Cadernos Negros, três décadas: ensaios, poemas, contos – RIBEIRO; BARBOSA (S-RH)
RIBEIRO, Esmeralda; BARBOSA, Márcio. (orgs.). Cadernos Negros, três décadas: ensaios, poemas, contos. São Paulo: Quilombhoje; Brasília: SEPPIR, 2008, 333 p. Il Resenha de: FLORES, Elio Chaves. A literaturanegra nas aulas de História e de Historiografia. sÆculum – REVISTA DE HISTÓRIA, João Pessoa, [22] jan./ jun. 2010.
A expressão “cadernos”, numa era de ferramentas virtuais, soa um pouco escrever artesanalmente à moda dos românticos oitocentistas: ao bico de pena. A par disso, também podem implicar corpus fragmentários de atividades intelectuais que, encadernados, sustentam concepções de história e de cultura histórica. Antonio Gramsci, no cárcere do fascismo italiano, não deixou de escrever suas cartas filosóficas e políticas que, mais tarde, teriam grande aceitação entre os intelectuais das esquerdas como reflexões de renovação da própria tradição marxista e da “cultura revolucionária”. Mas se Gramsci fosse negro ou afrodescendente sua escrita em cadernos teria o mesmo reconhecimento? Qual seria a diferença entre um escritor marxista branco e um escritor marxista negro na perspectiva do materialismo cultural? Stuart Hall, um expoente da diáspora negra contemporânea, no denso ensaio “A relevância de Gramsci para o estudo de raça e etnicidade”, observa que devido às circunstâncias de produção numa epocalidade racialmente transtornada “os Cadernos [gramscianos] representam uma proeza intelectual surpreendente”2. O próprio Gramsci pode iluminar uma resenha sobre um livro que reúne trinta anos de literatura negra no Brasil. Dos seus Cadernos do Cárcere é possível apoderar-se das ideias de que “literatura não gera literatura”, “ideologias não geram ideologias”, “superestruturas não geram superestruturas senão como herança de inércia e passividade”, pois elas são geradas “pela intervenção do elemento ‘masculino’, a história”. Dessas ideias incompletas e polêmicas, retiradas de um diálogo negativo de Antonio Gramsci com Benedetto Croce (Cultura e Vida Moral), passamos a outra que nos acompanhará até ao final de nossa análise: “se o mundo cultural pelo qual se luta é um fato vivo e necessário, sua expansividade será irresistível, ele encontrará os seus artistas”3.
Borradores filosóficos, notas esparsas ou cadernos literários parecem não ser muito considerados nos currículos de história e nos argumentos historiográficos quando são produzidos por escritores e escritoras negras nesse Brasil contemporâneo com forte atualização culturalista das mestiçagens, hibridizações e crioulizações4. Em defesa de nós mesmos, historiadores, poderíamos argumentar que a historiografia escorre de nossas entranhas sempre datada ao passo que a literatura salta a própria sombra de quem a germinou, despedaçando a duração e a materialidade dos fatos em representações metafóricas. Aqui podemos parafrasear Machado de Assis, o afrodescendente, e afirmar que os documentos poéticos, o conto e a poesia, por exemplo, se afirmam pelo instinto narrativo, ao rés do chão, algo como coisa miúda, desmonumentalizando a história, coisa e nome que, como vimos, Antonio Gramsci acusou de masculino.
Peguemos alguns exemplos dessas peças poéticas produzidas ao longo dos trinta anos (1978-2008) em que os Cadernos Negros pensaram uma história do Brasil vista pela ótica da matriz cultural africana. Pensar historicamente não é um atributo especificamente historiográfico. O primeiro desses exemplos vem de um conto de Cuti (Luiz Silva), “Lembrança das Lições”, em que a professora, D. Isabel (ironia cortante ao 13 de maio), repete uma aula de história à moda da tradição eurocêntrica brasileira como se tivesse contando uma viagem de férias:
Sou na infância.
A palavra escravidão vem como um tapa e os olhos de quase todos os moleques da classe estilingam um não sei o quê muito estranho em cima de mim. A professora nem ao menos finge não perceber. Olhame também. Tento segurar a todos franzindo a testa e petrificando o olhar, mas não dá. Um calor me esquenta o rosto e umas lágrimas abaixam-me a cabeça pra que ninguém as veja.
