Dez dias em um hospício | Nellie Bly

Dez dias em um hospício é fruto de uma experiência singular em que a autora e jornalista norte-americana Elizabeth Cochran (1864 – 1922) investiga a realidade de um hospício. Foi convidada pelo então editor chefe do jornal ­ e New York World (circulou entre 1860 e 1931) Joseph Pulitzer. Ele é o criador do Prêmio Pulitzer de jornalismo, pela primeira vez editado em 1917. Foi seu o projeto da internação de uma jornalista no hospício feminino da Ilha de Blackwell, mas a excelência do trabalho de Elizabeth esteve acima do que qualquer um podia imaginar. Ela encenou loucura, observou e denunciou não apenas as condições altamente inapropriadas da vida e do tratamento dispensado às internas, mas o próprio diagnóstico a que ela e outras internas receberam.

Nellie Bly era o pseudônimo de jornalista pelo qual publicava no ­ e New York World e que foi usado para a série de reportagens que narraram sua experiência no asilo. As reportagens foram, em seguida, reunidas por ela na forma do livro que enfim chega ao público brasileiro, após 133 anos. Momento muito oportuno, em vista da desconstrução da Reforma Psiquiátrica, por políticas de regresso ao modelo manicomial, que vêm ocorrendo sistematicamente no Brasil, nos últimos anos. Leia Mais

Os delírios da razão: médicos/ loucos e hospícios — Rio de Janeiro/ 1830-1930 | Magali Gouveia Engel

As reflexões sobre o campo médico-psiquiátrico no Brasil servem de instrumento para trazer à baila questões que envolvem dispositivos de poder e disciplina, na constituição de um saber que acabou por monopolizar a ‘verdade’ sobre a doença mental; além disso, tais considerações podem incidir sobre outros discursos, de modo a permitir verificar e, mesmo, desconstruir estratégias desenvolvidas ao longo de diferentes processos históricos. Afinal, “O discurso não é simplesmente o que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas este porque, este por meio de que luta, o poder de que se busca apoderar-se” (Michel Foucault, A ordem do discurso, Paris, Gallimard, 1971, p. 12).

Desse modo, cada vez mais despontam historiadores e outros pensadores da cultura que se debruçam sobre a história das disciplinas que tratam do mental. O Império, por exemplo, passou a ser objeto de interesse para aqueles que indagam a respeito dos processos de consolidação do campo psi — campo que abarca as disciplinas que se debruçam sobre o psiquismo — e das abordagens sobre a loucura. Do mesmo modo, os períodos pós-colonial e as repúblicas são objeto de crescente atenção, como via de acesso às temáticas acerca do papel crítico que as novas metrópoles tiveram para a delimitação do campo psi, e o papel das políticas de saúde do Estado, das universidades etc. daí decorrentes. As atuais discussões antimanicomiais, as questões estabelecidas pela hipermedicalização do mal-estar psíquico, bem como as mais novas teorias genéticas, entre tantos outros objetos que confrontam o campo psi hoje, exigem uma realocação da arquitetura da saúde mental, assim como um novo tracejamento das disciplinas que tratam do irracional, da desrazão, do destempero, da vesânia, do delírio, das intensidades, do inconsciente e da pulsão em nossas bandas.   Dando um rumo singular a essas questões, Os delírios da razão: médicos, loucos e hospícios — Rio de Janeiro, 1830-1930, de Magali Gouveia Engel, é extremamente bem-vindo. Constitui material precioso para os que se interessam pela pesquisa genealógica e/ou os que intentam pensar o que se convencionou chamar de campo psi  as diversas disciplinas que trabalham com os fenômenos psíquicos hoje no Brasil. Leia Mais