Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil / História & Perspectivas / 2017

Para este Número 57, da Revista História & Perspectivas, temos a composição do Dossiê Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil e uma seção de artigos com diferentes temáticas.

Ao definir a temática para a chamada deste dossiê, o Conselho Editorial da Revista teve como objetivo construir um panorama sobre estudos com diferentes abordagens, que enfocassem diversos aspectos envolvidos na constituição da condição de trabalhadora ou trabalhador e de seus modos de vida no Brasil. O propósito era de que a delimitação dessa temática abrangesse estudos sobre questões relacionadas a formação de identidades, construção de ofícios, relações de gênero e etnicorraciais, movimentos sociais, organizações sindicais, memórias, lutas, embates e disputas de trabalhadoras e trabalhadores, implicadas na própria constituição do ser trabalhadora ou trabalhador e de suas vidas em diferentes temporalidades e espacialidades do Brasil.

Apresentamos seis artigos originados de pesquisas em torno de trabalhadores e de trabalhadoras no Brasil, sua experiência de atuação profissional, seus movimentos de organização e luta, relações com imprensa, transformações nas relações de produção e de poder nos espaços de vida, em diferentes temporalidades e conjunturas entre os séculos XIX e XXI.

O primeiro artigo, de Luiz Antonio Dias, analisa como o jornal O Estado de S. Paulo retratou os movimentos de trabalhadores, tanto rurais como urbanos, no período que antecedeu o Golpe de 1964, e como justificou o golpe e a violência que se seguiu sobre os trabalhadores. O segundo, de Maristela Novaes e Noé Freire Sandes, discute a presença de profissionais do vestuário (fiandeiras, tecelãs, costureiras, alfaiates, comerciantes) no contexto cultural de Villa Platina, região do Triângulo Mineiro, no início do século XX, a relação dessa sociedade com seu sistema de vestuário e com o comércio direcionado a esse ramo nos termos da redefinição da tradição da manufatura de roupas. O terceiro, de Rosane Marçal da Silva, problematiza elementos e dimensões do processo de intensificação da produção industrial e as mudanças que o trabalho industrial ocasionou na vida dos trabalhadores das indústrias de confecções do vestuário, em Santa Helena, no Paraná, durante os anos 1980-2000. Valéria de Jesus Leite se debruça sobre a organização dos trabalhadores em Montes Claros e Norte de Minas Gerais, suas demandas e suas lutas, entre as décadas de 1970 e 1980, problematizando o processo de modernização econômica. Cleber Augusto Gonçalves Dias e Marina Fernandes Braga Nakayama apresentam reflexões sobre práticas e espaços de sociabilidade de trabalhadores durante o tempo livre e o lazer em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, com base em relatos presentes nos processos crime de homicídio produzidos do período de 1900 a 1924. Escravos que se tornam senhores de escravos é o objeto de discussão de Robson Pedrosa Costa, que investigou um modelo de gestão implementado pela Ordem Beneditina do Brasil em Pernambuco, durante os séculos XVIII E XIX, a partir do estímulo dado a escravos a possuírem os próprios escravos para o trabalho em suas roças.

Na segunda seção deste número consta um conjunto de nove textos.

Luis Fernando Cerri e Caroline Pacievitch cotejando obras de Jörn Rüsen e de Agnes Heller para discutir suas posições sobre consciência histórica e suas possíveis implicações para a Didática da História, face à importância da defesa de valores como a razão, a verdade e a democracia para a formação de historiadores e professores de história. João Paulo Pereira Coelho e José Joaquim Pereira Melo desenvolvem reflexão sobre o conceito de passado em suas dimensões sociais e históricas, considerando as relações entre enfrentamentos sociais e diferentes formas de apropriação do passado.

Rosana Areal de Carvalho se dedica a compreender a publicação da obra de Primitivo Moacyr e discutir o modo como a questão da instrução enquanto responsabilidade do Estado se fez presente no cenário político e cultural brasileiro entre anos 1930 e 1940. Maria Aparecida Leopoldino desenvolveu pesquisa no campo da História da Disciplina Escolar, tomando como objeto de estudo e fonte de pesquisa o manual O Brasil e o Paraná para uso nas escolas primárias, de 1903, no contexto dos ideais republicanos e da construção de uma “história regional”. Ao mesmo tempo, a relação entre intelectuais educação e imprensa durante o debate brasileiro em torno da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 é o objeto de estudo de Maria Cristina Gomes Machado e Mário Borges Netto, que problematizaram o modo como os intelectuais lidaram com a imprensa para divulgar distintos projetos educacionais no conflituoso processo de constituição e consolidação da escola pública estatal.

Kalina Vanderlei Silva dedica-se à análise crítica e paleográfica de três manuscritos setecentistas, da Capitania de Pernambuco, sobre festas públicas, discutindo possibilidades de estudo de documentos camarários e de interpretação das festas como espaços de demarcação de status para a elite açucareira colonial. André Luiz Moscaleski Cavazzani e Sandro Aramis Richter Gomes discutem práticas terapêuticas em uma região da Província de São Paulo, nos anos de 1848 a 1851, a partir do estudo de registros de tratamentos de doenças em memórias de famílias. Também tratando de festas como temática de estudo, Maria Clara Tomaz Machado e Anderson Aparecido Gonçalves de Oliveira analisam práticas e saberes rurais do interior goiano a partir das festividades religiosas em homenagem a São Sebastião.

Adriana Vaz e Rossano Silva estudaram a forma como as disciplinas de desenho foram formatadas na primeira década da Reforma Universitária na Universidade Federal do Paraná para compreender a matriz do ensino de desenho no início dos anos 1970 e suas relações com outras áreas de conhecimento.

Conselho Editorial


Memórias, ofícios e lutas de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil. História & Perspectivas, Uberlândia, n.57, 2017. Acessar publicação original [DR].

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