A aula continua. E eu detectando risos e fazendo um grande esforço para não lhes dar crédito. Enquanto a professora olha umas fichas amarelecidas, a sala enche-se de gargalhadas surdas. Ela continua. A cada palavra do discurso pressinto uma nova avalanche de insultos contra mim, e contra um eu mais amplo que abraça meus iguais na escola e estende-se pelas ruas envolvendo muitas pessoas, sobretudo meus pais. E ela recomeça sempre do mesmo jeito acentuado: ‘Os negros escravos eram chicoteados…’ e dá mais peso à palavra negro e mais peso à palavra escravo! Parece que tem um martelo na língua e um pé-de-cabra abrindo-lhe o sarcasmo de canto de boca, de onde me faz caretas um pequeno diabo cariado. A cada investida dela vou mordendo meu lápis, triturando-o.
O clima pegajoso se estende na sala. O outro garoto negro da classe permanece de cabeça baixa o tempo todo. Nenhuma reação. Uma caverninha humana. Imóvel.
Minha respiração, sinto-a dificultada.
− É você, macaco. Você é escravo. – cochicha um aluno branco dirigindo-se a mim. Sussurro uma vingança pra depois e sinto pela primeira vez um ódio grande, repentino metálico, um ódio branco.
A professora, em face de minha reação explodindo nas contrações do rosto, pede atenção com forte autoridade. Manuseia outra vez as fichinhas velhas e prossegue: ‘Os NEGROS ESCRAVOS eram vendidos como CARNE VERDE, peças, desprovidos de qualquer humanidade. Eram humildes e não conheciam a civilização. Vinham porque o Brasil precisa de?… Vejamos quem é que vai responder…’ Tremo, encolhido, dolorido, diante da possibilidade de ser chamado.
Eu quero sumir. Meu coração bate vertical e meus intestinos se revoltam. Saio apressado da sala sem pedir licença. Chego à privada em tempo.
Alivio o desespero das entranhas.
Olho as paredes e a porta do cubículo rabiscadas, procurando espaço.
Contenho com bastante esforço um choro que me vem insistente para afogar o mundo. Limpo-me com um jornal não sujo de todo e fico ainda sentado sobre o vaso branco, pensando, vagando, como um prisioneiro perpétuo. A cor do vaso desperta-me tramas. Primeiro levanto-me e chuto-o com a sola do sapato, depois sou levado pelo vento das imagens, das idéias: ‘ponho fogo na escola… desocupada…
papel de caderno debaixo da mesa dela… acendo o fósforo… quem me xingá de negrinho… são tudo besta… vou comprá um canivete…
dô porrada mesmo!…’ E a porta passa a me servir de lousa… acho graça das coisas que escrevo e continuo.
A agressividade estridente da companhia surpreende-me com a ponta de meu lápis já gasta. É o término do período.
[…] Chegamos ao quarto ano com a malandragem bem burilada. Já não damos importância ao fato de nos chamarem pela cor. Entre a molecada, quase sempre fazem isso com medo, medo do Neguinhoeu e do Neguinho-Joel. O medo deles é o que nos importa, nos dá alento, ilusão de respeito.
É o dia da festa. O dia do diploma. Nossos pais comparecem, sorriem às professoras, e vamos todos cantar o hino debaixo da bandeira verde amarela azul e branca. Verde… meu pai e minha mãe verdes por um instante… CARNE VERDE. E as gargalhadas surdas balançam o pendão da esperança. Com a mão sobre o lado esquerdo do peito não dou importância ao Joel, que faz piadas. ‘Ouviram do Ipiranga…’ todos cantam. Fico mudo e triste, até sentir dentro do peito um batuque forte que me vem de longe, do que não sei de mim. Euforia inexplicável. Descubro o Coração.
O tempo não tem tréguas e as lembranças servem de alerta e lamento.
Não é todo dia que se é lançado ao passado como uma flecha em busca de um alvo que sempre nos é obscuro…5 Alguns comentários se afiguram necessários depois dessa longa citação cuja ficcionalidade não esvazia a forte dimensão interpretativa da história, antes a confirma. A historiografia cultural da escravidão, pujante nos últimos trinta anos, passou a ver o universo social da escravidão como sendo legal e legítimo a partir de algumas séries documentais em que não apenas os senhores possuíam escravos, mas também pelo fato de muitos negros libertos, quando com alguma posse, comprarem escravos. Bem, aqui estamos diante de uma interpretação do passado histórico em que repousa uma provável neutralidade axiológica do pesquisador que se preserva dos anacronismos historiográficos, inadmissíveis nos ofícios de Clio. Também podemos admitir que a sua ciência não tenha cor, visto que ele interpreta as suas fontes com método e racionalidade amplamente reconhecidos e aceitos pelos seus pares. Lembremos impiedosamente de Jörn Rüsen: “Não é possível pensar nenhum tipo de dominação cuja legitimação não recorra aos saberes históricos”.6 Entretanto, a professora do conto, que sabemos ter o nome de D. Isabel, não deixa de ser a metáfora íntegra da ciência, história masculina, que é ensinada na escola básica com toda a carga de uma disciplina científica que “explica” a história do Brasil, no caso em foco, o que foi a escravidão. Mas como a ciência que lhe professa, D. Isabel não diz como a escravidão foi exercida pelos senhores brancos e como foi sentida pelos negros escravizados. Os “encobrimentos e as frestas” da historiografia da mestiçagem acabam reforçando mitografias étnicas na nossa cultura escolar.7 Assim, a divisória semântica marca a separação entre historiografia da mestiçagem e literatura negra nesses últimos trinta anos: se historiograficamente a escravidão passa a ser vista como legal (senhores mestiços, brancos pobres, negros libertos e escravizadores) simplesmente porque amplos setores sociais a praticavam, a literatura negra, que também se debruça sobre esse mesmo passado, a sente “como um tapa” e que a “história da escravidão já espancou muita gente por dentro”.
