Intelectuais, Imprensa e Poder (I) / História.com / 2017

É com muita satisfação que apresentamos ao leitor e leitora, o Dossiê Temático “Intelectuais, Imprensa e Poder” [1] (v. 4, n. 7, 2017) da Revista Eletrônica Discente História.com. No entanto, antes de qualquer coisa, queremos tornar público nosso pedido de desculpas pelos atrasos involuntários que ocorreram para finalizarmos a primeira edição de 2017.

É difícil fazer funcionar adequadamente uma revista no Brasil, mesmo online, pois existem vários imprevistos e problemas que podem acontecer, especialmente no caso dos integrantes do Conselho Editorial deste periódico. Quando criamos a revista em 2012, ainda éramos todos estudantes do curso de graduação em História do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Hoje, a maioria dos editores já cursou ou está cursando o mestrado e doutorado em Instituições de Ensino Superior (IES) do país. Infelizmente, não conseguimos voluntários para continuar a empreitada, por isso tivemos que continuar o trabalho, nós mesmos, sem acréscimos no corpo funcional estruturante ou suporte pessoal adicional, o que sobrecarrega demasiadamente o grupo fundador de idealizadores deste projeto. Mas, como dar conta das diversas demandas de uma revista acadêmica, sendo estudante de pós-graduação? Como cuidar da revista e ter que, ao mesmo tempo, cursar disciplinas, pesquisar e escrever a dissertação, desenvolver relatórios de pesquisa e qualificação? Estes foram alguns dos dilemas que tivemos que enfrentar entre 2014 e 2018.

O mais importante é que não deixamos o projeto esmorecer. Continuamos um projeto que foi idealizado por cinco estudantes da graduação (Adalton Barbosa, Antonio Cleber Lemos, Elias Santos, Geferson Santana e João Paulo do Carmo), chegamos a alcançar a nota B3 no Qualis Capes, mas obtivemos a nota máxima B4 (Interdisciplinar) na última avaliação (2013-2016) conforme demonstra a plataforma Sucupira. Queremos que a revista continue sendo um espaço de publicação dos artigos e resenhas de estudantes de graduação, graduados, mestres e doutores de todas as instituições do país. Num cenário cada vez mais hierarquizado entre as revistas, onde estudantes de pós-graduação (mestrando e doutorandos) não podem publicar nas seções principais (Artigo Livre e Dossiê Temático), mas apenas nas chamadas “Notas de Pesquisa”. Então, queremos que a Revista Eletrônica Discente História.com continue sendo um espaço de tratamento isonômico entre todos os pesquisadores e pesquisadoras que busquem um espaço democrático de divulgação de suas pesquisas.

Aproveitamos ainda para informar que estamos dando uma cara nova para a diagramação das capas, apresentações, artigos e resenhas. Queremos adequar nosso periódico o máximo possível aos critérios estabelecidos pela área de História do Qualis CAPES. No entanto, não vamos abrir mão de alguns elementos como a não exigência de “resumo” em uma segunda língua, entendemos que nem todas as universidades oferecem cursos de línguas estrangeiras, e que nem todos os estudantes, especialmente os de graduação, ingressam dentro das mesmas condições. Não queremos dizer que o estudante não possa aprender uma língua estrangeira de maneira autodidata, mas também entendemos que nem todos conseguem, devido à desigualdade que impera no sistema de ensino brasileiro, desencadeado pelo fosso socioeconômico imposto e vigente nesse país…

Mas, voltando à proposta de apresentação do Dossiê Temático intitulado “Intelectuais, Imprensa e Poder”, contamos com a colaboração do autor Lucas Bento Pugliesi denominada de “A categoria „índio‟ nos periódicos oitocentistas da Faculdade de Direito de São Paulo”, onde o autor faz uma análise dos discursos dos intelectuais da Faculdade de Direito de São Paulo entorno dos corpos e da categoria “índio”, conforme está expresso no título do artigo. É também interessante notar, as diversas fontes usadas por Pugliesi, demonstrando que aqueles discursos “espera-se refletir como pensamento desses atores sociais que no momento ulterior assumiriam as mais variadas posições na burocracia do Império veio a impactar e responder a questões políticas coevas no que tange a legislação sobre o aldeamento indígena”, diz Pugliesi.

