Diálogos entre cultura, política e história social / Fatos & Versões / 2019

O que é a história social? Pergunta de difícil resposta, como lembram os autores do primeiro artigo deste dossiê (LANGARO e SILVÉRIO, 2019), que comporta múltiplas possibilidades de solução. Seria ela uma denominação ampla e vaga – características que teriam, inclusive, motivado sua escolha para figurar no primeiro nome da revista Annales (d’histoire économique et sociale) (LE GOFF, 2005) – para um campo vasto da investigação historiográfica, que abarca toda a existência humana e, portanto, uma oposição tão somente à história natural? Seria ela uma proposta de estudos dos seres humanos em uma perspectiva abrangente, como propôs Déa Ribeiro Fenelon (2009), que, ao invés de se separar o estudo das atividades humanas em diferentes compartimentos (história política, história econômica, etc.), buscaria estudar os sujeitos históricos de maneira mais abrangente, em suas múltiplas relações com o mundo em que vivem? Ou seria apenas mais um compartimento historiográfico, onde caberiam os estudos sobre movimentos sociais e de história do trabalho, concepção frequentemente repetida e vulgarizada?

Inquietos com tais questionamentos, os historiadores que compõem este dossiê, perseguiram respostas por meio de seus trabalhos de pesquisa. A ideia central deste exercício de convergência de investigações acadêmicas é contrapor o que a história social é hoje com o que ela pode ser, apostando no potencial de renovação da área. Para tanto, tomou-se como ponto de partida a preocupação fundamental da história social com a compreensão da desigualdade social, em suas relações e articulações com a diversidade cultural.

O resultado foi um dossiê amplo e diverso, com artigos que colocam em diálogo cultura, política e relações sociais. São estudos que evidenciam a vida cotidiana, as práticas culturais de grupos populares, a atuação de movimentos sociais, histórias de trabalhadores e de suas relações de trabalho, e as relações entre campo e cidade. Também 2 composto por investigações que dão conta das maneiras como círculos políticos e intelectuais compreendem o “povo” e o popular – particularmente o povo brasileiro e sua miscigenação étnico-racial – ou produzem reflexões teóricas, com apurados estados da arte, referentes à história social brasileira.

Dentro deste amplo espectro de contribuições, o dossiê foi organizado da seguinte maneira: o primeiro artigo, intitulado “Olhares sobre a história social no e do Brasil Contemporâneo: trabalho, trabalhadores / as e movimentos sociais”, escrito por Jiani Fernando Langaro e Leandra Domingues Silvério, problematiza a trajetória da história social do trabalho e dos movimentos sociais, com base na historiografia do Brasil Contemporâneo. Os autores discutem como, de uma perspectiva mais restrita de história operária, caminhou-se para uma proposta mais aberta, de estudos sobre trabalhadores(as) e movimentos sociais.

O segundo trabalho, de Eduardo José da Silva Lima, intitulado “A luta pela moradia e os Estudos Culturais: invisibilidade e silenciamento em Palmas –TO”, estuda a luta pela moradia empreendia por movimentos sociais na cidade de Palmas, estado do Tocantins. A cidade planejada para ser a capital do novo estado criado no final da década de 1980, durante a Assembleia Nacional Constituinte, não deixou de ser excludente com as populações trabalhadoras pobres. Em uma trama que envolve exclusão social, especulação imobiliária, grilagens de solo urbano, mas também resistências, ocupações e luta pela moradia, o autor problematiza as contradições da dinâmica urbana de Palmas.

Na sequência, Rafael Giovanetti Teixeira, em “Para discutir classe social, o caso da usina açucareira paredão”, discute as relações sociais e de trabalho dos operários dessa usina instalada na cidade de Oriente, estado de São Paulo. Outrora uma fazenda de café sob o sistema de trabalho de colonato, ao longo do século XX, tornou-se uma usina açucareira, transformando as colônias em vilas operárias. Diante desse quadro, o autor questiona como os trabalhadores viveram as transformações operadas nas relações de trabalho, que também implicaram em mudanças nas relações com os locais de moradia e com a dinâmica entre campo e cidade.

Lucas Rodrigues do Carmo, em “Alforrias nos livros de notas de Jatahy: estratégias na negociação da liberdade (1872-1888)”, trata de outro importante tema da história social: a escravidão e os escravizados. Tomando como recorte a cidade de Jataí no período que antecede a abolição, e como fonte de pesquisa documentos cartoriais, o autor trabalha as trajetórias de sujeitos escravizados na cidade, em suas lutas para obterem liberdade. Assim, busca compreender os significados plurais da escravidão no Sudoeste goiano, bem como humanizar a escrita da história sobre este período.

“O Patrimônio e a instituição: desafios na formação e no desenvolvimento das políticas culturais patrimoniais”, é o artigo escrito por Lucas Santana Coelho Fonseca, preocupado em pensar o patrimônio cultural sob a ótica da história social. Enquanto tal, tem como preocupação principal os grupos marginalizados pelas políticas patrimoniais brasileiras, as quais analisa em um estado da arte permeado por uma leitura crítica quanto aos seus (des)caminhos.

