Saberes na Idade Média Ibérica e no Ultramar / História Revista / 2013

Desde que iniciou suas atividades em 1996, a História Revista vem se destacando entre os periódicos científicos de História da região Centro-Oeste, obtendo conceito B1 na última avaliação do Qualis / CAPES. Continua com sua missão primeira que é constituir-se em um espaço plural de debates de idéias e de apresentação de novas pesquisas históricas.

Este número apresenta o Dossiê, Saberes na Idade Média Ibérica e no Ultramar, que reúne dez artigos resultantes das conferencias proferidas no VII Encontro LusoBrasileiro de Estudos Medievais, realizado entre 17 e 19 de outubro de 2012, na Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás. No contexto histórico medieval era quase impossível diferenciar claramente os limites entre as diversas esferas de saberes devido ao caráter integrado e relacional do conteúdo da cultura da Europa ocidental. Esste dossiê busca abranger alguns desses conhecimentos produzidos na Idade Média.

O saber educacional em suas diversas variantes agrupa cinco textos. O primeiro artigo, Saberes e sabedoria: a potencialidade das circunstancias num manual de educação do século XII, de autoria de Armando Martins, da Universidade de Lisboa, trata da análise de um manual de civilidade de Hugo de São Victor (séc. XII) adotado nos mosteiros crúzios urbanos de Lisboa e Coimbra nos século XII e XIII e depois na América portuguesa no século XVIII. As regras da boa educação eram também uma forma de perfeição da vida religiosa. O segundo, de Margarida Garcez Ventura, da Universidade de Lisboa, Espelhos de espelhos… D. Duarte na companhia de D. Afonso de Cartagena entre a cultura, a moral e a política, analisa a influencia do D. Afonso de Cartagena sobre o rei D. Duarte, seguindo a longa tradição dos Espelhos de Príncipes, manuais de educação virtuosa para os reis e seus filhos. O terceiro, O Espelho de Cristina (séc. XV) de Manuela Mendonça, da Academia Portuguesa de História e Iniversidade de Lisboa apresenta um manual de educação feminina do século XV, também conhecido como o Livro das Três Virtudes ou o Espelho de Cristina. Foi composto pela primeira mulher a exercer o ofício de escritora, Cristina de Pisano e mandado traduzir en lingoagen pela rainha D. Isabel, esposa de D. Afonso V para a leitura e formação moral das damas e princesas da sua corte. Continuou a ser lido pelas princesas e damas da corte de seu filho, o rei D. Duarte. O quarto artigo, Escrita e conversão na África central do século XVII: o Catecismo kikongo de 1624, de autoria de José Rivair Macedo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, propõe-se a mostrar o impacto de um manual de catecismo em lingua kikongo, Doutrina Christam do Padre Marcos Jorge, traduzido e utilizado pelos jesuítas na evangelização e conversão dos povos do antigo reino do Congo no século XVII e depois irradiado para outros povos da África central. O quinto artigo, O saber e os saberes na legislação sinodal portuguesa na Idade Média, de Maria Alegria F. Marques, da Universidade de Coimbra, analisa as constituições sinodais portuguesas medievais e a maneira como elas foram articulando os diversos saberes relacionados ao múnus apostólico do clero. Mostra igualemnte as transigencias com algumas práticas que lhes eram interditas ou censuradas, tais como, a arte de advogar e o ofício de tabelião.

A seguir, outros saberes medievais são investigados e analisados. O sexto artigo do dossiê, Os saberes da medicina medieval, de Dulce Oliveira Amarante dos Santos, da Universidade Federal de Goiás apresenta a trajetória, ao longo da Idade Média, da medicina como uma arte prática para uma ciencia com reflexão teórica nos Estudos Gerais. Investiga suas relações contínuas com outros saberes da época, tais como a Filosofia natural, a Astrologia, a Teologia e a Alquimia. Localiza ainda os espaços do exercício da Medicina em Portugal: o mosteiro, a corte e a cidade. O sétimo artigo, Entre saberes e crenças: o mundo animal na Idade Média, de Maria Eurydice de Barros Ribeiro, da Universidade de Brasília pesquisa a construção dos saberes sobre o reino animal da natureza por intermédio da literatura dos bestiários. Esse gênero de texto com vasta iconografia reproduz com equilíbrio o saber e a crença acerca do universo “zoológico”. Os dois próximos artigos enfocam as fontes do saber histórico. Assim, o oitavo artigo, A seiva do passado no saber histórico português e castelhano (XIV-XV), de Susani Silveira Lemos França, da Universidade Estadual Paulista, UNESP-Franca centra-se na construção do saber histórico nas cronicas com o ordenamento do passado e suas experiencias como fonte de ensinamentos. No nono artigo, Fontes de “saber” nas crônicas medievais: Fernão Lopes, Julieta Araújo Esteves, da Universidade de Lisboa, procura desconstruir o saber histórico das cronicas de Fernão Lopes focalizando a diversidade de suas fontes antigas e medievais. O último artigo, Saberes guerreiros de índios e portugueses na formação do Brasil, de João Marinho dos Santos, da Universidade de Coimbra, constitui-se em uma investigação sobre os saberes práticos (tecnológicos) da guerra no ultramar americano, tanto dos colonizadores quanto dos indígenas. Ambos estavam submetidos aos desígnios da natureza do Novo Mundo e dependiam mais da propria observação e experiencia dos efeitos dos armamentos do que de uma ciencia teórica da guerra.

O presente número encerra-se com a seção de Resenha bibliográfica crítica com o texto de Philippe Delfino Sartin, mestre em História pela Universidade Federal de Goiás. Trata-se da análise da obra de autoria conjunta do antropólogo francês René Girard e do filósofo italiano Gianni Vattimo sobre os dilemas do cristianismo na pós-modernidade contemporânea.

Boa leitura a todos.

Dulce Oliveira Amarante dos Santos


SANTOS, Dulce Oliveira Amarante dos. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 18, n. 1, jan. / jun., 2013. Acessar publicação original [DR]

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