Pós-abolição no Mundo Atlântico / Revista Brasileira de História / 2015

O reconhecimento de escravos e libertos como sujeitos históricos acabou por influenciar os estudos sobre o destino dos escravizados e seus descendentes em antigas sociedades escravistas após a abolição legal da escravidão. No Brasil, se a década de 1980 representou um marco para a historiografia da escravidão, podemos pensar que os anos 2000 foram decisivos para a historiografia sobre as formas, condições e concepções de liberdade no pós-abolição. A produção de livros e documentários, a realização de eventos nacionais e internacionais e a formação de grupos de pesquisa adjetivados pelos termos “pós-emancipação” e “pós-abolição”, de norte a sul do país, atestam a emergência de um destacado campo de investigação, comprometido em reconstituir trajetórias, processos e experiências de liberdade da população negra no Brasil e nas Américas após a proibição legal da escravidão.

Em vistas da amplitude do campo, surgem muitas questões. O que significa pensar o pós-abolição como problema histórico? Quais os significados e limites da revogação legal da escravidão nas antigas sociedades escravistas do Atlântico? É possível construir definições precisas sobre o que seria esse pós-abolição? Quais os significados da abolição formal da escravidão? ­Pós-abolição e pós-emancipação são sinônimos ou representam formas distintas de enxergar e pesquisar as experiências de liberdade e os significados legais da abolição da escravidão? Quando começa e quando termina o pós-abolição? Qual o lugar das experiências de tornar-se livre e do abolicionismo do século XIX? Como a politização da memória da escravidão e o estudo do tempo presente contribuem para delimitação dos seus limites cronológicos? De que formas o trabalho com diversas concepções, fontes e metodologias do campo questiona a tese clássica de que os negros teriam ficados “abandonados à própria sorte”, trazendo para o centro da discussão debates relacionados aos direitos de cidadania, mundos do trabalho livre, racialização, racismo, mobilidade social, migrações, relações de gênero, gerações, acesso à terra, educação e movimentos sociais negros e indígenas em abordagens locais, transnacionais ou comparativas?

Essas são algumas das indagações sobre as quais se debruçaram autoras e autores dos trabalhos publicados no dossiê temático “Pós-abolição no Mundo Atlântico”, que integra a presente edição da Revista Brasileira de História.

O dossiê se abre com “No ritmo do Vagalume: culturas negras, associativismo dançante e nacionalidade da produção de Francisco Guimarães (1904-1933)”, de Leonardo Affonso de Miranda Pereira. A trajetória e a obra do personagem analisado são utilizadas como fio condutor para uma imersão no universo da cultura popular do período. O autor destaca a valorização da agência negra nas crônicas de Guimarães, o Vagalume, sobre a vida musical e recreativa do Rio de Janeiro. Pereira situa a produção do popular cronista e dramaturgo carioca como parte de um processo de disputa sobre a identidade brasileira que tem entre os seus resultados o estabelecimento do samba como “ritmo capaz de representar a nacionalidade”.

Dois dos artigos revisitam o tema clássico do campesinato negro no pós-abolição nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Em “Revisitando ‘Família e transição’: família, terra e mobilidade social no pós-abolição. Rio de Janeiro (1888-1940)”, Carlos Eduardo Coutinho da Costa analisa mais de seis décadas de registros civis do município de Nova Iguaçu, identificando os impactos econômicos e demográficos da citricultura sobre as famílias negras rurais da província fluminense e suas estratégias de mobilidade social. Em “Sr. Sidão Manoel Inácio e a conquista da cidadania: o campesinato negro do Morro Alto e a República que foi”, Rodrigo de Azevedo Weimer aborda a agência política do campesinato negro do litoral norte do Rio Grande do Sul na luta por direitos cidadãos durante a Primeira República.

Deslocando o foco para a Bahia, Wlamyra Albuquerque também aborda as conexões entre pós-abolição e cidadania em “Teodoro Sampaio e Rui Barbosa no tabuleiro da política: estratégias e alianças de homens de cor (1880-1919)”. Colocando o foco na experiência escrava da família de Teodoro Sampaio, a autora demonstra as conexões, aproximações e distanciamentos das trajetórias contemporâneas de dois destacados atores políticos baianos atuantes no final do Império e no início da República. Oferece ao leitor, desse modo, um olhar inovador sobre o contexto de atuação política de negros e brancos nas décadas que se seguiram à Abolição.

