Usos e desusos das linguagens artísticas/Revista Eletrônica Trilhas da História/2022

As linguagens artísticas estão presentes em diversos setores da sociedade, suscitando problematizações que envolvem a reflexão de seus usos enquanto ferramentas de poder, de discurso, por questões sociopolíticas e expressões culturais. Este dossiê compreende que as linguagens artísticas são instrumentos de sujeitos em seu tempo histórico e que a partir dessas produções – que nesta edição contempla fontes sobretudo musicais, mas também literária e imagética –, se tornam e se transformam em ferramentas e documentações para a investigação de historiadores e demais estudiosos do tema, e por isso, suscitam novos usos. Leia Mais

Artes, estéticas e vanguardas no Brasil: cultura, subjetividades e representações / Fato & Versões / 2019

Consideramos isso história, mas não nos esqueçamos de que são apenas palavras em uma página, palavras que foram parar lá por causa de certas regras para encontrar evidências, produzir mais palavras de nossa própria autoria e aceitar a noção de que elas nos dizem algo sobre o que é importante no terreno extinto do passado.

Robert A. Rosenstone

A História nos filmes, os filmes na História

Nas últimas décadas, a historiografia brasileira tornou-se um espaço propício para que debates novos se conformassem, notadamente no campo da chamada História Cultural. Na medida em que a ampliação das fontes históricas, a partir das décadas de 1970 e 1980, ousou contemplar objetos tais como filmes, jornais experimentais, produções musicais, peças de teatro, obras de artes plásticas, histórias em quadrinhos, campanhas publicitárias, etc., no Brasil, experiências históricas tais como os movimentos de vanguardas estéticas, notadamente aquelas que emergiam nos séculos XIX e XX, ocuparam espaço em trabalhos acadêmicos e demais obras que concernem ao ofício da História.

Trata-se, pois, de um campo que, a despeito de sua aparente especificidade, contempla caminhos que perpassam a conformação de grupos, conflitos sociais, movimentações cotidianas, relações familiares e de gênero, questões micro e macropolíticas, e, necessariamente, ajudam a demarcar diferentes experiências do tempo. Nas inúmeras pesquisas dessa ampla área de conhecimento, os objetos artísticos são elencados como elementos capazes de subjetivar uma dada realidade, possibilitando, a partir deles, a compreensão de processos históricos que ali se desdobravam.

Os artigos apresentados nesse dossiê demonstram a pluralidade de possibilidades advindas pela escolha em se trabalhar no campo da História Cultural, especificamente com as linguagens artísticas. Apesar das especificidades, observa-se que o elemento interdisciplinar entremeia cada um dos escritos aqui apresentados ao público, em um exercício crítico de acuidade teórico-metodológica de pesquisadores de diferentes instituições de ensino brasileira. Tal como a musa Clio, que tece o tecido da história com os fios colhidos em outras disciplinas, os objetos artísticos apresentados pelos autores demonstram as potencialidades de se dialogar com outros campos de conhecimento, estabelecendo-se trocas, diálogos, possibilidades, etc. sem que se perca, no meio do caminho, as especificidades do metier do campo historiográfico.

Sendo assim, há um duplo desafio a ser enfrentado nesse tipo de pesquisa. Por um lado, é necessário se compreender as particularidades da produção / elaboração dos objetos artísticos elencados, tanto no que diz respeito à sua natureza (cinema, teatro, moda, etc.), quanto ao seu contexto, recepção, autoria, temática. Por outro lado, é preciso compreender os desdobramentos teóricos e metodológicos advindos pela escolha dessa documentação, a fim de se possa delinear, a partir do olhar do historiador de ofício, os diálogos estabelecidos entre os binômios Arte e Sociedade, História e Cultura.

Tendo em vista essas e outras inquietações, o artigo “‘Lutar com o Super-8 é luta mais vã’: O Palhaço Degolado (1977) ou a maquiagem sorridente de um corpo sem cabeça”, de Fábio Leonardo Castelo Branco Brito, apresenta uma interessante análise do película do pernambucano Jomard Muniz de Britto a partir de um referencial teórico constituído a partir de autores tais como Georges Didi-Huberman, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault e Paul Veyne.

