Memórias, Narrativas e Fronteiras de Gênero / Territórios & Fronteiras / 2011

“Memórias, narrativas e fronteiras de gênero” foi idealizado a partir do Simpósio Temático 45 do Seminário Internacional Fazendo Gênero 9, realizado em Florianópolis (SC) em agosto de 2010. Nesse evento encontraram-se as três historiadoras que ora assumem a organização deste dossiê. Janine e Temis eram as coordenadoras do simpósio e Ana Maria estava inscrita para apresentar trabalho, como as outras também o fizeram. Conhecíamo-nos de outros eventos acadêmicos, mas o contato naquele momento conduziu à ideia de propormos um dossiê para a revista Territórios & Fronteiras, aproveitando a noção de fronteira que permeava as nossas discussões teóricas e conceituais, a aproximação de uma de nós com o Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a temática da revista. O propósito era utilizar a metáfora das fronteiras que nos separam fisicamente em cinco regiões geográficas e aproximar, ligar ou unir alguns artigos num debate comum sobre gênero.

A noção de fronteira inspira-se em Labache & Saint Martin* . Por um lado, as fronteiras delimitam os contornos das categorias sociais (a participação desigual dos indivíduos na vida social) e, por outro, abrem espaços de troca e de encontro para que as classes se comuniquem entre si. As fronteiras separam o “nós” do “eles” e interrompem, circunscrevem ou produzem segregações na distribuição de populações ou de atividades dentro das sociedades. Essas fronteiras não são dadas: constroem-se, ultrapassam-se e desconstroem-se no tempo e com o tempo.

Os cinco artigos, de uma forma ou de outra, abordam modos de percepção e os processos de construção ou transgressão das fronteiras de gênero. Os trabalhos das autoras que circunscrevem as cinco regiões do Brasil (aqui, fronteira no conceito tradicional de espaço) tratam de estudos bem diferentes realizados nos seus contextos específicos. Ana Maria Marques (Universidade Federal de Mato Grosso – CentroOeste) apresenta sua pesquisa sobre a revista A Violeta e problematiza o feminismo da “primeira onda” por intermédio desse periódico no âmbito de uma Cuiabá e um Brasil da primeira metade do século XX. Carolina dos Anjos Nunes de Oliveira (Universidade Federal de Pernambuco – Nordeste) mostra sua pesquisa de mestrado sobre as “profissionais do sexo” nos discursos de jornais da Bahia no período entre 1930 e 1950 e discute os conflitos que emergem da visibilidade que elas ganham no espaço urbano. Janine Gomes da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina – Sul), em coautoria com Valéria König Esteves, aborda a dinâmica do turismo rural em Joinville (SC) na sua interface com as questões da memória e do patrimônio alimentar. Lidia M. V. Possas (Universidade Estadual de São Paulo – Sudeste), por meio de sua pesquisa literária, enfoca as fronteiras das narrativas de mulheres na década de 1930 em São Paulo. Temis Gomes Parente (Universidade Federal do Tocantins – Norte) aborda a vulnerabilidade dos(as) adolescentes na fronteira do extremo norte do Tocantins e a situação de marginalidade construída historicamente nas relações familiares e de trabalho que ali se estabeleceram.

Buscando apreender os processos de enfraquecimento de fronteiras sociais hierarquizadas e experiências de ruptura de fronteiras abordadas em cada texto, convidamos a todos e a todas a empreenderem uma viagem pelos cinco (en)cantos deste Brasilzão!

Nota

* LABACHE, Lucette; SAINT MARTIN, Monique de. Fronteiras, trajetórias e experiências de rupturas. Educação & Sociedade, v. 29, n. 103, p. 333-354, maio / ago. 2008. Centro de Estudos Educação e Sociedade Brasil.

Ana Maria Marques

Janine Gomes da Silva

Temis Gomes Parente


MARQUES, Ana Maria; SILVA, Janine Gomes da; PARENTE, Temis Gomes. Apresentação. Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v.4, n.1, jan / jul, 2011. Acessar publicação original [DR]

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