O artigo de autoria de Paulo Alves Pereira Júnior, intitulado de “A cobertura do caso Castro Malta pelo jornal O Paiz e a difusão do ideário republicano no Segundo Império”, vem apresentar e refletir sobre o cenário de crescimento dos periódicos que faziam circular, no país, o ideário republicano. Neste artigo, o leitor encontrará uma excelente análise histórica sobre o desaparecimento de Castro Malta, que foi reportado nas páginas do periódico O Paiz, sem perder de vistas o objetivo de entender as estratégias usadas pelo II Império para fazer circular suas ideias.

Em “Defendendo os interesses pátrios contra os inimigos do Brasil: nacionalismo e educação através do jornal Correio de São Leopoldo (São Leopoldo / RS, 1938-1943)” de autoria do professor Rodrigo Luis dos Santos, tem-se o objetivo de “analisar a interação entre os campos político e intelectual através da imprensa, a partir de um estudo de caso que tem como local o município sul-rio-grandense de São Leopoldo, durante o período mais intenso do regime do Estado Novo, durante os anos de 1938 e 1943”. A proposta da investigação é analisar a atuação intelectual de Carlos de Souza Moraes, no jornal Correio de São Leopoldo, dando especial atenção às suas ideias nacionalistas e aos discursos sobre determinadas raças e grupos étnico-raciais.

Elegemos o artigo “„Opção pelos pobres ou neoconstantinismo às avessas?‟: A imprensa que desvela os desencontros político-eclesiais entre intelectuais da igreja católica no Nordeste brasileiro (1965-1979)” de Osnar Gomes dos Santos para fechar o dossiê. Conforme Santos, a pesquisa “tem por objetivo tratar das disposições político-eclesiais da Igreja Católica, no Nordeste brasileiro, que emergiram na discussão acerca da „opção preferencial pelos pobres‟, encetada em fins dos anos 1960”. O autor faz uso de diversas fontes para entender como os religiosos exerciam suas funções intelectuais no referido recorte temporal da pesquisa, e como seus discursos influenciaram a sociedade – e o próprio Estado – sobre determinadas questões.

Também queremos convidá-los a visitar as seções Artigo Livre, História na Sala de Aula e Resenha. Apesar de todos os problemas que enfrentamos ao longo de 2017 e início de 2018, fizemos um esforço, junto aos pareceristas que nos auxiliaram durante a edição, para selecionar bons artigos e resenhas de pesquisadores graduados, graduandos, mestres, mestrandos, doutores e doutorandos de diversas IES do país.

Vida longa à Revista Eletrônica Discente História.com!

Boa leitura!

Nota

1. A caricatura do escritor baiano Jorge Amado que consta na capa da presente edição é de autoria de Tiago. Disponível em: https: / / br.pinterest.com / pin / 333759022358129191 . Acesso em: 23 mar. 2018.

Geferson Santana – Editor Gerente. Mestre em História pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP / FAPESP). Correio eletrônico: [email protected].


SANTANA, Geferson. Apresentação. História.com. Cachoeira, v.4, n.7, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Ditaduras e Autoritarismos / História.com / 2016

A presente edição da Revista Eletrônica História.com (REDH) traz a público um conjunto de artigos que contribuem para os debates referentes ao período da Ditadura Civil-Militar (1964 a 1985), no Brasil. O dossiê temático Ditaduras e Autoritarismos vem trazer aos leitores um conjunto de textos do campo histórico e historiográfico sobre a natureza das práticas de repressão, tortura e demais formas de violências implementadas no mencionado período.

Acreditamos que esta edição dialoga muito com o momento em que estamos vivendo. Vários grupos de manifestantes, antes do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, iam às ruas pedindo a volta da ditadura militar dentre tantas outras reivindicações. Os atos destes grupos acabaram chamando a atenção da mídia internacional. Não se acreditava que mesmo depois das atividades realizadas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) e a publicação de seus relatórios confirmando as torturas, tais reivindicações poderiam ser possíveis.

