Teoria da História (v.1) Princípios e conceitos | José D’Assunção Barros

Pode um historiador ser considerado culto e competente sem nenhuma preparação teórico-metodológica? Pode um professor, mesmo dos Ensinos Fundamental e Médio, ensinar sem nenhuma bagagem teórico-metodológico? A epistemologia deve ficar restrita à alguns pequenos círculos ou deve envolver todos os membros da comunidade de historiadores?1 São sobre tais questionamentos que o livro “Teoria da História: princípios e conceitos fundamentais”, de José D’Assunção Barros, se propõe a discutir. Na obra, o autor apresenta explicações fundamentais para a compreensão da História como campo de conhecimento, com suas próprias peculiaridades teóricas e metodológicas.

José D’Assunção Barros possui doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (1999), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1994), graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). É professor Adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Na área de História, tem atuado principalmente com temáticas ligadas às seguintes áreas: Historiografia, Teoria da História, Metodologia da História, História Cultural, História da Arte, Cinema-História.

No seu livro, “Teorias da História: princípios e conceitos fundamentais”, José Barros, além de trazer importantes esclarecimentos sobre a complexa produção do conhecimento histórico, ressalta sua relevância para a formação do historiador, principalmente para o desenvolvimento de uma adequada consciência historiográfica, de modo que se compreenda como é organizado o pensamento histórico.

Mesmo o autor afirmando e concordando sobre o valor das discussões teóricas da História, é preciso lembrar que existem historiadores que discordam sobre a importância deste debate para a sua formação. Segundo Reis (2011), os empiristas, por exemplo, afirmam que o debate teórico-metodológico afasta o historiador do que deve realmente interessá-lo: os fatos, as fontes, a realidade do passado. No entanto, José Carlos Reis compartilha da mesma ideia de José Barros, para ele, o debate teórico-metodológico torna os sujeitos da pesquisa histórica mais hábeis, mais eficientes, menos ingênuos, mais argutos, mais criativos, em sua sofisticada atividade. E conclui: não há História sem teoria.2

Na primeira parte, o autor trata da Teoria e a formação do historiador. Inicia o diálogo com a explicação do que constitui uma disciplina, visto que o debate será pautado sobre a História enquanto campo disciplinar. Para isto, o autor apresenta dez dimensões importantes para tentar compreender o que constitui qualquer disciplina: a sua singularidade, os seus campos intradisciplinares, o seu padrão discursivo, as suas metodologias, os seus aportes teóricos, as suas interdisciplinaridades, os seus interditos, bem como a extensa “rede humana” que, através de suas realizações, empresta uma forma e dá concretização ao campo disciplinar, além do “olhar sobre si” que essa mesma rede estabelece a certa altura de seu próprio amadurecimento. Refere-se, também, a polissemia conceitual do termo “história”, e a importância da teoria para os estudos históricos.

Na segunda parte, o autor reflete sobre o estabelecimento e construção da Teoria da História, e sobre o difícil diálogo entre o pensamento histórico e filosófico, diferenciando-as. Além disso, José Barros deixa claro que não existe teorias ou paradigmas historiográficos melhores que outros, apenas diferentes leituras para os mesmos problemas e objetos. Por fim, o autor ainda trata das passagens/transformações de conceber a História, de gênero literário ou arte, para um estatuto de ciência.

Por último, o autor conclui o livro apresentando alguns conceitos úteis e basilares para se pensar a História, como o de paradigma historiográfico, escola histórica e campos da História, e sobrea feitura das correntes teóricas para a explicação da realidade. Por fim, aborda travas, vícios e deslizes ao livre fluir de uma construção teórica, aconselha os historiadores ase libertarem da adesão burocrática a total coerência de um sistema preestabelecido; da fobia da incompatibilidade; do fetiche do autor; da demonização de autores; da fobia das consequências adversas; da estagnação discursiva; do anacronismo; das fronteiras interdisciplinares; do encastelamento teórico; e da fobia do erro.

O livro é de linguagem fácil e compreensível. A divisão das partes em tópicos facilita a compreensão do leitor, possibilitando um melhor entendimento da obra. Face à estrutura dada aos capítulos eles podem servir de base para seminários em que a temática seja sobre as feituras do conhecimento histórico. O trabalho é repleto de bibliografias especializadas sobre a temática e de grande utilidade para pesquisadores da área.

Certamente, esta obra é de suma importância para todos os historiadores e amantes da história que se dedicam ao estudo voltados para os princípios e conceitos fundamentais da História. O livro vem contribuir para o aprofundamento deste tema, abrindo novas possibilidades de leitura e descortinando novos cenários de investigação.

Notas

1É com estas perguntas que o autor José Carlos Reis inicia seu artigo ressaltando e defendendo o lugar central da teoria-metodologia na cultura histórica. Conferir em: REIS, José Carlos. O lugar da teoria-metodologia na cultura histórica. Revista de Teoria da História. v.6, n.2, p. 4-26, 2011. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/teoria/article/view/28973/16143. Acesso em: 01 de Jul. 2015. 93 Ponta de Lança, São Cristóvão, v.9, n. 16, jan.- jul. 2015.

2Sobre esta afirmação conferir: BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982

Referência

REIS, José Carlos. O lugar da teoria-metodologia na cultura histórica. Revista de Teoria da História. v.6, n.2, p. 4-26, 2011. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/teoria/article/view/28973/16143. Acesso em: 01 de Jul. 2015.

Cassiano Celestino de Jesus –  Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected]


BARROS, José D’Assunção. Teoria da História: princípios e conceitos fundamentais. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. Resenha de: JESUS, Cassiano Celestino de. História, teoria e método: reflexões sobre o fazer historiográfico. Ponta de Lança, São Cristóvão, v.9, n.16, p.92-94, jan./jul., 2015. Acessar publicação original [DR]

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