escritos por homens e a partir de seus olhares, mas também o crescimento significativo da produção literária sobre mulheres africanas e a partir de suas perspectivas. Quanto ao Brasil, mostra-se dados em relação ao período da escravidão e o peso da visão machista e eurocêntrica sobre eles, como o ideal do colonizador sobre o colonizado. Por isso, a importância de uma literatura produzida sobre as lutas das mulheres negras no Bra-sil, fazendo com que conceitos de raça e gênero sejam considerados intrínsecos, “insepará-veis”.

No primeiro capítulo, “De emancipadas a invisíveis: as mulheres guineenses na produ-ção intelectual do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas”, a autora Patrícia Godinho Go-mes apresenta um breve excursus teórico de Houtondji e Oyèwùmi e a questão dos estudos sobre mulheres e gênero, no qual destaca a origem da produção deste conhecimento e seus principais destinatários. No processo de independência de Guiné-Bissau, em 1973, a partici-pação das mulheres constituiu-se em um elemento-chave para seu desenvolvimento do pro-cesso, tanto externo como interno. Porém, a importância das mesmas é inviabilizada nos dis-cursos, como discutido no diálogo apresentado entre dois intelectuais guineenses- Carlos Lo-pes e Diana Lima Handem, que debatem temas como patriarcado, subalternização e relações de gênero e mercado de trabalho. É abordada a ausência de mulheres na produção intelectual do INEP, juntamente com a de temas sobre as mesmas, dando destaque às atitudes de alguns órgãos como A União Democrática das Mulheres Guineenses (Udemu) em relação a isto. Leia Mais

Coleção Arquitetura Moderna na Bahia | Nivaldo Vieira de Andrade

O arquiteto Nivaldo Vieira de Andrade Júnior enriquece a fortuna crítica da história da arquitetura brasileira com os cinco volumes da Coleção Arquitetura Moderna na Bahia (1947-1951), os quais devem ser apreciados com vigoroso reconhecimento. Os principais personagens e processos de configuração da arquitetura na cena mítica do Movimento Moderno são os focos desse exemplar estudo de Andrade Junior, o jovem presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil que é, também, professor da Universidade Federal da Bahia. Representante da nova geração de “arquitetos de projeto” que são, ao mesmo tempo, teóricos e historiadores da arquitetura, o autor aborda a complexidade do Modernismo em primorosa coletânea autoral.

A Coleção recorta e desdobra uma história da nossa arquitetura modernista que, idealizada, corria sem amarras, ou seja, “deitava o cabelo”. Particular interesse tem o reconhecimento e o diálogo transformador que Andrade Júnior impõe ao que define de “obras canônicas”. Ao denominar alguns dos roteiros sacralizados que tratam do Movimento Moderno brasileiro, ele utiliza estratégia sutil, pois a Coleção anuncia o propósito de romper com as regras que foram estabelecidas “a contrapelo” das realidades regionais. Portanto, na Coleção de Andrade Júnior, Objeto e Sujeito fundem História e Memória para trazer à cena elementos inéditos. Leia Mais

Salvador e os descaminhos do plano diretor de desenvolvimento urbano. Construindo novas possibilidades | Hortênsia Gomes, Ordep Serra e Débora Nunes

Aprovado em 2016, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – PDDU de Salvador (1) é, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Cidade (2), o dispositivo legal e de planejamento urbano que balizará o ordenamento e a produção do espaço urbano soteropolitano pelos próximos anos. Este plano é parte do Plano Salvador 500, plano estratégico que buscaria “materializar uma visão transformadora do futuro da cidade até o horizonte de 2049, quando a cidade completará 500 anos de sua fundação” (3). Fez parte desse processo também a revisão da Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo do Município de Salvador – Louos (4), ou seja, esse plano estratégico englobou a revisão de dois fundamentais instrumentos de política urbana para o desenvolvimento urbano da cidade.

