A Revista História Hoje e os 60 anos da Anpuh | História Hoje | 2021

Historia Hoje Em memoria A Revista História Hoje

Quando Renilson Rosa Ribeiro, editor da Revista História Hoje, da Associação Nacional de História (Anpuh-BR), nos contactou no final de dezembro de 2020 com o convite para que organizássemos este dossiê que hoje apresentamos ao público leitor, lembramos do poema em forma de música que Djavan canta lindamente e do qual retiramos a primeira frase que intitula esta apresentação.

Ela pode parecer, à primeira vista, pessimista, mas não tinha esse único significado para nós. Sem sombra de dúvidas, como todos os cidadãos brasileiros estamos esgotados. Vivemos uma crise sanitária sem precedentes em nosso país, uma crise institucional, somada a crises econômica e política. Mas ela traduzia para nós, também, o desafio de responder ao convite que nos instiga a estudar a resistência de uma categoria de trabalhadores – os docentes – e de campo de pesquisa – o ensino de História. Leia Mais

20 anos dos Cadernos de História: periódicos, pesquisa histórica e divulgação científica / Cadernos de História / 2015

É com grande contentamento e intensa euforia que publicamos a edição comemorativa dos 20 anos dos Cadernos de História. Revista científica fundada no ano de 1995, atualmente vinculada ao Departamento de História e ao Centro de Memória e Pesquisa Histórica da PUC Minas, que por sua qualidade vem atraindo um número expressivo e crescente de submissões, acessos, usuários e leitores cadastrados.

Para marcar esta data especial, em alusão a trajetória da revista, apresentamos a nota histórica Cadernos de História PUC Minas: vinte anos de um projeto em construção. Elaborada pela professora Heloisa Guaracy Machado, idealizadora e abnegada colaboradora dos Cadernos de História, em parceria com o Editor Adjunto Rafael Pacheco Mourão, responsável pelo processo técnico, pela editoração e por outras etapas até a publicação final da revista. Os historiadores apresentam relevantes informações, direcionamentos seguidos, decisões tomadas e dados estatísticos, ao percorrer objetivamente as fases da revista, mas sem perder a perspectiva memorialística, retomar certas situações e prestar deferência a outras pessoas cuja contribuição foi fundamental para a continuidade dos trabalhos deste periódico. Fato é que o tempo em que Heloisa Guaracy Machado esteve à frente como Editora Gerente se confunde com a própria história dos Cadernos de História. O mesmo se aplica ao Editor Rafael Pacheco Mourão, que além de suas atividades no Centro de Memória, dedica-se com afinco no campo editorial dos Cadernos de História e presta consultoria para outros periódicos da instituição.

Em seguida, trazemos uma seção específica reunindo artigos voltados ao papel desempenhado pelos periódicos científicos no campo acadêmico. No primeiro artigo, de Miguel Ángel Márdero Arellano e Maria de Fátima Duarte Tavares, intitulado Preservação do patrimônio científico das humanidades: a emergência da Rede Cariniana, os autores apresentam as transformações e as novas demandas sofridas pelas revistas científicas nas últimas décadas ao adaptarem suas publicações às plataformas digitais. Os pesquisadores elencam as ferramentas estratégicas utilizadas no processo de editoração eletrônica no país diante do propósito de assegurar credibilidade aos periódicos científicos e o respectivo reconhecimento na comunidade acadêmica. Diante disso, os autores abordam especificamente a Rede Brasileira de Serviços de Preservação Digital – CARINIANA, iniciativa oficial vinculada ao instituto de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, cujo objetivo é a produção e socialização de sistemas de informação e, portanto, a preservação de periódicos eletrônicos em curso no Brasil.

