Relações de gênero: temas, problemas e perspectivas/Canoa do Tempo/2022

O dossiê que ora apresentamos pretende fornecer um panorama dos estudos de gênero, seus principais temas, problemas e perspectivas por meio de entrevistas realizadas com as historiadoras Joana Maria Pedro (UFSC) e Solange Rocha (UFPB) e de pesquisas realizadas sobre diferentes espaços e temporalidades. Assim, as trajetórias profissionais das duas historiadoras entrevistadas, bem como os artigos elencados, nos informam sobre o surgimento e desenvolvimento deste campo específico de conhecimento – articulado às intersecções de classe, raça∕etnia, geração, sexualidade, entre outras variáveis sociais4 – para além de revelar os debates historiográficos travados em seu interior desde os anos de 1980∕1990. Leia Mais

Relações de gênero e história: emoções, corpos e sexualidades | Projeto História | 2021

A virada epistemológica da historiografia na segunda metade do século XX, marcada por diversos movimentos sociais e uma grande ebulição política, econômica e cultural, possibilitou a emergência de uma categoria polissêmica, multifacetada e diretamente ligada às questões que discutem as relações de poderes na sociedade: os chamados estudos de gênero, categoria analítica cunhada por Joan W. Scott em seu ensaio “Gênero: uma categoria útil de análise histórica (1995). Em meio a essa renovação analítica, os estudos culturais na historiografia avançaram e propuseram mudanças epistemológicas fundamentais para a escrita da História. Tendo como ponto de reflexão as discussões de pesquisadoras como Joan Scott, Judith Butler, Joana Maria Pedro, Maria Izilda Matos, Rachel Soihet e Margareth Rago, a História precisou caminhar para um novo escrever e narrar sobre os corpos, os desejos, as emoções e as sexualidades. Dentro da perspectiva de uma então recente História cultural emergiram análises e críticas fundamentais aos alicerces de poderes, saberes e narrativas sobre o passado, provida de um olhar que entendia que “o pessoal é político” e histórico e, portanto, do ofício das/dos historiadoras/es. Leia Mais

Relações de Gênero, Sexualidade & Cinema | ArtCultura | 2015

Ensaiar a explicação de uma obra é, sobretudo, saber e confessar o quanto ela nos atravessou, quanto ela nos ajuda a reconhecermo-nos através dela.

Octávio Paz

Este dossiê, idealizado e concebido a seis mãos, é fruto de uma paixão e uma fantasia partilhada. Um paixão pela magia embriagante do cinema, pelas ilusões diegéticas da narrativa e sua visualidade, pelas multidimensões sensoriais de sua operacionalidade maquínica no seio de diversas e diferentes culturas visuais, pela potencialidade de intervenção crítica no seio das práticas culturais das cidades, das mais distintas localidades, do modo fugidio como as imagens escapam das fronteiras pré-estabelecidas dos gêneros (cinematográficos), dos limites das produções (censuras, verbas, gramática, tecnologias), da forma dramática como os vários modos de se produzir um filme (dos clássicos à videoarte) marcam imaginários e imaginações.

A fantasia, nos termos como bem a colocou Joan Scott1 , é de transformar este conjunto de textos num amálgama de leituras que extrapolem a crítica por si mesma e invista no elo entre o saber e a confissão (conforme Octávio Paz), ou seja, o ato poético de entender e tensionar obras e práticas filmográficas, de diferentes idiomas e gramáticas, naquilo que elas têm de táteis, isto é, no seu poder de nos tocar ainda que tenham sido parte de um passado do qual jamais faremos parte. O ontem que vive hoje como aprendizado estético e político, mas também como estopim para autodescentramento e autodistanciamento, que nos faça ver nosso hoje com a alteridade crítica que ele requer. Nesse sentido, a fantasia de ir a diferentes países (Índia, Nicarágua, Guiné, Estados Unidos, México, Inglaterra), trespassando, interligando vozes (femininas, feministas, queer) que ousem dialogar ao mesmo tempo com formas de ver e entender dos que criam a maquinaria artística e a engrenagem da indústria cinematográfica e dos que se dispuseram e se dispõem a pensar os impactos e as atuações, enfim, os efeitos subjetivos e microfísicos desta usina de produções de sentidos, significados, emoções e racionalidades. Leia Mais

