Literatura e interartes, desdobramentos estéticos e culturais: entrelaçamentos e reverberações da memória, da história, da sociedade e as identidades |  Literatura, História e Memória | 2020

As poéticas interartes oferecem profícuo terreno para evidenciar o encontro entre as diversas linguagens e expressões a partir de uma abordagem atenta aos diálogos até mesmo por meio dos possíveis conflitos oriundos dos entrelaçamentos que perpassam as fronteiras entre as expressões artísticas. Ainda assim, essas aproximações atrelam-se a questões universais que elevam a arte a potencialidades que se referem ao seu caráter, tanto criador quanto resistente às forças que se levantam contra os discursos conciliadores diante dos encontros paradoxais da própria existência.

Foram muitos os teóricos que se debruçaram sobre o dialogismo entre as manifestações artísticas que parecem sempre dispostas a propor métodos de ultrapassar as próprias fronteiras de expressão. Para citar alguns casos emblemáticos, podem ser retomadas, por exemplo, as contribuições de Paulo Emilio Salles Gomes. Entre suas incursões pelas veredas cinematográficas, sempre em consonância com a Literatura, erigiram-se muitas pontes a conduzir e corporificar caminhos de análise e leitura. Em Decio de Almeida Prado e Anatol Roselfeld, no Teatro, é possível perceber os olhares atentos para a formação de uma crítica realizada no país em diálogo com tendências originais de diversas culturas. Já Antonio Candido traz à tona as relações entre a Literatura, a História e a Sociologia, elevando os gêneros literários a suas possibilidades comparativas às demais expressões artísticas como manifestações da sociedade na dialética que permeia o local e o universal. Leia Mais

Manifestações de re-existência: a literatura em tempos de repressão | Literatura, História e Memória | 2020

“A América Latina está em chamas”, estampada em cartazes ou compartilhada pelas redes sociais, essa frase resumiu a soma de vários elementos que começaram a eclodir contemporaneamente no continente – a despossessão econômica gradativa das classes baixas e médias e a crescente concentração de renda nas mãos de um pequeno número de pessoas, o recrudescimento da violência policial contra comunidades periféricas e/ou manifestantes em protestos políticos, o enfraquecimento da democracia por meio de decisões judiciais e/ou criação de leis que contrariam explicitamente os princípios constitucionais, discursos políticos que incitam e/ou legitimam manifestações de ódio e violência social etc. Tal conjunto, não à toa, parece ecoar a dimensão espectral dos regimes totalitários que há algumas décadas assolaram o continente.

A literatura, sendo igualmente uma construção sócio-histórica, compartilha com a sociedade as condições materiais de existência; entretanto, visto ser também processo criativo, abandona a condição de ser meramente espelho social (CANDIDO, 2000) e se torna via de acesso para a compreensão, a denúncia e o rompimento de percepções automatizadas da realidade, torporizadas pelas reiteradas manifestações da violência social (GINZBURG, 2012) e dissimuladas por variados mecanismos ideológicos que negam a ferocidade nas relações com tantos “outros” intimidados, reprimidos, reificados e proscritos às margens (CHAUÍ, 2017). Além disso, a literatura também é um campo privilegiado para o surgimento de renovadas conformações estéticas, novas poieses a figurar, entre tantas relações, a articulação entre violência, repressão e sociedade. Leia Mais