Mas, as coisas se tornaram ainda mais graves. Recentemente, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC / RJ) fez menção ao torturador coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra em seu voto a favor do impeachment da presidenta Rousseff. “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim” [1] , disse Bolsonaro. A postura do referido político se configura como uma clara “apologia a tortura”, que inclusive é condenado pela Constituição brasileira. Sem contar que sua fala é um desrespeito aos princípios de laicidade do Estado. Diz assim um dos relatos presentes no I Relatório da comissão:

Pela manhã, o próprio comandante major Carlos Alberto Brilhante Ustra foi retirar-me da cela e ali mesmo começou a torturar-me […]. Espancamentos, principalmente no rosto e na cabeça, choques elétricos nos pés e nas mãos, murros na cabeça quando eu descia as escadas encapuzada, que provocavam dores horríveis na coluna e nos calcanhares, palmatória de madeira nos pés e nas mãos. Por recomendação de um torturador que se dizia médico, não deviam ser feitos espancamentos no abdômen e choque elétricos somente nas extremidades dos pés e das mãos.[2]

Várias instituições têm aberto processos contra o mencionado deputado, como o Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda. As práticas e discursos de natureza fascista, homofóbica, racista e machista do deputado têm sido combatidos por intelectuais, movimentos sociais, comunidade LGBT, trabalhadores da cultura. Jurídica e constitucionalmente, este tipo de discurso não deveria mais ser veiculado, sobretudo, em veículos midiáticos de grande alcance, sem o devido direito de resposta.

Esperamos que os trabalhos do dossiê temático possam contribuir no esclarecimento sobre as práticas violentas implantadas pela ditadura militar brasileira. Neste sentido, o trabalho Ditadura ou ditabranda? Como este momento histórico aparece em algumas de nossas produções fílmicas de autoria de Wilson Oliveira Badaró e Everaldo José de Jesus Junior faz uma excursão pelo mundo das fontes audiovisual para pensar no período histórico. “Desta forma, pretendemos expor análises dos filmes ‘Batismo de sangue’ dirigido por Helvécio Ratton, ‘O que é isso é isso? Companheiro’ dirigido por Bruno Barreto e ‘Zuzu Angel’ por Sérgio Rezende que retratam trechos da história da ditadura militar no Brasil”, dizem.

Ary de Albuquerque Junior em A Ditadura Cilvil-Militar (1964-1985) no âmbito do Regional e do Local parte para a análise historiográfica regional e local com o intuito de “trazer uma breve discussão das relações entre a historiografia […] com as questões voltadas à Ditadura civil-militar brasileira (1964- 1985)”. Um ponto importante problematizado pelo autor é a forma como as historiografias do eixo Sul-Sudeste se construíram como portadoras da realidade histórica nacional partindo de perspectivas regionais. Neste sentido, o debate trazido nesse texto ganha relevância quando se dispõe a pensar no processo de “secundarização” do fazer historiográfico do eixo Norte-Nordeste.

Os povos indígenas foram objeto de análise no artigo de Fredson Pedro Martins, intitulado de As populações indígenas e a Ditadura Civil-Militar brasileira nas aulas de História. O autor se utilizou de várias fontes como documentos referentes “à criação do Relatório Figueiredo e do desenvolvimento da Guarda Rural Indígena (GRIN)”. A proposta de Martins foi levar os estudantes do terceiro ano do Ensino Médio a refletirem sobre o “projeto de ‘integração nacional’” dos povos indígenas. Estes sujeitos foram pouco pensados enquanto objetos de pesquisa para a compreensão da Ditadura Civil-Militar brasileira.

Historicamente, os anos 1970 foram marcados pelas pressões políticas de abertura do regime, luta pela democracia e anistia dos presos políticos. No artigo Luta por democracia no Brasil: Anistia, justiça de transição e a garantia dos direitos humanos de Denise Nunes De Sordi e Pedro do Prado Möller encontraremos uma análise aprofundada sobre este período, e acrescenta os autores que “diante das inquietações, violações e transformações nas dimensões de um regime ditatorial, tratamos as ações que legitimaram os projetos em disputa e suas intenções”.

Aproveitamos e convidamos os leitores a enveredarem pela leitura dos artigos presentes na seção Artigo Livre e nas resenhas de livros da seção Resenha. Continuamos dispostos a ser um espaço democrático e de circulação das produções científicas de estudantes de graduação e pós-graduação, assim como mestres e doutores. Nosso trabalho é permitir que estas pesquisas possam circular em espaços de sociabilidade intelectual nacionais e internacionais, como os bancos de dados de universidades estrangeiras e outros indexadores. Para nossa grata surpresa, as universidades francesas Université Bordeaux Montaigne e Université Toulouse – Jean Jaurès tomaram a iniciativa de indexar a REDH em suas bases de dados de livre acesso à comunidade nacional e internacional. Outros indexadores, por solicitação do Conselho Editorial, fizeram também a indexação da revista como LATINDEX e IBICT / SEER.

