Europa Medieval | Chris Wickham

Escrever um manual é sempre um desafio para um pesquisador, seja ele de qual área for. Um desafio sedutor, mas que bem poucos aceitam em função das numerosas escolhas e sacrifícios a serem feitos. Certamente, temas considerados relevantes ficarão de fora ou serão dispostos em poucas páginas para que outros igualmente relevantes sejam expostos com os cuidados que os nem sempre generosos limites editoriais permitirão. Em muitos casos, um equilíbrio demasiado tênue cujo resultado final pode agradar a alguns e desagradar a outros tantos. Não há como fugir disso. Ao concluir a leitura das trezentas e setenta e cinco páginas da edição portuguesa de Europa Medieval, acrescidas de algumas outras dezenas com notas explicativas, bibliografia consultada e sugerida e índice onomástico, ficamos com a sensação de que Christopher John Wickham, ou simplesmente Chris Wickham, concluiu de maneira exitosa o desafio ao qual foi submetido.

Atualmente professor de História Medieval da renomada Universidade de Oxford, depois de uma longa passagem pela Universidade de Birmingham, ambas na Inglaterra, Chris Wickham há décadas se dedica a temas relacionados à política e à economia em regiões específicas da Europa ao longo do medievo como, por exemplo, a Itália. Somente em anos mais recentes, manuais introdutórios de divulgação tornaram-se o ponto central de seu trabalho constituído pela publicação de dezenas de outros livros e artigos acadêmicos apresentados em congressos realizados em várias partes do mundo, além da própria docência universitária. Leia Mais

Disputa de un cristiano con un gentil sobre la fe cristiana | Gilberto Crispino

A História se faz com documentos. O ensinamento deixado há algumas décadas por Henri-Irénée Marrou é um dos fundamentos do ofício de historiador. Portanto, na lida cotidiana com estes vestígios do passado, somos responsáveis por trazer a lume algo a respeito das experiências de homens e mulheres de outrora. Infelizmente, por negligência ou simples desconhecimento, tal premissa está a se desbotar sobre as mesas de trabalho de muitos destes profissionais. Cada vez mais, do ensino à pesquisa, as fontes secundárias ampliam seus domínios e ganham ar de autoridades definitivas. São recorrentes os artigos, dissertações e teses nos quais um rosário bibliográfico se abre e se sobrepõe ao contato direto com a documentação histórica.

No caso dos medievalistas da América do Sul, e dos brasileiros em específico, tal situação se agrava em função da escassez de boas bibliotecas com seções dedicadas à Europa medieval e arquivos minimamente organizados. Ainda que a Internet tenha amenizado muitos dos problemas e encurtado as distâncias quase intransponíveis em um passado recente, o quadro requer cuidados. Infelizmente, não podemos fechar os olhos para a realidade: um oceano continua a nos separar literalmente dos bons centros de pesquisa europeus e de seus acervos quase sempre fartos e atualizados (alguns, com invejável rapidez para nós sul-americanos de boa vontade). Dos que iniciam suas pesquisas aos mais experientes, as viagens periódicas de atualização para o Velho Mundo e a importação de material bibliográfico de ponta, sobretudo boas edições críticas, continuam a se impor. Leia Mais