Dois outros artigos retomam o debate historiográfico sobre continuidades e rupturas entre a experiência escrava e o movimento operário. André Cicalo, em “Campos do pós-abolição: identidades laborais e experiência ‘negra’ entre os trabalhadores do café no Rio de Janeiro (1931-1964)” revisita o tema no setor portuário carioca, trazendo uma contribuição inovadora no que diz respeito ao estudo da racialização da estrutura ocupacional no cais. O tema da racialização reaparece em “As heranças do Rosário: associativismo operário e o silêncio da identidade étnico-racial no pós-abolição, Laguna (SC)”, de Thiago Juliano Sayão, que analisa o ocultamento da raça ou cor na Sociedade Recreativa União Operária (1903), fundada por afrodescendentes vinculados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos na cidade de Laguna, em Santa Catarina.

A perspectiva comparativa entre as experiências das duas maiores nações que passaram pelo processo emancipacionista no século XIX está presente em dois trabalhos do nosso dossiê: “Os perigos dos Negros Brancos: cultura mulata, classe e beleza eugênica no pós-emancipação (EUA, 1900-1920)”, de Giovana Xavier da Conceição Nascimento, e “O legado das canções escravas nos Estados Unidos e no Brasil: diálogos musicais no pós-abolição”, de Martha Abreu. Nascimento analisa, por meio de textos e imagens publicados em revistas norte-americanas, a emergência, nas primeiras décadas do século XX, de uma “pigmentocracia” decorrente do sistema de segregação intrarracial com base na tonalidade da pele. Já Abreu parte dos trabalhos de Du Bois e Coelho Netto para refletir sobre as similaridades dos legados da canção escrava – ou “som do cativeiro” – nos Estados Unidos e no Brasil.

Uma entrevista inédita realizada por Hebe Mattos e Martha Abreu com Eric Foner, historiador pioneiro no estudo do pós-emancipação nos Estados Unidos complementa o dossiê temático desta edição.

O presente volume traz seis trabalhos avulsos. Dois deles apresentam resultados inéditos de pesquisas sobre o movimento operário brasileiro entre as décadas de 1960 e 1980: “Relações Igreja-Estado em uma cidade operária durante a ditadura militar”, de Alejandra Luisa Magalhães Estevez, e “Uma greve que pôs em risco a Segurança Nacional: o caso do açúcar e a luta dos trabalhadores por melhores condições de vida”, de Felipe Augusto dos Santos Ribeiro. A atuação social e política de intelectuais, religiosos e organizações católicas constitui o campo temático comum de “Os ativos intelectuais católicos no Brasil dos anos 1930”, de Helena Isabel Mueller, e “A Revista A Ordem e o ‘flagelo comunista’: na fronteira entre as esferas política, intelectual e religiosa”, de Marco Antônio Machado Lima Pereira. Em “‘Vivemos identificados com a civilização, dentro da civilização’: autoimagens urbanas nos sertões da Bahia”, Valter Gomes Santos de Oliveira analisa textos memorialísticos, matérias jornalísticas e fotografias produzidos pela pequena intelectualidade sertaneja na Bahia do início do século XX. Já Vitor Marcos Gregório, em “A emancipação negociada: os debates sobre a criação da província do Paraná e o sistema representativo imperial, 1843”, analisa a relação entre a criação de novas unidades administrativas e as alterações no funcionamento do sistema político do país.

O volume se conclui com três resenhas. Em “Trabalho, história ambiental e cana-de-açúcar em Cuba e no Brasil”, originalmente publicada em inglês na revista Social History, a professora Aviva Chomsky analisa quatro livros recentes sobre temáticas similares, dois deles tratando do Brasil (The Deepest Wounds: A Labor and Environmental History of Sugar in Northeast Brazil, de Thomas Rogers, e This Land Is Ours: Social Mobilization and the Meanings of Land in Brazil, de Wendy Wolford), os outros dois sobre Cuba (Blazing Cane: Sugar Communities, Class, and State Formation in Cuba, 1868-1959, de Gillian McGillivray, e From Rainforest to Cane Field in Cuba: An Environmental History since 1492, de Reinaldo Funes Monzote). Por fim, Walkiria Oliveira Silva apresenta ao leitor What is History for? Johann Gustav Droysen and the functions of historiography, de Arthur Alfaix Assis, e Jean Rodrigues Sales comenta a muito aguardada biografia Luís Carlos Prestes: um revolucionário entre dois mundos, de Daniel Aarão Reis Filho.