Boa leitura!

Notas

1. BARBA, Mariana Della e WENTZEL, Marina. Discurso de Bolsonaro deixa ativistas ‘estarrecidos’ e leva a OAB a pedir sua cassação. BBC, São Paulo / Suíça, 20 de abr. de 2016. Disponível em: http: / / www.bbc.com / portuguese / noticias / 2016 / 04 / 160415_ bolsonaro_ongs_oab_mdb. Acesso em: 28 de mai. de 2016.

2. Brasil. Comissão Nacional da Verdade. Relatório / Comissão Nacional da Verdade. – Recurso eletrônico. Brasília: CNV, 2014, p.368. Disponível em: http: / / www.cnv.gov.br / images / pdf / relatorio / volume_1_digital.pdf. Acesso em: 28 de mai. de 2016.

Geferson Santana – Editor-Chefe. Mestrando em História e Historiografia pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e sob o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Integrante do grupo de pesquisa Memorias, Ditaduras e Contemporaneidades (UFBA / CNPq) e Grupo de Trabalho Nacional de História Política (GTNHP / ANPUH / CNPq). E-mail: [email protected]


SANTANA, Geferson. Apresentação. História.com. Cachoeira, v.3, n.5, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Esporte de lazer / História.com / 2014

O esporte é uma manifestação cultural da sociedade moderna, representada por atividades institucionalizadas nas escolas; por um conjunto de conteúdos culturais do tempo de lazer ou ainda, por modalidades de caráter técnico voltadas para o rendimento, envolvendo um número significativo de pessoas, sendo por isso, considerado um dos maiores fenômenos da atualidade.

É inegável a importância e a expansão que as práticas corporais e esportivas têm tido na atualidade, tornando-se elementos presente no dia a dia dos sujeitos. Além de agir diretamente no cotidiano, tais atividades vêm tecendo interferências dialógicas com questões de ordem econômica, política e histórica nas sociedades, haja vista o volume de investimentos variados que são direcionados aos eventos esportivos, tais como a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, ambos no Brasil.

O processo de avanço da produção acadêmica nacional provocou o surgimento de debates, estudos e conhecimentos que tratam da articulação entre os esportes e as práticas corporais, com as peculiaridades e especificidades do local e sua relação com o que é global, inclusive no campo da história. A partir disto, temos visto o surgimento de pesquisas que envolvem olhares sobre o embricamento dos esportes e das práticas corporais com áreas diversas, em diversos núcleos de pesquisa por todo o país.

No Brasil, nos últimos anos, os estudos em história do esporte e práticas corporais têm ganhado volume e qualidade, com pesquisadores instalados em laboratórios, grupos de pesquisa e programas de pós-graduação, com uma produção científica diversa e ampla, com eventos próprios e revistas científicas específicas.

Sendo assim, reconhecendo a potência do fenômeno, a – Revista Eletrônica Discente.com – decidiu apresentar um dossiê temático que aborda a questão dos esportes e do lazer.

Nesta edição contamos com a publicação de artigos e resenhas que versam sobre a temática. Dentre os artigos selecionados, alguns fizeram parte do Simpósio de História do Esporte e das Práticas Corporais, que aconteceu no VII Encontro Estadual de História, realizado entre 30 de setembro e 03 de outubro, na cidade de Cachoeira – Bahia.

Entre estes artigos, temos debates sobre o futebol, o surfe na cidade de Ilhéus, a constituição de um clube de tênis na cidade de Jequié e ainda, a construção do campo do lazer na Bahia e uma discussão acerca do esporte no espaço escolar.

Dentre os que abordam o futebol, o de Eliazar João da Silva procura estabelecer algumas interlocuções entre as Copas do Mundo de 1950 e de 2014, buscando aproximações e / ou distanciamento quanto as suas análises. No texto de José Eliomar dos Santos Filho encontramos uma interpretação acerca dos debates que se deram quando da construção do Estádio da Fonte Nova, em Salvador-Bahia. Na produção de Enny Vieira Moraes e Zuleika Stefânia Sabino Roque temos uma leitura sobre a participação feminina no futebol, tomando por base a vida de uma atleta da modalidade, retratando suas expectativas e experiências com o esporte.