Por sua vez, a historiadora Grace Campos Costa, em “Diálogos entre moda e cinema: Prêt-à-Porter (1994) de Robert Altman”, amplia o binômio Cinema / História ao trazer para o campo de discussão os diálogos estabelecidos entre o campo da moda e sua representação cinematográfica, em um duplo processo de influência. Sendo assim, o artigo tem como objetivo demonstrar que esses dois campos de produção são constantemente entrelaçados, seja porquê os filmes influenciam hábitos e vestimentas, seja porquê a indústria da moda serve, constantemente, como temática de diferentes películas, as quais se propõem pensar os impactos da mesma nos diversos campos da sociedade.

Ainda no campo dos estudos cinematográficos, a pesquisadora Lais Gaspar Leite, em seu artigo “O corpo do Vagabundo e o contraste com o Tempo Moderno”, apresenta aos leitores uma possibilidade da análise da personagem Carlitos, mundialmente conhecida pela produção de Charlie Chaplin em Tempos Modernos. A autora, em suas reflexões, busca estabelecer as relações existentes entre a commedia dell’arte e a produção cinematográfica chapliniana, a fim de demonstrar as marcas desse diálogo na construção da personagem vagabundo, especialmente na obra acima referenciada.

Tal como para Chaplin, observa-se nas produções do grupo carioca Dzi Croquettes uma grande influência dos vaudevilles e comédias populares. A criação do seu primeiro espetáculo, Dzi L’Internacionalli, é o objeto de análise do artigo produzido pela historiadora Talitta Tatiane Martins Freitas, no qual ela se propõe discutir a estrutura, as escolhas estéticas, bem como os índices de recepção da referida obra teatral. Sendo assim, em “Dzi L’Internacionalli: as ambiguidades sócio e cênica dos Croquettes em seu primeiro espetáculo”, os leitores poderão ter contato com o impacto produzido por esse grupo de 13 homens que, ao longo dos anos 1970, levaram para os palcos do Brasil e da Europa uma estética considerada transgressora por mesclar elementos femininos e masculinos, questionando os constructos sociais de gênero e de sexualidade.

Fechando o dossiê, a pesquisadora Stéfany Marquis de Barros Silva apresenta, nas páginas do artigo “As travessuras históricas da Curtinália teresinense: Sensibilidades e corporalidades urbanas em Teresina na década de 1970”, as condições históricas que propiciaram o surgimento do grupo de jovens Curtinália, o qual colocava em xeque os discursos normatizadores da sociedade teresinense em meados dos anos 1970. Analisando os escritos e filmes experimentais produzidos pelo referido grupo, a autora busca desvelar a maneira como esses jovens problematizaram os códigos de gênero e sexualidade estabelecidos socialmente, decodificando os seus corpos e relações para além dos moldes tradicionais de pensamento.

A partir dessas breves apresentações, esperamos que a diversidade e riqueza de análises reunidas neste dossiê possam encantar e inspirar nossos leitores. Uma boa leitura a todos!

Fábio Leonardo Castelo Branco Brito

Talitta Tatiane Martins Freitas


BRITO, Fábio Leonardo Castelo Branco; FREITAS, Talitta Tatiane Martins. Apresentação. Fatos e Versões, Campo Grande – MS, v.11, n.21, 2019. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

História e Linguagens / Mnemosine Revista / 2017

História e linguagens, arte e sociedade

Carl Schorske, em seu belíssimo livro Pensando com a História, apresenta aos seus leitores as particularidades de Clio, musa da História, a qual tece o seu tecido com os fios colhidos em outras disciplinas, formando um mosaico único que chamamos de narrativa histórica. Segundo o autor, a habilidade maior desta musa está em saber trançar os materiais colhidos e os conceitos adotados, que não necessariamente foram plantados ou criados por ela, em um tear do tempo que de fato é seu, construído a partir de perspectivas particulares, próprias do seu oficio.

Pensar a história como um campo interdisciplinar não é apenas admitir a possibilidade de se utilizar objetos e conceitos de outras áreas para a construção do conhecimento histórico. Ao contrário, é partir do pressuposto de que o historiador pode estabelecer canais de comunicação a partir das especificidades do seu ofício, fazendo perguntas e estabelecendo interlocuções que o diferencie dos sociólogos, dramaturgos, cineastas, críticos, etc. Sendo assim, eleger um objeto artístico como fonte de uma dada pesquisa requer, por parte dos pesquisadores, o enfrentamento dos desafios teórico-metodológicos inerentes a um espaço de conhecimento que se encontra nas fronteiras entre saberes específicos. Cabe, tal como proposto por Carl Schorcke, tornar “significativas e frutíferas” essas relações, construindo uma trama que permita o enfrentamento de novas e instigantes questões.

