História e Historiadores / Cadernos de História / 2018

É com intensa satisfação que publicamos o Dossiê História e Historiadores, a mais recente edição da revista Cadernos de História.

Amplas temáticas e abordagens são recorrentes objetos de análise no âmbito da atividade historiográfica e estão em contínuo debate no meio acadêmico. No entanto, já há algum tempo, o estudo sobre os historiadores vem despertando cada vez mais atenção e ocupando maiores espaços no campo de interesse dos pesquisadores, sobretudo na vertente das histórias intelectual, política, social e cultural. Neste dossiê optamos em destacar o papel ativo desempenhado pelos historiadores na produção do saber histórico, na seleção e no tratamento das fontes e na realização dos procedimentos metodológicos que bem fundamentaram as interpretações historiográficas sobre seu objeto de pesquisa.

Nessa perspectiva, convidamos para apresentar nosso editorial a dupla de historiadores Sérgio da Mata e Sabrina Magalhães Rocha. Os pesquisadores traçam um dinâmico percurso do que denominam „história dos historiadores‟ a partir das transformações sofridas pelas meta-narrativas em novas abordagens micro e pluridisciplinares. Desde então, os autores convidam nossos leitores a um instigante raciocínio acerca da produção do conhecimento histórico na contemporaneidade.

Os dois artigos que abrem esse dossiê, “A África antiga sob a ótica dos clássicos gregos e o viés africanista” e “O mundo ibérico e as origens das relações com a África negra”, escritos, respectivamente, por Maria Regina Cândido e Luciano Borges Muniz, pontuam algumas visões historiográficas envolvendo a história africana. A primeira pesquisa, além de destacar a legislação federal que instituiu de forma obrigatório os estudos africanos no Brasil, apresenta a relação entre o afrocentrismo e o eurocentrismo tendo como recorte temporal a África pré-moderna, sobretudo espelhando-se nas imagens construídas por „historiadores‟ do mundo clássico. Já a pesquisa de Luciano Muniz amplia a vertente historiográfica, tradicionalmente concentrada na visão econômica, ao relacionar expansão marítima do século XV com a África subsaariana. Para o autor, outras abordagens transdisciplinares também marcaram a aproximação entre o mundo ibérico e o continente africano.

O próximo artigo, de autoria do pesquisador Luiz Francisco Albuquerque de Miranda, também se inclina em estudar a historiografia da expansão marítima ibérica do século XVI, porém, com o olhar da Ilustração do século XVIII, ao dar especial atenção à obra do abade francês Guillaume-Thomas Raynal. Com o título “História das duas Índias e os colonizadores da América”, o autor analisa como a histórica filosófica do século XVIII representou os colonos ibéricos que chegaram à América a partir do século XVI.

Em seguida, o artigo de Aruanã Antônio dos Passos, intitulado “Do Império à República: escrita poética e biografia em Tobias Barreto (1869-1889)”, apresenta interfaces da história com a literatura. Nesta pesquisa, o autor analisa a vida intelectual do emblemático escritor Tobias Barreto, conjugada à sua vida privada e ao contexto histórico do último quartel do século XIX. O próximo artigo, de autoria do pesquisador Alexandre Almeida Marcussi, cujo título é “O anticolonialismo como tragédia: os jacobinos negros entre a História e a política”, apresenta a obra do historiador antilhano de Trinidad e Tobago, Cyril Lionel Robert James, publicada no final da década de 1930. Marcussi destaca que o texto do ensaísta caribenho integrou o movimento panafricanista do século XX ao estimular o ativismo político negro daquele continente, em razão de oferecer uma das possibilidades historiográficas do violento processo de independência da colônia francesa de São Domingos e, consequentemente, a formação do Haiti em 1804, dando início à configuração dos Estados latino-americanos do oitocentos.

O próximo artigo que integra esse dossiê é de autoria do historiador Rafael Nascimento Gomes e se denomina “Seignobos x Simiand: a querela do método histórico com a ciência social no início do século XX”. Como o título sugere, trata-se de um embate intelectual travado entre o historiador Charles Seignobos e o sociólogo e economista François Simiand. Para o pesquisador, tais discussões embasadas no método histórico e na ciência social foram fundamentais na institucionalização e na profissionalização dessas disciplinas no campo acadêmico francês. Na sequência, apresentamos o trabalho de Eduardo José Santos Borges e Augusto Fagundes da Silva dos Santos, intitulado “Considerações sobre um campo disciplinar: os principais modelos explicativos da economia colonial”. Os coautores lançam mão da bibliografia referencial acerca da dinâmica socioeconômica do período colonial brasileiro e realizam breve comparação historiográfica sobre essa temática. Nomes como Caio Prado Jr., Celso Furtado, Fernando Novais, Jacob Gorender, Ciro Flamarion Cardoso, João Fragoso e Manolo Florentino, são confrontados para confirmar o que já é amplamente reproduzido no meio acadêmico desde meados dos anos 1980: uma historiografia renovada ao considerar o contexto colonial como parte dinâmica e ativa de uma complexa rede econômica, política e social integrante do império português.

Parafraseando o historiador Lucian Lebvre ao afirmar que a „História é filha de seu tempo‟, o próximo artigo desse dossiê, de autoria de Lucas Pereira de Oliveira, realça que, atualmente, o entendimento da História não se orienta por dogmatismos e inquestionáveis verdades. Pelo contrário, acentua o debate ao reconhecer as várias interpretações, posicionamentos, metodologias, escolhas e experiências do historiador incorporado ao seu tempo histórico e social. Assim, “E. P. Thompson entre fragmentos, embates e tensões: reflexões teórico-metodológicas do seu posicionamento frente aos escritos de Anderson, Nairn e Kolakowski”, como bem sugere esse título, debate sobre várias questões historiográficas a partir do ponto de vista desses intelectuais marxistas.