No artigo de Marcial Cotes e Dirceu Góes nos é apresentada uma investigação sobre as analogias e divergências entre a história do surfe de Ilhéus e o artigo Vaca Longa, repensando a historiografia brasileira do esporte a partir do surfe na Bahia.

Na obra de Roberto Gondim Pires, Cleber Augusto Gonçalves Dias e Marcos Cesar Meira Leite vemos uma tentativa de construção da história e memória do esporte na cidade de Jequié-BA, através da análise do Jequié Tênis Clube, como lugar da memória esportiva para a vida desta cidade.

O texto de Wilson de Lima Brito Filho apresenta um debate sobre o processo de constituição do lazer, em Salvador, entre 1940 e 1950 do século XX, a partir da formação da UFBA, pensando uma articulação entre cidade e Universidade, na ideia de uma confluência entre os interesses da sociedade e da Instituição, que se instalava em Salvador.

Por fim, Natanael Vaz Sampaio Junior e Felipe Eduardo Ferreira Marta objetivam estabelecer reflexões acerca do objeto esporte, enquanto elemento que norteia à formação profissional e o currículo em Educação Física, tendo como lócus de pesquisa o município de Jequié-BA, a partir década de 1990.

Tais textos se inserem num conjunto de produções que a Bahia tem produzido acerca do esporte e do lazer, sob a perspectiva de uma análise histórica. Estas pesquisas se desenvolvem em diferentes grupos de pesquisa, alocados em Instituições de Ensino Superior no estado, já tendo havido simpósio em três encontros estaduais de história, 2010, 2012 e 2014. Os estudos assumem metodologias e fontes diversas, abarcando recortes temporais diferentes, mas demonstram um esforço comum para a constituição de um campo de estudos específico na Bahia, que dialoga e repercute o que se dá em plano nacional.

Esta edição tem caráter especial, devido à relevância da temática e das condições que ela foi desenvolvida. Ao contrário das edições anteriores, aqui não fizemos uma apresentação de todas as seções que compõem o volume, pois decidimos primar por uma apresentação dos artigos do dossiê temático e suas relevâncias no fortalecimento dos estudos relacionados ao tema, no Brasil, e especialmente no Estado da Bahia.

Agradecemos aos autores que contribuíram com as demais seções, pois foram belíssimas colaborações. Nelas estão publicados os trabalhos de estudantes de graduação e pós-graduação, representando uma luta dentro do processo de criação de revistas discentes, assim como o desejo de maior abertura das revistas aos estudantes.

Boa leitura.

Coriolano Pereira da Rocha Junior – Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: [email protected]

Geferson Santana – Mestrando em Historia e Historiografia pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e sob o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Correio eletrônico: [email protected]


SANTANA, Geferson; ROCHA JUNIOR, Coriolano Pereira da. Apresentação. História.com. Cachoeira, v.2, n.4, 2014. Acessar publicação original [DR]

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Cultura política na América Latina / História.com / 2014

A edição conta com o dossiê temático Cultura política na América Latina, que se enquadra dentro dos estudos e renovações teórico-metodológicas da chamada Nova História Política consolidada nas reflexões de René Rémond [2], e onde as relações políticas passam a ser observadas a partir das diversas instâncias das realidades sociais. No viés interpretativo de Rémond, o político está intimamente entrelaçado aos vários âmbitos da vida em sociedade, e para entendê-lo é necessário atentar para as estruturas sociais.

Para além do aspecto individual, a História Política estava solidificando suas bases na ideia de que não são as ações individuais que mudam ou condicionam o rumo de um evento, mas os interesses de grupos que se confrontam e dão sentido à conjuntura [3]. Conforme explicitou Francisco Falcon [4], essa nova perspectiva de entender a política descentraliza os estudos políticos das imagens dos grandes homens, como os monarcas.

Nesse sentido, a terminologia conceitual cultura política nascida no seio do movimento de renovação da História Política, inspirado por Rémond [5], se propõe a entender “‘uma espécie de códigos e de um conjunto de referentes, formalizados no seio de um partido ou, mais largamente, difundidos no seio de uma família ou de uma tradição política’”6. Entretanto, o conceito não é uma exceção do campo da História, outras áreas como as Ciências Sociais o tem usado como a Antropologia Política. Trabalhos interessantes ganham relevância nesse debate como os dos pesquisadores Karina Kuschnir e Leandro Piquet Carneiro, que publicaram o título As dimensões subjetivas da política: cultura política e Antropologia Política pela revista Estudos Históricos, em 1999.