Os artigos seguintes, O Guayba: o papel do jornalismo literário na formação dos jovens sul-grandenses em Porto Alegre (1856-1858) e Como ler uma revista ilustrada? Proposta metodológica para o estudo dos periódicos ilustrados publicados no Brasil oitocentista, dos respectivos autores, Carla Renata Antunes de Souza Gomes e Guilherme Elias de Figueiredo, alinham-se as interpretações sob o bojo da história cultural em suas práticas e representações ao analisar discursivamente periódicos e revistas publicadas no Brasil oitocentista. O texto de Carla Renata Antunes de Souza Gomes investiga o compartilhamento de ideias e aspirações de grupos letrados da capital da província do Rio Grande do Sul através da leitura do O Guayba, periódico literário que circulou durante a segunda metade do século XIX na cidade de Porto Alegre. Já o artigo de Guilherme Elias Figueiredo tem o propósito de ampliar metodologicamente os horizontes interpretativos sobre as ilustrações que integram as publicações impressas, favorecendo o diálogo entre o texto e as imagens contidas nas revistas ilustradas.

O artigo Na trilha do Monde Diplomatique: intelectuais, imprensa e perspectiva crítica, de autoria de Juliana Sayuri Ogassawara, também se alinha às publicações desta primeira seção dedicada aos estudos sobre as possibilidades de leitura, de metodologia e de procedimentos técnicos voltados aos impressos periódicos. Em sua pesquisa, a pesquisadora cerca-se de amplas fontes coletadas em língua francesa com o objetivo de analisar o suplemento periódico diplomático francês Le Monde, notabilizado por priorizar a temática das relações internacionais. Fundamentada pela história política, intelectual e do tempo presente, Juliana Sayuri Ogassawara analisa as categorias discursivas do periódico a partir da trajetória e do direcionamento de sua linha editorial em distintas conjunturas históricas do jornal.

A primeira seção é finalizada com o artigo de Adriana Angelita da Conceição, Entre o ofício e a amizade: o discurso epistolar do vice-rei 2º marquês do Lavradio no século XVIII. Neste trabalho não são os periódicos o ponto central de sua pesquisa, mas sim as correspondências remetidas pela monarquia portuguesa, em especial pelo vice-rei do Estado do Brasil, D. Luís de Almeida. A autora segue a trajetória metodológica nos trabalhos aqui apresentados ao analisar as categorias discursivas presentes nas cartas epistolares, considerando-as importantes ferramentas do governo, ao possibilitar que ordens e demais demandas administrativas pudessem ser atendidas em âmbito local e além-mar.

A presente edição conta também com a nota de pesquisa A preservação de acervos históricos no Estado de Minas Gerais: Projeto Memorial da Imprensa de Uberaba – criação da hemeroteca digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, dos pesquisadores Vilma Moreira Santos, Thiago Veloso Vitral e Alessandra Palhares. Nesse sentido, destaca-se a importante iniciativa em reunir, organizar, catalogar e preservar o patrimônio documental, ação louvável que certamente irá contribuir para futuras pesquisas.

Em seguida, com a finalidade de contemplar o propósito abrangente e plural da revista, segue-se a seção destinada a temática livre. Os autores Norberto Tiago Gonçalves Ferraz e Fernanda Fioravante Kelmer Mathias lançam múltiplos olhares sobre o século XVIII em valiosas pesquisas arquivísticas. O primeiro, no artigo Os legados pios perpétuos confraternais na cidade de Braga no século XVIII, pesquisa nesta localidade portuguesa setecentista as doações para celebração de missas e outros serviços post mortem encomendados pelo testador para o bem de sua alma e de seus familiares. Esses legados pios estiveram vinculados às confrarias bracarenses que se encarregaram da manutenção, reprodução e contemplação aos titulares de direito e suas respectivas gerações. Já Fernanda Fioravante Kelmer Mathias, em seu artigo Estudo comparativo das receitas das câmaras de Vila Rica e Vila de São João del-Rei, 1719-1750, estuda a realidade setecentista do ambiente das Minas Gerais. A pesquisadora analisa sistematicamente os orçamentos de dois importantes núcleos urbanos mineradores do período colonial através das receitas arrecadatórias de suas câmaras municipais.