História das mulheres e relações de gênero / Fronteiras – Revista de História / 2011

As mulheres nunca estiveram ausentes da história, embora a historiografia oficial as tenha esquecido. Pesquisadoras(es) tem se debruçado sobre estudos da história das mulheres e suas lutas em todos os processos civilizatórios. Além disso, as mulheres têm garantido o seu lugar de cidadã na vida, no mundo e na própria história. No decorrer da história há uma relação entre gênero e poder que precisa ser estudada, revelada, reescrita, pois a história tradicional antropocêntrica e universalizante criou o mito do sexo frágil, da impotência feminina e da sua dependência existencial do masculino.

As produções teóricas relativas à História das Mulheres encontram-se ligada ao movimento de renovação da própria história que, distanciando-se da história tradicional de cunho positivista que se impôs no século XIX, se voltava a preocupar por traçar um caminho interessado muito mais pelos coletivos que pelos individuais, pela evolução da sociedade que pelas instituições, pelos costumes que pelos acontecimentos, pelas coletividades excluídas do que pelos grandes personagens1. Leia Mais

Relações de Gênero / Tempo e Argumento / 2010

A revista Tempo e Argumento do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em seu quarto número, reafirma seus objetivos de ser um canal de divulgação de estudos de caráter nacional e internacional na área da História do Tempo Presente. Este número da revista, agora indexada em bases de dados internacionais, também inaugura uma nova fase. Este processo é de suma importância para a divulgação da produção do conhecimento das Ciências Humanas, sobretudo a edificada no âmbito da pós-graduação brasileira e internacional.

Este volume, além das seções Artigos, Resenhas e Traduções, apresenta o dossiê “Relações de Gênero”. Os estudos de gênero produziram uma ampliação do conhecimento histórico, seja do ponto de vista epistemológico, seja das temáticas a serem investigadas e das fontes, conforme afirmaram as historiadoras Raquel Soihet e Joana Maria Pedro.1 No caso da História do Tempo Presente, observamos que os estudos de gênero, buscam promover com maior ênfase o debate sobre as desigualdades evocadas nos discursos de masculino e de feminino, bem como questionar as identificações e práticas construídas no plano individual e no coletivo. Esta abordagem norteia os artigos que compõem o dossiê, bem como os outros textos sobre a temática.

Temis Gomes Parente e Valcelir Borges da Silva, no artigo “Bilhetes do cárcere: elo entre espaços” efetuaram um estudo sobre o cotidiano vivenciado por apenados do sexo masculino em Palmas (TO), entre os anos de 2005 e 2006, tendo em vista as escritas de si.

A introdução de novas práticas para as mulheres pobres da cidade de Criciúma a partir do ideário maternalista, nas décadas de 1950 e 1960, é o tema do artigo de Ismael Gonçalves Alves, intitulado “Famílias operárias mineiras e relações de gênero: a construção do feminino através de cursos populares na região carbonífera catarinense (1950-1960)”.

Caroline Jacques Cubas, por sua vez, no artigo “Memórias de Formação: Sentidos e sensibilidades durante o início da vida religiosa na Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição (1960 – 1990)”, investiga os processos de socialização de mulheres em uma instituição religiosa católica, entre 1960 e 1990.

Rogério da Silva Martins da Costa, em seu artigo “Sociabilidades homoeróticas e relações identitárias: o caso do jornal O SNOB (Rio de Janeiro, década de 1960)”, a partir do jornal O Snob que circulou no Rio de Janeiro nos anos de 1960, analisou a formação redes de sociabilidades homoeróticas e a construção de identificações advindas deste processo.