Para dar sentido a nossa proposta de dossiê temático, o artigo de Daniela de Jesus Ferreira, reúne um excelente esforço para compreender a atuação da imprensa comunista, no Brasil, especialmente nos anos de 1920 a 1930. A relevância da pesquisa está na preocupação com a expansão do pensamento comunista em território brasileiro, e os veículos utilizados para alcançar os objetivos político-partidários.

Leide Rodrigues dos Santos, em seu artigo, traz uma perspectiva muito parecida. A autora explicita que foca na “análise das músicas utilizadas como instrumento propagador das ideologias militares na ditadura brasileira (1964-1985)”. Sem dúvida, este texto representa uma preocupação acadêmica pertinente para o momento em que vivemos, especialmente depois dos relatórios divulgados pela Comissão Nacional da Verdade, em 10 de dezembro de 2014. Com foco voltado para a música enquanto instrumento de divulgação, a autora reafirma mais adiante que “o propósito primordial é perceber o quanto as músicas tidas como “ufanistas” também faziam parte do contexto em questão e assim perceber as influências exercidas que viriam marcar profundamente a história do país”.

Patrícia Maria Santos faz uma análise importante do movimento modernista em São Paulo, tendo como foco central a obra da artista Tarsila do Amaral produzida nos anos 1920, que tinha suas particularidades na representação do Brasil e dos brasileiros em sua obra. Mas, a preocupação central está em “compreender a sociedade e o cotidiano da década de 1920 em São Paulo, bem como identificar nas obras da artista evidências que permitam perceber as transformações processadas, seus acontecimentos e desfechos”. O artigo tem forte contribuição no entendimento do movimento modernista em São Paulo, sem cometer o famoso erro da generalização que comumente notamos nos trabalhos sobre essa temática.

Fechando a seção, o artigo de Luan Mendes de Medeiros Serqueira, traça uma excelente análise historiográfica sobre o itinerário do movimento político dos maçons, no Brasil, sem deixar de trazer as experiências de outros países. Segundo Serqueira sua proposta tem “como finalidade principal abordar um breve panorama da historiografia maçônica, isto é, a contribuição dos principais trabalhos não apenas pelos historiadores do meio acadêmica mas também pelos pesquisadores e historiadores maçons acerca dessa importante sociedade secreta”.

Na seção Artigo Livre contamos com a contribuição da pesquisadora Josilene Silva. Neste artigo nos deparamos com uma abordagem interessante sobre a guerra civil ocorrida em Moçambique, e que gerou um processo de silenciamento nacional sobre o conflito armado. Pensando nesse aspecto, Campos ressalta que “tem como objetivo refletir sobre o silenciamento nacional a respeito da guerra civil e de que forma as narrativas literárias se apresentam e são pensadas como espaços de memória, na tentativa de preencher a lacuna dessa experiência”. Ainda discutindo questões relacionadas à África, Leandro Rosa da Silva aborda “algumas mudanças que os contatos dos povos da África Índica com os europeus e os orientais trouxeram ao passado e identidades dos suaílis no século XVI”. A lógica narrativa, segundo Silva, será usada no sentido de descrever como o outro aparece a partir das perspectivas dos documentos de origem oriental e europeu.

Em História da Sala de aula dois artigos foram selecionados para compor a seção. A apropriação do livro didático como fonte de pesquisa representa sempre uma iniciativa louvável, levando-se em consideração a forte influência político-ideológica que ele pode exercer sobre a comunidade escolar. O primeiro artigo trata de uma contribuição de Everton Marques de Carvalho, onde o autor tenta entender como os livros didáticos abordam as questões políticas e econômicas. Na segunda contribuição, contamos com o artigo de Lívia Côrtes, que foca na experiência de estágio e o ensino de História.

Na seção Resenha contamos com a contribuição de Fernando Altoé, Kauan Willian dos Santos e André Augusto Bousfield. Que são análises críticas feitas sobre livros recentemente publicados.

Caberia neste momento reforçar nossos agradecimentos a todos os autores pelas contribuições. Esta revista representa uma luta dentro do processo de criação de revistas discentes. Algumas revistas no país tenderam a um segregacionismo absoluto. As seções desses periódicos estão reservadas para os doutores e mestres, o que impossibilita a publicação dos resultados de pesquisa discente. A produção dos estudantes de graduação e pós-graduação também faz parte do processo de construção do conhecimento histórico, e esta revista é um manifesto a todo tipo separatismo, inclusive o acadêmico.