Na sequência, o historiador José Costa D‟Assunção Barros, no artigo “Os historiadores e o tempo: a contribuição dos Annales”, discute, dentre outras abordagens, o conceito de „longa duração‟, a partir da perspectiva da Escola dos Annales, utilizandose, sobretudo, das concepções de Marc Bloch, Fernando Braudel e Michel Vovelle acerca do tempo histórico. Já o artigo de André Fabiano Voigt –, intitulado “Jacques Rancière e a História: uma introdução” –, dialoga com a historiografia francesa no tocante às contribuições multidisciplinares do intelectual Jacques Rancière ao aproximar história, filosofia e literatura. No propósito de analisar a historiografia do sistema econômico mundial, apresentamos o artigo do pesquisador Carlos Leonardo Kelmer Mathias, “A Longa Duração, A Grande Divergência e A Grande Convergência: sumários apontamentos acerca da influência de Fernand Braudel na compreensão do atual sistema econômico mundial”. Neste trabalho, como bem informado no título, o autor dialoga com a perspectiva braudeliana para pontuar aspectos consideráveis que delinearam o caminho tomado pelo cenário capitalista a partir do mundo moderno. E por fim, o artigo “Para uma historiografia do operariado de Alagoas”, de Ivo dos Santos Farias encerra essa sequência, ao apresentar um percurso historiográfico acerca do movimento operário alagoano dialogando com a produção acadêmica de três gerações de estudiosos.

Realizada por este editor em parceria com o pesquisador Euclides de Freitas Couto, a próxima seção do dossiê apresenta a entrevista com a historiadora Lucília de Almeida Neves Delgado acerca de sua trajetória acadêmica e suas perspectivas historiográficas. Em seguida, destacamos o duplo trabalho de Pedro Spínola Pereira Caldas ao apresentar a comunicação “A filosofia da história universal de Friedrich Schiller: uma introdução”, e a respectiva tradução do texto deste mesmo intelectual “O que significa e com que finalidade se estuda História Universal?”

Finalizamos a publicação desta edição com duas resenhas. A primeira, realizada por Matheus Landau de Carvalho, do livro “A eternidade pelos astros”, escrito na prisão por Louis-Auguste Blanqui, ativista francês e participante da Comuna de Paris em 1871. A edição brasileira foi publicada em 2016, cuja tradução foi realizada por Luciana Persice. A outra resenha que integra este dossiê é apresentada por Alex Rogério Silva, do livro organizado por Ângela Vaz Leão, intitulado “Cantigas autobiográficas de Afonso X, o sábio”. Trata-se de uma antologia traduzida e analisada de 34 poemas medievais referentes ao culto mariano.

Assim, através dos colaboradores deste dossiê temático, podemos destacar que a produção historiográfica e sua relação com os historiadores integram um vasto campo de possibilidades permeadas por conjunturas, espacialidades e tendências.

Desse modo, Cadernos de História ratifica ser um amplo espaço de discussão acadêmica que contribui com o diálogo transdisciplinar ao reunir neste número instigantes pesquisas sobre História e Historiadores.

Agradecemos mais uma vez a equipe do Setor de Revisão da PUC Minas, especialmente, a professora Daniella Lopes e aos estagiários Gabriel Gama e Francine Brandhuber. Agradecemos também a professora Jacyra Parreiras, chefe do Departamento de História da PUC Minas, e ao diretor da Editora PUC Minas, professor Paulo Agostinho Nogueira Baptista. Agradecemos ainda aos membros do Conselho Editorial dos Cadernos de História e, especialmente ao ex-editor adjunto Rafael Pacheco Mourão que, recentemente se desligou da revista e muito colaborou com seus serviços Apresentação prestados ao longo desses anos para que este periódico acadêmico obtivesse o amplo reconhecimento institucional. Ressaltamos que todas essas pessoas foram importantíssimas para tornar possível mais uma publicação dos Cadernos de História.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Marcelo de Araújo Rehfeld Cedro – Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Professor do Departamento de História da PUC Minas. Editor Gerente dos Cadernos de História.


CEDRO, Marcelo de Araújo Rehfeld. Apresentação. Cadernos de História. Belo Horizonte, v.19, n.30, 2018. Acessar publicação original [DR]

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História e Cidade / Cadernos de História / 2017

É com intensa satisfação que publicamos o Dossiê História e Cidades, a mais recente edição da revista Cadernos de História.

A aproximação da História com outros campos disciplinares, sobretudo com as Ciências Sociais, contribuiu para ampliar os olhares sobre a cidade. Nesse propósito, apresentamos nesse dossiê, artigos que dialogam com várias áreas cujas pesquisas muito contribuem para alargar as maneiras de se pensar o urbano.

Convidados para apresentar nosso editorial, a sociológica Luciana Teixeira de Andrade. A pesquisadora traz importantes contribuições em destacar o atual estágio dos estudos urbanos no meio acadêmico, suas múltiplas conexões interdisciplinares e diversificados campos de possibilidades que permitem amplos e sofisticados debates acerca da leitura sobre as cidades.

Os dois primeiros artigos que abrem esse dossiê, “Uma problemática da Arqueologia e da História: a cidade e seus territórios” e “O papel da ambiência histórica nos processos de tombamento dos sítios urbanos”, escritos, respectivamente por Arno Alvarez Kern e pelos coautores Cíntia Camila Viegas e Rubenilson Brazão Teixeira, entrecruzam os estudos sobre as cidades com a perspectiva arqueológica e patrimonial. A primeira pesquisa apresenta a arqueologia como um campo de possibilidades em considerar os vestígios obtidos por suas escavações como fontes históricas complementares para a interpretação do fenômeno urbano. Já no segundo artigo, os pesquisadores, ao utilizarem o conceito de ambiência histórica e ao analisarem as trajetórias percorridas sobre a noção de patrimônio, discutem os valores materiais e simbólicos atribuídos ao processo de tombamento de sítios urbanos. Cíntia Viegas e Rubenilson bem ilustram essa abordagem teórica através de um estudo de caso do patrimônio urbano potiguar.