Alexandre Fortes – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto Multidisciplinar. Nova Iguaçu, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]

Hebe Mattos – Universidade Federal Fluminense (UFF), Centro de Estudos Gerais, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]


FORTES, Alexandre; MATTOS, Hebe. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.35, n.69, jan. / jun., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Patrimônio e memória da escravidão atlântica – História e Política / Tempo / 2010

O Dossiê Patrimônio e Memória da Escravidão Atlântica começou a ser planejado há quase dois anos, quando eu voltava de um estágio de pós-doutorado na França, onde tive a oportunidade de participar com Bogumil Koss Jewsiewicki na iniciativa de organizar o primeiro “Festival Internacional do Filme de Pesquisa sobre Patrimônio e Memória da Escravidão Moderna”.1 Como titular da cátedra de história comparada da memória na Universidade de Laval, no Canadá, Jewsiewicki mantinha em Paris um importante seminário sobre história da memória na EHESS (Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales), em conjunto com Philippe Joutard, da Universidade de Aix-en-Provence. Desde 1994, eu desenvolvia no Laboratório de História Oral e Imagem o projeto de documentação e pesquisa Memórias do Cativeiro, que já havia dado origem a um livro, com Ana Lugão Rios2, diversos acervos audiovisuais abertos à consulta (www.historia.uff.br / jongos) e dois filmes: Memórias do Cativeiro e Jongos, Calangos e Folias, desenvolvidos em parceria com Martha Abreu.3 Tive a oportunidade de discutir os filmes e demais resultados do projeto junto ao Centre d’Etudes du Brésil et de l’Atantique Sud, da Universidade de Paris IV e ao CRBC – Centre de Recherche du Brésil Contemporain e ao CIRESC – Centre International de Recherche sur les Esclavages, na EHESS. O festival do filme de pesquisa surgiu de certa forma da rede então constituída e marcou, para mim, o início de uma reflexão comparada sobre história da memória da escravidão nas antigas sociedades escravistas do mundo atlântico.

O impacto na África do processo de patrimonialização da memória da escravidão a partir do projeto Rota dos Escravos da UNESCO e os debates em curso entre historiadores e cientistas sociais franceses sobre explosão memorial e dever de memória estavam, sem dúvida, na base da reflexão. Principalmente, a presentificação da memória da escravidão e sua apropriação política por movimentos antiracistas no Brasil e na França emprestavam novas nuanças às complexas relações entre história da escravidão, memória e usos políticos do passado. O presente dossiê foi pensado na perspectiva de contribuir para aprofundar a compreensão de tais relações, levando em consideração o estado atual da discussão no campo da história e das ciências sociais no Brasil.

Para a escolha dos artigos, parti de uma definição simples de memória: a presença do passado no presente. Os artigos do dossiê procuram refletir sobre a multiplicidade de sentidos atribuídos hoje à experiência da escravidão na era moderna.

Abre o volume o artigo A Herança Musical da Escravidão: da crioulização à world music, de Denis Constant-Martin (Centre d’Etudes d’Afrique Noire, Université de Bordeaux), pesquisador que reúne de forma instigante as competências do cientista político, do historiador e do musicólogo. Sua frase inicial é impactante: “Todas as músicas ditas hoje “populares” ou de “massa” derivam, de uma forma ou de outra, de práticas surgidas no seio de sociedades organizadas em torno da escravidão em territórios conquistados por europeus.” A memória da escravidão no artigo é problematizada como “herança musical” dos processos criativos que emergiram desses contatos, ocorridos “em condições específicas de desigualdade e de violência absolutas fundadas na negação da humanidade de pessoas deportadas”. Nos seus termos, a mestiçagem cultural e os processos de inovação dela decorrentes seriam resultantes imperativas do deslocamento em massa de pessoas para servirem como escravos, em qualquer das sociedades que conheceram a instituição, e para estudar o processo toma como exemplo os casos dos Estados Unidos e da África do Sul. Entre o muito que aprendemos no artigo, está que o contato cultural em situação de desigualdade não impede nem engendra formas específicas de relações raciais, mas produz um nível acelerado de inovação cultural, que atinge igualmente senhores e escravos. Fruto da resistência do escravizado à desumanização, a mestiçagem cultural seria parte inerente às sociedades escravistas e sem dúvida uma herança positiva da escravidão às sociedades contemporâneas, em meio a tantos legados de iniqüidade.

O segundo artigo do dossiê (Aquele que salva a mãe e o filho), da historiadora brasileira Ana Lucia Araujo, professora na Universidade de Howard nos Estados Unidos, nos transporta aos problemas colocados pelo processo de construção de uma memória pública da escravidão e do tráfico negreiro nas sociedades africanas contemporâneas. O tráfico atlântico de africanos escravizados para as Américas foi oficialmente considerado crime contra a humanidade pela ONU que, através da UNESCO, desenvolveu o projeto A Rota dos Escravos, como dever de memória e celebração das contribuições sócio-culturais da diáspora forçada de africanos. Também as condições de desequilíbrio que permitiram a colonização européia da África e a extrema pobreza do continente africano hoje se apresentam, pelo menos em parte, como decorrência do impacto do tráfico negreiro nas sociedades africanas. Neste contexto, a participação das elites africanas no mesmo é tema difícil no exercício da memória no continente ainda hoje. São as tensões entre a pluralidade de memórias sobre o tráfico negreiro e o movimento de patrimonialização da memória da escravidão como crime contra a humanidade no Benin, após a redemocratização do país, que estão no cerne da discussão apresentada por Ana Lucia Araujo em torno da abertura ao público, em Ajudá, do Memorial a Francisco Felix de Souza, negreiro brasileiro radicado no então reino do Daomé, no século XIX.

