Territorialidades, fronteiras e identidades na Amazônia legal / Escritas / 2010

Discutir a penetração, a colonização e o estabelecimento de fronteiras no Brasil é extremamente complexo, mas esta é a proposta desse Volume 2. A revista Escritas vai consolidando uma posição inovadora: trazer ao público uma coletânea heterogênea e representativa das pesquisas que estão sendo produzidas em todo pais sobre temas instigantes. Apesar da heterogeneidade há pontos de convergência e unicidade. Convergência não somente na temática no caso de Dossiê, mas também nas preocupações com os grupos sociais que penetraram lentamente nos recônditos mais distantes do Brasil.

Confluem em ritmos temporais que vão do século XVIII ao XX, nas preocupações do Estado em ocupar e governar o território continental do nosso país. Também manifesta unidade ao discutir as condições de vivência e sobrevivência das populações de fronteira, com a qualidade de vida desses povos fronteiriços, ainda na preocupação do Estado em constituir uma nacionalidade, uma cidadania brasileira. Essas discussões são indissociáveis – colonização, migração, disputadas interétnicas, confrontos político-partidários, identidade, nacionalidade e fronteiras. Elas fazem parte da construção da sociedade do Estado brasileiro desde o período colonial.

Há outras convergências. As fontes utilizadas pelos autores para a composição da Revista são variadas, mais há algumas que são comuns: jornais, entrevistas, atas das câmaras municipais, documentos escritos e orais, documentos formais e informais.

O Dossiê traz estudos fascinantes como o texto de João Bosco da Silva, Cotidiano de Ameríndios em Região de Fronteira no Final do Setecentos. O de André Luís dos Santos Freitas São José do Rio Negro e as Relações de Poder na Constituição do Império do Brasil – a Subtração de uma província analisa a complexa integração de São Jose do Rio Negro, na região amazônica, ao território brasileiro no período Imperial. O de Edson Machado Brito Clevelândia do Norte estuda a formação de um aldeamento indígena no Oiapoque, nos limites com a Guiana Francesa. Idelma Santiago da Silva em Migração como o mito fundador e outras metáforas: narrativas da colonização do sudeste do Pará, discute a migração e ocupação do sudeste do Pará. Seu enfoque concentra-se nas narrativas da colonização maranhense na região, discutindo a (re)invenção de territórios e as lutas sobre a representação de regionalização para compreender a “etinização de migrantes maranhenses”.

A Seção Livre traz ao conhecimento do leitor a discussão sobre a formação indentitária, indissociável, da colonização, penetração e fixação no território brasileiro, reflete sobre a organização político-partidária no Brasil que guardam vínculos com a dominação do território. Merece destaque na discussão sobre a formação da identidade nacional o texto de Loque Arcanjo Junior As Representações da Nacionalidade Musical nas Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos, que funde história, música e literatura para compreender o ethos brasileiro. O texto estimulante de Priscila Dorella Obstáculos à Constituição de uma de uma Identidade Latino-americana no Brasil, em Sílvio Júlio de Albuquerque Lima discute o pensamento de Sílvio Júlio de Albuquerque Lima, com relação à integração dos países hispano-americanos.

Não é possível ficar indiferente ao texto de André Fertig Valentes vingadores da honra nacional que discute a atuação das guardas nacionais no Rio Grande do Sul oitocentistas durante a fase de consolidação do Estado brasileiro entre 1820 e 1840. No texto A Politica Tributária de Caio Prado Jr. na Constituinte Paulista Renata Bastos mostra uma faceta de atuação do Deputado constituinte Caio Prado Jr. na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 1947.

A análise historiográfica de Charles Sidarta Domingos no artigo A história da historia do fim do governo João Goulart, demonstra a importância de Goulart na formação do PTB. No texto de Arilson dos Santos Gomes Os partidos políticos e o Congresso Nacional Negro de Porto Alegre sinaliza que os partidos na época de Goulart se preocupavam intensamente com a ocupação da terra bem como sua distribuição social entre os membros da sociedade – brancos, negros e indígenas – em busca de uma sociedade justa e igualitária. Como se percebe a Seção Livre da Revista Escritas está repleta de estudos motivadores para o conhecimento da realidade econômica, político e social do Brasil. Fecha a Seção Livre as considerações de Luís Eduardo Bovolato sobre o saneamento básico e saúde na atualidade.

Compõe ainda esse Volume 2 a resenha crítica de Dagmar Manieri sobre a recente publicação do pesquisador Marcos E. de Araújo Clemente do Colegiado de História de Araguaína. Manieri oferece uma análise complexa e heterogênea da obra Lampiões acesos: o cangaço na memoria coletiva.

Creio que a Revista está recheada de questões, problemas, fontes e temas importantes para a compreensão dos Brasis com suas múltiplas fronteiras, territórios e identidades. Vale a pena ler a Revista Escritas desse ano. Boa leitura.

O Editor

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[DR]

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