Ensino de História: múltiplos ensinos em múltiplos espaços | Margarida Maria Dias de Oliveira, Marlene Rosa Cainelli e Almir Félix Batista de Oliveira

A obra Ensino de história: múltiplos ensinos em múltiplos espaços, organizada por Margarida Maria Dias de Oliveira, Marlene Rosa Cainelli e Almir Félix Batista de Oliveira, que resultou dos textos apresentados como conferências de abertura e mesas-redondas do VI Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História, realizado em Natal, Rio Grande do Norte, entre os dias 10 e 13 de outubro de 2007, traz contribuições para as reflexões em relação ao ensino e aprendizagem em História, entre professores dos diversos níveis de ensino, no âmbito nacional e internacional.

Segundo os organizadores, a escolha do tema, e título desta obra, teve como referência a questão de que “ensinar história extrapola os limites da sala de aula e que cada espaço coloca a necessidade de refletir sobre esse ensino-aprendizagem” (p.5).

Como a obra está estruturada em blocos temáticos, agrupando os textos que traduzem os vários espaços considerados pelos organizadores do evento “como centrais para a discussão do ensino de História na atualidade” (p.5), considerei necessário transcorrer toda a obra fazendo referência aos autores, destacando os títulos de seus artigos e um breve comentário dos mesmos. A justificativa para a escolha dessa forma de “olhar” a obra foi tentar dar ao leitor uma breve ideia dos “diferentes olhares” dos autores, respeitando o espaço destinado a uma resenha.

Assim, a conferência de abertura, proferida pela professora Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt, sob o título O aprender da história no Brasil: trajetórias e perspectivas, apresenta resultados parciais do projeto de investigação “Aprender a ler e aprender a escrever em História”, aprovado e financiado pelo CNPq e pela Fundação Araucária/PR. Nesse artigo, a autora a partir da análise de 14 manuais de Didática da História produzidos entre 1917 e 2004, por professores de História, destinados a professores, busca refletir sobre a cultura escolar identificada em concepções de aprendizagem da História, especialmente em relação às finalidades da aprendizagem e a como aprender História. Algumas considerações foram apontadas, entre elas, a de que a análise da concepção de aprendizagem histórica presente nos manuais abriu possibilidades importantes para a continuidade do projeto de investigação, mais particularmente no que diz respeito às investigações sobre a ideia de aprendizagem histórica presente em professores e alunos, assim como nos manuais didáticos destinados aos alunos (p.19).

No primeiro bloco, intitulado Espaços dos sujeitos e das aprendizagens em História, Isabel Barca, em seu texto Investigação em educação histórica: fundamentos, percursos e perspectivas, apresenta essa linha de pesquisa, surgida nas últimas décadas do século XX, no Reino Unido, que tem como preocupação fundamentar um Ensino de História promotor de aprendizagens significativas e relevantes e que tem tomado como foco a compreensão das ideias dos alunos em História. A autora faz referência à inúmeras pesquisas no âmbito da educação histórica, entre elas, as desenvolvidas nos Projetos ‘Consciência histórica: Teoria e Práticas’ I e II, aprovados pela Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT). Nesses projetos têm-se explorado ideias ligadas à significância e mudança em História, bem como as narrativas construídas pelos jovens sobre a história de seu país e do mundo (p.29).

Tânia Maria F. Braga Garcia, em seu texto Questões para a pesquisa em educação histórica, trata dos núcleos de pesquisas vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (Brasil) que têm como preocupação as questões relacionadas ao ensino de história. Entre outras temáticas incluem-se o estudo de práticas de professores para compreender como acontecem as aulas, as transformações e as relações com o conhecimento que ali ocorrem; a análise de livros didáticos e do seu uso em aulas; a análise de outros suportes didáticos para o ensino de História; as relações entre planejamento didático e seleção dos conteúdos a serem ensinados. (p.42).

