Histórias, memórias e narrativas dos movimentos sociais LGBTQIA+/Historiæ/2022

No primeiro número de 2022 Historiæ apresenta o dossiê “Histórias, memórias e narrativas dos movimentos sociais LGBTQIA+”, como o próprio título indica abarca estudos que trabalham questões vinculadas aos movimentos sociais LGBTQIA+.

Ao entendermos “movimento social” como sendo coletivos de sujeitos que mobilizam ações que objetivam alcançar alterações sociais, culturais e/ou econômicas por meio de embates político-ideológicos em contextos permeados de tensões, disputas e valores. Este dossiê preocupou-se em reunir resultados de pesquisas acadêmicas que tenham as categorias “narrativas”, “memórias” e “histórias” das atuações de Organizações da Sociedade Civil de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queers, Intersexos, Assexuados + no Brasil como eixos de produção de conhecimento. Para tanto, o dossiê reuniu artigos resultantes de pesquisas, amparadas nas múltiplas possibilidades teórico metodológicas de estudos, imbricadas com a memória, a história e suas narrações, já que as entendemos enquanto elementos centrais aos direitos humanos e componentes indispensáveis ao aprimoramento da democracia e cidadania. Leia Mais

Narrativas sobre África(s) a partir do Brasil | Aedos |2022

Boi Caprichoso Foto Bianca PaivaAgencia Brasil
Boi Caprichoso | Foto: Bianca Paiva/Agência Brasil

Em toda a sua história, este é o primeiro dossiê da revista Aedos dedicado exclusivamente aos estudos relacionados ao continente africano e/ou às populações, culturas e tradições deste espaço geopolítico. Desde o final do século XX, muitas narrativas acadêmicas sobre a(s) África(s) têm sido produzidas a partir do Brasil, tendo um papel relevante na divulgação desses conhecimentos as revistas: ABPN, África e Africanidades, AbeÁfrica (UFRJ), Afro-Ásia (UFBA), África (USP), África(s) (UNEB), Dados de África(s) (UNILAB/UNEB), Cadernos de África Contemporânea (UNILAB), Kwanissa (UFMA) e a Revista Brasileira de Estudos Africanos (UFRGS). Contudo, tais divulgações ainda ocorrem em periódicos específicos e especializados nos estudos africanos, quando o almejado é que tais comunicações circulem também em revistas não especializadas, garantindo assim maior difusão e visibilidade dos vários espaços, tempos e povos no curso da história, associando os conhecimentos sem fundi-los, distinguindo-os sem separá-los (MANFREDO, 2012, p. 1-3).

Nesse sentido, o presente dossiê objetiva construir novos espaços de divulgação de saberes em relação às Áfricas, reunindo produções acadêmicas geradas no Brasil que lançam seus olhares para as múltiplas formas existenciais da África e dos(as) africanos(as), contribuindo para a descentralização acadêmica dos debates sobre essas temáticas. Leia Mais

Narrativas, Universidades e educação | História Oral | 2020

No final de 2019, lançamos por esta revista de História Oral uma chamada para submissão de trabalhos para o dossiê Narrativas, universidades e educação que ora apresentamos. Nosso objetivo era congregar trabalhos que versassem sobre a trajetória das universidades e de seus profissionais. Autores diferentes estabelecem marcos distintos para aquela que teria sido a primeira universidade do país – dentre outras, a Universidade de Manaus, atual Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em 1909, a Universidade do Paraná, hoje Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1912, e a Universidade do Rio de Janeiro, depois Universidade do Brasil e, por fim Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1920) – sendo, não obstante, seguro dizer que já nos aproximamos dos seus primeiros cem anos de atividade no Brasil. Especialmente aqui, essas instituições se constituíram como o espaço primordial de produção em ciência, tecnologia e conhecimento, possuindo também relevante papel na formação de professores para todos os níveis de educação. Diante dos desafios que têm acometido os estabelecimentos de ensino superior nos últimos anos, nós, organizadoras deste dossiê junto com as editoras que acolheram nossa proposta, acreditamos na importância de reunir trabalhos que registrem e debatam o papel da comunidade universitária nas múltiplas dimensões que ela pode ter assumido: na abertura de novas áreas de conhecimento, na interiorização de seus serviços e, especialmente, na formação de professores. Leia Mais

Memórias, Narrativas e Patrimônios | Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica | 2020

A vida humana e suas trajetórias, desde algum tempo, passaram a ter, nas práticas museológicas e de cunho patrimonial, uma centralidade e importância significativas, pois somente ao se considerar as experiências individuais e coletivas é que os atos de preservação se justificam. Tal perspectiva impõe-se, pois, se por um lado, a trajetória é marcada por conexões com territorialidades e materialidades, por outro, toda a produção de cultura material, matéria-prima das ações de preservação, não pode ser entendida afastada da vida humana e suas aventuras.

O dossiê Memórias, Narrativas e Patrimônios reúne 16 artigos que provocam e cruzam discussões sobre práticas patrimoniais, experiências e memórias de modos diversos como os sujeitos vivem e constroem patrimônios e potencializam ações dos agentes envolvidos nesses processos. Leia Mais

Memórias, Patrimônios e Narrativas / Ofícios de Clio / 2020

Existem três tempos, disse Santo Agostinho no livro XI de suas Confissões, “o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. (…) O presente do passado é a memória; o presente do presente é a intuição direta; o presente do futuro é a esperança.” Assim também podem ser pensadas as relações entre memória, patrimônio e narrativa, uma vez que são fenômenos que adquirem sentido no presente, e mobilizam a percepção que se tem de passado e de futuro, seja como reconhecimento ou como promessa (RICOEUR, 2007). No mesmo sentido, a dimensão narrativa que envolve as noções de memória e de patrimônio lança luz sobre diferentes zonas de conflito e de reivindicações identitárias, manifestadas em lugares, discursos e celebrações.

Da mesma forma, cabe lembrar que a memória também é construída por meio de narrativas, que constituem discursos e organizam experiências, de modo a dar sentido à relação que uma coletividade estabelece com o seu passado. Essa relação está presente não apenas naquilo que se diz do passado, mas nos lugares, bens, saberes e fazeres reconhecidos como patrimônios.

Ainda que a noção de patrimônio, como herança, remonte a Antiguidade Clássica, é a sua dimensão política e suas interfaces sociais e culturais que interessam a esta discussão. De acordo com Josep Ballart Hernandez, o patrimônio é resultado de um ou mais processos de atribuição de valores socialmente construídos, em suas palavras:

El valor es una cualidad añadida que los individuos atribuyen a ciertos objetos que los hacen merecedores de aprecio. Estamos, pues, ante un concepto relativo que aparece y desaparece en función de un mareo de referencias intelectuales, culturales, históricas y psicológicas, que varia según las personas, los grupos y la épocas. (HERNÁNDEZ et al.1996, p. 215)

Esses valores resultam, por sua vez, do conjunto de memórias compartilhadas por uma coletividade, bem como dos hábitos e costumes consolidados em suas narrativas, rituais e lugares de memória (NORA, 1993). Assim, quando se propõe a discussão em torno das relações estabelecidas entre memória, patrimônio e narrativa, o que se está realmente propondo é um olhar sobre a construção, a difusão e a consolidação desses valores, que, em última análise, refletem a sociedade que os reproduz.

Nessa perspectiva, a memória é percebida não apenas como a capacidade de reconhecer e acumular uma lembrança, mas também como um processo de compartilhamento de representações sociais, as quais se manifestam de diferentes formas, desde o estabelecimento de cultos e práticas religiosas, até a superação de traumas e a reivindicação identitária. Dessa forma, como afirma Joel Candau (2012, p. 19), “Não há busca identitária sem memória e, inversamente, a busca memorial é sempre acompanhada de um sentimento de identidade”.

A importância da narrativa como um elemento de coesão tanto nos processos de patrimonialização, quanto nas buscas memoriais se faz evidente nos artigos que compõem este dossiê, demonstrando que a narrativa não se restringe ao gesto do testemunho, mas está imbricada nas práticas sociais e nos costumes consolidados por elas. Afinal, como afirma Bruner (1997, p. 152) “nuestra experiencia de los asuntos humanos viene a tomar la forma de las narraciones que usamos para contar cosas sobre ellos”.

Os artigos que compõem este dossiê discutem, cada um à sua maneira, as relações entre patrimônio, memória e narrativa. Podendo ser divididos em dois grupos: o primeiro, composto por artigos que discutem essas relações pelo viés da narrativa e dos seus desdobramentos como rituais e tradições; o segundo, composto por artigos que discutem a cultura material, expondo o modo como as coletividades se relacionam com as materialidades do seu passado. A seguir, conheça um pouco sobre cada um deles.

