Moralidades: norma e transgressão no Brasil contemporâneo | Aedos | 2021

Patricia Rosa prostituta e ativista feminista. aedos
Patrícia Rosa, prostituta e ativista feminista | Foto: Mariana Bernardes

A proposta deste dossiê surgiu do desejo de reunirmos reflexões em torno de práticas, discursos e políticas morais elaboradas no Brasil ao longo do período republicano. Nos últimos anos, o tema das moralidades tem pautado o debate público brasileiro e dividido opiniões. Por um lado, testemunhamos o recrudescimento de discursos que visam denunciar uma alegada ameaça ao que seriam os valores tradicionais brasileiros. Por outro, observamos um movimento de reação em amplos setores da sociedade, que veem em tais discursos um arremesso contra os direitos civis.4

Apesar das particularidades do momento atual, essa é uma questão que se faz latente em diversos períodos da nossa história, como testemunham inúmeros trabalhos já consagrados que, a partir de diferentes perspectivas, se debruçaram sobre o tema das normas e transgressões morais. Referências importantes são, por exemplo, o trabalho de Jurandir Freire Costa (2004) e o de José Leopoldo Ferreira Antunes (1999), que analisam a intervenção médico-higienista na instituição familiar e nos hábitos sociais brasileiros entre os séculos XIX e XX. No que diz respeito às normas e transgressões sexuais e de gênero, são imprescindíveis os trabalhos de Sueann Caulfield (2000) e Martha Abreu Esteves (1989) que, a partir de discursos médicos, jurídicos, políticos e eclesiásticos, discutem os usos e sentidos da honra sexual e suas intersecções com raça e classe no Brasil durante a primeira metade do século XX. Igualmente importantes nesse sentido são os trabalhos de Margareth Rago (1985; 1991) e Beatriz Kushnir (1996), que investigam códigos sexuais e de gênero em torno das práticas de prostituição feminina em capitais brasileiras entre os séculos XIX e XX, assim como a pesquisa pioneira de Durval Muniz de Albuquerque Júnior (2003), que analisa a construção social e histórica da virilidade nordestina.5 Leia Mais

Moralidades: norma e transgressão no Brasil contemporâneo | Aedos | 2021

A proposta deste dossiê surgiu do desejo de reunirmos reflexões em torno de práticas, discursos e políticas morais elaboradas no Brasil ao longo do período republicano. Nos últimos anos, o tema das moralidades tem pautado o debate público brasileiro e dividido opiniões. Por um lado, testemunhamos o recrudescimento de discursos que visam denunciar uma alegada ameaça ao que seriam os valores tradicionais brasileiros. Por outro, observamos um movimento de reação em amplos setores da sociedade, que veem em tais discursos um arremesso contra os direitos civis. 4

Apesar das particularidades do momento atual, essa é uma questão que se faz latente em diversos períodos da nossa história, como testemunham inúmeros trabalhos já consagrados que, a partir de diferentes perspectivas, se debruçaram sobre o tema das normas e transgressões morais. Referências importantes são, por exemplo, o trabalho de Jurandir Freire Costa (2004) e o de José Leopoldo Ferreira Antunes (1999), que analisam a intervenção médico-higienista na instituição familiar e nos hábitos sociais brasileiros entre os séculos XIX e XX. No que diz respeito às normas e transgressões sexuais e de gênero, são imprescindíveis os trabalhos de Sueann Caulfield (2000) e Martha Abreu Esteves (1989) que, a partir de discursos médicos, jurídicos, políticos e eclesiásticos, discutem os usos e sentidos da honra sexual e suas intersecções com raça e classe no Brasil durante a primeira metade do século XX. Igualmente importantes nesse sentido são os trabalhos de Margareth Rago (1985; 1991) e Beatriz Kushnir (1996), que investigam códigos sexuais e de gênero em torno das práticas de prostituição feminina em capitais brasileiras entre os séculos XIX e XX, assim como a pesquisa pioneira de Durval Muniz de Albuquerque Júnior (2003), que analisa a construção social e histórica da virilidade nordestina. 5 Leia Mais

Transgressão e Normalização na formação da Sociedade Brasileira / Textos de História / 2006

Apresentação

Este Dossiê foi concebido durante os trabalhos realizados por ocasião do Seminário Internacional Marcas da Transgressão e Ações Normalizadoras na Formação da Sociedade Brasileira, evento realizado pelo PPGHIS, em setembro de 2005, que contou com financiamento da CAPES. Concluiu-se, à ocasião, que os trabalhos apresentados deveriam ser publicados de forma a permitir que mais pessoas pudessem ter acesso às informações que por ali circularam nos dois dias de intenso trabalho.