Dada a importância do Pddu e das questões que o atravessam, é fundamental que nos debrucemos sobre ele para entendermos o que está em jogo, não apenas em sua redação final, mas também com relação às disputas travadas no processo de sua elaboração, às conquistas, aos impasses e aos potenciais prejuízos à coletividade. A isto se propõe o livro Salvador e os descaminhos do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano: construindo novas possibilidades, organizado por Hortênsia Gomes Pinho, Ordep Serra e Débora Nunes e publicado pela Edufba. Os organizadores são importantes figuras no debate acerca da questão urbana na cidade. Hortênsia Pinho é Promotora de Justiça de Habitação e Urbanismo do Ministério Público da Bahia, Ordep Serra é cientista social e professor da pós-graduação em Antropologia da UFBA e Débora Nunes é arquiteta e urbanista, professora do curso de Urbanismo da Uneb. Leia Mais

Atas da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição da Praia (1869 a 1879) e da Irmandade Nossa Senhora do Rosario, São Benedicto e Sant’Anna (1933) | Alícia Duhá Lose e Vanilda Salignac Mazzoni || Manuscritos do antigo Recolhimento dos Humildes: documentos de uma história |Alícia Duhá Lose e Vanilda Salignac Mazzoni

O escritor malês Amadou Hampâté Bâ enfatiza, em uma frase já conhecida, o aspecto efêmero da cultura oral e a importância de sua conservação: “cada vez que um ancião morre na África, uma biblioteca é incendiada”. Entretanto, também o registro escrito possui suas dificuldades. Crer que ele, por si só, pode perpetuar conhecimentos e informações é uma falácia; quando registrado em texto escrito, o conhecimento existe em estado latente. Na era da informação, em que o acesso e o armazenamento digital se tornaram lugar comum, talvez não se calcule a importância do exercício da Filologia para o resgate da história social brasileira. Tal lacuna é preenchida por trabalhos como os dois volumes aqui apresentados, pertencentes à série Uma história escrita à mão.

A própria relevância dos documentos fornecidos, cujos pormenores serão abordados nas páginas seguintes, e as pesquisas realizadas sobre o contexto no qual se inserem justificam a leitura, pois são registros de valor inestimável que retratam a história social da Bahia e que podem servir a pesquisadores de áreas tão variadas como a Teologia, a História e a Sociologia. Contudo, as autoras não se limitam a fornecer as edições, pois os volumes possuem capítulos introdutórios que narram os percalços de um amplo e meticuloso trabalho filológico, mostrando as diversas áreas que tiveram de ser desbravadas para disponibilizar os documentos ao grande público. Consequentemente, a publicação realça a importância e a urgência do trabalho filológico para a preservação e disseminação de documentos, bem como sua vocação multidisciplinar. Leia Mais

Canudos: novas trilhas / Roberto N. Dantas

DANTAS Roberto Nunes Mulheres africanas
Roberto Nunes Dantas / Foto: TV Uneb /

DANTAS R N Canudos novas trilhas Mulheres africanasLivro e vídeo Canudos: novas trilhas foram lançados em Sergipe, ano passado. Ambos, resultado do projeto “Cenários e Caminhos Históricos da Guerra de Canudos: Novas Trilhas” coordenado pelo professor Roberto Dantas, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), com o patrocínio da Petrobrás. Por uma feliz coincidência, veio da Bahia, Estado adotado por José Calasans Brandão da Silva, aracajuano falecido em 28 de maio de 2001, que era um grande, senão um dos mais competentes pesquisadores da Guerra de Canudos. Na década de 1950, Calasans revolucionou a interpretação do conflito ocorrido no sertão baiano em 1896/1897, propondo sua releitura a partir do folclore, da oralidade dos sobreviventes e de outras fontes alternativas a obra euclidiana, Os Sertões, de 1902.