No artigo “Escrita, biografia e sensibilidade: o discurso da memória soviética de Svetlana Aleksiévitch como um problema historiográfico”, João Camilo Grazziotin Portal, mestrando da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) chama a atenção para a necessidade de se pensar o indivíduo como um elemento fundamental na construção da narrativa histórica, e o faz por meio de uma leitura crítica da obra de Svetlana Aleksiévitch. Nessa perspectiva, o autor discute os usos da memória enquanto fonte para o gênero literário testemunhal, abordando as noções de verdade e de testemunho no intricado limite entre a História, a Memória e a Literatura.

Com o mesmo propósito de buscar o indivíduo na construção da narrativa histórica, Vanessa dos Santos Bernardes, mestranda do Programa de Pós-Graduação (PPG) da Universidade Federal de Pelotas, em seu artigo intitulado “De soldado a santo: a história de Maximiano Domingos do Espírito Santo. ‘O homem com a grandeza de um coração bem formado’”, apresenta-nos a trajetória biográfica de um santo popular e seu legado para o imaginário social fronteiriço. Nesse artigo a noção de memória é discutida tanto em relação ao ritual de visitação / adoração ao túmulo de Maximiano, como ao compartilhamento de representações sociais referentes a sua importância para o protagonismo negro na região.

As narrativas religiosas e os rituais que as envolvem, também protagonizam o artigo “Narrativas da religiosidade popular em Bonito -MS: o mito de Sinhozinho, o santo (1940-2018)”, sob a autoria da doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Layanna Sthefanny Freitas do Carmo. Com um olhar sensível à religiosidade popular e à dimensão mítica das narrativas sobre Sinhozinho, a autora expõe a persistência da memória pela tradição oral, bem como a importância de se considerar a literatura local como fonte.

Em “A comemoração como lugar de disputa: um estudo das mobilizações do passado pelos povos indígenas nas Comemorações dos ‘500 anos do Brasil’ (2000)”, Pedro Henrique Batistella, mestrando da UFRGS, apresenta uma profícua discussão sobre os usos políticos do passado no contexto de disputa pela memória que caracterizou as comemorações dos “500 anos do Brasil”. Com um olhar voltado às ações do e sobre o movimento indígena, o autor expõe as políticas de comemorações em suas dimensões de classe, raça, gênero e status de cidadania.

As questões metodológicas que envolvem a compreensão contemporânea dos discursos sobre gênero e sexualidade são o mote do artigo “Agripina e o diálogo com o poder: reflexões sobre gênero e sexualidade em / na Roma Antiga”, sob autoria de Caroline Coelho, aluna de graduação em História da UFRJ. Ao discutir a importância de Agripina como mulher politicamente ativa na biografia de Nero, a autora expõe as formas de poder que permeavam as relações de gênero no Império, bem como os silenciamentos e distorções acerca da construção da imagem de Agripina e das narrativas construídas sobre ela.

Os conflitos de memória e os processos de reivindicação memorial relativos a eventos traumáticos da história recente brasileira são as principais temáticas trabalhadas pelo mestrando da UNICENTRO, Bruno César Pereira, em seu artigo intitulado “O Massacre do Carandiru: entre apagamentos e exclusões, uma disputa pela memória”. Com o propósito de compreender as relações de disputa que envolvem as diferentes narrativas sobre o massacre do Carandirú, o autor busca, na produção bibliográfica e audiovisual produzida sobre o evento, expor as contradições existentes entre essas narrativas, bem como demonstrar as relações de poder e os silenciamentos decorrentes da consolidação dessas narrativas.

No artigo “Aproximação entre dois patrimônios: a construção narrativa dos Conventos Franciscanos nas Crônicas da Ordem no Período Colonial”, sob autoria de Rafael Ferreira Costa, também do PPG da UFPEL, a relação entre narrativa e patrimônio se dá no âmbito da escrita, isto é, na relevância do conhecimento preservado nas Crônicas Clássicas da Ordem dos Frades Menores de São Francisco no Brasil, para a compreensão dos processos de patrimonialização de seu espólio construtivo. O autor desenvolve, assim, uma discussão em torno do valor patrimonial das Crônicas e das edificações pertencentes à Ordem, expondo as construções narrativas que as conectam.

A relação entre os imigrantes espanhóis e a cidade de Belém do Pará, construída desde o processo migratório iniciado no século XIX, é o tema tratado por Aline de Kassia Malcher Lima, mestranda da Universidade Federal do Pará (UFPA), no artigo intitulado “Belém dos Imigrantes: espanhóis na capital paraense (1890-1920)”. Dessa forma, a autora propõe uma reflexão sobre a relevância das redes de sociabilidade e solidariedade construídas por esses imigrantes no cenário socioeconômico de Belém.

A relação entre cultura material e memória é o mote do artigo intitulado “Alinhavando as memórias: a apropriação do vestuário como objeto de recordação”, sob autoria de Laiana Pereira da Silveira, mais uma componente do PPG da UFPEL. Nele a autora discute a importância do vestuário como um objeto de recordação, sobre qual são estabelecidos vínculos identitários e de pertencimento. No mesmo sentido, a autora evidencia o papel evocador de memórias exercido pelo vestuário, enquanto objeto cotidiano que acompanha os indivíduos por toda a vida.

O necessário diálogo entre a Arqueologia e a História, para uma melhor compreensão dos processos de ocupação do território e de construção das estruturas sociais sobre as quais a sociedade brasileira está baseada, configura o mote do artigo intitulado “Cumaú ou Santo Antônio? Uma Abordagem Histórica Sobre o Forte no Igarapé da Fortaleza – AP”, sob autoria de Diovani Furtado da Silva, mestre pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Nele, o autor expõe a complexidade das narrativas construídas sobre o objeto analisado, isto é, o Forte Português construído sobre os vestígios do Forte Inglês, que por sua vez, foi construído junto a um assentamento indígena.

No artigo intitulado “Museu Imperial: narrar entre as reticências da memória e as exclamações da História”, Priscila Lopes d’Avila Borges, doutoranda da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), discute a relação entre memória, narrativa e patrimônio sob a perspectiva da educação em museus, questionando o uso pedagógico do museu e expondo os silenciamentos que podem decorrer de práticas equivocadas no relacionamento público-museu. O museu, enquanto lugar de memória, é apresentado pela autora como um universo potencial de aprendizagem, quando reconhecido como um campo de disputa e tensão entre memória e esquecimento.

Uma abordagem semelhante, relativa a comunicação entre público e instituições de salvaguarda, ou gestores patrimoniais, pode ser observada no artigo intitulado “A Importância do Inventário Participativo na Preservação do Patrimônio Cultural”, sob autoria da mestranda pela Universidade Federal do Pernambuco, Emanuelly Mylena Velozo Silva. Nele, a autora chama a atenção para a importância do inventário participativo como um instrumento cultural que aproxima sociedade civil e Estado ao longo dos processos de reconhecimento e salvaguardada do Patrimônio Cultural. Da mesma forma, aponta para a contribuição dessa forma de inventário para a valorização de tradições territórios e saberes negligenciados por formas mais convencionais de registro.

Ainda dentro de uma perspectiva crítica em relação à comunicação entre instituições de memória e seus públicos, o artigo “A pedagogia da memória através dos comentários do TripAdvisor: análise do Archivo Provincial de la Memoria, Argentina”, sob autoria de Carolina Gomes Nogueira, mestranda do PPG da UFPEL, propõe uma reflexão acerca da pedagogia da memória enquanto uma estratégia educativa adotada pelo Archivo Provincial de la Memoria, e seus desdobramentos nos discursos difundidos no ciberespaço. Assim, a autora traz para o campo do debate as conexões entre políticas de memória e justiça de transição, bem como sua relevância para a relação estabelecida entre os visitantes e a instituição de salvaguarda.

Por fim, cabe ressaltar que, como afirma Carlo Ginzburg (2007, p.8), “entre os testemunhos, seja os narrativos, seja os não narrativos, e a realidade testemunhada existe uma relação que deve ser repetidamente analisada”, e esta relação se faz ver, direta ou indiretamente, nas muitas formas como os indivíduos e as coletividades se relacionam com o seu passado. Os artigos que compõem este dossiê apresentam uma gama diversa dessas relações e, assim, contribuem para uma melhor compreensão do mundo enquanto espaço comum, neste tempo entre a memória e a esperança.

Referências

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. Confissões. Tradução de Frederico Ozanam Pessoa de Barros. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

BRUNER, Jerome. La Educación Puerta de la Cultura. Madri: Visor, 1997.

CANDAU, Joel. Memória e Identidade. São Paulo: Contexto, 2012.

GINZBURG, Carlo. O Fio e os Rastros: Verdadeiro, Falso, Fictício. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

HERNÁNDEZ, Josep Ballart et al. El valor del patrimônio histórico. Complutum Extra, 6(11), 1996. P. 215-224. https: / / revistas.ucm.es / index.php / CMPL / article / view / CMPL9696330215A / 29835 Último acesso em 05 / 05 / 2020

MENDOZA GARCÍA, Jorge. «Las formas del recuerdo. La memoria narrativa». Athenea digital, [en línea], 2004, n.º 6, https: / / www.raco.cat / index.php / Athenea / article / view / 34157 [Consulta: 20-09- 2020].