Tal reflexão diz muito sobre os trabalhos que serão apresentados nesse dossiê, haja vista que o elemento que os unem é justamente esse olhar múltiplo para o campo historiográfico, compreendendo os homens (tanto os estudados, como os que os estudam) como seres multifacetados, entremeados em diferentes teias de relações, as quais podem (ao menos parcialmente) ser apreendidas a partir das linguagens artísticas outrora construídas por eles. Sob esse prisma, a ideia chave para a compreensão dos mesmos é o de interdisciplinaridade, pensada aqui não apenas como teoria, mas como uma segunda pele que reveste desde a escolha dos temas até a urdidura dos textos.

Neste sentido, o diálogo entre História e Arte pressupõe não apenas encarar o estudo das linguagens e da ficção (em qualquer recorte temporal e espacial) como objetos de pesquisa para o historiador, como também a constante compreensão e desafio do próprio fazer histórico e sua escrita como variantes de perspectivas representacionais, simbólicas, de formação e de contatos com determinados grupos sociais e de estudo. Por outro lado, uma problemática que se apresenta é se debruçar sobre questões da especificidade da análise da obra-de-arte, seja ela cinema, teatro, música, literatura ou artes visuais. Ao prender-se em uma visão mais “panorâmica” da história da arte, as ideias e as diversas obras são estudadas como pontos abstratos que, em conjunto quantitativo, formam o número de produções ao longo da história.

Analisar dessa maneira não significa perder a ligação que elas compõem entre si, mas, sobretudo, compreender suas peculiaridades e as singularidades de seus autores naquele determinado momento de produção. Dessa forma, buscou-se trabalhos que conciliassem, independente da região ou período da pesquisa, esse contato entre o interno e o externo da obra (suas características estéticas e sociais), unindo texto e contexto – para utilizar um termo de Antonio Candido.

Sob esse prisma, parte-se do pressuposto de que a História é um campo múltiplo, que acolhe uma infinidade de possibilidade de temas, bem como de perspectivas teórico-metodológicas. E é justamente essa diversidade e interdisciplinaridade, bem como o rigor intelectual e interpretativo, as marcas que este dossiê busca trazer aos seus leitores. Por isso, para além do eixo principal “História e Linguagens”, tem-se aqui algo mais amplo que é a relação entre cultura e homem, em diferentes temporalidades e espaços.

Em um dossiê que se apresenta com uma amplitude de temas na área das linguagens e da cultura humana em seus artigos, ainda se destaca, em meio aos estudos teatrais, cinematográficos e imagéticos de maneira geral, a valorização precisamente da imagem em si mesma, para além do próprio texto. Em seu ensaio Mundo Imagem, a ativista e escritora americana Susan Sontag nos diz algo realmente muito impactante: o mundo não é texto, é imagem! A colocação da autora choca de imediato, pois ela é diametralmente oposta a proposta de uma sociedade que se entende essencialmente como letrada e que muito valoriza o conhecimento escrito. Esses elementos são centrais numa concepção iluminista e evolucionista para o que se entende como “moderno”, em contrapartida para o “primitivo” e “não racional” que privilegiaria o oral.

Apesar desse “mito” da modernidade, ao observarmos em longuíssima duração diferentes agentes e grupos sociais, o que se percebe é um constante uso e / ou apropriação de imagens para a produção de discursos político-sociais, religiosos e culturais, e esse é um dos principais elementos de contribuição dos artigos aqui propostos, enriquecidos com discussões também sobre música, literatura, entre outros. Nesse ínterim, justamente para abrir o dossiê, propõe-se a disposição do artigo “Happy Birthday, ‘Sgt. Pepper’: as comemorações de aniversário do mais emblemático álbum dos Beatles”, que constrói análises sobre a relação entre música e recepção a partir da problematização da memória musical e da indústria cultural do país através da análise da imprensa brasileira sobre as comemorações desse álbum dos Beatles.