Os dois artigos seguintes voltam-se para a história da memória da escravidão no Brasil em relação com o processo transnacional de patrimonialização da escravidão e do tráfico como crime da humanidade ainda em curso. Como vimos no caso do Benin, são inúmeras e muitas vezes concorrentes e conflituosas as memórias públicas sobre a escravidão engendradas nesse contexto. Os artigos selecionados procuram dar conta de dois aspectos importantes e diferenciados do momento atual.

O de Matthias Assunção (A memória do cativeiro no Maranhão), historiador da Universidade de Essex, no Reino Unido, pesquisador associado ao LABHOI / UFF e professor visitante na nossa Universidade no ano de 2007, retoma aquele que tem sido o mote principal do projeto Memórias do Cativeiro, desde sua implementação no LABHOI em 1994 – dar visibilidade à memória familiar da experiência do cativeiro presente entre os descendentes da última geração de escravizados no Brasil. Com este objetivo, Assunção revistou as transcrições de entrevistas por ele realizadas ainda no início dos ano 80, no Maranhão, tendo como questão principal a memória da Balaiada, guerra civil que arrasou a região na primeira metade do século XIX. A força da memória do tempo do cativeiro, vivido por pais ou avós dos camponeses então entrevistados emerge com uma força surpreendente, levando-nos mais uma vez a constatar quão próxima ainda é a experiência escravista da realidade do Brasil contemporâneo. O artigo nos faz também indagar sobre o silêncio em que essa memória permaneceu até recentemente. Memória subterrânea, antes enquadrada pelo medo e a ética paternalista, emerge à cena pública através da pesquisa de um historiador e adquire novos significados. Tem-se, assim, uma espécie de efeito secundário da explosão memorial contemporânea, sempre criticada nos seus aspectos superficiais e homogeneizadores por historiadores e cientistas sociais – a emergência de memórias específicas de grupos marginalizados que funcionam como chave para novas leituras do passado.4

O reverso desse processo é a produção de contra discursos públicos e generalizantes sobre a história da escravidão e da abolição no Brasil e sua apropriação por grupos marginalizados em luta por cidadania. É o que acompanhamos no último artigo, sobre uma encenação memorial e educativa levada a efeito pela mãe de santo de um terreiro de candomblé na Baixada Fluminense. O Navio Negreiro, artigo de Francine Saillant, antropóloga da Universidade de Laval, no Canadá, transcreve e analisa a narrativa discursiva e corporal sobre a memória da escravidão produzida naquele contexto, bem como seus significados de reconfiguração de identidade. O artigo complementa, e dialoga com, o filme de pesquisa de mesmo titulo, apresentado na primeira versão do festival do filme de pesquisa sobre patrimônio e memória da escravidão moderna, e disponível em DVD no acervo do LABHOI / UFF, na Biblioteca Central do Gragoatá.

Boa leitura.

Notas

1 A primeira edição do festival itinerante teve início em abril de 2008 em Toronto, Canadá, sob auspícios do Harriet Tubman Resource Centre for the African Diaspora da Universidade de York. Depois repetiu-se em mais 10 cidades no Canadá, França, Senegal, Burkina Faso e Brasil. A edição brasileira ocorreu em novembro do mesmo ano na Universidade Federal Fluminense e no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.
2 Rios, Ana Lugão e Mattos, Hebe. Memórias do Cativeiro. Família, Trabalho e cidadania no pós-abolição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
3 Abreu, Martha e Mattos, Hebe (direção geral). Memórias do Cativeiro, produção LABHOI / UFF 2005 e Jongos, Calangos e Folias. Música Negra, memória e poesia. Produção LABHOI / UFF, Patrocínio Petrobras, 2007.
4 Sobre o tema, ver também Chivallon, Christine. « Mémoires de l’esclavage à la Martinique L’explosion mémorielle et la révélation de mémoires anonymes ». Cahiers D’Etudes Africaines. N. 197, 2010 / 1.

Hebe Mattos


MATTOS, Hebe. Apresentação. Tempo. Niterói, v.15, n.29, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]

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