RICOEUR, Paul. A Memória, a História, o Esquecimento. Campinas: Editora Unicamp, 2007.

Cristiéle Santos de Souza – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural / UFPel.

Isabel Cristina Bernal Vinasco – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural / UFPel.


SOUZA, Cristiéle Santos de; VINASCO, Isabel Cristina Bernal. Apresentação. Revista Discente Ofícios de Clio, Pelotas -RS, v.5, n. 8, jan./jun., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Narrativas, pandemia e adoecimento social | Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica | 2020

O ano de 2020 nos trouxe o cenário pandêmico com todos os seus desdobramentos sociais, políticos, econômicas, sanitários, educacionais, comunicacionais, culturais, e tantos outras implicações cotidianas nunca experimentadas pelos sujeitos deste século, um trauma em proporção planetária. Ao passo que o isolamento se mostra como a estratégia mais eficaz de proteção das populações, ele vem produzindo angústia, medo, tensões diante dos agravantes psicossociais, dos novos cuidados e hábitos de saúde e da confrontação com a vulnerabilidade física, emocional e social que se impõe a todos, de forma global. A confrontação com a morte e com a finitude da vida ou com a condição de vida precária traz à tona um tema tabu que ganha contornos ainda mais duros diante da impossibilidade de manter ritos de passagem que secularmente estruturam as relações pessoais e dão forma às histórias de vida. Até a presente data no Brasil, os números de mortes pela COVID-19 caminham para as 200 mil mortes, mas as notícias que chegam pela grande mídia sugerem subnotificações. São 200 mil famílias que perderam seus entes queridos. Perdas que exigem novas formas de elaborar o luto diante da suspensão dos habituais rituais de despedida. Leia Mais

Narrativas, Direitos Humanos e Formação de Professores de História / História Hoje / 2020

Este Dossiê é uma afirmação das práticas narrativas e da visibilidade das reelaborações de memórias e seus usos no campo da pesquisa no ensino de História. Uma aposta na educação em e para os Direitos Humanos na formação de professores de História com intenções claras de defesa da república e da democracia. Trata-se de um dos resultados dos últimos estudos desenvolvidos no âmbito do Grupo de Pesquisa Subjetividades e (Auto)biografias da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), que agora ampliamos e fortalecemos os diálogos com as produções científicas nacionais, contribuindo com as redes de estudos e pesquisas que compõem o campo do ensino de História.

A teorização da ligação orgânica entre narrativa, memória e história, mesmo não sendo um campo de estudos recente, permanece fundamental para os campos da História e da Educação, especialmente materializados no ensino de História. Se estes estudos por si só não são novidade, o Dossiê traz uma contribuição substancial para o ensino de História ao ampliar e diversificar as possibilidades que as narrativas fornecem no campo em articulação com a formação e autoformação de professores de História. Leia Mais

História oral e memória na construção das narrativas sobre as representações político-culturais do Brasil atual / Faces da História / 2019

Este número de Faces da História traz o dossiê História oral e memória na construção das narrativas sobre as representações político-culturais do Brasil atual que se propõe refletir sobre assuntos que estejam amparados nessas representações memoriais resultantes da produção direta, a partir do diálogo entre entrevistador e entrevistado e de fontes que contemplam outros suportes. Em decorrência da natureza dessas fontes, as pesquisas baseadas em tais registros são inseridas no campo da história do tempo presente e estruturam-se em dimensões transnacionais (TREBITSCH, 1994; MORAES, 2002; ALBERTI, 2005), tornando-se sustentáculos do debate especializado do ponto de vista teórico e historiográfico e de definição dos protocolos de pesquisa e reflexões desse campo (JOUTARD, 2000).

Certamente, qualquer fonte traz suas peculiaridades e dificuldades que sinalizam desafios ao processo de execução para se chegar ao conhecimento sobre o passado, mesmo que esteja subordinado às visões de mundo do pesquisador do presente. As narrativas orais, entretanto, foram e são percebidas prenhe de significados e paixões decorrentes dos envolvimentos dos protagonistas nas querelas, compromissos e inserções dos embates conjunturais que modulam suas vivências. Nesse sentido, foram e continuam sendo recorrentemente arguidas por evidenciarem subjetividades que inicialmente estiveram definidas como empecilho para chegar ao conhecimento sobre os fenômenos submetidos, unicamente, aos relatos desses narradores. Segundo os seus arguidores, por serem fontes inscritas em passado recente, não permitem aos atores envolvidos (entrevistador / entrevistado) certo distanciamento para lidar com esses registros de testemunhas oculares que trazem as marcas de suas implicações nas querelas de seu tempo.

As discussões avançam no sentido de reconhecer a diversidade de narrativas e a formulação de outras para o mesmo evento, que esgarça a perspectiva da narrativa certa, em contraposição ao discurso errado sobre o acontecido. Portelli alerta à “atitude do narrador em relação a eventos, à subjetividade, à imaginação e ao desejo, que cada indivíduo investe em sua relação com a história” (PORTELLI, 1993, p. 41) que pode não incidir na realidade, mas na possibilidade. Ou seja, a representação de um “presente alternativo, uma espécie de universo paralelo no qual se cogita sobre um desdobramento de um evento histórico que não se efetuou” (PORTELLI, 1993, p. 50) que, na análise do autor, é característico da “narrativa ucrônica” que se inscreve em paradigma maior: a grande narrativa literária do inconformismo.

Isso não significa desconsiderar os lapsos, esquecimentos, omissões e reelaborações presentes nessas narrativas. Afirma-se sua importância para esclarecer não apenas ausências de informações e envolvimentos dos próprios narradores nos acontecimentos tratados, mas também o universo de valores e visões de mundo atinentes aos protagonistas em tela. E, ainda, ficar atenta para perceber aquelas memórias que foram soterradas ou silenciadas, como observou Michel Pollak (1989). O não-dito não significa o esquecimento, mas sim estratégias de sobrevivência diante de situações embaraçosas e sem solução, como a convivência com o inimigo de ontem.

No âmbito dessa trajetória, passa-se à arguição sobre a problemática da verdade, assunto de acalorado debate, chegando-se à formulação de sua ilusão por uns (BOURDIEU, 1998), ou à “produção de verdade”, para outros teóricos, como Beatriz Sarlo. A autora analisa a “transformação do testemunho em um ícone da verdade ou no recurso mais importante para a reconstrução do passado” (SARLO, 2007, p. 19), tecendo pesadas críticas a certos reducionismos de uso do relato oral, a partir de referencial que trata de situação-limite como o holocausto, para eventos corriqueiros.

Independentemente da complexidade teórica que envolve esse campo, o convite aos autores / autoras foi bem sucedido pela presença marcante de textos alusivos ao temário desse dossiê. Resultaram do processo avaliativo textos que foram estruturados em eixos temáticos, mesmo considerando as abordagens teóricas plurais, fruto das opções feitas pelos autores para suas análises sobre os assuntos pesquisados.

O primeiro deles agrega quatro artigos, sendo três que abordam aspectos da memória dos afrodescendentes e cultura africana, e que consistem, primeiramente, na abordagem dos autores Debora Linhares da Silva e José Maia Bezerra Neto sobre os processos de alforria que ocorreram na cidade de Belém / PA entre os anos de 1850 a 1880, estabelecendo um diálogo com as obras dos literatos Aluísio de Azevedo e Henry Walter Bates; na sequência, tem-se o trabalho de Leonam Maxney Carvalho que versa sobre a reconstrução das identidades dos quilombolas na localidade de Santa Efigênia, no município de Mariana / MG; ademais, o artigo de Mônica Pessoa que apresenta as tradições orais africanas como fonte de pesquisa interdisciplinar na busca da apreensão das vozes africanas e a potência de sua cultura oral; e fechando este bloco temático, o texto de Fábio do Espírito Santo Martins aborda a questão indígena no processo de luta que reivindica a demarcação da Terra Indígena (TI) Tekoá Mirim, localizada no litoral do Estado de São Paulo, e utiliza as tradições baseadas na cosmologia juntamente com o estabelecimento de uma práxis cotidiana indígena na luta pela demarcação territorial. Estes textos situam-se em tempos distintos na história do país e da África.