Por certo que o atual estatuto da historiografia não se permite mais buscar a verdade atrás dos fatos ou mesmo das suas representações mais paradigmáticas, senão os seus indícios, verossimilhanças e versões metodologicamente livres de qualquer inspeção mais rigorosa de uma ciência usada em século e décadas.
Entretanto, o escritor negro sente o passado que não cessa e pode ainda “sentir um batuque forte” que lhe vem de longe, de uma ancestralidade que cruzou o Atlântico.
De modo que a tese, elaborada ficcionalmente pela pena de Cuti (Luiz Silva), está sujeita à verificação historiográfica: a escravidão não é a flecha que nos lança ao passado, ela é antes o alvo que ainda nos é profundamente obscuro. Presente vivo:
senzala/favela! Lembremos agora serenamente do mesmo Rüsen: “A dimensão estética não se deixa reduzir às funções de efetivação dos interesses políticos e das interpretações científicas. Como meio próprio e peculiar da experiência e da interpretação histórica, ela se caracteriza por um manejo específico”8.
Outro conto nos remete aos debates sobre os valores civilizatórios que, na tradição historiográfica brasileira, situa-se no conjunto da modernidade ocidental. O conto, “Civilização”, de Oswaldo de Camargo, narra a ascensão funcional de um músico negro “descoberto” por um empresário cultural branco. Vejamos dois momentos cruciais do conto:
Saí, pois de manhã, sentei-me num banco da Praça da República, onde conversei com José do Patrocínio (Patrocínio, sim senhor, que sarro!, o cara nem sabe ler, bebe como um porco, fede a catinga e os engraxates chamam ele de José do Patrocínio; oh, José do Patrocínio!).
Abri meu Cruz e Sousa, aquela edição de papel mendigo do Zélio Valverde, li dois poemas, não buliram comigo. Eu estranhei: se Cruz e Sousa não bole comigo é porque estou bem ruinzinho, estou começando a ficar podre e um sujeito podre precisa ganhar dinheiro, se não, fede, descasca, fica gretado e todo mundo fala: aquele é um sem eira nem beira e se é um preto: é um preto ‘tu’ e não um preto ‘sim, senhor’.
(…) Subi na ‘Neurotic’s House’ porque Fred foi com a minha cara, foi e ainda vai:
– Gosto de você, preto, você provou que um preto pode livrar-se de sua carga… Gosto de você, preto, gosto mesmo…
E ele me ajeita o nó da gravata, sorrindo, muito loiro, muito fino e bonito, como um branco.
E sua mão, no meu ombro, me belisca a carne até o osso, testando a resistência…
– Gosto de você, preto, gosto mesmo…
Um odor áspero, de colônia, me envolve, como nuvens de Civilização.9 Com efeito, Oswaldo de Camargo trabalha ironicamente as representações das relações raciais “humanitárias” em que para um negro galgar a civilização precisaria ser elevado por um branco e, mais do que isso, que somente o branco (civilizado) é que poderia extrair algum talento do negro. As representações históricas permeiam o negro dócil, a única forma de integração no mundo do outro, o Ocidente. O autor alude à gramática da linguagem imperativa das “reverências que empinam o traseiro, mas empurram o carro do êxito pra frente”. Nem os referenciais negros da república das letras, José do Patrocínio e Cruz e Sousa, parecem escapar desse estado de coisas da bárbara frase de efeito que tenta produzir o apagamento das tensões raciais supostamente resolvidas discursivamente: “– Gosto de você, preto, gosto mesmo…”. Na casa historiográfica grande trata-se simplesmente da evocação às hibridizações simbólicas, freyrismos oniscientes, mas no “negro escrito” uma delicadeza desse tipo fede à civilização.