Dialogando teatro, encenação, ator e literatura dramatúrgica, Dolores Puga Alves de Sousa, André Luis Bertelli Duarte e Rodrigo de Freitas Costa formam uma tríade de discussões historiográficas acerca do universo teatral e televisivo da década de 1960 e 1970 no Brasil. Com o artigo “Análise do espetáculo teatral: a encenação de Gota D´água nos anos de 1970 no Brasil”, Dolores Puga avalia as premissas do diretor Giani Ratto, sua trajetória, ideias estéticas e políticas para esse momento histórico no país. Em “Mirandolina – da Estala jadeira de Goldoni à Favorita do Bairro de Vianinha: adaptação televisiva de um clássico italiano da década de 1970”, André Duarte analisa as historicidades tanto do texto original Mirandolina, de Carlo Goldoni na Veneza dos anos de 1753, quanto às adaptações na TV de Oduvaldo Vianna Filho para o Brasil de 1970. Já no artigo “Ruth Escobar e o início dos anos 1960 no Brasil: a atriz luso-brasileira frente aos desafios do engajamento teatral”, Rodrigo de Freitas Costa propõe um debate acerca do teatro engajado nacional a partir da avaliação da trajetória profissional da atriz luso-brasileira Ruth Escobar.

Na leva de análises cinematográficas, têm-se o diálogo tanto entre cinema e teatro, quanto de cinema e religiosidade. O dossiê apresenta, assim, um colóquio entre produções fílmicas brasileiras dos anos de 1960 e 1970. Inicia com o texto “[In]convenções representacionais em Navalha da Carne (1967 / 1969) de Plínio Marcos: Perfomances da Contraviolência”, de Robson Pereira da Silva, que discute o texto teatral de 1967 Navalha da Carne, de Plínio Marcos, e sua adaptação cinematográfica realizada pelo diretor Braz Chediak, em 1969, compreendendo o Brasil dos anos de 1960 para a década posterior com as análises do chamado “milagre econômico” e o estado de exceção. Já Fábio Leonardo Castelo Branco Brito e Edwar de Alencar Castelo Branco apresentam o texto “Estilhaços, diáspora e desterritorialização: vivências juvenis nos super oitos Por enquanto (1973) e Tupi Niquim (1974)”, abordando análises fílmicas de Carlos Galvão sobre as vivências de jovens teresinenses no Rio de Janeiro nos primeiros anos da década de 1970, os quais compartilharam experiências com o poeta e letrista piauiense Torquato Neto em um processo de desterritorialização geográfica e afetiva.

No quesito cinema e religião, o dossiê apresenta o viés cômico da vida de Cristo, pelo olhar do grupo Monte Pyton e sua obra de 1979, no texto “A Paixão de Brian – uma breve análise do filme A Vida de Brian sob o viés da Paixão de Cristo”, de Tami Coelho Ocar, o qual analisa o estudo de Jesus histórico e suas representações. Complementando esse viés, Lair Amaro dos Santos Faria propõe um debate entre várias produções fílmicas que retratam a narrativa da ressureição de Lázaro, exclusiva do evangelho de João, pelo artigo “A ressureição de Lázaro nas telas do cinema”, abordando a diferença significativa entre os públicos do evangelho e da cinematografia.

Na linha de diálogo entre cinema e televisão, Victor Henrique da Silva Menezes ainda enriquece o dossiê com seu texto “Quando (não) há interesse pela ‘Rainha da Bitínia’. Recepções antigas e modernas da virilidade de Júlio César”, que, embora não trabalhe com a perspectiva religiosa, explora análises da antiguidade e suas recepções fílmicas, problematizando as imagens criadas da figura de Júlio César nas películas e abordando questões acerca da virilidade e do masculino.

Em contrapartida, fomentando análises da perspectiva religiosa na imagem feminina, Juliana Batista Cavalcanti – em seu texto “Um Discipulado CoIgual. Repensando a Categoria de a*delfoiVgunai’ka” –, analisa a função das mulheres no movimento cristão e sua atuação missionária nos paleocristianismos, levantando críticas sobre os silenciamentos da temática pela forma como se estabeleceram as traduções para o português. Em diálogo com análises da imagem feminina, María Cecilia Colombani explora, em seu texto “Los vasos “hablan”: lãs mujeres enimágenes. Mismidad y Otredadenlaficción genérica”, a representação da mulher nos vasos de cerâmica do período arcaico e clássico gregos, problematizando a relação do “mesmo” e do “outro” em uma dada cultura.

Ainda na relação historiográfica com a imagem, o dossiê apresenta artigos no diálogo imagem / poder e imagem / moralidade nas artes visuais, a partir de análises de Portugal e Inglaterra entre os séculos XVIII e XIX. Assim se fundamenta o texto de Rodrigo Henrique Araújo da Costa, “Imagens das realezas do Império absolutista português: um estudo da relação entre o poder político da Coroa e as pinturas dos monarcas portugueses (1706-1826)”, que problematiza a questão das propagandas monárquicas a partir da avaliação das figuras retratísticas oficiais dos reis portugueses, nas pinturas, em comparação às trajetórias das nobrezas reais. E, da mesma forma, se configura o texto de Laila Luna Liano intitulado “Luzes e trevas: a moral ilustrada nas imagens de William Hogarth na Inglaterra do século XVIII”, o qual aborda as obras do pintor e gravador inglês William Hogarth (1697-1764) e o pensamento de moral nele suscitado.