A segunda linha temática, composta de seis textos, apresenta discussões a respeito do patrimônio cultural material e imaterial brasileiro. O primeiro artigo, de Lourenço Resende da Costa e Jair Antunes, trabalha a questão da utilização da oralidade para os descendentes ucranianos brasileiros que vivem no município de Prudentópolis / PR, apresentando a importância do trabalho realizado pela Igreja Ucraniana juntamente com as escolas do município neste esforço de preservação identitária. O trabalho seguinte, de Priscila Onório Figueira, analisa as consequências do desastre ambiental provocado pela explosão do navio chileno Vicuña, no ano de 2004, cotejando as diferentes memórias e conflitos que a comunidade litorânea de Amparo, localizada na baía de Paranaguá / PR desenvolvem sobre esta trágica ocorrência.

O próximo artigo, de Mariana Schlickmann, concatena os relatos de oito moradores do bairro da Barra, localizado na cidade de Balneário Camboriú / SC, destacando as memórias sobre a atividade pesqueira, sufocada pela crescente especulação imobiliária, enfatizando as crescentes tensões entre os moradores sobre os bens culturais materiais e imateriais daquela localidade. A memória dos trabalhadores que transportam mercadorias e materiais de construção utilizando-se das carroças de tração animal na cidade de Montes Claros / MG é o enfoque do próximo texto, de Pedro Jardel Fonseca Pereira, que vincula estas memórias ao desenvolvimento histórico do município bem como ao processo de crescimento urbano e à inserção dos carroceiros nesta relação dinâmica.

Ainda nessa matriz temática, dois textos abordam a memória escolar: o primeiro deles, de Anne Caroline Peixer Abreu Neves, trata das memórias das alunas da Escola Pública Itoupava Norte, localizada em Blumenau / SC, que relatam suas percepções, adquiridas entre os anos de 1943 a 1950, em relação às experiências educacionais vivenciadas no período. Essas narradoras rememoram fragmentos da campanha de nacionalização do ensino e a exigência da língua vernácula e dos símbolos nacionais brasileiros impostos aos imigrantes e seus descendentes durante o período do Governo Vargas. O segundo trabalho, de Francine Suélen Assis Leite e Jairo Luis Fleck Falcão, expõe o processo de colonização do município de Juara / MT pelo depoimento de um professor aposentado, da disciplina de matemática, que relata o cotidiano escolar na jovem cidade mato-grossense que surgiu por meio do processo colonizador de expansão das fronteiras agrícolas.

Os últimos textos desse dossiê têm suas peculiaridades: o artigo de Filipe Arnaldo Cezarinho, embora se insira no debate sobre o patrimônio imaterial, apresenta questões de cunho metodológico no trato das fontes documentais orais e digitais e, em decorrência, foi agrupado no último eixo temático que traz questões metodológicas atinentes ao campo. O autor trata, por exemplo, da memória sobre a Guerra de Espadas que acontece em Cruz das Almas / BA, fortemente arraigada na tradição popular. A pesquisa analisa o discurso popular em contraposição ao presente processo de criminalização da manifestação cultural, onde estas fontes se constituem em desafio para os historiadores contemporâneos.

Aspecto assemelhado de disputa pela memória, sob outro viés, aparece no artigo Amerino Raposo e a Polícia Federal, de Priscila Brandão, que discute a trajetória dessa Instituição criada na década de 1960 e as disputas em torno do “ato fundador” recorrentemente acionado por grupos internos em disputa. A ala dos “novos” tenta descolar-se do envolvimento com as mazelas e da violência praticada pela ditadura militar contra seus opositores. A solução encontrada foi transferir a origem dessa Instituição para outra congênere, criada nos anos 1940 por Getúlio Vargas, que não tinha, de fato, esse papel federativo da PF criada na década de 1960 com os militares no poder. As disputas envolvem, além de outras questões, a recusa do legado recente sobre o envolvimento direto de alguns integrantes da Polícia Federal em atos de tortura e morte de opositores ao regime militar.

Por fim, o artigo sobre Paulo Emílio Sales Gomes, de Rafael Morato Zanatto, traz a contribuição do intelectual brasileiro na formação dos estudos históricos do cinema brasileiro e também suas contribuições para a História Oral pátria. O texto desvenda elementos significativos da trajetória em defesa da preservação desse passado, mostrando as preocupações de Paulo Emílio na prospecção de fontes variadas. A orientação na definição de roteiros parte da busca de informações diversificadas, com o objetivo de abordar os elementos que propiciam os passos dos cineastas, atores, cinegrafistas, fotógrafos, entre outros.

Mas, para o presente dossiê, sua importância assume papel estratégico por trazer a trajetória de formulação de procedimentos metodológicos para a consecução dos depoimentos orais, antecipando-se ao percurso posterior desse campo, ao trazer a relevância de seu uso, dúvidas e questões relativas à parcialidade, lacunas e produção de verdade desses depoimentos. Delineia todos os passos da pesquisa, desde o roteiro aos cuidados na abordagem do entrevistado, sua autorização para publicação, chamando a atenção para a necessidade de ouvir diferentes protagonistas sobre o mesmo assunto para sair das armadilhas do relato, mas ainda inscrito numa perspectiva de busca de informações corretas para, no caso, recuperar os primórdios da história do cinema brasileiro.

Para concluirmos esta Apresentação, queríamos registrar o reconhecimento dos desafios enfrentados por qualquer pesquisador do tempo presente para cumprir os protocolos do campo, cuja singularidade está marcada pelo diálogo (dúvidas e possíveis tensões) com os protagonistas de seu objeto de investigação.

Caros leitores / as, esperamos que gostem dos assuntos abordados nesse dossiê. Desejamos boa leitura e parabéns aos autores.

Assis, junho de 2019.

Referências

ALBERTI, Verena. Fontes Orais. Histórias dentro da História. In: Pinsky, Carla Bassanezi. Fontes Orais. São Paulo: Contexto. 2005, p. 155-202.

BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, M. de M. & AMADO, J. Usos e abusos da História Oral. 2a ed. RJ: FGV, 1998.

JOUTARD, Philippe. Desafios da história oral do século XXI. In: FERREIRA, Marieta; FERNANDES, Tânia Maria e ALBERTI, Verena. (Orgs.) História Oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: FGV, 2000.

MORAES, Marieta Ferreira de. História, tempo presente e história oral. Topoi, Rio de Janeiro, dezembro 2002, p. 314-332.

PORTELLI, Alessandro. Sonhos ucrônicos. Memórias e possíveis mundos dos trabalhadores. Projeto História, n. 10, dez / 1993, p. 41-58.

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Rio de Janeiro: Estudos Históricos, vol. 2, 1989.

SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução: Rosa Freire d’Aguiar. Belo Horizonte: Companhia das Letras; UFMG, 2007.

TREBITSCH, Michel. A função epistemológica e ideológica da História oral no discurso da história contemporânea. In: MORAES, Marieta Ferreira (Org.). História Oral e multiplicinaridade. Rio de Janeiro: Diadorin / Finep / FGV, 1994.

Zélia Lopes da Silva – Professora Doutora (Unesp / Assis)

José Augusto Alves Netto – Professor Mestre (Unespar / Paranavaí), doutorando em História (Unesp / Assis)


SILVA, Zélia Lopes da; ALVES NETTO, José Augusto. Apresentação. Faces da História, Assis, v.6, n.1, jan / jun, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Percursos narrativos em educação matemática | Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica | 2019

Necessitamos de uma linguagem para a experiência, para poder elaborar (com outros) o sentido ou a falta de sentido de nossa experiência, a sua, a minha, a de cada um, a de qualquer um. Larrosa (2015, p. 67-68)1

O que tem mobilizado os educadores matemáticos para traçar seus percursos investigativos tomando as narrativas como inspiração teórico-metodológica? Seriam as narrativas uma linguagem para conversarmos sobre a educação matemática?

Parece-nos que esse tem sido um caminho promissor, para produzirmos nossas pesquisas, colocando-nos à escuta de estudantes e professores, como forma de darmos sentido às nossas experiências com o ensino e a formação do professor que ensina matemática. Como um ato político de valorizarmos as vozes daqueles que, historicamente, têm sido silenciados. Leia Mais

História e Educação: narrativas, práticas e sensibilidades / Ágora / 2018

Ao finalizar a organização do Dossiê “História e Educação: narrativas, práticas e sensibilidades”, vem-nos a certeza de que alcançamos os objetivos propostos, uma vez que congregamos textos que foram resultados de investigações realizadas no sentido de contribuir para os debates acerca das interfaces possíveis entre História e Educação, considerando tanto sua contribuição para a pesquisa quanto para a formação do historiador e do educador.

Dessa forma, oferecemos ao leitor um painel sobre as questões que podem, atualmente, sintetizar e orientar os estudos que se esforçam em relacionar História e Educação, considerando, especificamente, formas de narrativas, diversidade de práticas e as sensibilidades aí presentes.

Ora, a questão das sensibilidades na História, destacada por Lucien Febvre, não está limitada às fontes, mas diz respeito à própria compreensão da História e das durações. As formas de narrativas, nesse sentido, contribuem para as diferentes possibilidades de leitura das inscrições com as quais práticas do sensível marcam o tempo.

