Literatura e suas fronteiras: do local e do global | Literatura, História e Memória | 2019

A Revista de Literatura, História e Memória tem o prazer de abrir o seu vigésimo quinto número com as reflexões em torno da Literatura e suas fronteiras: do local e do global.

Para dar início às discussões, o texto “La (im)posibilidad del diálogo en la tierra de nadie: el problema de la frontera en Texas, de Carmen Boullosa”, de Claudia Macías, analisa as possibilidades e os limites do diálogo entre raças e culturas no romance de Boullosa a fim de mostrar como a obra questiona os fatos históricos a partir do problema da memória coletiva frente à memória manipulada proposto por Paul Ricoeur.

Cacio José Ferreira, em “O narrador das margens como testemunha do estado de exceção nos romances de Milton Hatoum”, discute o estado de exceção como norma para o testemunho dos narradores dos quatro primeiros romances de Hatoum. A fim de compreender os narradores do mundo amazônico em ruínas, o pesquisador aciona os conceitos de “vida nua” (zoé) e “vida humana” (bios), pautado em Aristóteles e na definição moderna de biopolítica, de Michel Foucault (2007), e a noção de “resto”, tomada de Giorgio Agamben.

Elisa Capelari Pedrozo, em “Diálogo entre literatura e história no conto “Saudade”, de Cyro Martins”, analisa as relações entre literatura e história centrando-se na ambientação ressignificada pela memória da voz narrativa. A pesquisadora interage com Pesavento (1986), Alves (2002), Freitas et al (1997), Dimas (1985), Arendt (2012) e Pozenato (2003), para entender as paisagens e a visão de um gaúcho menos regional e mais universal.

Eunyoung Yang, em “La identidad latinoamericana en el cuento „Recuerdos olvidados‟, de Mario Benedetti”, mostra como o conto configura a identidade dos exilados latino-americanos na Espanha. A análise atenta para os referentes históricos que aparecem no texto, em comparação com os estudos sobre esses acontecimentos da história dos exílios solamericanos, incluindo os testemunhos das vítimas da ditadura.

Claunísio Amorim Carvalho, em “Interesses e desarmonias familiares em Labirinto de espelhos, de Josué Montello”, aborda aspectos da trama e dos personagens com ênfase no grotesco a partir do trágico, evidenciado na desarmonia das relações familiares entre os personagens.

Luciano Santos Xavier, Mylena Cerqueira da Silva e Adriano Antonio Lima Menezes, em “Metaficção historiográfica e regionalismo amazônico: a disputa pelo território acreano e os retratos da extração seringueira em Galvez, Imperador do Acre, de Márcio Souza”, se voltam para a Metaficção Historiográfica (HUTCHEON, 1991), e o Reginalismo Nortista/Amazônico (COUTINHO, 1986), a fim de reconhecer os traços regionais na obra em estudo.

Encerrando as discussões do dossiê temático, em “Narrativas fronteiriças: uma reconfiguração do universalismo abstrato”, Tiago Osiro Linhar aborda narrativas que emergem de loci fronteiriços e que reconfiguram valores originados através de uma concepção “universal” do mundo.

Na seção de Pesquisa em Letras no contexto latino-americano e literatura, ensino e cultura, “„I belong to this place of words‟: memória, pertencimento e escritura em bell hooks”, de Ernani Silverio Hermes e Denise Almeida Silva, concebe a memória como meio construtor de identidade a partir das noções de lugar e pertencimento. Os autores consideram que o ato da escrita impulsiona reelaboração do vivido a partir do resgate da memória.

Luciana Rodrigues de Souza, em “As flores do mal no jardim de Lobato”, reflete sobre aspectos da modernidade, do modernismo e dos olhares lançados à cidade em partes da obra do francês Charles Baudelaire e do brasileiro Monteiro Lobato, a partir da consideração de que a produção literária pode refletir e refratar as percepções das relações sociais, políticas, econômicas, interpessoais e culturais de seu autor.

Em “Mitologia, o discurso da alma: como a psique se relaciona com o poder sob a interface junguiana”, Adriana Goreti de Oliveira Lopes defende que imagens arquetípicas da mitologia demonstram temas atemporais e universais das relações humanas. Para tanto, a autora se pauta nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso, recorrendo a Pêcheux (1995 e 1997), Althusser (1980 e 1985), Jung (2011), Campbel (2008), entre outros.

Renato Silva Melo, em “A interrupção dialética de Walter Benjamin nos teores e no sem-expressão nas afinidades eletivas de Johann W. Goethe”, trata da operacionalidade do conceito de Interrupção Dialética de Walter Benjamin. Nesse sentido, o pesquisador aplica o método da interrupção ao sem-expressão e ao silêncio presente no romance de Goethe e considera que a interrupção, como uma categoria crítica, deve mostrar o teor da obra de arte.

