Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores / História & Perspectivas / 2016

Neste momento de instabilidades e atentados a direitos sociais se faz necessário repensar trajetórias e recompor forças para resistirmos às alterações que temos vivenciado. O dossiê número 55 de História & Perspectivas – Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores –, nesse sentido, busca levantar debate sobre o campo político / social e o campo acadêmico no que tange às transformações no mundo dos trabalhadores.

No processo de elaboração do mesmo, fomos surpreendidos com a notícia do falecimento de Ellen Meiksins Wood. A historiadora americana foi importante referência para pesquisas sobre trabalhadores, neoliberalismo, globalização e produção do conhecimento histórico. No interior do dossiê, a Revista presta aqui homenagens a Ellen Wood, publicando um de seus textos, intitulado “Os coveiros do capitalismo”, e o obituário, “Lembrando Ellen Meiksins Wood”, escrito por Vivek Chibber, professor de sociologia da New York University.

Deslocando os focos de análise e trazendo outras temáticas para a reflexão a respeito da militância intelectual, temos a honra de publicar a tradução: “Reflexões sobre Jacoby e tudo mais” de E. P. Thompson. O texto foi proferido entre 1987-1988, quando Thompson participou de atividades no programa de História e Sociedade da Universidade de Minnesota. O texto dialoga, se podemos atribuir este tipo de atividade a Thompson, com o livro “The Last Intellectuals: American Culture in the Age of Academe”, de Russell Jacoby que havia sido recentemente lançado. Entre as temáticas visitadas, destacam-se formas de interligação entre os intelectuais radicais e classes trabalhadoras.

O Dossiê Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores se completa com os seguintes artigos. “Fundição: o concurso literário para operários promovido pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1944”, escrito por Adriano Luiz Duarte, o artigo analisa o romance Fundição, premiado no segundo concurso nacional de romance e teatro promovido pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1944, a partir da relação entre história, literatura e sociedade.

Os temas da descoberta de petróleo no Pré-sal e recentes disputas em torno do sistema de partilha de concessão da exploração dos recursos naturais brasileiros são tratados por Carlos Lucena, Lurdes Lucena e Fabiane Santana Previtali, no artigo: “A resistência petroleira e a privatização no Pré-sal no Brasil”.

O artigo de autoria de Sonia Maria Rummert e Aline Amoêdo Corrêa Ribeiro, “Trabalho e lazer regidos pela mesma lógica de conformação. O caso dos comerciários no SESC, entre as décadas de 1940 e 1970”, aborda o Serviço Social do Comércio a partir de documentos que expressam a ótica da burguesia comercial frente a indícios de resistência, representados por um conjunto de críticas e reivindicações, da fração da classe trabalhadora constituída pelos comerciários.

Luciana Raimundo e Ricardo Gaspar Muller, em “A dívida pública e a desresponsabilização do Estado: A percepção de uma experiência ligada às Finanças Solidárias” partem do estudo de caso do Banco Comunitário União Sampaio, da Agência Popular Solano Trindade e da Associação de Mulheres do Campo Limpo e Adjacências, na zona sul da cidade de São Paulo – dentro dos princípios da Economia Solidária – para, entre outros, discutir a percepção da comunidade organizada sobre as ações do Estado no atendimento das demandas locais.

Em “Gestão eficiente, tecnologia moderna e trabalho arcaico: a indústria de conservas de frutas e hortaliças no pampa gaúcho”, Laura Senna Ferreira e Maria Soledad Etcheverry abordam processos de racionalização do trabalho, modernização tecnológica e precarização da força de trabalho no setor de conservas de frutas e hortaliças, especialmente na cidade de Pelotas (RS), no período correspondente entre anos de 1970 até o final dos anos 2000.

No artigo “A educação dos trabalhadores sob a influência do capital internacional: aproximações entre Brasil e Portugal”, Cílson César Fagiani, Robson Luiz de França e Antonio Bosco de Lima traçam discussões sobre o processo de globalização do capital e implicações na educação dos trabalhadores no Brasil e em Portugal, especialmente a partir da década de 1990.

A partir de apontamentos advindos de pesquisas teóricas e estudos realizados sobre trabalho operário, no período 1990-2015, Sérgio Paulo Morais, em “Memórias em disputa: globalização, trabalho industrial e pautas sindicais (1990-2015)”, discute “tradições seletivas”, empreendidas por empresas globais, frente memórias e lutas de sindicatos nacionais.

Além do dossiê, a Revista publica, neste Número 55, os seguintes artigos: “Agronegócio, trabalhadores rurais, sindicalismo: Avicultura no Oeste do Paraná, 1970-2013”, escrito por Vagner José Moreira, discute experiências de trabalhadores rurais na região Oeste do Paraná, no período de 1970 a 2013, perscrutando a inserção desses sujeitos no processo de produção e agroindustrialização de aves, no final do século XX e início do século XXI.

Alexandre Luzzi Las Casas, Rosane Aparecida F. Bacha e Cristiano Marcelo Espínola Carvalho, em “O agronegócio e o marketing rural no estado de Mato Grosso do Sul”, ao discutirem o conceito ampliado de marketing às peculiaridades do agronegócio, e em especial no estado do Mato Grosso dos Sul, apresentam a forte elevação da produção agrícola brasileira nos últimos trinta anos, fazendo um balanço das relações de produção e distribuição de mercadorias advindas daquele setor.

“Da Arena ao picadeiro: uma análise da crise de legitimidade do presidente José Sarney (1985-1990)”, artigo de Ivan Colangelo Salomão, acompanha parte da trajetória política de José Sarney, apresentação motivos que levaram à “hostilidade das ruas e a indiferença do establishment político”.

Carlos Martins Junior e Antonio Firmino de Oliveira Neto discutem ameaça do “caos urbano” derivado do crescimento físico e demográfico das metrópoles, na passagem do século XIX para o XX. De acordo com os autores “as elites dirigentes urbanas aprofundaram um abrangente processo de reformas, cujo sentido ultrapassava em muito a ideia da simples ‘remodelação’ e ‘embelezamento’ das cidades”. Esse enredo é aqui discutido no artigo intitulado: “Representações do “caos urbano” e o sentido das reformas nas metrópoles brasileiras da bélle époque”.

“Narrativas sobre formação e escolarização no curso de história: Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão, 1991- 2004” é umartigo assinado por Michele Ferreira da Silva, Wolney Honório Filho e Rita Tatiana Cardoso Erbs, que trata de narrativas de histórias de vida, da formação e escolarização de ex-alunas e professores-formadores do curso de História da UFG (Catalão). A pesquisa, de acordo com os autores, revelou que “o processo de escolarização pode ser formativo, também pode ocupar tanto um papel secundário quanto influenciar negativamente na formação docente”.

Anderson Francisco Ribeiro e Antonio Carlos de Souza contribuem com este número da revista, com o interessante artigo “O lugar da pornografia na sociedade brasileira: as Guerras Púbicas e o direito ao erótico (1964-1985)”. A discussão perpassa o período da Ditadura Militar brasileira e demostra que, frente a repressão e censura a livros e revistas, há um aumento no número de publicações eróticas e pornográficas. Além disso, a discussão aborda e problematiza discursos sobre a sexualidade e a afirmação de identidades masculinas e femininas.

Por fim, esperamos que as análises propostas pelos diversos autores despertem o interesse e incentivem a produção de novos debates.

Sérgio Paulo Morais


MORAIS, Sérgio Paulo. Capitalismo, Trabalho e Trabalhadores. História & Perspectivas, Uberlândia, V.29, N.55, 2016. Acessar publicação original [DR].

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