Assim, Leonardo Querino B. F. dos Santos, reflete, em seu texto A educação como problema médico: a pena de Belisário no debate sobre os males do Brasil (1912 – 1933), sobre as representações construídas por Belisário Pena sobre educação e saúde, priorizando fontes epistolares e a imprensa comum. Dessa forma, analisa como educação e saúde foram amalgamadas em uma representação de solução nacional, assim como discute sobre os debates que, naquele contexto específico, erigiram uma representação de “males brasileiros” a partir do paradigma médico. Conclui que, para Belisário, uma educação curativa e redentora só poderia ocorrer em três eixos unidos pelo referencial higienista: instrução, educação sanitária e cuidados com a saúde.

Por sua vez, Hadassa A. Costa estudou a arquitetura escolar em Campina Grande (PB) no início do século XX. No artigo intitulado A modernidade no corpo e no espaço: Práticas de Subjetivação, Higiene Moderna e Arquitetura Escolar, a autora analisa as influências das ideias de modernização no cotidiano escolar, especificamente a simbologia que a arquitetura moderna imprimia à escola. Nesse sentido, ao considerar a digestão do ambiente escolar como partícipe do aprendizado, analisa também os elementos que compuseram a construção da subjetividade daqueles alunos.

Entre o coletivo e o individual: memórias de um professor de História de escola pública é um, texto que reflete sobre o papel do educador considerando as urgências dos dias atuais. Assim, a autora Simone dos Santos Pereira analisa a narrativa de um professor de História sobre sua trajetória de vida e vivências na profissão docente entre o último quarto do século XX e a primeira década do século XXI. O olhar sensível sobre a fala desse professor permitiu à autora analisar diacronicamente as condições de sua permanência na docência considerando: sua paixão pela disciplina lecionada, seu engajamento político e seu reconhecimento como ser histórico, refletindo sobre seu papel social.

As práticas educativas efetivadas por docentes e discentes em uma determinada comunidade escolar é o tema do artigo de Janielly Souza dos Santos intitulado Não NEGO minha história: sou paraíba, sim senhor! Trata-se de um relato de experiência a partir da concepção de um ensino de História baseado no cotidiano dos alunos. História e Educação imbricam-se, assim, a partir da narrativa de práticas educativas fruto das sensibilidades produzidas pelos sujeitos que encenaram reflexões sobre história local e sobre suas próprias histórias.

Giuslane Francisca da Silva apresenta um trabalho sobre a atuação das chamadas Irmãs Azuis na educação escolar em Mato Grosso. Evangelizar, rezar e educar: a atuação da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Castres no campo educacional em Mato Grosso (1904-1971). Para tanto, analisa o percurso da instalação da Congregação no Brasil para além de seu intuito de fundar colégios. Focaliza, dessa forma, priorizando os arquivos da Congregação e textos produzidos também pelas freiras, as sociabilidades estabelecidas entre as Irmãse os que estavam sob seus encargos, construindo uma narrativa que dá visibilidade aos sujeitos envolvidos.

Agilidade, destreza e resistência adquiridas na infância: jogos e brincadeiras nas aulas de educação física da Paraíba (1920-1945)é um artigo de autoria de Alexandro dos Santos e Azemar dos Santos Soares Jr. Utilizando como fontes impressos que circularam na Paraíba durante a primeira metade do século XX, analisam, nesses veículos midiáticos, o valor educativo atribuído aos brinquedos, jogos e brincadeiras nas aulas de Educação Física como meio para a medicalização e disciplinarização do corpo dos alunos.

Este conjunto se oferece à leitura em momento oportuno, quando vemos educação e ensino de História ameaçados em suas práticas e sentidos, em nome de uma política puramente mercadológica que esvazia os sujeitos do processo educacional. Faz-se, hoje, urgente, uma reflexão histórica sobre práticas e sentidos da educação, visando a compreendermos o como e o porquê representações hegemônicas em um determinado contexto constituíram práticas educativas que ainda perduram e alimentam outras representações.

Juçara Luzia Leite

Iranilson Buriti de Oliveira

Organizadores.

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Imagens, narrativas e currículos | Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica | 2017

O dossiê Imagens, narrativas e currículos inscreve-se em uma rede de pesquisa e possibilita diversas reflexões, cujo produto resultante viria a ser algo múltiplo. Admitimos este fato, há muito tempo, já que entendemos – ao contrário do que nos ensinaram a maioria dos movimentos de pensamento acerca de escolas1 – existir uma intensa relação entre os muitos “dentrofora”2 das escolas, possibilitada pelos movimentos cotidianos que os “praticantes-pensantes” (OLIVEIRA, 2012)3 fazem.

Trabalhando com a ideia de que todos nós formamos inúmeras redes educativas – todas de “práticasteorias”4 – entendemos que os múltiplos “conhecimentossignificações” que nelas são criados, são relacionados e referidos a todos os “espaçostempos” dessas mesmas, pelas tantas “idasvindas” que fazemos entre elas.

Nos “espaçostempos” escolares, assim, estão presentes inúmeros currículos ocupados por inúmeros “artefatos culturais” que se transformam em curriculares, com os processos pedagógicos aí desenvolvidos. Nestes encontramos: artefatos materiais – cadeiras, mesas, lousas, calendários, chamadas, janela climática, quadros diversos; produções externas de normatização, como leis de ensino, normas administrativas ou decisões da equipe de direção das regionais de ensino; crenças pedagógicas – teorias didáticas e curriculares, métodos de ensino, formas de trabalhar e estudar; artefatos tecnológicos – televisão, vídeos, instrumentos musicais etc. Aí estão também os corpos e as mentes daqueles que “habitam” esses “espaçostempos”, fazendo-os seus: estudantes, docentes, pessoal administrativo e funcional, responsáveis pelos estudantes, comunidade local etc. O conjunto desses artefatos materiais, ideológicos e teóricos, somado aos seres humanos que os reproduzem e produzem outros “conhecimentossignificações” com eles, e que circulam diferentemente nos processos pedagógicos em cada escola, formam aquilo que chamamos de “currículos”. Esses “espaçostempos” são, desse modo, com tudo o que neles circula, artefatos curriculares, também. Todo este conjunto de seres humanos, produtos e criações das relações de uns com os outros, adquire significados múltiplos e complexos nos processos educativos, exatamente porque seus diferentes “usos”, na repetição, permitem que apareçam diferentes tecnologias de uso e a criação de “conhecimentossignificações” diversos. Leia Mais

Narrativas, arte e contemporaneidade | Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica | 2017

As narrativas estão presentes em todos os tempos, lugares e sociedades. Pessoas e grupos criam suas narrativas e, frequentemente, compartilham-nas com sujeitos de diferentes culturas. Histórias são contadas de muitas formas, através de diversas mídias, ganhando sentido como representações que emergem e transitam por mitos, rituais, repertórios orais, visuais, musicais e cênicos, sendo emolduradas por práticas subjetivas e culturais que as transformam/qualificam como narrativas.

Temos assistido ao desenvolvimento, sem precedentes, de inúmeras modalidades de narrativas – orais, filosóficas, científicas, literárias, fotográficas, antropológicas, artísticas, educacionais, cinematográficas, videográficas, digitais, de publicidade, gestão, informação etc. A velocidade e o volume de narrativas que nos invadem e interpelam, cotidianamente, constituem uma avalanche, que nos encharca e consome, sem que tenhamos tempo suficiente para refletir, analisar, saber quem são os agentes da sua produção e as figuras da sua construção simbólica, ou, quais mecanismos de poder elas produzem e reproduzem. Além disso, as narrativas não obedecem a um formato, não se submetem à uma perspectiva ou crítica e tampouco se acomodam a modelos estabelecidos, situação que, muitas vezes, incomoda e intriga. Leia Mais

História e Narrativas | Outras Fronteiras | 2016

Neste dossiê, nossa proposta foi estabelecer uma ampla reflexão acerca do diálogo da História com a narrativa, buscando evidenciar esta discussão que se fez tão recorrente, sobretudo a partir das últimas décadas do século XX, por meio das proposições proferidas por Lawrence Stone em seu celebre artigo “The revival of narrative” que estabeleceu as bases iniciais para este debate. Segundo Antônio Paulo Benatte este “repensar da narrativa”1 veio acompanhado da crescente influência da antropologia e da psicologia, em detrimento da economia e da sociologia na pesquisa histórica, isso atrelado ao que classificou como falência dos grandes modelos explicativos que eram caracterizados por suas narrativas totalizantes.

