Intelectuais, Imprensa e Poder (I) / História.com / 2017

É com muita satisfação que apresentamos ao leitor e leitora, o Dossiê Temático “Intelectuais, Imprensa e Poder” [1] (v. 4, n. 7, 2017) da Revista Eletrônica Discente História.com. No entanto, antes de qualquer coisa, queremos tornar público nosso pedido de desculpas pelos atrasos involuntários que ocorreram para finalizarmos a primeira edição de 2017.

É difícil fazer funcionar adequadamente uma revista no Brasil, mesmo online, pois existem vários imprevistos e problemas que podem acontecer, especialmente no caso dos integrantes do Conselho Editorial deste periódico. Quando criamos a revista em 2012, ainda éramos todos estudantes do curso de graduação em História do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Hoje, a maioria dos editores já cursou ou está cursando o mestrado e doutorado em Instituições de Ensino Superior (IES) do país. Infelizmente, não conseguimos voluntários para continuar a empreitada, por isso tivemos que continuar o trabalho, nós mesmos, sem acréscimos no corpo funcional estruturante ou suporte pessoal adicional, o que sobrecarrega demasiadamente o grupo fundador de idealizadores deste projeto. Mas, como dar conta das diversas demandas de uma revista acadêmica, sendo estudante de pós-graduação? Como cuidar da revista e ter que, ao mesmo tempo, cursar disciplinas, pesquisar e escrever a dissertação, desenvolver relatórios de pesquisa e qualificação? Estes foram alguns dos dilemas que tivemos que enfrentar entre 2014 e 2018.

O mais importante é que não deixamos o projeto esmorecer. Continuamos um projeto que foi idealizado por cinco estudantes da graduação (Adalton Barbosa, Antonio Cleber Lemos, Elias Santos, Geferson Santana e João Paulo do Carmo), chegamos a alcançar a nota B3 no Qualis Capes, mas obtivemos a nota máxima B4 (Interdisciplinar) na última avaliação (2013-2016) conforme demonstra a plataforma Sucupira. Queremos que a revista continue sendo um espaço de publicação dos artigos e resenhas de estudantes de graduação, graduados, mestres e doutores de todas as instituições do país. Num cenário cada vez mais hierarquizado entre as revistas, onde estudantes de pós-graduação (mestrando e doutorandos) não podem publicar nas seções principais (Artigo Livre e Dossiê Temático), mas apenas nas chamadas “Notas de Pesquisa”. Então, queremos que a Revista Eletrônica Discente História.com continue sendo um espaço de tratamento isonômico entre todos os pesquisadores e pesquisadoras que busquem um espaço democrático de divulgação de suas pesquisas.

Aproveitamos ainda para informar que estamos dando uma cara nova para a diagramação das capas, apresentações, artigos e resenhas. Queremos adequar nosso periódico o máximo possível aos critérios estabelecidos pela área de História do Qualis CAPES. No entanto, não vamos abrir mão de alguns elementos como a não exigência de “resumo” em uma segunda língua, entendemos que nem todas as universidades oferecem cursos de línguas estrangeiras, e que nem todos os estudantes, especialmente os de graduação, ingressam dentro das mesmas condições. Não queremos dizer que o estudante não possa aprender uma língua estrangeira de maneira autodidata, mas também entendemos que nem todos conseguem, devido à desigualdade que impera no sistema de ensino brasileiro, desencadeado pelo fosso socioeconômico imposto e vigente nesse país…

Mas, voltando à proposta de apresentação do Dossiê Temático intitulado “Intelectuais, Imprensa e Poder”, contamos com a colaboração do autor Lucas Bento Pugliesi denominada de “A categoria „índio‟ nos periódicos oitocentistas da Faculdade de Direito de São Paulo”, onde o autor faz uma análise dos discursos dos intelectuais da Faculdade de Direito de São Paulo entorno dos corpos e da categoria “índio”, conforme está expresso no título do artigo. É também interessante notar, as diversas fontes usadas por Pugliesi, demonstrando que aqueles discursos “espera-se refletir como pensamento desses atores sociais que no momento ulterior assumiriam as mais variadas posições na burocracia do Império veio a impactar e responder a questões políticas coevas no que tange a legislação sobre o aldeamento indígena”, diz Pugliesi.

O artigo de autoria de Paulo Alves Pereira Júnior, intitulado de “A cobertura do caso Castro Malta pelo jornal O Paiz e a difusão do ideário republicano no Segundo Império”, vem apresentar e refletir sobre o cenário de crescimento dos periódicos que faziam circular, no país, o ideário republicano. Neste artigo, o leitor encontrará uma excelente análise histórica sobre o desaparecimento de Castro Malta, que foi reportado nas páginas do periódico O Paiz, sem perder de vistas o objetivo de entender as estratégias usadas pelo II Império para fazer circular suas ideias.

Em “Defendendo os interesses pátrios contra os inimigos do Brasil: nacionalismo e educação através do jornal Correio de São Leopoldo (São Leopoldo / RS, 1938-1943)” de autoria do professor Rodrigo Luis dos Santos, tem-se o objetivo de “analisar a interação entre os campos político e intelectual através da imprensa, a partir de um estudo de caso que tem como local o município sul-rio-grandense de São Leopoldo, durante o período mais intenso do regime do Estado Novo, durante os anos de 1938 e 1943”. A proposta da investigação é analisar a atuação intelectual de Carlos de Souza Moraes, no jornal Correio de São Leopoldo, dando especial atenção às suas ideias nacionalistas e aos discursos sobre determinadas raças e grupos étnico-raciais.

Elegemos o artigo “„Opção pelos pobres ou neoconstantinismo às avessas?‟: A imprensa que desvela os desencontros político-eclesiais entre intelectuais da igreja católica no Nordeste brasileiro (1965-1979)” de Osnar Gomes dos Santos para fechar o dossiê. Conforme Santos, a pesquisa “tem por objetivo tratar das disposições político-eclesiais da Igreja Católica, no Nordeste brasileiro, que emergiram na discussão acerca da „opção preferencial pelos pobres‟, encetada em fins dos anos 1960”. O autor faz uso de diversas fontes para entender como os religiosos exerciam suas funções intelectuais no referido recorte temporal da pesquisa, e como seus discursos influenciaram a sociedade – e o próprio Estado – sobre determinadas questões.

Também queremos convidá-los a visitar as seções Artigo Livre, História na Sala de Aula e Resenha. Apesar de todos os problemas que enfrentamos ao longo de 2017 e início de 2018, fizemos um esforço, junto aos pareceristas que nos auxiliaram durante a edição, para selecionar bons artigos e resenhas de pesquisadores graduados, graduandos, mestres, mestrandos, doutores e doutorandos de diversas IES do país.

Vida longa à Revista Eletrônica Discente História.com!

Boa leitura!

Nota

1. A caricatura do escritor baiano Jorge Amado que consta na capa da presente edição é de autoria de Tiago. Disponível em: https: / / br.pinterest.com / pin / 333759022358129191 . Acesso em: 23 mar. 2018.

Geferson Santana – Editor Gerente. Mestre em História pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP / FAPESP). Correio eletrônico: [email protected].


SANTANA, Geferson. Apresentação. História.com. Cachoeira, v.4, n.7, 2017. Acessar publicação original [DR]

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