O próximo artigo, de autoria da historiadora Maria Alice da Silva Tavares, apresenta o medievo português priorizando analiticamente o modo de vida urbano. Intitulada “Vivências quotidianas na rua: costumes e foros da Idade Média portuguesa”, a pesquisadora utiliza-se de fontes documentais municipais para fornecer dados para se entender a criminalidade urbana, os tratos higienistas e as atividades econômicas de ruas do século XIII, a partir de determinadas regiões lusitanas selecionadas pela autora.

Em seguida, a pesquisa de Gustavo Leandro Gouvea Lopes também se orienta pela análise higienista, porém, voltada ao cenário urbano mineiro de finais do século XIX e início do século XX. Em seu artigo “Vida e morte sujam a urbe moralizada: latidos, mugidos, higienismo e os jornais diamantinenses”, o autor analisa as narrativas da imprensa local, especialmente os jornais impressos, no sentido de identificar discurso civilizatório e moralizador favorável à ação da municipalidade no recolhimento de animais soltos pelas ruas da cidade mineira de Diamantina. De metodologia similar, ao priorizar a leitura de jornais e periódicos, a historiadora Sônia Maria de Meneses Silva, no artigo “A pena e o bacamarte: imprensa e narrativa criminal – um olhar sobre a cidade no século XIX”, também analisa as práticas e discursos higienistas reproduzidos pelas narrativas jornalísticas em relação ao controle da violência e à ordenação dos espaços urbanos da cidade de Fortaleza a partir da segunda metade do século XIX. Ainda tendo o século XIX como recorte temporal, porém estendendo-se ao primeiro quartel do século XX, o artigo “Comerciantes e artesãos toscanos nas ruas de São Paulo (1875-1914)”, do historiador Antonio de Ruggiero, trata da temática da imigração italiana, particularmente da região da Toscana, na cidade de São Paulo. A pesquisa aborda os vínculos engendrados por essa comunidade através do trabalho artesanal e pelas redes de sociabilidade construídas entre imigrantes e país receptor.

O artigo seguinte desse dossiê transpõe-se ao cenário latino-americano das primeiras quatro décadas do século XX. O trabalho “Antes del espacio publico: una historia de los espacios verdes y libres de la ciudad de Rosário (1900-1940)”, de autoria dos pesquisadores argentinos Diego Roldán e Sebastián Godoy, analisa as intervenções urbanísticas, higienistas e paisagísticas realizadas pelo poder público nos parques urbanos da cidade argentina de Rosário, província de Santa Fé, tendo em vista as narrativas construídas e sentidos atribuídos ao espaço público contemporâneo. Logo depois, Alexandre Cotovio Martins, em seu artigo “Fatores ‘genéticos’ da política de habitação operária da Companhia União Fabril em Portugal: uma breve análise” apresenta a realidade urbana lusitana, especialmente sua capital Lisboa, a partir da instalação da indústria têxtil Companhia União Fabril no ano de 1907. A pesquisa analisa as políticas habitacionais empreendidas por este empregador ao operariado e como tais iniciativas afetaram a forma de se pensar o espaço público naquele entorno industrial.

Dando sequência às publicações desse dossiê, o artigo “A cidade do Rio de Janeiro e a construção do Aeroporto Santos Dumont (1933-1938)” retoma os estudos urbanos sobre a realidade nacional. Sua autora, Claúdia Musa Fay, apresenta a conexão entre as construções dos primeiros aeroportos e a história urbana. A historiadora destaca como a criação do Aeroporto Santos Dumont modificou a paisagem estética, provocou significativas alterações urbanística e renovou as formas de representar o espaço público da cidade do Rio de Janeiro a partir da década de 1930. Já a pesquisa de Maria Cristina de Castro Pereira –, intitulada “Mapeando o Pouso Frio: dinâmicas de um bairro na cidade de Toledo / PR” – apresenta o processo de ocupação, ocorrido a partir da década de 1940, por diversificados sujeitos provenientes no norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Paraguai, do bairro denominado Pouso Frio, situado na cidade paranaense de Toledo. A autora destaca a omissão da história oficial reproduzida pelo município acerca da apropriação desse bairro por trabalhadores vindos de diversas regiões do país na busca por condições de moradia e por acesso à cidade.

A seguir, apresentamos o artigo “Um futuro alternativo para São Paulo: Anhaia Mello e a tese da limitação do crescimento da metrópole”, elaborado por Bruno de Macedo Zorek. Nesta pesquisa é abordada a conjuntura de modernização urbana experimentada pela cidade de São Paulo no decorrer da década de 1950, tendo em vista seu emergente processo de metropolização. O autor analisa, especialmente, documentos produzidos pelo urbanista Luís de Anhaia Mello acerca de suas perspectivas de pensar a nova configuração e o futuro da cidade paulistana.

Os próximos artigos abordam a temática do patrimônio e suas articulações ao urbano. Felipe Araujo Xavier, na pesquisa “O zé-pereira em Rio Novo: uma emancipação cultural centenária no interior de Minas Gerais (1906-2006)”, analisa as relações constituídas entre as práticas pré-carnavalescas representadas pelo bloco zépereira e os bailes de carnaval realizados pelos clubes sociais no município mineiro de Rio Novo em amplo recorte temporal. Nesse artigo, o autor utiliza-se de diversificadas fontes para interligar a memória e sua relação com o espaço urbano daquela localidade. Já o artigo “O Espelho da História: práticas patrimonialistas e transformações na paisagem urbana de Viçosa (1980-2010)”, dos pesquisadores Leonardo Civale e Walkíria Maria Freitas Martins, discute as relações acirradas e conflituosas que envolvem o patrimônio. Os coautores analisam como as ações patrimoniais reconfiguraram a paisagem urbana da cidade mineira de Viçosa, ao final do século XX e início do século XXI, no sentido de preservar e revitalizar antigas áreas industriais degradadas.