O debate em questão está em concomitância ao avanço das teorias pósestruturalistas, principalmente por intermédio de teóricos como Jacques Derrida e Michel Foucault, que suscitaram uma discussão sobre a inexistência de um sentido estático no próprio texto, sendo que o sentido só seria atribuído a partir das bases ontológicas de cada leitor. Leia Mais

Narrativas e escritas de si / Tempo e Argumento / 2015

Blogs, sites pessoais, cartas infantis e adultas, memoriais acadêmicos, livros de memória (auto) biográficos e / ou ficcionais, afinal, o que haveria de comum a todos estes artefatos culturais e tecnológicos – produzidos digitalmente ou não – que medeiam, no tempo presente, formas de sociabilidade, modos de ser e estar que ressoam em nossa época? Que mundo, que relações e que tipos de sujeitos esses dispositivos de comunicação, interação e construção de si, estão a narrar sobre a complexidade da experiência humana?

Na tentativa de enfrentar essas nada fáceis perguntas, esta edição da Revista Tempo e Argumento, volume 7 número 15 (2015.2), apresenta para discussão cinco (5) artigos escritos ao sabor de uma lógica memorial e emocional a partir de experiências pessoais. O conjunto desses artigos faz emergir outras subjetividades construídas na visibilidade de papéis e telas articulados a uma rede de pensamentos e de autores para quem a presença e a construção de si do e no tempo presente traz novas relações com o passado e expectativas em relação ao futuro.

Nesse panorama, no primeiro artigo, a professora Cristiani Bereta da Silva analisa narrativas digitais em blogs e sites sobre o Exame de Admissão, que vigorou no Brasil entre 1931 e 1971. Estes materiais foram tomados em seu sentido de ego-documentos, apresentados em uma narrativa problematizada, em que a autora os trabalha como escritas de si (autobiográficas) e onde se discutem as experiências subjetivas presentes nas dimensões memoriais e sua relação com a historicidade depois que a hiperconectividade alterou significativamente os fluxos do tempo e do espaço.

Da Espanha, uma professora e um professor, ambos pesquisadores reconhecidos internacionalmente, apresentam seus trabalhos na temática aqui em destaque e seus textos sinalizam preocupações em encontrar maneiras criativas e imaginativas para compartilhar seus estudos na área. O trabalho de Verónica Sierra Blass, da Universidade de Alcalá, está pautado em apontar as principais características da correspondência infantil e, com este fim, a autora problematiza as cartas como meios de expressão do “eu” da infância, seja como configuradora de uma identidade, seja pelo uso pedagógico institucionalizado nas escolas entre meados do século XIX e meados do século XX. O texto se faz acompanhar de diversas imagens de modo a amparar visualmente o trabalho desenvolvido. Daniel Escandell Montiel, da Universidade de Salamanca, discute a sociedade digital que permite a construção de uma ou mais identidades nos seus múltiplos espaços virtuais, o que acarreta a construção de uma narrativa do eu em todos esses âmbitos. A análise de relatos textuais e audiovisuais na Internet, empreendida pelo autor mostra que as narrativas do eu do mundo virtual abrem espaço para a confidência e a divulgação da vida íntima do sujeito, indicadoras de uma intimidade, em grande parte, teatralizada.

Pelo uso de uma bibliografia atual que dá consistência à documentação o artigo de autoria de Wilton Carlos Lima da Silva analisa memoriais acadêmicos como formas de narrativas de si que tratam do processo de formação intelectual e profissional. Condicionados à tradição institucional o trabalho está centrado em três memoriais produzidos por docentes da USP entre 1991 e 2003 e a abordagem privilegia o uso deste documento como fonte de pesquisa autobiográfica, por excelência. Méri Frotscher, em um contexto bem historicizado, interpreta a “escrita de si” em um conjunto de cartas–pedido enviadas entre 1946 e 1948 da Alemanha à prefeitura municipal de Blumenau-SC, Brasil. Este corpo documental permite à autora analisar estas informações a partir das estratégias retóricas empregadas na interlocução com o destinatário e identificar, igualmente, o imaginário existente acerca da cidade, a mobilização da identidade étnico-nacional e a maneira como se deu configuração de narrativas trágicas da guerra e do pós-guerra.

Pautados nas abordagens do Tempo Presente, dois artigos que se incluem neste volume, discutem, via moda e literatura confessional, trajetórias pessoais que anunciam experiências que enriquecem o universo da História e da Memória. Nesta clave, as professoras e pesquisadoras Ivana Guilherme Simili e Débora Pinguello Morgado, discutem a trajetória da estilista Zuzu Angel, na luta contra a ditadura civil-militar e em suas relações com as domesticidades, a vida pública e política nos conturbados anos 1960 e 1970, notadamente mostradas no filme que aborda aspectos de vida pessoal e profissional: “Zuzu Angel”. Já Ana Laura de Giorgi, da Universidad de la Republica del Uruguay, traz para conhecimento e discussão dois relatos pessoais publicados com duas décadas de distancia: Mi habitación, mi celda (1990) y Maternidad en prisión política (2010), com o objetivo principal de analisar a aposta política de suas autoras bem como refletir sobre os trabalhos da memória nestas narrativas pessoais do passado.

A entrevista deste número foi realizada, por Cristiani Bereta da Silva, com o Professor António Castillo Gómez, da Universidade de Alcalá. O autor, internacionalmente reconhecido, é professor Titular de Historia da Cultura Escrita tendo inúmeros trabalhos e parcerias no Brasil contribuindo para os estudos no campo da História Social da Cultura Escrita que visam superar a distinção tradicional entre a história da escrita, por um lado, e a história do livro e da leitura, por outro. Suas pesquisas, amplamente divulgadas em livros e revistas da área, dedicam especial atenção aos testemunhos escritos das pessoas comuns durante a Idade Contemporânea. Sua presença e sua colaboração neste número permitem pensar sobre a escrita como forma de salvar do esquecimento os seres humanos, de comunicar experiências, de transmitir as interioridades mesmo aos ausentes, de eternizar em folhas e telas, ideias e saberes que, como a leitura, produzem significados à ordem do existente.

Três resenhas completam este volume da Revista Tempo e Argumento. Na primeira delas, Raphael Guilherme de Carvalho apresenta a resenha, “Escrita de si e história da historiografia”, do livro de Patrick Garcia “Les présents de l’historien. Paris: Publications de la Sorbonne, 2014”, José Carlos da Silva Cardozo, resenha o livro de Pierre Bourdieu, intitulado “Sobre o Estado: cursos no Collège de France (1989-1992)”.(Tradução Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, 573 p.) em que discute a concepção mais ampla de Estado propugnada por este importante autor e, finalmente, Karl Schurster, resenha o livro: Jefrey Herf. “Inimigo Judeu. Propaganda nazista durante a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto”. (Tradução: Walter Solon. São Paulo: EDIPRO, 2014.)

Este número pretendeu tornar mais acessível o (re)conhecimento de múltiplas experiências humanas através das narrativas de si, em variados suportes, no Tempo Presente. O conjunto de textos aqui reunidos permitiu considerar que nesta virada digital palavras e imagens caminham juntas e enfrentam, com certa grandeza, esses novos tempos e essas novas gentes que somos agora e este armistício é bom para todos nós!

Fica o convite para uma leitura que, pela rede, dá acesso às narrativas de si, nas páginas de Tempo e Argumento!

Maria Teresa Santos Cunha

Luciana Rossato

Editoras- Chefe


CUNHA, Maria Teresa Santos; ROSSATO, Luciana. Editorial. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.7, n.15, 2015. Acessar publicação original [DR]

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Memória e história: diálogos, narrativas e ensino / Aedos / 2014

Embora relativamente recente (em termos de história da historiografia), a questão da memória e sua relação com a narrativa histórica carrega consigo certa urgência. No século XX, frequentemente a questão da memória foi associada ao Holocausto, e o que se seguiu disso foi uma espécie de sensação de estranheza, incompreensão ou perplexidade por conta dos historiadores. Isso se deveu em parte à natureza dos eventos sucedidos – em virtude de suas particularidades –, em parte à mentalidade de uma historiografia tradicional que percebia a memória como avessa ao caráter “científico” da narrativa historiográfica. No Brasil, o ano de 2014 foi marcado pelo cinquentenário do golpe militar que instaurou um período de ditadura civil-militar no país, onde a memória – ou a ausência dela – também faz deste evento um desafio em termos não só teóricos, mas também metodológicos para a possibilidade de representação desse período. Desse modo, convidamos os pesquisadores a debaterem neste número a – essencial – relação entre memória e história, as implicações dessa relação para a narrativa historiográfica, pensadas como fator de possibilidade e / ou de limite para a representação histórica.

O título de nosso dossiê é composto por duas partes que devem direcionar os trabalhos que prtendemos incentivar nesta edição. O termo central é “memória”. Formulada e debatida a partir dos limites da representação histórica, sobretudo quando envolvendo eventos traumáticos, esta questão já teve muitas formas de interpretação. Por vezes, foi vista como indigna ou incompatível – espécie de subjetivismo indesejado. Em outras interpretações, como condição de possibilidade ou mesmo base fundamental para a formulação de qualquer narrativa histórica.