Boa leitura.

Notas

2. RÉMOND, René. Uma história presente. In: Por uma história política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p.15.

3. Para Rémond, a política não tem fronteiras naturais e sua definição abrange o campo do abstrato, sendo o poder o seu objetivo direto. Pelo seu caráter abstrato, conclui que “ele (o político – grifo nosso) não tem margens e comunica-se com a maioria dos outros domínios”. Ao mesmo tempo em que temos certeza de seu caráter etéreo, sentimos sua concretude no cotidiano, confirmando a ideia de que no mínimo a ideia de poder compreende uma dualidade. RÉMOND, René. Do político. In: Por uma história política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p.443-44.

4. FALCON, Francisco. História e Poder. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p.98-138.

5. BERSTEIN, Serge. A cultura política. In: RÏOUX e SIRINELLI (org.). Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998.

6. Ibidem, p.350.

Geferson Santana – Mestrando em Historia e Historiografia pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e sob o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Correio eletrônico: [email protected]


SANTANA, Geferson. Apresentação. História.com. Cachoeira, v.2, n.3, 2014. Acessar publicação original [DR]

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Literatura e Memória / História.com / 2013

Não seria justo pensarmos no Dossiê Temático Literatura e Memória e não nos reportarmos a Jorge Amado, um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX que tanto contribuiu com o cenário intelectual com seus romances largamente publicados e traduzidos em diversas línguas. A intenção é homenagear o escritor baiano, porque as contribuições dos autores às nossas seções discutirem alguns dos temas preferidos do intelectual como o negro, as questões raciais, o cenário baiano, a literatura, a cultura regional. Devido a isso, escolhemos como imagem da capa uma caricatura do escritor.

Esperamos que esta edição estimule o labor intelectual dos estudantes e professores que leem nossa revista, e continue cumprindo o papel de espaço de sociabilidade. Na seção Dossiê Temático, estudos interessantes sobre a memória e a literatura foram primados com o intuito de compreender os eventos que condicionaram épocas diferentes na história da humanidade, em especial do Brasil e suas regiões. Grandes esforços têm feito os historiadores para conseguir a renovação do campo da História, levando-nos a pensar, crer e elaborar propostas que tragam para esta área do conhecimento novos temas e objetos. Lourenço Resende da Costa em História e gênero: A condição feminina no século XIX a partir dos romances de Machado de Assis, analisa quatro livros de Machado de Assis discutindo e comparando como a mulher é recepcionada em seus escritos. É uma proposta que considera a produção literária como uma das possibilidades de entender a mentalidade de uma época, colocando o autor enquanto integrante e resultado de uma determinada realidade social. Estudo semelhante foi realizado por Loiva Canova, Hugo Aguiar Teixeira Leite, Jhuan Cláudio Matos de Oliveira e Sander Souza Rodrigues Cintra em O discurso eugenista de um intelectual cuiabano, que analisa o discurso eugenista do intelectual mato-grossense José Barnabé de Mesquita. Conforme expressaram os autores, “a obra escrita em finais do século XIX trata de questões sobre as causas da degenerescência das raças no contexto da República” apontado um tipo de comportamento e mentalidade que o intelectual cuiabano queria implementar em Mato Grosso, pensamento muito afim às políticas de governo do final do Oitocentista.

Martha Maria Brito Nogueira nos excita a pensar e querer entender a mobilidade social da sociedade conquistense do final do século XIX e início do XX, em “Fulô do Panela”: Mobilidade social das mulheres negras na sociedade conquistense (1850-1930). A autora analisa a trajetória da mulata Eufrosina Maria de Oliveira Freitas, conhecida como “Fulô de Panela”, filha de uma escrava alforriada do século XIX. Nesse cenário, apresenta não apenas a personagem central de sua investigação, como também outros sujeitos, a exemplo dos mestiços da Cidade de Conquista, na Bahia. A negação do africano nas letras de Xavier Marques de Rafael Rosa da Rocha é um reforço às pesquisas da História Regional, e “[…]objetiva discutir algumas das representações sobre a cultura negra presentes no romance O Feiticeiro (1914 / 1922), escrito pelo literato Francisco Xavier Ferreira Marques (1861-1942) […]”, que foi um intelectual “[…] que utilizou da obra ficcional para delinear a Bahia no contexto das últimas décadas do século XIX e início do século XX a partir de uma perspectiva regionalista”. O trabalho apresenta uma análise interessante a respeito da imagem que o africano ocupa no romance, corroborando com a possibilidade de diálogo entre a História e a Literatura.

