Dez dias em um hospício | Nellie Bly

Dez dias em um hospício é fruto de uma experiência singular em que a autora e jornalista norte-americana Elizabeth Cochran (1864 – 1922) investiga a realidade de um hospício. Foi convidada pelo então editor chefe do jornal ­ e New York World (circulou entre 1860 e 1931) Joseph Pulitzer. Ele é o criador do Prêmio Pulitzer de jornalismo, pela primeira vez editado em 1917. Foi seu o projeto da internação de uma jornalista no hospício feminino da Ilha de Blackwell, mas a excelência do trabalho de Elizabeth esteve acima do que qualquer um podia imaginar. Ela encenou loucura, observou e denunciou não apenas as condições altamente inapropriadas da vida e do tratamento dispensado às internas, mas o próprio diagnóstico a que ela e outras internas receberam.

Nellie Bly era o pseudônimo de jornalista pelo qual publicava no ­ e New York World e que foi usado para a série de reportagens que narraram sua experiência no asilo. As reportagens foram, em seguida, reunidas por ela na forma do livro que enfim chega ao público brasileiro, após 133 anos. Momento muito oportuno, em vista da desconstrução da Reforma Psiquiátrica, por políticas de regresso ao modelo manicomial, que vêm ocorrendo sistematicamente no Brasil, nos últimos anos. Leia Mais

O trabalho escravo contemporâneo: a degradação do humano e o avanço do agronegócio na região Araguaia-Tocantins | Paulo Henrique Costa Mattos

O fenômeno da escravidão rural contemporânea brasileira vem sendo denunciado em âmbito nacional e internacional, pelo menos, desde o início da década de 1970. Na década seguinte, surgiu a primeira onda de estudos sobre o tema ou que o incluem. De certa forma, entretanto, a simples existência da expressão “trabalho análogo ao de escravo”, no artigo 149 do nosso Código Penal de 1940 (este Código é ainda o atual, apesar das inúmeras alterações sofridas), mesmo que efetivamente bem pouco operante como instrumento de coibição, já refletia a admissão de que algo ocorria em nosso território.

Desde o final da década de 1980, mudanças começam a se avizinhar em função do êxito dos protestos de organismos da sociedade civil brasileira, os sindicatos, a Comissão Pastoral da Terra e as entidades de defesa dos direitos dos trabalhadores. Além das mudanças no quadro das representações político-partidárias nacionais, as denúncias contra o trabalho escravo lograram encontrar eco em instituições internacionais. Assim, o governo brasileiro foi pressionado, na década de 1990, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a conduzir reformas que aperfeiçoassem o aparato do Estado para o combate à prática do trabalho rural forçado. Leia Mais