The Oxford Handbook of World History | Jerry Bentley

Pouco conhecida no cenário historiográfico brasileiro, a denominada História Global tem se desenvolvido com força desde a década de 1980 nos meios acadêmicos europeus e norte-americanos. As perspectivas globais, a busca por efeitos-causa e a explicitação de grandes processos, que nortearam a produção historiográfica inglesa e norte-americana desde as obras de Arnold Toynbee (1955) nos anos 1930 até Immanuel Wallerstein (1974) e William McNeill (1963) nos anos 1970, passaram por um intenso processo de renovação e rediscussão.

O livro organizado pelo Professor da Hawai’i University, Jerry Bentley†1, reúne as mais atualizadas discussões sobre o tema, proporcionando em seu conteúdo uma visão ampla e sistêmica da História Global. Em seu prefácio, Bentley apresenta ao leitor as novas – e as não tão novas – dificuldades e armadilhas dos historiadores globais. Influenciados pelos estudos póscoloniais e pela descentralização do saber acadêmico, ocorrido ao longo do século XX – que descendeu das cátedras europeias às mais variadas partes do mundo – os historiadores globais rejeitaram velhas idiossincrasias das denominadas “Histórias Universais”, como o etnocentrismo e um manifesto “sentido da história” hegeliano, em prol de uma análise de processos, encontros e trocas entre as sociedades, considerando sua fluidez e permeabilidade, espalhados por dilatadas dimensões espaciais e temporais.

A proposta do compêndio é a de introduzir e organizar minimamente o que se pensa e se produz sobre história global, principalmente nos Estados Unidos e Europa. A obra, sem tradução para o português, é dividida em quatro partes: Concepts (Conceitos), Themes (Temas), Processes (Processos) e Regions (Regiões).

A primeira e mais interessante parte aborda alguns eixos norteadores da produção destes historiadores. As principais questões e reflexões que permeiam a pesquisa e a escrita são expostas em seis capítulos sobre Geografia, Periodização, Globalização, Modernização e Epistemologias do pensamento global. Ao historicizar estes conceitos, os autores desvelam o fazer historiográfico em escala global, apontando para a extrema importância da observação do que poderia parecer paralelo ou mesmo subsidiário ao historiador, como a geografia e a epistemologia.

A segunda parte aborda a multiplicidade de Temas desenvolvidos para construir panoramas explicativos globais. O grande trunfo desta segunda parte reside na abertura radical de opções temáticas, demonstrando que temas como agricultura, pastoralismo nômade, gênero, religião, desenvolvimento tecnológico dentre outros podem ser inscritos em grandes escalas espaciais e temporais e enunciar processos históricos interessantes, não observados em menores escalas.

A terceira parte, Processos, traz os principais motes da renovação teórica sofrida pela história global a partir dos anos 1980. As trocas culturais e comerciais, migrações, industrialização dentre outros processos são abordados apontando para a permeabilidade e fluidez dos contatos humanos. As interações humanas ao longo dos séculos levaram a distintos processos: tanto os benéficos como a troca de ideias e tecnologias, como as nefandas epidemias que devastavam populações de distantes partes do mundo, como a peste negra asiática na Europa e a simples gripe Influenza europeia nas Américas.

A última parte, Regiões, colabora para a expansão de horizontes geográficos para a pesquisa. Não orientados somente por divisões político-geográficas, os autores discutem a própria criação ficcional dos continentes e oceanos- como oceano o Pacífico, que não possuía uma existência substantivada entre as populações da Oceania, sendo nomeada e criada pelos Europeus – inserindo nestes suas análises processuais, temáticas e conceituais, abordados nos capítulos anteriores. As diferentes partes do globo são analisadas tendo em vista tanto as tessituras culturais, como a diminuição de espaços enormes pelo advento das tecnologias de transporte, relativizando o sentido geográfico das regiões, e têm na integração de populações, espaços e culturas seu objetivo final de exposição.

Assim, para o público brasileiro pouco conhecedor da História Global, o volume de Bentley apresenta-se como uma excelente oportunidade para situar-se nos debates atuais. Expandir as perspectivas da produção historiográfica (tanto espacialmente quanto cronologicamente), sem perder de vista o rigor teórico-conceitual: este é sem dúvida o principal feito da obra.

Nota

1. Jerry H. Bentley foi Full Professor da Hawai’i University. Faleceu em julho de 2012.

Referências

MCNEILL, William. The raise of the west. A history of the human community. Chicago: University of Chicago Press, 1963.

TOYNBEE, Arnold J. A Study of History. 10 vol. Londres: Oxford University Press, 1955.

WALLERSTEIN, Immanuel. The Modern world-system. Nova York: Academic Books, 1974.


Resenhista

José Augusto Ribas Miranda – Doutorando do PPGH/PUC/RS, Porto Alegre/RS, Brasil. E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

BENTLEY, Jerry (Org.). The Oxford Handbook of World History. New York: Oxford University Press, 2011. Resenha de: MIRANDA, José Augusto Ribas. A última fronteira? Novos aportes da história global. Diálogos. Maringá, v. 18, n.1, p. 525-527, jan./abr. 2014. Acessar publicação original [DR]

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