Diante da anuência dos autores, empenhamo-nos, então, em organizar o Dossiê.

Locus da experiência moderna de colonização, o Brasil serviu de palco para a encenação de um verdadeiro “teatro dos vícios”, na feliz expressão recuperada pelo nosso saudoso colega Emanuel Araújo. Na condição de colônia portuguesa, teve que se ajustar como podia às diretrizes da metrópole, mas não sem dar, à leitura que fazia da “ordem”, o tom próprio daqueles que vivem “fora do lugar” e que, por isso mesmo, podem arriscar mais, muito embora a colônia portuguesa estivesse longe de configurar-se como uma terra livre de vigilância e de castigos.

Reunimos, então, importantes estudiosos do assunto, colocando para dialogar, sempre à luz de suas pesquisas, professores do PPGHIS e de outros centros acadêmicos. A uni-los, a mesma preocupação em discutir a formação da sociedade colonial brasileira, privilegiando questões pertinentes ao imaginário mágico-religioso, a partir da ótica de seus agentes, ou seja, aqueles considerados transgressores, e dos representantes das instituições encarregadas de sua repressão.

O artigo que abre o Dossiê-Os BISPOS DO BRASIL E A F< IRMA< \< > DA SOCIEDADE < < »L< )\IAI. (1551-1706), é uma colaboração do professor Doutor José Pedro Paiva, da Universidade de Coimbra, e trata de investigar as práticas que envolveram a presença dos bispos do Brasil entre 1551 e 1706, procurando desvelar que impactos a ação desse episcopado pode ter alcançado junto à sociedade colonial. Trata-se da antecipação de alguns resultados parciais de uma pesquisa mais ampla que vem sendo desenvolvida por esse importante pesquisador.

Em seguida, Helen Ulhôa Pimentel, Doutora em História pelo PPGHIS, e professora do UNICEUB, apresenta-nos o artigo intitulado SOB A LENTE DO SANTO OFÍCIO: UM VISITADOR NA BERLINDA, cujo objetivo é analisar a primeira visitação do Santo Ofício ao Brasil, e como essa visitação foi examinada pelo Conselho Geral tio Santo Ofício, momento privilegiado para se acompanhar a forma crítica como esse Conselho avaliava a prática de seus visitadores.

Na seqüência, voltamo-nos ao diálogo interdisciplinar com o antropólogo da Universidade Federal da Bahia, professor Doutor Luiz Mott, que apresenta um estudo dedicado à análise de um sabá, ocorrido no século XVIII – TR \NSGRESS V I NA (.ALADA DA NOITE: UM SABÁ DL FEITICEIRAS L DEMÔNIOS No PlALÍ COLONIAL.

Pautado pela rica documentação que fundamentou seu estudo, o autor conclui que a crença nos congressos de feiticeiras e demônios também migrou para a América 10 Portuguesa, fazendo parte do cotidiano dos colonos daquela metrópole.

Fecha o Dossiê o instigante artigo do professor Doutor Ronaldo Vainfas, da Universidade federal Fluminense – INQUISIÇÃO I |i DEI S NOVOS NO CONTEXTO DAS oCERRAS HOLANDESAS —, voltado à reflexão sobre o episódio da prisão de um grupo de judeus, os “dez cativos do Rio Francisco”, ocorrida durante a Insurreição Pernambucana, em 1645, e que foi objeto de exame do Tribunal da Inquisição de Uisboa. A partir da documentação compilada e do fino trabalho de interpretação do autor, é possível entrever algumas tramas que explicitam importantes pontos referentes à formação desse grupo, assim como a existência de redes voltadas à socialização de judeus em fuga.

Esperamos que esta publicação atenda aos objetivos a que se propôs, divulgando para um publico mais amplo o rico universo de discussões que marcou os trabalhos durante o evento.

Eleonora Zicari Costa de Brito

Organizadora

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