No artigo A criança em diferentes cenários: os aspectos sócioculturais e sua influência na narrativa da história, Ernesta Zamboni e Sandra Regina Ferreira de Oliveira apresentam questões acerca das narrativas e representações que as crianças formulam sobre a História do Brasil e, se existem diferenças, como a escola trabalha com elas. A partir das reflexões apresentadas, as autoras consideram fundamental refletir sobre um ensino de História que leve o aluno a reconhecer as diferenças e as semelhanças nos traços históricos, étnicos, culturais e sociais no processo de construir e reconstruir as identidades nacionais fundadas em uma visão de história, que nos conduz às reflexões sobre cidadania (p.51).

No texto Infância e ensino de história, Alexsandro Donato Carvalho analisa o conceito de infância, assim como o papel social da criança em relação ao ofício do professor. A partir do exposto, o autor considera que, na contemporaneidade, o ensino e aprendizagem da História têm oportunizado ao educando tomar consciência da sua realidade, a compreensão de “si” e posicionar-se em relação ao “outro”, enfim permitir que ele possa construir a sua identidade vinculada ao meio onde vive (p.57).

Gilmar Arruda desenvolve em seu texto Natureza: uma nova “sala de aula” para o ensino de história o conceito de natureza e meio ambiente para a formação da consciência histórica. Para o autor, transformar a natureza em campo para o ensino de História é, especialmente, um compromisso político com a construção da identidade dos habitantes humanos da Terra. Para ele, o espaço natural, enquanto espaço para o ensino de história, exige que se saia da “sala de aula” para o efetivo exercício da aprendizagem (p.66).

A partir da análise do projeto educacional intitulado Cantando história, Fátima Martins Lopes discute em seu texto “Eu sou do mau”: uma análise crítica de recursos didáticos alternativos, que o uso de recursos didáticos diferenciados, tais como: músicas, poesias e gravuras, podem e devem ser utilizados, contanto que façam parte de uma proposta metodológica claramente identificada e consistente. Afirma que o uso de tais recursos não garante automaticamente um ensino de história com qualidade, assim como não propicia a compreensão do processo histórico por parte dos alunos (p.70).

No segundo bloco, Espaços da informação, memória e patrimônio, Alexandre Antônio Gíli Náder, no artigo A espacialidade como arena para a subjetivação, focaliza na produção e na socialização das narrativas históricas a identificação dos sujeitos históricos significativos e suas relações com os espaços integrantes do contexto em que atuaram (p.78).

No texto O mundo da informação e o ensino de história: produção de sites educativos, Muirakytan K. de Macêdo apresenta um trabalho que articula conteúdo e recursos didáticos, usando a metodologia de elaboração dos hipertextos e de sua formatação para a WEB, priorizando a história local e regional.

Margarida Maria Dias de Oliveira discute a formação dos profi ssionais da história e sua relação com os diversos espaços do mundo da informação contemporânea no texto O mundo da informação e os novos espaços para o ensino de história. Entre outras considerações, a autora ressalta que os objetos preservados nos museus e as novas propostas museológicas precisam ser compreendidos nas suas relações com a discussão sobre o conceito de História, a prática historiográfica, concepções sobre o que deve se tornar patrimônio cultural de uma sociedade (p.90).

Nessa mesma linha de pensamento, Almir Félix Batista de Oliveira aborda as questões do patrimônio material e imaterial e a relação com a formação do profissional de história, no texto Patrimônio, memória e ensino de história. O autor ressalta a importância da utilização da Educação Patrimonial como processo interdisciplinar e realizador de uma identificação e de um sentimento de pertencimento quanto ao passado, no esclarecimento do processo histórico e de conhecimento do Patrimônio Cultural (p.100).

No terceiro bloco Espaços da historiografia, dos saberes docentes ou formação de professores, Marlene Rosa Cainelli analisa a trajetória do ensino de história, particularmente na Universidade Estadual de Londrina, no artigo Saberes docentes: a prática de ensino de história como campo de pesquisa, tendo como referência os relatórios do estágio supervisionado. Um dos pontos mencionados foi em relação às formas como os estagiários vivenciaram a prática de ensino e o processo de ensino-aprendizagem da história, revelando um entendimento da construção das narrativas históricas, para a qual a mediação didática do professor é seu ponto culminante e decisivo (p.111).