Assim, no decênio da morte de José Calasans, assistimos a estréia de uma perspectiva inovadora na cartografia da maior guerra civil da História do Brasil. Do que estamos falando? “Canudos: Novas Trilhas” desvela o trajeto das quatro expedições militares que marcharam para destruir o Arraial do Belo Monte, em Canudos. Em resumo: Primeira Expedição, comandada pelo tenente Manoel da Silva Pires Ferreira, reuniu efetivo de 110 homens e partiu de Juazeiro; Segunda Expedição, comandada pelo major Febrônio de Brito, reuniu efetivo de 561 homens e partiu de Monte Santo; Terceira Expedição, coordenada pelo comandante Moreira Cesar, com efetivo de 1200 homens, partiu das bases de Queimadas e Monte Santo; Quarta Expedição, teve o comando do General Artur Oscar de Andrade Guimarães e reuniu batalhões de 16 estados, quase 10.000 homens, seguindo para Canudos em duas colunas, uma saindo de Monte Santo, outra de Aracaju, Sergipe.

O mérito do projeto vertido em livro “Canudos: Novas Trilhas” foi o de mapear trilhas e lugares de bivaque, estada das tropas, a partir dos documentos e obras de referência. Mas o trabalho não foi realizado somente no Arquivo do Exército, Biblioteca Nacional, Núcleo Sertão – UFBA, CEEC (Centro de Estudos Euclydes da Cunha – UNEB) dentre outros; a equipe foi a campo e, ao passo que produzia aos registros imagéticos (áudios-visuais e fotográficos) empreendeu ao georeferenciamento dos antigos caminhos, desbravando a caatinga, enfrentando alagados, cercas, cancelas, entrevistando e cooptando guias. Dessa forma, visando cumprir seus intentos, o projeto incorporou o geoprocessamento, ou seja, a área do conhecimento que surgiu em meados do século XX e utiliza técnicas matemáticas e computacionais para tratamento da informação geográfica. E assim, combinando dados do Sistema de Informação Geográfica (GIS) e do receptor GPS (Sistema Global de posicionamento), chegou ao produto ora resenhado.

A execução do projeto permitiu ratificar o que dizem as fontes documentais e cartográficas do século XIX; retificar lugares a partir do georefenciamento e dos testemunhos coletados e, ainda, suscitar temas atinentes ao assunto. Sobre último ponto, oportuno tratar da passagem por Sergipe da chamada Coluna Savaget.

A partir do dia 27 de abril de 1897, a Coluna Savaget reuniu em Aracaju seis batalhões (12º, 26º, 32º, 33º, 34º e 35º), iniciando a marcha no dia 22 de maio. Na capital sergipana os batalhões se arrancharam no mercado, no quartel de 1º Linha e no 26º Batalhão. Em São Cristóvão uma parte aquartelou-se no Convento São Francisco, a outra, na Colônia de Patrimônio. A principal polêmica em debate foi quanto à localização da Colônia de Patrimônio. Alguns autores afirmam que o antigo Engenho Patrimônio, onde foi implantada a dita colônia, funcionou no atual Centro de Ensino Técnico Federal de São Cristóvão (IFES). Outros asseveram que a Colônia de Patrimônio funcionou na Tebaída, mais precisamente na fazenda onde religiosos fundaram a Escola Salesiana, em 1902. Mesmo oferecendo as duas opções para análise dos pesquisadores, a última probabilidade agiganta-se diante de nossos estudos e reflexões.

Tópico referente a São Cristóvão, que poderíamos suscitar, independente de não figurar na obra, é a localização do sobrado do Capitão Antônio Miguel do Prado.

Nele, o general Savaget, juntamente com Serra Martins e “todo o Estado-Maior” ficou hospedado. O imóvel não foi identificado e os atuais proprietários de sobrados na cidade desconhecem o fato.

Quanto ao alojamento das tropas no Convento São Francisco, um incêndio ficou registrado do Livro de Tombo paroquial. Consta que o acidente ocorreu por descuido de um soldado ali aquartelado e não fosse o socorro da comunidade ganharia dimensão catastrófica.