Dentre os tópicos que sugerimos estão: a relação teórica entre a história e a memória; os imperativos da memória para a narrativa historiográfica e sua relação com a imaginação e a retórica; as implicações da memória para o diálogo entre historiadores e / ou público; os desafios para incluir e tratar a questão da memória no ensino de história.


Conselho Editorial. Editorial. Aedos, Porto Alegre, v.6, n.14, julho, 2014. Acessar publicação original [DR]

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Memória e Narrativas nas Religiões e nas Religiosidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2013

Há cerca de dois anos, por ocasião do III Encontro do GT História das Religiões e das Religiosidades, que ocorreu em Florianópolis, surgiu a proposta de o IV Encontro se realizar na UNISINOS. O I, o II e o III encontros realizados em Maringá, Franca e Florianópolis trataram de temas como “Identidades Religiosas e História”, “Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas” e “Questões Teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades”. Já para o IV, o tema proposto foi “Memórias e narrativas nas religiões e religiosidades”.

O desafio lançado pela Coordenação do GT História das Religiões e das Religiosidades em outubro de 2010 foi aceito pelo Programa de Pós-Graduação em História da Unisinos, assim como pelos demais parceiros, que foram sendo agregados ao longo dos anos de 2011 e 2012.

Vale lembrar que em 2012, foram celebrados os 50 anos da realização do Concilio Vaticano II convocado em 1962, pelo Papa João XXIII, que representou uma atualização da Igreja Católica ao mundo moderno. Este evento teve suma importância na renovação da comunidade católica mundial e modificou a caminhada da mesma no Brasil. Dentre suas determinações destacam-se a legitimação do papel dos leigos na evangelização em áreas de difícil acesso e a substituição do latim pela língua vernácula tornaram a Igreja mais próxima do povo e mais atenta aos problemas sociais que a América Latina enfrentava nesse período. Em 2012, também foi comemorado o centenário da obra clássica de Emile Durkheim, “As Formas Elementares da Vida Religiosa”, livro que é um dos marcos fundadores dos estudos de Antropologia na Escola Francesa e das Ciências Sociais da religião.

Inserido neste contexto, o IV Encontro do GT ANPUH-Nacional História das Religiões e das Religiosidades, que ocorreu na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) de 07 a 09 de novembro de 2012, efetivamente, oportunizou aos pesquisadores e comunidade em geral um espaço de diálogo, aprendizado e troca de experiências e conhecimentos sobre as religiões e religiosidades, instigando-os a refletirem criticamente sobre as posturas de indivíduos e grupos religiosos em suas ações nos âmbitos religiosos, culturais, políticos e sociais. E ainda, sobre a importância de uma prática cidadã valorativa das diferenças sociais e políticas em nosso país para, desta forma, evidenciar a relevância de análises interdisciplinares sobre a temática das religiões e das religiosidades.

A quarta edição do GT História das Religiões e das Religiosidades – Memórias e Narrativas nas Religiões e Religiosidades reuniu pesquisadores de renome e jovens pesquisadores graduandos, pós-graduandos, mestres e doutores em História, Ciências Sociais, Filosofia, Teologia, Educação e Antropologia de várias regiões do Brasil (RS, SC, PR, SP, RJ, MG, BA, PE, PI, MA, AM e MS) e, pela primeira vez, de pesquisadores da Argentina, da Bolívia, do Uruguai e, inclusive, da Polônia, que, ao longo de três dias tiveram a oportunidade de compartilhar suas pesquisas, projetos de investigação e estudos mais consolidados.

Neste dossiê apresentamos 16 Artigos, 3 Comunicações e 1 Resenha, selecionados pelo Conselho Editorial da RBHR e que representam a importância dos encontros do GT e da publicação dos melhores trabalhos apresentados.

Boa Leitura!

Eliane Cristina Deckman Fleck

Solange Ramos de Andrade

Organizadoras do Dossiê

FLECK, Eliane Cristina Deckman; ANDRADE, Solange Ramos de. Editorial. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.5, n.15, Jan., 2013. Acessar publicação original [DR]

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Gênero, cultura, identidades: experiências e narrativas / Revista Mosaico / 2012

Gênero, cultura, identidades: experiências e narrativas é título e tema do dossiê que integra o presente volume da Revista Mosaico da PUC Goiás, organizado pelas professoras Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante (PUC Goiás), Maria Zeneide Magalhães Carneiro de Almeida (PUC Goiás) e Diva do Couto Gontijo Muniz (UnB).

Ao contemplar tal temática, a Mosaico traduz uma política editorial sintonizada com a contemporaneidade do campo historiográfico brasileiro, reconhecidamente ampliado no que tange aos seus objetos, suas abordagens, problematizações, perspectivas e fontes.

A perspectiva dos estudos de gênero e a abordagem interdisciplinar informam e aglutinam as reflexões das autoras de diferentes universidades do país, cujos artigos compõem o presente dossiê: “O governo de Rosas em Camila (1984) – filme de Bemberg”, de Alciene Cavalcante (UFF); “Perfis femininos na literatura infantil: uma abordagem histórica e comparativa (1930-1950)”, de Ana Carolina Siqueira Veloso (UERJ) e Marcia Cabral da Silva (UERJ); “A Revista Feminina e suas imagens: narrativas visuais de discursos de gênero”, de Ana Carolina Eiras Coelho Soares (UERJ); “Gênero, sexualidade e sedução no discurso jurídico”, de Claudia Jesus Maia (Unimontes / MG) e Renata Santos Maia (Unimontes / MG); “Mulheres e política: a participação nos movimentos abolicionistas do século XIX”, de Diva do Couto Gontijo Muniz (UnB) e Fabiana Francisca Macena (UnB); “Santa Casa da Misericórdia na Capital da Corte Imperial: o abandono, a honra e o progresso impressos em corpos de mulheres escravizadas”, de Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro (INHIS / UFU / MG); “Carregadeiras d’água: um ofício silenciado pela modernização em Vila Boa de Goiás”, de Lúcia Ramos de Souza (FACMAIS / GO); e “Uma experiência de História em Clarice Lispector”, de Albertina Vicentini (PUC Goiás).

Na segunda parte deste número da Mosaico, na seção temas livres, dois artigos avulsos: “A imprensa e os usos do passado: o projeto de Armando Salles Oliveira e o grupo político do jornal O Estado de São Paulo (1933-1934)”, de Carolina Soares de Sousa (UnB), e “Representações literárias do sertanejo em “ O Tronco”, de Bernardo Élis, e em “Serra dos Pilões-Jagunços e Tropeiros”, de Moura Lima”, artigo de Daiany Ribeiro Teixeira (UFT) e Marina Haizenreder Ertzogue (UFT).

Convidamos você, leitor, a compartilhar de uma história pensada diferentemente.

Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante

Maria Zeneide Magalhães Carneiro de Almeida

Diva do Couto Gontijo Muniz

As organizadoras


CAVALCANTE, Maria do Espírito Santo Rosa; ALMEIDA, Maria Zeneide Magalhães Carneiro de; MUNIZ, Diva do Couto Gontijo. Editorial. Revista Mosaico. Goiânia, v.5, n.1, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]

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Memórias, Narrativas e Fronteiras de Gênero / Territórios & Fronteiras / 2011

“Memórias, narrativas e fronteiras de gênero” foi idealizado a partir do Simpósio Temático 45 do Seminário Internacional Fazendo Gênero 9, realizado em Florianópolis (SC) em agosto de 2010. Nesse evento encontraram-se as três historiadoras que ora assumem a organização deste dossiê. Janine e Temis eram as coordenadoras do simpósio e Ana Maria estava inscrita para apresentar trabalho, como as outras também o fizeram. Conhecíamo-nos de outros eventos acadêmicos, mas o contato naquele momento conduziu à ideia de propormos um dossiê para a revista Territórios & Fronteiras, aproveitando a noção de fronteira que permeava as nossas discussões teóricas e conceituais, a aproximação de uma de nós com o Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a temática da revista. O propósito era utilizar a metáfora das fronteiras que nos separam fisicamente em cinco regiões geográficas e aproximar, ligar ou unir alguns artigos num debate comum sobre gênero.

A noção de fronteira inspira-se em Labache & Saint Martin* . Por um lado, as fronteiras delimitam os contornos das categorias sociais (a participação desigual dos indivíduos na vida social) e, por outro, abrem espaços de troca e de encontro para que as classes se comuniquem entre si. As fronteiras separam o “nós” do “eles” e interrompem, circunscrevem ou produzem segregações na distribuição de populações ou de atividades dentro das sociedades. Essas fronteiras não são dadas: constroem-se, ultrapassam-se e desconstroem-se no tempo e com o tempo.

Os cinco artigos, de uma forma ou de outra, abordam modos de percepção e os processos de construção ou transgressão das fronteiras de gênero. Os trabalhos das autoras que circunscrevem as cinco regiões do Brasil (aqui, fronteira no conceito tradicional de espaço) tratam de estudos bem diferentes realizados nos seus contextos específicos. Ana Maria Marques (Universidade Federal de Mato Grosso – CentroOeste) apresenta sua pesquisa sobre a revista A Violeta e problematiza o feminismo da “primeira onda” por intermédio desse periódico no âmbito de uma Cuiabá e um Brasil da primeira metade do século XX. Carolina dos Anjos Nunes de Oliveira (Universidade Federal de Pernambuco – Nordeste) mostra sua pesquisa de mestrado sobre as “profissionais do sexo” nos discursos de jornais da Bahia no período entre 1930 e 1950 e discute os conflitos que emergem da visibilidade que elas ganham no espaço urbano. Janine Gomes da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina – Sul), em coautoria com Valéria König Esteves, aborda a dinâmica do turismo rural em Joinville (SC) na sua interface com as questões da memória e do patrimônio alimentar. Lidia M. V. Possas (Universidade Estadual de São Paulo – Sudeste), por meio de sua pesquisa literária, enfoca as fronteiras das narrativas de mulheres na década de 1930 em São Paulo. Temis Gomes Parente (Universidade Federal do Tocantins – Norte) aborda a vulnerabilidade dos(as) adolescentes na fronteira do extremo norte do Tocantins e a situação de marginalidade construída historicamente nas relações familiares e de trabalho que ali se estabeleceram.

Buscando apreender os processos de enfraquecimento de fronteiras sociais hierarquizadas e experiências de ruptura de fronteiras abordadas em cada texto, convidamos a todos e a todas a empreenderem uma viagem pelos cinco (en)cantos deste Brasilzão!

Nota

* LABACHE, Lucette; SAINT MARTIN, Monique de. Fronteiras, trajetórias e experiências de rupturas. Educação & Sociedade, v. 29, n. 103, p. 333-354, maio / ago. 2008. Centro de Estudos Educação e Sociedade Brasil.

Ana Maria Marques

Janine Gomes da Silva

Temis Gomes Parente


MARQUES, Ana Maria; SILVA, Janine Gomes da; PARENTE, Temis Gomes. Apresentação. Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v.4, n.1, jan / jul, 2011. Acessar publicação original [DR]

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Viagens e narrativas / História Social / 2003

No terceiro ato d’ A tempestade, Próspero vale-se de magia e conduz os náufragos até sua ilha, oferecendo-lhes farta mesa, servida por espíritos. “ – São fantoches com vida”, espanta-se Sebastião: “ – Agora creio / que haja unicórnios, que na Arábia serve / uma árvore de trono à Fênix, / que a reinar lá se encontra neste instante”. Antônio também opina, e confessa crer em “… tudo o mais que de hábito / tem sido posto em dúvida (…) / Os viajantes não mentem, muito embora / na pátria os tolos os acoimem disso”. Quem acalma os ânimos de Antônio é Gonzalo, sábio conselheiro:

“Ora senhor, não tenhas medo. Quando

nós éramos meninos, quem creria,

porventura, que houvessem montanheses

com barbela de touro na garganta,

a pender-lhe do peito, como um saco

balouçante de carne? Ou gente houvesse

com a cabeça no peito? Ora, tudo isso

nos é prontamente asseverado

pelos viajantes sobre os quais apostas

correm de um contra cinco”.[1]

Nem todos os viajantes, contudo, descrevem homens sem cabeça ou aves que renascem das cinzas, já que, do outro lado da ficção, espreita a sempre buscada verdade da história, ou – de modo menos enfático – uma quase tangível melhor versão, à qual se chegaria, a partir de procedimentos objetivos de criação, traçados por um tão ansiado quanto indemonstrável método historiográfico. Também sobre isto, muitas apostas correram e vão continuar a correr, opondo crentes e cépticos de vários matizes, os quais se acusam, mutuamente, de acreditar no que não viram ou imaginaram ver, ante a tensão sempre constante que opõe ausência e presença dos objetos históricos; o que foi e aquilo que sobrou nos vestígios documentais – em suma, a interpretação.

O problema é muito antigo, aparecendo, por exemplo, no conflito religioso-literário que opôs André Thevet e Jean de Léry, no século XVI, mas é na Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto (1614) que ele aparece com saborosa evidência, conforme se lê no início do capítulo CXIII do livro: “por me temer que particularizando eu todas essas coisas que vimos nesta cidade, a grandeza estranha delas possa fazer dúvida aos que as lerem, e também por não dar matéria a murmuradores e gente praguenta, que querem julgar das coisas conforme ao pouco que eles viram, e que seus curtos e rasteiros entendimentos alcançam, de lançarem juízos sobre as verdades que eu vi por meus olhos, deixarei de contar muitas coisas que quiçá dariam muito gosto a gente de espíritos altos, e de entendimentos largos e grandes (…). Mas por outra parte não porei também muita culpa a quem não me der muito crédito, ou duvidar do que eu digo, porque realmente afirmo que eu mesmo, que vi tudo por meus olhos, fico muitas vezes confuso quando imagino…” [2]. O autor da Peregrinação dava-se conta de que o relato constitui a principal ponte entre o testemunho direto e o leitor distante; entre a observação presencial e a ausência interpretativa; entre uma possível verdade do fato e sua narrativa.

Embora as idéias de Paul Veyne sobre a oposição verdadeiro / verossímil – “a história é uma narrativa de acontecimentos verdadeiros” [3] – possam iniciar uma discussão do problema, é interessante lembrar, nesta breve apresentação, a indagação que fez Paul Ricoeur, ao tratar da questão da verdade em história: “aquela história que ocorreu [e que preencheria, portanto, segundo Veyne, a única condição básica “para ter a dignidade da história”] e que interessa ao ofício do historiador, prestarse-á a um conhecimento na linha da verdade, de acordo com os postulados e regras do pensamento objetivo postos em função nas ciências?”[4´] Para Ricoeur, objetividade é entendida no sentido epistemológico estrito; “é objetivo aquilo que o pensamento metódico elaborou, pôs em ordem, compreendeu, e que por essa maneira pode fazer compreender”, [5] ou seja, em história, a objetividade só se realiza – tornando-a verdadeira, portanto – quando ela é capaz de explicar (ou convencer), o que não quer dizer que seus procedimentos métodicos sejam os mesmos da física ou da biologia, a começar pelo fato óbvio de que à objetividade do historiador deve corresponder sua própria subjetividade, ou seja, os valores e escolhas que determinam seus passos, em meio aos alicerces monumentais sobre os quais constrói o seu trabalho, aliando pesquisa e erudição, esforço e sensibilidade, confiança e descrença.

Quando o tema são os viajantes, essas questões, aqui apenas esboçadas, ganham cores mais interessantes, já que, desde Heródoto (“Desejoso de saber, interrogo”), o testemunho de quem viu e pôs-se a contar tem servido à explicação da história. Além disso, embora os viajantes contem o que viram, fazem-no sempre a partir de processos de escolha e seleção, e mesmo considerando a insistência dos historiadores em buscar a generalização, os relatos valem, principalmente, como representações da diferença, já que – à exceção dos narcisistas, sempre numerosos – as imagens que devemos buscar no espelho dessa forma específica de conhecimento é aquela que nos define pela contemplação do Outro. É por isso que os textos de viajantes – trabalhados com maestria neste número especial da Revista de História Social – também se prestam à necessária expatriação do historiador, que se desloca através deles para, no retorno, pôr em cena uma terceira e fundamental personagem: o leitor, a quem os relatos – graças à sua mediação – acabam oferecidos.

Esta última instância, a do leitor, é a que oferece menos riscos, já que os comprometimentos dos viajantes e historiadores – cada um, a seu modo, vendo, selecionando, organizando e dando a conhecer – são sempre avaliados em função de sua capacidade de demonstrar, objetivamente, a veracidade do discurso: enquanto Paul Veyne considera que só os fatos verdadeiros podem aspirar à dignidade da história, para Paul Ricoeur, cabe aos historiadores buscar a dignidade da objetividade, construindo, assim, suas próprias verdades.

Depois, resta a sedução dos percursos e das boas viagens que se abrem nas próximas páginas.

Notas

1. SHAKESPEARE, William. A tempestade, trad. Carlos A. Antunes, Biblioteca Clássica UnB, 1982

2. PINTO, Fernão Mendes. Peregrinação. Fac-símile da edição de 1952, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983, p. 329.

3. VEYNE, Paul. Como se escreve a história, Lisboa, Edições 70, 1983, p. 22.

4. RICOEUR, Paul. História e verdade, trad. F. A. Ribeiro, Rio de Janeiro, Forense, p. 9.

5. Idem, p. 23.

Paulo Miceli


MICELI, Paulo. Apresentação. História Social. Campinas, n.10, 2003. Acessar publicação original [DR]

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