O artigo seguinte, de Lucas Rezende Cruz, “Plano diretor de Ewald Janssen: a representação de uma Goiânia dos anos 1950”, traça um caminho pouco usual na historiografia brasileira: ao invés de abordar as propostas para a cidade de Goiânia feitas pelo topógrafo, engenheiro e urbanista Edwald Janssen a partir da história urbana, o autor escolhe a história social como campo conceitual para operar a análise. Dessa maneira, Cruz reflete sobre o lugar dos trabalhadores na cidade industrial vislumbrada e projetada por Janssen, uma proposta de correção dos problemas urbanos da Goiânia dos anos 1950, produto de uma expansão desordenada verificada na década anterior.

Por fim, fechando o dossiê, temos o artigo “‘Miscigenação, arianismo e nacionalismo’: uma análise historiográfica das obras de Manoel Bomfim e Oliveira Viana sobre a formação da sociedade brasileira”. Escrito por Luana Dias dos Santos e Luiz Carlos Bento, o texto trata das formas como Bomfim e Viana concebiam o povo brasileiro, especificamente seu caráter miscigenado, passando por temas como a escravidão e a imigração europeia. Os autores também discutem os nacionalismos e as construções identitárias nacionais forjadas pelos intelectuais cujas obras foram analisadas.

O dossiê constitui-se, portanto, em uma pequena amostragem da diversidade de perspectivas e do amadurecimento das reflexões sobre história social, desenvolvidas após o intenso processo de expansão da pós-graduação no Brasil e as transformações operadas na área nos últimos anos, com a ascensão de novas questões e problemas de pesquisa. Sem pretensões de esgotar o assunto, procura apresentar uma história social renovada, em que temas clássicos se repaginam para dar conta de demandas contemporâneas, dividindo espaço com novas propostas de investigação, emergentes no novo momento histórico inaugurado pelo século XXI.

Referências

FENELON, Dea Ribeiro. O historiador e a cultura popular: história de classe ou história do povo? História & Perspectivas. Uberlândia / MG, UFU, n.º 40, pp. 27-51, jan. / jun. 2009.

LANGARO, Jiani Fernando e SILVÉRIO, Leandra Domingues. Olhares sobre a história social no e do Brasil Contemporâneo: trabalho, trabalhadores / as e movimentos sociais. Fato & Versões. Campo Grande, UFMS, vol. 11, num. 21, pp. 5-26, 2019

LE GOFF, Jacques. A história nova. In: LE GOFF, Jacques (org.). A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 32-84.


LANGARO, Jiani Fernando. Apresentação. Fatos e Versões. Campo Grande, v.11, n.22, 2019. Acessar publicação original [DR]

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História e Migrações /Monções/2017

O Dossiê História e Migrações propõe contribuir para a compreensão da sociedade contemporânea e do ato de migrar.

Segundo Jorge Larrosa (2001-145) o texto dado a ler é um presente. Aqui, é um presente escrito a muitas mãos, dado a ler na amizade e na liberdade, pois a “A amizade da leitura não está em olhar um para outro, mas em olhar todos na mesma direção. E em ver coisas diferentes. A liberdade da leitura está em ver o que não foi visto nem previsto. E em dizê-lo”.

Nessa proposta, refletir sobre o migrante é pensar não somente seus percursos individuais, mas também pensar os intercâmbios sociais e culturais advindos do fenômeno migratório, seja no país/região de onde se partiu tais sujeitos sociais, seja no país/região que os recebeu. Na gama possível de significados para o ato de migrar, vislumbramos, portanto, outros sentidos. Migrar torna-se, entre outras possibilidades de leitura, um fato histórico.

Ouvir as vozes migrantes é como mergulhar em um mundo de trajetórias onde os sentidos de tempo e espaço se desdobram e se multiplicam. Em suas narrativas, falam do espaço onde vivem, referendando espaços anteriormente vividos; falam de um hoje, permeado por um ontem que ainda se faz presente em rostos e imagens como que amarelados pelo tempo, mas não olvidados. Falam, entre outras coisas, do que é sentir-se migrante.

Estas vozes narram experiências que se querem partilhadas e que falam de uma travessia que não se concluiu na chegada ao destino, mas que se perdurou no enfrentamento do novo. Encontrar uma nova cultura, novos códigos e condutas, uma nova língua. Reinventar-se sempre: lidar com a saudade dos que ficaram; superar as dificuldades de adaptação e o preconceito quase intrínseco à condição migrante; conviver com o medo de permanecer, amalgamado ao medo do retorno.

Nesta perspectiva, se “Entrar num texto é morar e demorar-se no dito do dito. […] é trazer o dito à proximidade do que fica por dizer, trazer o pensado à proximidade do que fica por pensar, trazer o respondido à proximidade do que fica por perguntar” (LARROSA, 143), só podemos desejar uma leitura prazerosa e instigante!