O dossiê ainda apresenta outra análise sobre as terras britânicas, no entanto do século XV, abordando a relação entre imagem e morte. No texto “Da Carne ao Alabastro: formas de mostrar o corpo a partir da tumba de Alice de La Pole (Inglaterra, séc. XV)”, Amanda Basilio Santos explora as representações mortuárias a partir da iconografia presente na tumba transi da Duquesa de Suffolk, Alice de la Pole. A imagem ainda está presente em diálogo com a religiosidade no artigo “O medievo e a função das imagens na liturgia: uma breve tradução cultural do culto de São Francisco da comunidade Nova Assis em Capanema do Pará”, de Leonardo de Souza Câmara e Roberta Alexandrina Silva. Nesse texto, propõe-se fazer uma tradução cultural do culto de são Francisco por meio dos objetos litúrgicos na romaria à comunidade Nova Assis em Capanema do Pará em diálogo com o culto ao santo no medievo. Além disso, a perspectiva religiosa é mais uma vez abordada no texto “A Voz Que Grita no Deserto: João Batista Histórico e Seu Movimento”, de Vítor Luiz Silva de Almeida, no qual se analisa criticamente a trajetória de João (cognominado Batista) e seus seguidores inseridos nos movimentos e agrupamentos sociais de resistência na Palestina romana do século I.

Para finalizar a apresentação, o dossiê se fundamenta de artigos que exploram a literatura em suas diversas relações: seja pela perspectiva religiosa em conjunto com sua recepção, seja pela análise literária em conto ou pela estrutura e teoria literária. Em seu texto “Ireneu de Lyon e a Gnose Paleocristã: o uso do discurso performático em AdversusHaereses – século II EC”, Nathalie Drumond Alves do Amaral problematiza a pluralidade de interpretações sobre os ensinamentos de Jesus de Nazaré na realidade do paleocristianismo do século II, analisando o empenho discursivo como os do bispo Ireneu de Lyon, da região da Gália em sua obra Adversus Haereses.

Ao mesmo tempo, em seu texto “O sincretismo cultural nas aventuras de Pedro Malasartes”, Talitta Tatiane Martins Freitas propõe uma reflexão acerca do arquétipo do anti-herói e malandro, por meio da figura de Pedro Malasartese do folclore presente em seus contos. No texto “A descoberta das estórias como superação: Pingo-de-Ouro e Dito”, Mayara de Andrade Calqui parte de uma perspectiva psicanalítica das perdas afetivas e do luto nas estórias de Guimarães Rosa. Fechando o dossiê, no texto “Para além do velho mundo: problemáticas da dramaturgia comparada no Brasil”, Alexandre Francisco Solano explora o debate da formação da Literatura Comparada no mundo e, posteriormente, na América Latina, para apontar dificuldades e caminhos encontrados na comparação entre obras literárias e apresentações teatrais.

Os temas são ricos e múltiplos. Convidamos a todos a desfrutar desta proposta de enlace entre História, Linguagens, Arte e Sociedade. Tenham todos uma boa leitura!

Talitta Tatiane Martins Freitas – Doutora. Professora substituta no curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS / CPCX). Integrante do NEHAC – Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura. Pesquisadora CNPq do grupo de pesquisa “História Cultural”.

Maria Dolores Puga Alves de Sousa – Professora Adjunta do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS / CPCX). Doutoranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ / PPGHC). Pesquisadora CNPq do grupo de pesquisa “História, Cultura e Sociedade” e do grupo “Universo Dialógico – Grupo de Pesquisa em Cultura, Política e Diversidade”.

Maria Juliana Batista Cavalcanti Miranda Tavares – Doutoranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ / PPGHC). Pesquisadora e Coordenadora da Coordenadoria Cristianismos do LHER – Laboratório de História das Experiências Religiosas (IH-UFRJ).


FREITAS, Talitta Tatiane Martins; SOUSA, Maria Dolores Puga Alves de; TAVARES, Maria Juliana Batista Cavalcanti Miranda. Apresentação. Mnemosine Revista, Campina Grande – PB, v.8, n.1, jan / mar, 2017. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê