Imaginações rebeldes: disputas e derivações da artepensamento feminista | Cadernos Pagu | 2020

À ideia de incerteza viva (Volz, 2016) deriva a potência do risco e da instabilidade acerca de normatizações de corpos e subjetividades. Podemos assumir isso como o circuito em que trafegam imaginações artísticas rebeldes, em que os corpos e suas performances dissidentes, desarticulados das convenções e padrões hegemônicos, travam um embate para resistir, existir, permanecer e se (re)inventar nos variados sistemas e expressões artísticas.

Diante disso, que relações produtivas podemos estabelecer entre os pares gênero/sexualidade e arte e vice-versa, ou de que forma gênero e sexualidade, como tecnologias subjetivas, imbricam em formas artísticas e essas mesmas formas artísticas nos ajudam a repensar as relações de gênero e suas interseccionalidades? Gênero, como categoria relacional, interage com outros determinantes étnico-raciais, de classe, localização e geração, o que tornam as estruturas e conjunturas nas quais interatuam essas articulações ainda mais complexas. Ao mesmo tempo, esses “atravessamentos” se dão tempo-espacialmente, constituindo processos histórico-sociais-políticos que definem as questões artísticas em tela. Leia Mais

Relações de Gênero, Sexualidade & Cinema | ArtCultura | 2015

Ensaiar a explicação de uma obra é, sobretudo, saber e confessar o quanto ela nos atravessou, quanto ela nos ajuda a reconhecermo-nos através dela.

Octávio Paz

Este dossiê, idealizado e concebido a seis mãos, é fruto de uma paixão e uma fantasia partilhada. Um paixão pela magia embriagante do cinema, pelas ilusões diegéticas da narrativa e sua visualidade, pelas multidimensões sensoriais de sua operacionalidade maquínica no seio de diversas e diferentes culturas visuais, pela potencialidade de intervenção crítica no seio das práticas culturais das cidades, das mais distintas localidades, do modo fugidio como as imagens escapam das fronteiras pré-estabelecidas dos gêneros (cinematográficos), dos limites das produções (censuras, verbas, gramática, tecnologias), da forma dramática como os vários modos de se produzir um filme (dos clássicos à videoarte) marcam imaginários e imaginações.

A fantasia, nos termos como bem a colocou Joan Scott1 , é de transformar este conjunto de textos num amálgama de leituras que extrapolem a crítica por si mesma e invista no elo entre o saber e a confissão (conforme Octávio Paz), ou seja, o ato poético de entender e tensionar obras e práticas filmográficas, de diferentes idiomas e gramáticas, naquilo que elas têm de táteis, isto é, no seu poder de nos tocar ainda que tenham sido parte de um passado do qual jamais faremos parte. O ontem que vive hoje como aprendizado estético e político, mas também como estopim para autodescentramento e autodistanciamento, que nos faça ver nosso hoje com a alteridade crítica que ele requer. Nesse sentido, a fantasia de ir a diferentes países (Índia, Nicarágua, Guiné, Estados Unidos, México, Inglaterra), trespassando, interligando vozes (femininas, feministas, queer) que ousem dialogar ao mesmo tempo com formas de ver e entender dos que criam a maquinaria artística e a engrenagem da indústria cinematográfica e dos que se dispuseram e se dispõem a pensar os impactos e as atuações, enfim, os efeitos subjetivos e microfísicos desta usina de produções de sentidos, significados, emoções e racionalidades. Leia Mais