Cláudia Sapag Ricci, no artigo Historiografia e ensino de história: saberes e fazeres na sala de aula, aborda questões relativas à educação básica como campo de investigação e espaço de construção de conhecimentos. Essa perspectiva implica uma nova prática docente, porque sugere o perfil do professor-pesquisador que investiga o processo de aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos promovendo novos significados à dinâmica social e à produção da interpretação historiográfica (p.119).

Flávia Eloisa Caimi, no texto Novas conversas e antigas controvérsias: um olhar sobre a historiografia do ensino de história, apresenta os diferentes conceitos de historiografia com que se tem trabalhado no âmbito do ensino de história, mapeando os lugares de produção e circulação de obras acerca do ensino e identificando as linhas de investigação que ganham força na produção acadêmica (p.128).

Maria Inês Sucupira Stamatto, no artigo Historiografia e ensino de história através dos livros didáticos de história, aborda, em uma perspectiva histórico-pedagógica, a investigação dos livros didáticos de História, particularmente os utilizados no sistema escolar básico, entendendo este recurso didático como a expressão concreta da historiografia e da pedagogia, bem como produto de uma época (p.138).

Katia Maria Abud, no texto Tempo e realidade: sujeitos históricos e concepções de história na escola básica, mostra como os alunos entendem a História e quais os elementos que os levam a compreender um texto histórico. Entre outras considerações, a autora aponta que as respostas dos alunos indicam alguns caminhos para serem percorridos na busca da compreensão do pensamento histórico escolar (p.152; 156).

No artigo O ensino na profissionalização do historiador, Helenice Ciampi propõe um debate em torno da profissionalização do historiador e um pensar do papel do professor e da escola no século XXI, para isso aponta, entre outras questões, que a pedagogia moderna precisa ser reinventada na sociedade contemporânea, precisa centrar-se na aprendizagem do aluno (p.160-161).

No último bloco, Espaços da história na educação e no ensino de história, Décio Gatti Junior, no texto História da educação e ensino de história: a história das disciplinas escolares, analisa a historiografia, mais recente, sobre a história do ensino de História. Entre outras considerações, constata que as inovações teóricas e metodológicas, associadas ao incremento dos acervos de fontes de pesquisa, colaboram para o avanço da pesquisa histórico-educacional na temática das Disciplinas Escolares, com impactos positivos na construção de uma história do Ensino de História no Brasil (p.180).

Marta Maria de Araujo, no artigo A história da educação brasileira como matéria de iniciação na pesquisa histórica no curso de pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2006-2007), aborda os desafios de ensinar a disciplina História da Educação Brasileira na perspectiva da indissociabilidade entre o ensino (docência) e a iniciação no fazer pesquisa (formação), menos como procedimento metódico criterioso e mais como atitude de investigação, de pensamento elaborativo e de reflexão criativa, bem ilustrativos do tempo presente da História da Educação (p.184).

No texto final, O ensino de história em diálogo com a história da educação, Arlette Medeiros Gasparello aponta que na pesquisa histórica do ensino de História, têm prevalecido abordagens com apoio teórico na história cultural e/ou na nova história intelectual. Estes estudos têm por objeto questões que são investigadas no presente, como currículo, formação docente, livro didático, formas de ensinar e aprender, etc., em abordagens que procuram analisar suas construções no tempo, como processos históricos, na perspectiva de suas múltiplas dimensões culturais, sociais, políticas, econômicas, intelectuais (p.195).

Para finalizar, considero que a diversidade de temas e abordagens presentes nessa obra, materializa, em parte, as discussões e reflexões ocorridas no referido evento, tornando-se uma contribuição valiosa aos professores dos diversos níveis de ensino na área de História.


Resenhista

Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd – Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Professora de História; atua com a formação continuada de professores na Rede Municipal de Ensino de Curitiba.


Referências desta Resenha

OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de; CAINELLI, Marlene Rosa; OLIVEIRA, Almir Félix Batista de. (Orgs.). Ensino de História: múltiplos ensinos em múltiplos espaços. Natal/RN: Editora da UFRN, 2008. Resenha de: GEVAERD, Rosi Terezinha Ferrarini. História Revista. Goiânia, v.14, n.1, p. 313-318, jan./jun.2009. Acessar publicação original [DR]

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