Os artigos seguintes também pesquisam o ambiente das Minas Gerais, porém, destacam o contexto histórico oitocentista em distintas temporalidades e realidades. João Lucas Rodrigues, autor de O parentesco escravo nas terras da família Maia: sul de Minas, 1811 a 1860, analisa a construção das relações familiares e das alianças de compadrio em tradicional família daquela localidade. Em outro artigo intitulado Identidade, modernidade e escrita eclesiástica em tempos de Reforma Ultramontana, Tiago Pires fundamenta-se no estudo de categorias discursivas e identitárias para analisar as narrativas de fé na escrita eclesiástica da Diocese de Mariana no período de 1855 a 1902. Complementando os estudos sobre o século XIX, publicamos o trabalho de José Alberto dos Santos Marques, Emigração portuguesa para o Brasil nos fins do século XIX, que lança mão de rico acervo documental do Fundo do Governo Civil de Lisboa para analisar as motivações e os vínculos estabelecidos no processo de imigração portuguesa em terras brasileiras.

Integram ainda a edição artigos que destacam o Brasil contemporâneo. O trabalho de Lara Vanessa de Castro Ferreira, intitulado Políticas anti-migratórias e ativismo “retirante”: tessituras entre trabalho e migração nas obras públicas em tempos de secas no Ceará (década de 1950), pontua que os retirantes nordestinos atuaram como protagonistas em frentes de trabalho das obras estruturais promovidas pelo poder público de combate a seca naquela região do país. Já o texto Norte de Goiás: terra de esperança, conflitos e frustrações, de autoria de Carlos Alberto Vieira Borba, apresenta os conflitos agrários resultantes do descompasso entre demanda e acesso a terra no norte goiano durante os anos 1950-60, tendo em vista a ocupação territorial estimulada pela campanha do governo federal “Marcha para o Oeste” a partir da década de 1940. Finaliza esta seção o artigo de Reginaldo Cerqueira Sousa, Práticas de esporte, educação física e educação moral e cívica na Ditadura Militar: uma higiene moral do corpo. O pesquisador retoma a temática do período do governo militar no país a partir do estudo das bases de apoio ao regime ditatorial, destacando-se a reestruturação do ensino como estratégia governista direcionada a juventude para a constituição do ideário nacionalista baseado nas práticas esportivas e na educação moral e cívica.

Encerrando o número, temos a tradução Modernolatria, realizada por Júlio Bernardo Machinski. Trata-se da tradução do capítulo central do livro Modernolatria et Simultaneità: recherches sur deux tendences dans l’avant-garde littéraire en Italie et en France à la veille de la première guerre mondial, do historiador sueco Pär Bergman. Tradução inédita do pioneiro estudo clássico sobre as tendências do movimento futurista no início do século XX, originalmente publicado em 1962. A nosso ver essa tradução será de grande valia para os historiadores das artes, dos movimentos culturais e das ideias estéticas.

Agradecemos ainda as pessoas que tornaram possível essa publicação: a equipe do Setor de Revisão, especialmente, Daniella Lopes, Priscila Campello e Laila Xavier; a equipe do Setor de Periódicos da Biblioteca Pe. Alberto Antoniazzi, sobretudo, Alda Verônica Goes e Roziane Michielini; o excelente trabalho gráfico de Leandro Abreu; o suporte cotidiano dos funcionários e estagiários do Centro de Memória e de Pesquisa Histórica da PUC Minas; e por fim, o apoio do Chefe do Departamento de História da PUC Minas, Edison Gomes, e dos professores do Colegiado do Curso de História, Jacyra Antunes, Cristiano Garotti e Julia Calvo.

Por conta desta edição comemorativa, ultrapassamos a extensão usual dos editoriais dos Cadernos de História. Entendemos que o volume 16, número 25, apesar de constituir uma edição comemorativa, conseguiu, por um lado, evitar o excesso memorialista sem deixar de prestar homenagens aos editores e colaboradores da revista, comissões editoriais e equipes técnicas, e por outro, manter a proposta da revista em apresentar instigantes discussões promovidas pelos pesquisadores que aqui enviaram suas contribuições para esta publicação. Parabéns Cadernos de História!

Marcelo de Araújo Rehfeld Cedro – Professor doutor. Editor Gerente dos Cadernos de História da PUC Minas.


CEDRO, Marcelo de Araújo Rehfeld. Editorial. Cadernos de História. Belo Horizonte, v.16, n.25, 2015. Acessar publicação original [DR]

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