Nas construções poéticas dos últimos trinta anos os dois lados do Atlântico surgem como signos de diáspora. Não há outra nomeação para povos arrancados pela raiz de um continente: dispersão. E da África para o Brasil esse movimento ajudou a gerar alguns regionalismos. No poema, “A noite te convida”, de Ademiro Alves – Sacolinha, a estrutura do mito da Mãe África é assim construído:
África mãe, Brasil filho, O leite do mundo habitou as suas tetas.
Mamilos perfeitos acalentados de açoite.
Seu ventre sempre foi livre Gerando toda a história desse universo mal agradecido Se ser mãe é dádiva de Deus Então a África é o berçário onde Ele nasceu.
(…) Tragam-me a garrafa com o líquido da cultura nordestina Vou me embriagar desse sincretismo puro e natural.
Noite! Termo abstrato Que absorve o sentimento africano.
África mãe, África pai, África.
Sinônimo de negro.10 Ao cantar o africanismo na ampla diáspora, o lírico Sacolinha não apenas ameniza a concepção gramsciana de história (masculina), mas também injeta nas suas veias abertas, a feminilidade de processos geradores de culturas históricas.
No caso africanista, as culturas musicais de “tambores confeccionados pelas mãos, arquitetas do mundo”. A metáfora do “nordeste líquido” não deixa de aludir à práxis proferida por Solano Trindade ao lembrar das mãos negras: “plantei os canaviais do nordeste”.
Ainda em torno das representações africanistas, a poesia “Negritude”, de Celinha, aponta a identidade negra no fulcro das construções históricas da travessia atlântica.
São as águas, fronteiras líquidas, que aportam nos continentes e fazem de cada negro “um pedaço de terra”, um quilombo. Jean-Paul Sartre já havia dito no seu ensaio seminal sobre a poesia negra: “A liberdade é cor da noite”.11 A autora, ao se situar na negritude o “eu lírico” abre o seu poema para os golpes da própria história:
De mim parte N E G R I T U D E um golpe mortal negrura rasgando o ventre da noite punhal golpeando o colo do dia um punho mais forte que as fendas de aço das portas trancadas da casa da história.12 A radicalidade da negritude como a dimensão da africanidade aparece, também de forma visceral, no poema de Elizandra, “Sou seu HIV”, uma leitura contemporânea da história da escravidão. É mais uma vez Sartre quem nos interpela: por que não haveríamos de vomitar nossa branquidão e suicidar o Narciso benevolente? Vale a pena ler esses fragmentos:
Divirta-se! No teu momento de distração Transcendência, gozo e alucinação Sutilmente penetro na sua fortaleza Injeto meu vírus. Ai, que beleza! Demoro um tempo para ser percebida Quando perceber já estou acabando com a sua vida Vou acabando com sua imunidade Como corda vou amarrando seus braços Deixando-te sem mobilidade Seus glóbulos vou matando sem piedade Sou poeta destruidora de alienação Saudando minha ancestralidade (…) Mesmo que não apague as chicotadas Quero vida decente para a futura geração Sei que vocês continuam se achando superiores Mas não se esqueça que sou seu HIV Estou entrando devagarzinho e levarei aos poucos Tudo que nos foi roubado.13 Algum historiador ousaria aplicar o conceito de anacronismo a essa interpretação literal da história? Evidentemente que a autora, ao não fazer historiografia, transita pela cultura histórica e joga em nossos rostos historiográficos – atualizadamente eurocêntricos, sim, porque odiamos o anacronismo – um presentismo que exitamos em admitir como nosso: o racismo à brasileira14. Então, como anjos barrocos da história, somos voltados para o passado e, via mestiçagem, salvamos a civilização nos trópicos. Assim transitamos alegremente da montanha para o pântano, da cultura historiográfica para a cultura escolar? Sim, pois não! Evidentemente que aqueles historiadores que conhecem as periferias de algumas capitais brasileiras sabem das relações temporais dessa síntese secular da poética de Elizandra: “Lixo, esgoto, escravidão e senzala”. Afinal, a história não é uma ciência presentista por excelência? Para os pesquisadores, a edição evocativa da literatura negra contemporânea traz ainda um rico acervo fotográfico e todas as capas originais dos trinta volumes dos Cadernos Negros, publicados entre 1978 e 2008. A última sessão contém pequenos textos publicados nas orelhas e quartas capas dos volumes que os organizadores chamaram africanisticamente de Orikis (cânticos pelos quais a emoção sopra) onde se podem conhecer reflexões de vários artistas e intelectuais negros atuantes no Brasil. O título da resenha é uma homenagem ao oriki de Aroldo Macedo, aos escrever para os Cadernos Negros, nos seus 20 anos: “Quanta tinta negra em páginas brancas…”. Nesse sentido, a obra também se constitui numa rara base documental para o ensino de história e de literatura na educação básica. Dito isso, relembremos o pensador italiano do início da resenha: a negritude brasileira, nas últimas três décadas, finalmente, encontrou os seus artistas. Nesse mesmo período, muitos historiadores aderiram às fontes literárias e apostaram teórica e metodologicamente em buscar “a lógica social do texto” e, de fato, “dessacralizaram a literatura”15. Foi assim que respiramos ares novos em história cultural. Talvez estejamos no limiar de um novo empreendimento nos ofícios de Clio: dessacralizar a historiografia, especialmente a historiografia da mestiçagem.