Por fim, Hugo Augusto Vasconcelos de Medeiros, no artigo intitulado “Melindrosas e almofadinhas: relações de gênero no Recife dos anos 1920”, realiza uma análise dos discursos veiculados em jornais da cidade de Recife (PE), na década de 1920, sobre a figuras da melindrosa e dos almofadinhas.

Além dos artigos do dossiê, outros dois textos deste número apresentam reflexões sobre as Relações de Gênero e História do Tempo Presente. Carmen Silvia de Moraes Rial, Giovanna Maria Poeta Grazziotin, Juliana Bez Kroeger, Rochelle Cristina dos Santos e Cintia Lima Crascêncio discutem, na entrevista com o antropólogo Miguel Vale de Almeida, a emergência de estudos sobre as masculinidades neste campo de pesquisa e as suas implicações epistemológicas. O pesquisador ainda comenta, nesta entrevista, a relação existente entre este campo de estudo e o ativismo, bem como sobre os estudos pós-coloniais produzidos por investigadores portugueses e brasileiros.

A resenha da obra “História Oral, Feminismo e Política”, realizada por Marta Gouveia de Oliveira Rovai, debate a produção da História Oral e as suas interfaces com o discurso feminista.

A seção Artigos é composta por seis textos. Alan Patrick Marcus, no artigo intitulado “Back to Goiás and Minas Gerais: Returnees, Geographical Imaginations and its Discontents”, analisa as representações sociais dos migrantes brasileiros que retornaram ao país, na primeira década do século XXI, sobre seu cotidiano nos diferentes lugares. Ely Bergo de Carvalho, no artigo “No fundo da mata virgem: a complexidade de um elemento mítico no imaginário ocidental sobre a natureza”, apresenta uma reflexão sobre a idéia de “mata virgem” presente no imaginário Ocidental e as suas repercussões sobre as atualíssimas discussões a respeito de alterações ambientais e ecossistemas, discutindo relação natureza versus culturas. Rita Aparecida da Conceição Ribeiro, no artigo “Errância e exílio na soul music: do movimento Black-Rio nos anos 70 ao Quarteirão do Soul em Belo Horizonte, 2010”, analisa a gênese da Soul Music, na cidade de Belo Horizonte (MG), na década de 2000. Renata Figueiredo Moraes, no artigo “As relíquias literárias de Machado de Assis”, realiza um estudo sobre os problemas aventados por Machado de Assis na emergência da República no Brasil. Mirian Santos Ribeiro de Oliveira, no artigo “Refletindo sobre construção de identidades diaspóricas: estudo de caso sobre a “hinduidade”, discute os embates vigentes no processo de construção de identificações em relação a “hinduidade” nos movimentos populacionais transnacionais, nas últimas décadas do século XX. Rafael Pereira da Silva, no artigo “A autonomia aparente: educação popular, sindicalismo e política nos anos 1980 em Criciúma / SC”, analisa o processo de edificação do Centro de Estudos, Documentação e Informação Popular (CEDIP), da cidade de Criciúma / SC e sua relação com o Partido dos Trabalhadores e outras instituições presentes na região.

Na seção Traduções, apresentamos a entrevista do historiador alemão Reinhart Koselleck, intitulada “A História é uma Ficção?”, publicada na revista suíça NZZ Folio. A entrevista foi traduzida para o vernáculo por Maria Aparecida Barbosa e Antônio Celso Mafra Júnior.

O livro Foucault, sa pensée, sa personne, de autoria de Paul Veine, resenhado por Viviane Trindade Borges, aborda a trajetória de vida e intelectual de Michel Foucault, pensador de fundamental importância para a compreensão de fenômenos da História do Tempo Presente, cuja obra dialogou com os estudos de gênero.

Nota

1 SOIHET, Raquel; PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 27, n. 54, p. 281-300, 2007.

Os Editores


Comitê editorial. Editorial. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.2, n.2, 2010. Acessar publicação original [DR]

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