Finalizando a sequência de publicações desse dossiê, apresentamos duas comunicações voltadas à realidade lusitana: “O olhar estrangeiro na Lisboa de oitocentos” e “Shilb (Silves) no período islâmico – a Bagdad do ocidente”, respectivamente escritas por Maria João Castro e Natália Lopes Nunes. Na primeira comunicação, sua autora Maria João Castro utiliza-se do discurso literário no propósito de cartografar a cidade de Lisboa a partir do olhar memorialístico de seus visitantes europeus do século XIX. Já na segunda comunicação, Natália Lopes Nunes, ao coordenar um projeto em andamento, investiga a herança árabe e islâmica em Portugal, especialmente, na cidade de Silves, de antigo domínio muçulmano.

Assim, através dos colaboradores deste dossiê temático, podemos perceber a íntima relação entre História e Cidades. Os objetos abordados permeiam um vasto campo de possibilidades em se pensar a urbe, percorrendo a memória, o poder, as narrativas jornalísticas, a arqueologia, o patrimônio, as ocupações sociais, as manifestações e o planejamento urbano. Desse modo, Cadernos de História ratifica ser um amplo espaço de discussão acadêmica que contribui com o diálogo transdisciplinar ao reunir neste número instigantes pesquisas sobre História e Cidades. Agradecemos mais uma vez a equipe do Setor de Revisão da PUC Minas, especialmente, a professora Daniella Lopes, e aos estagiários Roberto Barcelos, Aline de Oliveira, Julia Magalhães e Thatiane Marques.

Agradecemos também a professora Jacyra Parreiras, chefe do Departamento de História da PUC Minas, e ao diretor da Editora PUC Minas, professor Paulo Agostinho Nogueira Baptista. Agradecemos ainda aos membros do Conselho Editorial dos Cadernos de História, notadamente, aos professores Rafael Pacheco Mourão, Virgínia Valadares e Maria Flor de Maio Benfica. Ressaltamos que todas essas pessoas foram importantíssimas para tornar possível mais uma publicação.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Marcelo de Araújo Rehfeld Cedro – Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Professor do Departamento de História da PUC Minas. Editor Gerente dos Cadernos de História.


CEDRO, Marcelo de Araújo Rehfeld. Apresentação. Cadernos de História. Belo Horizonte, v.18, n.28, 2017. Acessar publicação original [DR]

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História e Etnicidade / Cadernos de História / 2016

A revista Cadernos de História chega a mais uma edição temática com a publicação do Dossiê História e Etnicidade. Os artigos reunidos neste número por nossos pesquisadores colaboradores apresentam instigantes trabalhos alinhados às discussões sobre tema intensamente recorrente no atual meio acadêmico.

No editorial deste dossiê, convidamos o pesquisador italiano Massimo Canevacci para apresentar suas recentes investigações envolvendo as conexões entre história, antropologia e etnografia. Em seu trabalho, “Composições etnográficas”, Canevacci discorre sobre as transformações culturais no processo de globalização e sua relação com as realidades locais, a partir de novos mecanismos de produção comunicacional entre os grupos étnicos. Nessa ótica, o pesquisador destaca que a era digital alterou e conectou os métodos de como as comunidades locais se relacionam com o contexto global no que concerne aos mecanismos de autorrepresentação de subjetividades e na construção de suas histórias. Assim, importantes termos e expressões como “hetero-representação”, “meta-fetichismo” e “facticidade” são apresentados e definidos pelo autor para o entendimento da etnicidade, compreendida pelos vínculos de pertencimento, no cenário contemporâneo a partir de “quem representa” e “quem é representado”, complexa relação na qual ele denomina de “divisão comunicacional do trabalho”.

Nos dois primeiros artigos desse dossiê, destacam-se o percurso de determinadas comunidades africanas na constituição de um sincretismo cultural brasileiro, percebidas pela interação afroindígena amazônica e também pelo candomblé baiano. No primeiro caso, é o título de Agenor Sarraf Pacheco, “Diásporas africanas e contatos afroindígenas na Amazônia marajoara”, cujo propósito é realçar as intersecções tecidas por índios e negros desde o período colonial na região da ilha de Marajó, no Estado do Pará. O autor apresenta vários questionamentos que o instigaram a pesquisar os traços étnicos das populações marajoaras, sobretudo, seus afrodescendentes. Nessa ótica, Pacheco estima que a chegada dos primeiros africanos aos campos e florestas marajoaras ocorreu por volta de 1644, trazidos pelos portugueses para servirem como mão de obra escrava na exploração de drogas do sertão, cultivo da cana de açúcar e da mandioca. Os latifúndios e aldeamentos jesuíticos que ali se estabeleceram contavam com negros e indígenas na execução do trabalho compulsório que, consequentemente, resultaram em resistências, fugas e práticas de solidariedade na constituição de mocambos e quilombos na região.

Já o artigo do pesquisador português João Ferreira Dias, “Candomblé é a África: esquecimento e utopia no candomblé jeje-nagô”, também destaca a interação brasileira com a diáspora africana, todavia, na conjuntura baiana da virada do século XIX para o século XX. O autor aponta que a narrativa do candomblé não se constitui pela linearidade ou por um ideal de continuidade resultante da recriação simples de costumes africanos transportados para o Brasil. Assim, a partir de povos iorubás e ewe-fon, transformados em escravos no período colonial, o autor destaca os rearranjos rituais desses grupos étnicos, muitas vezes representantes de reinos rivais africanos, e como engendraram uma nova realidade religiosa compartilhando com o catolicismo popular suas memórias, similitudes culturais e esquecimentos.