Notas
2 HALL, Stuart. A relevância de Gramsci para o estudo de raça e etnicidade. In: ____ Da diáspora: identidades e mediações culturais. Organização de Liv Sovik. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: UNESCO, 2003, p. 296.
3 GRAMSCI, Antonio. Literatura e vida nacional. Tradução e seleção de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p. 10-12.
As perguntas de Gruzinski, cuja obra é uma espécie de mantra culturalista da hibridização, são fundamentais para um diálogo profícuo em torno das conexões históricas modernas: “Essa volta ao passado é apenas um modo de falar sobre o presente, pois o estudo das mestiçagens de ontem levanta uma série de indagações que permanecem atuais. Genericamente, eis algumas delas: as misturas resultantes da expansão ocidental expressam uma reação à dominação européia? Ou são uma repercussão inelutável desta, e até mesmo uma forma astuciosa de enraizar nossos costumes no seio das populações subjugadas? Até que ponto uma sociedade ocidental pode tolerar a eclosão proliferante de expressões híbridas? (…) Que sentido, que limites e que ciladas se escondem na metáfora tão cômoda da mistura? Por último, como se desenvolve − se é que ele existe − um pensamento mestiço?”. GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 1 CUTI (Luiz Silva). Lembrança das Lições. In: RIBEIRO, Esmeralda & BARBOSA, Márcio (orgs.).
Cadernos Negros, três décadas: ensaios, poemas, contos. São Paulo; Brasília: Quilombhoje; SEPPIR, 2008, p. 181-84.
6 RÜSEN, Jörn. História viva: Teoria da História – Vol. III: formas e funções do conhecimento histórico.
Brasília: Editora da UnB, 2007, p. 127. Para aprofundar o debate em torno das “tradições historiográficas”, ver a entrevista de Astor Antônio Diehl, “História, teoria da história e culturas historiográficas”, publicada na última Saeculum, n. 21, jul/ dez., 2009, p. 219-234.
7 Para uma síntese da “historiografia da escravidão e da família escrava”, ver a introdução de:
ROCHA, Solange Pereira da. Gente negra na Paraíba oitocentista: população, família e parentesco espiritual. São Paulo: Editora da UNESP, 2009, p. 25-75.
8 RÜSEN, História viva…, p, 131.
9 CAMARGO, Oswaldo de. Civilização. In: RIBEIRO & BARBOSA, Cadernos Negros…, p. 227-32.
10 SACOLINHA, Ademiro Alves. A noite te convida. In: RIBEIRO & BARBOSA, Cadernos Negros…, p. 113-14.
11 SARTRE, Jean-Paul. Reflexões sobre o racismo. São Paulo: Difel, 1978, p. 104.
12 CELINHA. Negritude. In: RIBEIRO & BARBOSA, Cadernos Negros…, p. 118-19.
13 ELIZANDRA. Sou seu HIV. In: RIBEIRO & BARBOSA, Cadernos Negros…, p. 130-32.
14 A primeira parte da obra resenhada é composta pelos ensaios de Florentina Souza, Maria Nazareth Soares Fonseca, Maria Cândida Ferreira de Almeida, Fausto Antônio e Elio Ferreira que, de uma forma ou de outra, tratam de nossas experiências raciais contemporâneas. Ver RIBEIRO & BARBOSA, Cadernos Negros…, p. 43-108.
Elio Chaves Flores – Doutor em História Social pela Universidade federal Fluminense. Docente de História da África no Curso de Graduação em História da Universidade Federal da Paraíba. Vice coordenador do PPGH-UFPB. Pesquisador do CNPq, com o projeto “Visões da África e Práticas Emancipatórias dos Intelectuais Afro-Brasileiros (1944-1988)”.
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