“Poesia a contrapelo: a obra de Manoel de Barros por uma ótica benjaminiana”, de Maria Fernanda Silva de Carvalho, discute o valor atribuído por Manoel de Barros em sua poesia a tudo que costuma ser considerado inútil, desimportante e desprezível pela sociedade moderna, lançando, assim, um novo olhar às coisas e aos seres marginalizados, de modo a “escovar a poesia a contrapelo”.

Erika Ruth Melo Ciarlini, em “Lembranças de Ângela e a Belle Époque brasileira: memória, paixão e ciúme em Cruel amor, de Júlia Lopes de Almeida”, se volta para o diálogo entre a obra e as concepções de feminilidade do período e com discursos adotados quanto às mulheres, pela igreja e pela clínica psiquiátrica, vendo de que modo a representação literária da personagem Ângela aponta para situações corriqueiras do passado.

“História e memória pelos becos da cidade: análise de „Odes aos ratos‟, de Chico Buarque e Edu Lobo”, de Maria Daise Oliveira Cardoso, parte do pressuposto de que memória e história, no âmbito literário, são eixos inter-relacionados, para então propor a análise da canção “Ode aos Ratos”. A autora observa que o discurso litero-musical se compõe nesse jogo entre escrita literária, crítica social e canção, que ressoam pelos becos das cidades.

Camila Regina Fontana, em “A relação entre história e literatura: uma análise do livro Bar Don Juan”, trata do romance de Antonio Callado a partir das postulações de uma literatura engajada. A autora considera a relação entre história e arte e observa que as obras produzidas durante a ditadura podem ser vistas como documentos históricos.

“O ar em Pessoa”, de Murilo Vidotto, se propõe a identificar em alguns poemas da segunda parte de Mensagem, de Fernando Pessoa, a presença de elementos aéreos abordados na obra crítica de Gaston Bachelard. Para tanto, dentre os diversos matizes da referida obra de Pessoa e dentro do universo esotérico nela presente descrito por Y. K. Centeno, o autor opta pela dimensão astrológica.

“Salve Regina no conto „Marido‟, de Lídia Jorge: ressignificações”, de Soraya Paiva Chain, aborda duas ressignificações por meio da utilização de orações em latim, quais sejam: a utilização da língua latina, através de Salve Regina, entremeada ao texto em português, sem marcação alguma informando que se trata de uma outra língua; e a manutenção da estrutura de controle da religião, subsidiada pelo uso da oração Salve Regina.

Fernanda de Mello Veeck e Amanda Leonardi de Oliveira, em “A casa duplicada no conto A última névoa, de Maria Luisa Bombal”, tratam do tema do duplo na obra da escritora chilena. A pesquisa se centra no processo de duplicação dos espaços físicos no conto A última névoa.

Em “Malandragem à paulistana: a experiência do malandro na „Terra do Trabalho‟”, Matan Ankava trata das diferentes representações da malandragem, tendo como centro de reflexão a imagem do malandro paulistano. O autor considera que a imagem do sujeito malandro sofre transformações com a ampla difusão de um novo geist e estruturas sociopolíticas, expressas no samba produzido na “cidade que mais cresce no mundo”.

“Personagens verossímeis: a vivência contemporânea em O cão sem penas, de Paulo Sesar Pimentel”, de Vanderley da Silva e Rosana Rodrigues da Silva, destaca o elemento vital na construção do enredo narrativo, as personagens. Os autores buscam explicitar que esse elemento da narrativa é trabalhado de maneira que a sua configuração resulta da relação com os demais elementos que contribuem na construção de sentido de um texto literário.

Por fim, “Ficção e conhecimento: uma abordagem da obra de Zulmira Ribeiro Tavares”, de Alfeu Sparemberger e Lisiani Coelho, destaca a maneira como Zulmira Ribeiro Tavares relaciona a arte, e mais precisamente a prosa ficcional, com a produção de um conhecimento singular dirigido ao leitor, aspecto indispensável para a leitura e compreensão do seu projeto literário.  


Organizadores

Antonio Donizeti da Cruz – Editor Científico.

Maricélia Nunes Santos – Editor Científico. 


Referências desta apresentação

CRUZ, Antonio Donizeti da; SANTOS, Maricélia Nunes. Apresentação. Literatura, História e Memória. Cascavel, v. 15, n. 25, p. 5-7, 2019. Acessar publicação original [DR]

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