Nos três artigos seguintes, apresentamos pesquisas que dialogam com a temática indígena e quilombola no nordeste e no centro-oeste brasileiros. No artigo “Não somos selvagens: cultura política dos índios no Ceará (1799-1822)”, João Paulo Peixoto Costa investiga que as comunidades indígenas cearenses – à época da transição entre colônia e império –, no propósito de receber benefícios e garantias, estrategicamente buscavam se identificar enquanto súditas da Coroa Portuguesa. Segundo o autor, a intenção dos grupos étnicos indígenas em planejar resistências e reações estava longe de ser desarticulada e puramente violenta. Já a pesquisadora Maria Jorge dos Santos Leite colabora aqui com sua pesquisa intitulada “Quilombolas e indígenas: intercruzamentos, identidades e conflitos no sertão de Pernambuco”, cujo objetivo é analisar o processo de construção identitária da comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, no sertão do Estado pernambucano, identificando as interações étnicas e as interconexões culturais de seus habitantes com a aldeia indígena Atikum. Para arrematar a temática indígena e quilombola nessa série de artigos, Luciana de Oliveira, Tonico Benites e Rui de Oliveira Neto, em pesquisa conjunta intitulada “Sacrifício e quase-acontecimento: apontamentos sobre a visibilidade da luta pela terra dos povos indígenas Guarani e Kaiowa”, apresentam o histórico de opressão e confinamento desses grupos étnicos estabelecidos na região sul-mato-grossense e como se rearticularam na contemporaneidade para expor suas recorrentes demandas, sobretudo, no que concerne ao direito aos seus territórios frente ao agronegócio. Os pesquisadores afirmam que, embora provocando intensas disputas e controvérsias, as comunidades indígenas Guarani e Kaiowa alcançaram visibilidade ao se utilizarem das mídias sociais na reprodução de narrativas, lutas e demandas referentes à preservação ambiental, demarcação de terras e autodeterminação étnica, embasadas em princípios garantidos pela carta constitucional e pelo Estatuto dos Povos Indígenas. Os pesquisadores lançam mão de atualizados dados quantitativos para demonstrar o descaso pelo direito indígena por parte do poder público, ilustrado aqui por números alarmantes e assustadores de suicídio e alcoolismo, além de violentas disputas históricas pela terra travadas com os fazendeiros do agronegócio na região do estado de Mato Grosso do Sul.

Neste número também é discutida a relação conceitual entre musealização e patrimonialização. É o que faz Janaina Cardoso de Mello no artigo “Entre a farroupilha e a redenção: negros percursos museológicos na terra do chimarrão”. A autora utiliza-se de um amplo debate acadêmico acerca das novas definições, orientações e práticas museológicas no campo patrimonial para analisar o Museu do Percurso de Porto Alegre que – entre os anos 2008 e 2011 –, foi idealizado e iniciou seus projetos em curso. Janaina Mello pontua que tal investida sintoniza-se com a atual noção de museu de território (ou museu a céu aberto ou museu de percurso) no sentido de ressignificar trajetórias e territorialidades percorridas ou apropriadas, no caso em questão, por comunidades étnicas negras africanas presentes desde a época colonial em Porto Alegre (RS). A autora afirma que a presença negra no sul do Brasil é comumente negligenciada pela historiografia regional ao se priorizar a figura do gaúcho e seus estereótipos que evidenciam o branqueamento de costumes e lugares de memória naquela parte do país.

Em seguida, os pesquisadores José Jorge Siqueira e Ignacio José Godinho, nos respectivos artigos “Modelos de desenvolvimento, economia política e a questão do negro no Brasil” e “Ações afirmativas e o horizonte normativo da democracia racial” discutem o descaso e a imobilidade do Estado brasileiro frente às políticas públicas em relação à população afrodescendente. Os autores utilizam-se de amplo suporte bibliográfico e percorrem a trajetória dos modelos econômicos nacionais – do capitalismo agroexportador ao desenvolvimentismo – e destacam como o branqueamento e o descaso com a educação e com a população ex-escrava e suas gerações posteriores foi encoberto pela internalização da suposta democracia racial, agravando os abismos de desigualdade socioeconômica no país.

O artigo “Sírios, libaneses e judeus – paradoxo entre o grupo e a nação: participação e restrição em Belo Horizonte nos anos 1930 e 1940”, produzido por Júlia Calvo e Pedro Henrique da Silva Carvalho, analisa a presença dos grupos estrangeiros que imigraram para a capital mineira e como se organizaram em associações, estilos de vida e laços de sociabilidade, além das práticas econômicas que passaram a desempenhar no comércio da cidade. Os coautores destacam que tais grupos estrangeiros se organizaram em comunidades étnicas integradas por fortes vínculos de pertencimento e solidariedade, representadas pela União Síria e União Israelita de Belo Horizonte. Os pesquisadores discutem a discriminação sofrida por esses grupos étnicos institucionalizados, através de ações repressoras do Estado brasileiro durante as décadas de 1930 e 1940.

A perspectiva étnica na conjuntura africana também é debatida neste dossiê. Danilo Ferreira da Fonseca analisa no artigo “Etnicidade de hutus e tutsis no Manifesto Hutu de 1957”, a realidade de Ruanda – país situado na região centro-oriental do continente africano –, que mergulhou em intensos conflitos internos após o processo de emancipação política frente ao domínio belga, repercutido principalmente pelo famoso genocídio ocorrido em 1994. O autor destaca o processo de pertencimento, de interação e de conflito acerca da etnicidade dessas duas comunidades ruandesas na segunda metade da década de 1950 na articulação de diferentes projetos de independência pensados para o país.

E, por fim, integra a sequência de publicações desse dossiê, a conferência de Jocélio Teles dos Santos, “Da cultura exótica à ótica das culturas”. Nesta comunicação, o pesquisador analisa o conceito de cultura a partir de suporte teórico embasado por textos de Montaigne, Voltaire e Rousseau, e destaca como tal temática da diferenciação cultural foi produzida pela imprensa, pelos viajantes e pela literatura no Brasil oitocentista.

Vale informar aos leitores e colaboradores que esse primeiro número de 2016 traz um novo projeto gráfico da revista Cadernos de História. Nesse sentido, visando atender melhor a todos os critérios de qualidade para periódicos acadêmicos, estamos nos adaptando às diretrizes colocadas pela CAPES / QUALIS, bem como passamos a utilizar as orientações da NBR 6021 / 2015 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, seguindo assim a recomendação da Scielo. Agradecemos mais uma vez a equipe do Setor de Revisão da PUC Minas, especialmente, aos professores Gilberto Xavier e Daniella Lopes, e aos estagiários Laila Xavier e Roberto Barcelos. Agradecemos também ao chefe do Departamento de História da PUC Minas, professor Edison Gomes, e ao diretor da Editora PUC Minas, professor Paulo Agostinho Nogueira Baptista. Agradecemos ainda aos membros do Conselho Editorial dos Cadernos de História, especialmente, aos professores Virgínia Maria Trindade Valadares e Rafael Pacheco Mourão. Ressaltamos que todas essas pessoas foram importantíssimas para tornar possível essa publicação.

Portanto, através dos artigos aqui publicados, os Cadernos de História ratificam ser um amplo espaço de discussão acadêmica que contribui com o diálogo transdisciplinar ao reunir nesse número instigantes pesquisas sobre História e Etnicidade. Desejamos a todos uma boa leitura!

Marcelo de Araújo Rehfeld Cedro – Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Professor do Departamento de História da PUC Minas. Editor Gerente dos Cadernos de História.


CEDRO, Marcelo de Araújo Rehfeld. Apresentação. Cadernos de História. Belo Horizonte, v.17, n.26, 2016. Acessar publicação original [DR]

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História e ativismo / Cadernos de História / 2015

Os movimentos de rua no Brasil foram cruciais para a definição do Dossiê Ativismo e História, em especial, os movimentos de junho de 2013. Cumprindo a função de provocar abordagens sob os mais peculiares olhares, foi possível selecionar textos de mérito acadêmico sobre variados objetos (minorias, elites, trabalhadores e marginalizados), perspectivas (ideológicas, Estado e sociedade) e períodos (séculos XVII, XX e XXI). Os artigos analisam manifestações políticas de ampla militância e de múltiplas demandas no Brasil e em Portugal: são experiências de conflitos coletivos entre marginalizados e elites, nações e rebeldes, trabalhadores e proprietários, colonizadores e escravos, ou são estratégias de alianças políticas ou lutas pelo poder. O elemento coletivo está presente em todos os casos analisados pelos autores, mesmo que manifestado em vivências particulares, as ações e estratégias foram motivadas pela política, na defesa de posições econômicas, territoriais, sociais e culturais.

Abre o Dossiê o artigo escrito por Adalberto Paz, Além do equador, entre “hordas de selvagens”: frentes de ocupação, trabalho e redes de contatos no extremo norte amazônico oitocentista. O texto trata do contestado franco-brasileiro no final do século XIX no Amapá. Nesse contexto, o autor analisa a trajetória de duas personalidades emblemáticas: Francisco Xavier da Veiga Cabral e Trajano Cypriano Bentes. O segundo artigo busca compreender as correspondências entre o Integralismo Lusitano, liderado por Antônio Sardinha, o Nacional Sindicalismo de Rolão Preto e a ditadura de Salazar. Com o título Integralismo Lusitano e Nacional Sindicalismo: movimentos de extrema-direita e contato com ditaduras em Portugal (1913-1932), o texto de Felipe Azevedo Cazapetta analisa os jogos de poder e de interesse entre os movimentos de extrema-direita e os regimes de ditadura em diferentes momentos da história de Portugal. O artigo seguinte trata das relações de poder entre militares, elite local e comunistas no 4º Batalhão de Sapadores de Aquidauana em Mato Grosso do Sul, no interior do Brasil. Este é o objeto de estudo de Vitor Wagner Neto de Oliveira, no artigo Articulações comunistas em Mato Grosso (1935).

Os dois artigos subsequentes analisam experiências recentes da história do Brasil, reflexos das mudanças políticas e sociais ocorridas no país e exemplos do dinamismo dos movimentos sociais. Entre a história e o luto: o ativismo de familiares de vítimas da ditadura militar no Brasil e O Movimento Lésbico em Fortaleza – LAMCE: trajetória e ações de luta, escritos, respectivamente, por Mayara Paiva de Souza e Cláudia Freitas de Oliveira, ambos tratam do início do século XXI e refletem aspectos importantes da história do tempo presente. Mayara Souza aborda a luta pela memória travada por mães em busca de seus filhos mortos no Regime Militar de 1964. Cláudia Oliveira trata em seu artigo sobre as bases, articulações e ações políticas do movimento ativista surgido em Fortaleza, em abril de 2004, denominado LAMCE, Liberdade do Amor entre Mulheres no Ceará.

A temática “trabalho” fecha o Dossiê Ativismo e História, presente em quatro artigos dessa edição. Essa série inicia-se com o texto Revolta indígena no Engenho de Santana na Capitania de Ilhéus: o Atlântico Açucareiro e o trabalho indígena (1602), de Maria Hilda Baqueiro Paraíso. A autora destaca o elemento coletivo nos casos das rebeliões de indígenas escravizados no Engenho de Santana na Bahia durante o século XVI, isso sob o prisma da resistência política, marcada por “relações étnicas conturbadas, prenhes de negociação e de confrontos simbólicos e físicos”. O artigo seguinte, Uma perspectiva teórica para a interação entre sujeito e estrutura nos estudos sobre o movimento operário, de Cézar Augusto Bubolz Queirós, busca abordar teoricamente as relações no mundo do trabalho. O penúltimo artigo, intitulado “Informar” para “formar” – reflexões sobre a imprensa e militância no mundo do trabalho brasileiro, na Primeira República, analisa os jornais militantes do movimento operário nas primeiras décadas do século XX no Brasil. Nesse sentido, Isabel Aparecida Bilhão estuda o caso da imprensa de Porto Alegre e procura mostrar o processo de naturalização através da repetição do discurso. O artigo Instituições para a acção colectiva numa perspectiva histórica: mutualismo nos subúrbios industriais lisboetas (1890-1930) conclui o Dossiê. Nesse estudo, a autora Joana Dias Pereira salienta a receptividade e grandiosidade da associação de socorro mútuo português, considerando o legado corporativo das associações mutualistas como modelo de transição do capitalismo pré-industrial para o industrial.

A partir dos pressupostos da interação ensino e pesquisa, da interdisciplinaridade e da socialização do conhecimento, esperamos que este número possa representar uma contribuição relevante para a comunidade acadêmica.

Agradecemos mais uma vez as professoras Daniella Lopes e Priscila Campello e sua equipe do Setor de Revisão, ao trabalho gráfico de Leandro Abreu, e aos funcionários do Centro de Memória e de Pesquisa Histórica da PUC Minas que tornaram possível essa publicação.

Mário Cléber Martins Lanna Júnior – Professor Doutor

Marcelo de Araújo Rehfeld Cedro – Professor Doutor


LANNA JÚNIOR, Mário Cléber Martins; CEDRO, Marcelo de Araújo Rehfeld. Editorial. Cadernos de História. Belo Horizonte, v.16, n.24, 2015. Acessar publicação original [DR]

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20 anos dos Cadernos de História: periódicos, pesquisa histórica e divulgação científica / Cadernos de História / 2015

É com grande contentamento e intensa euforia que publicamos a edição comemorativa dos 20 anos dos Cadernos de História. Revista científica fundada no ano de 1995, atualmente vinculada ao Departamento de História e ao Centro de Memória e Pesquisa Histórica da PUC Minas, que por sua qualidade vem atraindo um número expressivo e crescente de submissões, acessos, usuários e leitores cadastrados.

Para marcar esta data especial, em alusão a trajetória da revista, apresentamos a nota histórica Cadernos de História PUC Minas: vinte anos de um projeto em construção. Elaborada pela professora Heloisa Guaracy Machado, idealizadora e abnegada colaboradora dos Cadernos de História, em parceria com o Editor Adjunto Rafael Pacheco Mourão, responsável pelo processo técnico, pela editoração e por outras etapas até a publicação final da revista. Os historiadores apresentam relevantes informações, direcionamentos seguidos, decisões tomadas e dados estatísticos, ao percorrer objetivamente as fases da revista, mas sem perder a perspectiva memorialística, retomar certas situações e prestar deferência a outras pessoas cuja contribuição foi fundamental para a continuidade dos trabalhos deste periódico. Fato é que o tempo em que Heloisa Guaracy Machado esteve à frente como Editora Gerente se confunde com a própria história dos Cadernos de História. O mesmo se aplica ao Editor Rafael Pacheco Mourão, que além de suas atividades no Centro de Memória, dedica-se com afinco no campo editorial dos Cadernos de História e presta consultoria para outros periódicos da instituição.

Em seguida, trazemos uma seção específica reunindo artigos voltados ao papel desempenhado pelos periódicos científicos no campo acadêmico. No primeiro artigo, de Miguel Ángel Márdero Arellano e Maria de Fátima Duarte Tavares, intitulado Preservação do patrimônio científico das humanidades: a emergência da Rede Cariniana, os autores apresentam as transformações e as novas demandas sofridas pelas revistas científicas nas últimas décadas ao adaptarem suas publicações às plataformas digitais. Os pesquisadores elencam as ferramentas estratégicas utilizadas no processo de editoração eletrônica no país diante do propósito de assegurar credibilidade aos periódicos científicos e o respectivo reconhecimento na comunidade acadêmica. Diante disso, os autores abordam especificamente a Rede Brasileira de Serviços de Preservação Digital – CARINIANA, iniciativa oficial vinculada ao instituto de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, cujo objetivo é a produção e socialização de sistemas de informação e, portanto, a preservação de periódicos eletrônicos em curso no Brasil.

Os artigos seguintes, O Guayba: o papel do jornalismo literário na formação dos jovens sul-grandenses em Porto Alegre (1856-1858) e Como ler uma revista ilustrada? Proposta metodológica para o estudo dos periódicos ilustrados publicados no Brasil oitocentista, dos respectivos autores, Carla Renata Antunes de Souza Gomes e Guilherme Elias de Figueiredo, alinham-se as interpretações sob o bojo da história cultural em suas práticas e representações ao analisar discursivamente periódicos e revistas publicadas no Brasil oitocentista. O texto de Carla Renata Antunes de Souza Gomes investiga o compartilhamento de ideias e aspirações de grupos letrados da capital da província do Rio Grande do Sul através da leitura do O Guayba, periódico literário que circulou durante a segunda metade do século XIX na cidade de Porto Alegre. Já o artigo de Guilherme Elias Figueiredo tem o propósito de ampliar metodologicamente os horizontes interpretativos sobre as ilustrações que integram as publicações impressas, favorecendo o diálogo entre o texto e as imagens contidas nas revistas ilustradas.

O artigo Na trilha do Monde Diplomatique: intelectuais, imprensa e perspectiva crítica, de autoria de Juliana Sayuri Ogassawara, também se alinha às publicações desta primeira seção dedicada aos estudos sobre as possibilidades de leitura, de metodologia e de procedimentos técnicos voltados aos impressos periódicos. Em sua pesquisa, a pesquisadora cerca-se de amplas fontes coletadas em língua francesa com o objetivo de analisar o suplemento periódico diplomático francês Le Monde, notabilizado por priorizar a temática das relações internacionais. Fundamentada pela história política, intelectual e do tempo presente, Juliana Sayuri Ogassawara analisa as categorias discursivas do periódico a partir da trajetória e do direcionamento de sua linha editorial em distintas conjunturas históricas do jornal.

A primeira seção é finalizada com o artigo de Adriana Angelita da Conceição, Entre o ofício e a amizade: o discurso epistolar do vice-rei 2º marquês do Lavradio no século XVIII. Neste trabalho não são os periódicos o ponto central de sua pesquisa, mas sim as correspondências remetidas pela monarquia portuguesa, em especial pelo vice-rei do Estado do Brasil, D. Luís de Almeida. A autora segue a trajetória metodológica nos trabalhos aqui apresentados ao analisar as categorias discursivas presentes nas cartas epistolares, considerando-as importantes ferramentas do governo, ao possibilitar que ordens e demais demandas administrativas pudessem ser atendidas em âmbito local e além-mar.

A presente edição conta também com a nota de pesquisa A preservação de acervos históricos no Estado de Minas Gerais: Projeto Memorial da Imprensa de Uberaba – criação da hemeroteca digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, dos pesquisadores Vilma Moreira Santos, Thiago Veloso Vitral e Alessandra Palhares. Nesse sentido, destaca-se a importante iniciativa em reunir, organizar, catalogar e preservar o patrimônio documental, ação louvável que certamente irá contribuir para futuras pesquisas.

Em seguida, com a finalidade de contemplar o propósito abrangente e plural da revista, segue-se a seção destinada a temática livre. Os autores Norberto Tiago Gonçalves Ferraz e Fernanda Fioravante Kelmer Mathias lançam múltiplos olhares sobre o século XVIII em valiosas pesquisas arquivísticas. O primeiro, no artigo Os legados pios perpétuos confraternais na cidade de Braga no século XVIII, pesquisa nesta localidade portuguesa setecentista as doações para celebração de missas e outros serviços post mortem encomendados pelo testador para o bem de sua alma e de seus familiares. Esses legados pios estiveram vinculados às confrarias bracarenses que se encarregaram da manutenção, reprodução e contemplação aos titulares de direito e suas respectivas gerações. Já Fernanda Fioravante Kelmer Mathias, em seu artigo Estudo comparativo das receitas das câmaras de Vila Rica e Vila de São João del-Rei, 1719-1750, estuda a realidade setecentista do ambiente das Minas Gerais. A pesquisadora analisa sistematicamente os orçamentos de dois importantes núcleos urbanos mineradores do período colonial através das receitas arrecadatórias de suas câmaras municipais.

Os artigos seguintes também pesquisam o ambiente das Minas Gerais, porém, destacam o contexto histórico oitocentista em distintas temporalidades e realidades. João Lucas Rodrigues, autor de O parentesco escravo nas terras da família Maia: sul de Minas, 1811 a 1860, analisa a construção das relações familiares e das alianças de compadrio em tradicional família daquela localidade. Em outro artigo intitulado Identidade, modernidade e escrita eclesiástica em tempos de Reforma Ultramontana, Tiago Pires fundamenta-se no estudo de categorias discursivas e identitárias para analisar as narrativas de fé na escrita eclesiástica da Diocese de Mariana no período de 1855 a 1902. Complementando os estudos sobre o século XIX, publicamos o trabalho de José Alberto dos Santos Marques, Emigração portuguesa para o Brasil nos fins do século XIX, que lança mão de rico acervo documental do Fundo do Governo Civil de Lisboa para analisar as motivações e os vínculos estabelecidos no processo de imigração portuguesa em terras brasileiras.

Integram ainda a edição artigos que destacam o Brasil contemporâneo. O trabalho de Lara Vanessa de Castro Ferreira, intitulado Políticas anti-migratórias e ativismo “retirante”: tessituras entre trabalho e migração nas obras públicas em tempos de secas no Ceará (década de 1950), pontua que os retirantes nordestinos atuaram como protagonistas em frentes de trabalho das obras estruturais promovidas pelo poder público de combate a seca naquela região do país. Já o texto Norte de Goiás: terra de esperança, conflitos e frustrações, de autoria de Carlos Alberto Vieira Borba, apresenta os conflitos agrários resultantes do descompasso entre demanda e acesso a terra no norte goiano durante os anos 1950-60, tendo em vista a ocupação territorial estimulada pela campanha do governo federal “Marcha para o Oeste” a partir da década de 1940. Finaliza esta seção o artigo de Reginaldo Cerqueira Sousa, Práticas de esporte, educação física e educação moral e cívica na Ditadura Militar: uma higiene moral do corpo. O pesquisador retoma a temática do período do governo militar no país a partir do estudo das bases de apoio ao regime ditatorial, destacando-se a reestruturação do ensino como estratégia governista direcionada a juventude para a constituição do ideário nacionalista baseado nas práticas esportivas e na educação moral e cívica.

Encerrando o número, temos a tradução Modernolatria, realizada por Júlio Bernardo Machinski. Trata-se da tradução do capítulo central do livro Modernolatria et Simultaneità: recherches sur deux tendences dans l’avant-garde littéraire en Italie et en France à la veille de la première guerre mondial, do historiador sueco Pär Bergman. Tradução inédita do pioneiro estudo clássico sobre as tendências do movimento futurista no início do século XX, originalmente publicado em 1962. A nosso ver essa tradução será de grande valia para os historiadores das artes, dos movimentos culturais e das ideias estéticas.

Agradecemos ainda as pessoas que tornaram possível essa publicação: a equipe do Setor de Revisão, especialmente, Daniella Lopes, Priscila Campello e Laila Xavier; a equipe do Setor de Periódicos da Biblioteca Pe. Alberto Antoniazzi, sobretudo, Alda Verônica Goes e Roziane Michielini; o excelente trabalho gráfico de Leandro Abreu; o suporte cotidiano dos funcionários e estagiários do Centro de Memória e de Pesquisa Histórica da PUC Minas; e por fim, o apoio do Chefe do Departamento de História da PUC Minas, Edison Gomes, e dos professores do Colegiado do Curso de História, Jacyra Antunes, Cristiano Garotti e Julia Calvo.

Por conta desta edição comemorativa, ultrapassamos a extensão usual dos editoriais dos Cadernos de História. Entendemos que o volume 16, número 25, apesar de constituir uma edição comemorativa, conseguiu, por um lado, evitar o excesso memorialista sem deixar de prestar homenagens aos editores e colaboradores da revista, comissões editoriais e equipes técnicas, e por outro, manter a proposta da revista em apresentar instigantes discussões promovidas pelos pesquisadores que aqui enviaram suas contribuições para esta publicação. Parabéns Cadernos de História!

Marcelo de Araújo Rehfeld Cedro – Professor doutor. Editor Gerente dos Cadernos de História da PUC Minas.


CEDRO, Marcelo de Araújo Rehfeld. Editorial. Cadernos de História. Belo Horizonte, v.16, n.25, 2015. Acessar publicação original [DR]

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