Não se deixe enganar, leitor, com o subtítulo “novas trilhas”. A novidade do trabalho se acha no equipamento utilizado para acender as antigas trilhas que conduziram as tropas a Canudos. O projeto revelou a impossibilidade de fazer das trilhas de Canudos um roteiro turístico, como propôs José Calasans em 1996, na conferência ministrada no Encontro de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Cercas e cancelas foram transpostas pela equipe visando efetivar a missão. Por uma questão interdisciplinar e salutar para sustentabilidade da ação de extensão universitária, Fernanda Groba e Débora Menezes propuseram então o Roteiro Turístico Sertanejo que terá na cidade de Monte Santo base de explorações de conhecimento.

O texto de parágrafos longos, coesos e rebuscados constitui um item positivo. Apenas um esclarecimento deve servir para sua reedição: “exagerado numerário do efetivo” (p. 46); dicionário explica que numerário é “moeda, respeitante a dinheiro”, (p. 1422).

Georeferenciados os caminhos e lugares que demandaram o antigo Arraial do Belo Monte; definido e planejado o piloto do Roteiro Turístico Sertanejo, sediado em Monte Santo, a obra encerra a pauta e etapa do projeto cultural. Rodrigo Moate observa que “geograficamente, a Guerra de Canudos foi um dos conflitos de grande dimensão territorial” (p. 62), aproveito para sugerir, na órbita da cartografia canudense, o rastro do beato Antônio Conselheiro enquanto etapa a vencer no próximo esforço. O Conselheiro peregrinou pelos sertões do Ceará, Sergipe e Bahia, tendo arrebanhado fiéis por onde passou. Então? Vida longa ao projeto Caminhos e Cenários da Guerra de Canudos: novas trilhas!

José Thiago da Silva Filho – Especialista em História Cultural pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), sócioefetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), membro do Grupo de Estudos História Popular do Nordeste (GEHPN/CNPq), diretor do Museu Histórico de Sergipe (MHS/Secult). E-mail: [email protected]


DANTAS, Roberto Nunes (Coord.). Canudos: novas trilhas. Salvador, 2011. Resenha de: SILVA FILHO, José Thiago. Embornal, Fortaleza,v.2, n.3, p.1-2, 2011. Acessar publicação original. [IF].

Euclides da Cunha e a Bahia | Oleone Coelho Fontes

Depois do sucesso de Lampião na Bahia (1989), hoje na 7ª edição, e d’O treme-terra: Moreira Cesar, a República e Canudos (1996), dentre outros títulos, Oleone Coelho Fontes lançou Euclides da Cunha e a Bahia: ensaio biobibliográfico, no fim do ano passado. Romancista e pesquisador dos grandes temas nordestinos, o autor surpreende pelas idéias que enfeixam a nova obra, ora resenhada. Com prefácio assinado pelo médico Lamartine Lima, seu conteúdo é dividido em duas partes: uma que relaciona personalidades da (na) Bahia a Euclides da Cunha na sua estada na Bahia (agosto a setembro de 1897), como jornalista-correspondente do jornal O Estado de São Paulo. Outra parte rememora a presença do escritor em Canudos e esmiúça Os Sertões, sua obra-prima.

Seguindo o itinerário do escritor em Salvador, Oleone Coelho reconstitui seus passos e contatos nos 70 dias (7/8 a 16/10/1897) que esteve hospedado no chalé, situado à rua das mangueiras, propriedade do tio José Rodrigues Pimenta da Cunha. Alguns contemporâneos, como Luiz Viana, governador da Bahia; o médico Henrique Albertazzi, o poeta Pethion de Villar, general Solon Ribeiro, Francisco Mangabeira, o engenheiro Teodoro Sampaio, João Pondé, a feminista Francisca Praguer Fróes, o engenheiro Siqueira de Menezes, o médico Nina Rodrigues, Barão de Jeremoabo, Ludgero Prestes, o jurista Rui Barbosa; outros, extemporâneos como o poeta Castro Alves, o jornalista Odorico Tavares, o professor José Calasans e Ataliba Nogueira, figuram na primeira parte da obra. Leia Mais