Comparado aos outros trabalhos da seção, A memória traumática da tortura: Contribuições do debate acadêmico para as possibilidades de reabilitação e esquecimento de Vivian Souza é um forte aporte para pensarmos no campo da memória e sua utilização como fonte para entendermos momentos importantes da história recente como a Ditadura Militar (1964-85). Ela analisa a memória dos torturados pela ditadura e o processo de anistia, enviesando sua leitura para a perspectiva e problemática relação entre a memória, o esquecimento e o silêncio, conforme as indicações teóricas do historiador francês Michael Pollak.

Na seção Artigo Livre, Geferson Santana nos convida para a leitura de Notas sobre os esforços de guerra na Bahia, que versa sobre a contribuição da produção acadêmica originalmente baiana empenhada em pensar o contexto da Segunda Guerra Mundial e sua repercussão na Bahia. É uma reflexão que nos alerta sobre a necessidade de investigarmos a guerra em suas instâncias regionais, descentralizando uma historiografia paulistocentrista [2] e sua visão unilateral sobre a guerra. Reforçando os estudos sobre a História da Bahia, Fábio Falcão Oliveira em Alexandre de Gusmão: Breves considerações de um projeto no recôncavo baiano no século XVII, convida-nos a entender a proposta do projeto pedagógico promovido pelo religioso no Seminário de Belém – primeiro do Brasil – e que seria importantíssimo na história do Recôncavo baiano no período colonial.

Os estudos sobre o mundo do trabalho e de seus principais sujeitos, os trabalhadores, têm crescido nas universidades permitindo o surgimento de novas perspectivas e fontes de investigação histórica. Guilherme I. Franco de Andrade em A crise política do proletariado: O crescimento de popularidade da Frente Nacional Francesa entre os trabalhadores, centra-se em “[…] investigar o aumento significativo do número de votos provenientes dos trabalhadores franceses em partidos de extrema direita” simbolizando o aumento das pesquisas referentes a atuação política da extrema direita, assim como da relação dos trabalhadores com o mundo não apenas do trabalho, mas igualmente da política. A perspectiva de Kauan Willian Dos Santos apresentada em Anticlericalismo e militância sindical: o periódico anarquista A Lanterna e sua ação entre os trabalhadores em São Paulo (1901-1914), é um pouco parecida, pois objetiva investigar a atuação política e anticlericalismo do periódico anarquista A Lanterna e sua repercussão entre os trabalhadores paulistas.

Na seção Resenha, Geraldo Magella de Menezes Neto em Sugestões para o trabalho com o cordel na sala de aula, aponta a importância de pensarmos no cordel como método pedagógico nas aulas pelo seu caráter poético. Como temos buscado novos rumos para o processo de ensino e aprendizagem dos educandos e suas relações com a comunidade escolar, acredito que estas reflexões do autor seguramente representa uma boa dica do mestre. Este trabalho finaliza a nossa edição constituindo uma contribuição importante para os professores que queiram usar a referida literatura em suas aulas.

Ao leitor, deixamos nossa segunda edição que caracteriza um grande esforço de nossa equipe, levando em consideração que manter um periódico no Brasil, não é fácil. Este nos representa, à medida que se propõe a construir edições com muito empenho, disciplina, dedicação e fidelidade a nossa proposta de divulgação do conhecimento acadêmico formulado e pensado no âmbito nas universidades e escolas da educação básica. Lançamos nossa convocação aos professores da escola pública e privada, pois acreditamos que os educadores destas instituições também podem contribuir com este periódico, considerando que escola também é produtora de conhecimento, espaço de sociabilidade e reduto aglutinador de experiências.

Desejamos uma boa leitura!

Notas

2. Termo usado pela historiadora Sonia Regina de Mendonça integrante do corpo docente do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Geferson Santana – Editor Gerente do periódico desde 2012. Mestrando em Historia e Historiografia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e graduado em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).


SANTANA, Geferson. Apresentação. História.com. Cachoeira, v.1, n.2, 2013. Acessar publicação original [DR]

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