Eliene Dias de Oliveira – Professora Adjunta do Curso de História da UFMS/Campus Coxim. Bacharel e Licenciadoa em História pela Universidade Federal de Uberlândia; mestre em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia; doutora pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFGD. Bolsista CAPES PDSE, com realização de estágio doutoral na Università degli Studi di Genova, Itália. Pesquisadora do Grupo de Estudos Trilhas: migrações, fronteiras e gênero e membro da Associazione lnternazionale AREIA – audioarchivio delle migrazioni tra Europa e America Latina, com sede na Itália.

Jiani Fernando Langaro – Professor adjunto da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás. Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, mestre em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU e doutor nesta mesma área pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP.

Referência

LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.


OLIVEIRA, Eliene Dias de; LANGARO, Jiani Fernando. Prefácio. Monções. Coxim, v.4, n.6, 2017. Acessar publicação original [DR]

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História Ambiental: Memória e Migrações / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2015

A revista História em Reflexão chega ao seu volume 9, número 17 e é com grande alegria que escrevo a apresentação desta edição. Iniciativa dos discentes do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados, a revista surgiu com uma proposta arrojada, tendo sido uma das primeiras a circular exclusivamente on-line, apostando, desde seu nascimento, nas novas tecnologias de mídia e na internet. Atualmente esta dinamicidade permanece nas propostas de cada número, sendo o deste dossiê “História Ambiental: memória e migrações”, temas que se entrelaçam e que estão no âmago dos debates públicos contemporâneos. Grandes desastres “naturais”, intensos deslocamentos humanos e a necessidade de se usar a prática de recordar como instrumento de luta política e cultural marcam a passagem do século XX ao XXI. Cabe ao historiador, situar esses processos em sua historicidade, contextualizando-os em sua duração mais longa.

Preocupados com a convergência destes temas, os pós-graduandos em História da UFGD produziram esta edição, organizaram o dossiê e realizaram entrevistas sobre história ambiental. As discentes Marciana Santiago de Oliveira e Ilsyane do Rocio Kmitta entrevistaram Gilmar Arruda, expoente da área, o qual discorre sobre a emergência deste campo de estudos marcado pela interdisciplinaridade. Como bem situa o pesquisador, a área surge nos Estados Unidos da América, na década de 1970, porém, no Brasil, o tema natureza integra os interesses dos estudiosos da história desde o século XIX, preocupados em edificar uma determinada identidade nacional ou mesmo em problematiza-la. O grande problema explorado pela história ambiental, como bem frisa Arruda, é a dissociação que se processou entre seres humanos e natureza, como se a humanidade não fosse parte do próprio mundo natural.

Na segunda entrevista, realizada com Roberto Marinucci, intelectual preocupado com as migrações, temos um importante estado da arte (interdisciplinar) sobre os estudos migratórios. Fenômeno marcante no processo histórico contemporâneo, o pesquisador frisa a grande complexidade envolvendo a mobilidade humana, sobre como os movimentos atuais tem colocado por terra categorias fixas como imigração / emigração / migração. Além disso, destaca como os estudos migratórios estão cada vez mais reconhecendo o migrante como sujeito do ato de migrar, abandonando uma visão economicista que o tratava como uma peça dentro de um sistema de exclusão. Por outro lado, Marinucci também aborda a importância da memória nos estudos migratórios e em como o ato de recordar pode integrar movimentos de resistência dos migrantes, dentro do difícil processo de abandono do lugar de origem e de adaptação ao novo.

O dossiê, por sua vez, traz contribuições de diversos pesquisadores sobre as temáticas em destaque. O primeiro artigo, “Memória e Identidade em um Espaço de Migração: Fronteiras em Santa Rita, Alto Paraná, Paraguai”, de Andressa Szekut e Jorge Eremites de Oliveira, versa sobre a emigração brasileira ao Paraguai. Os autores problematizam as memórias e identidades construídas pelos emigrantes, naquele país, partícipes de um processo de colonização recente. Seu foco reside nas relações identitárias desses sujeitos, especialmente as estabelecidas entre o eu e outro.

Fabiano Silva Santana e Sérgio Paulo Morais, em “Norma regulamentadora 36: pausa, desafio posto pela intensidade do trabalho nos frigoríficos”, analisam as relações de trabalho nos frigoríficos brasileiros. Sua preocupação se centra na “Norma Regulamentadora, nº 36” e nas condições de salubridade do trabalho na indústria alimentícia, enriquecendo com isso os conhecimentos da área de história do trabalho.

José Otávio Aguiar e Hilmaria Xavier, em “Ambiente, vivências e memórias da Favela da Cachoeira (Campina Grande 1959 – 2006)”, analisam a construção da Favela da Cachoeira, na cidade de Campina Grande, iniciada em 1959, edificação que não ocorreu apenas no aspecto físico, mas também no campo dos significados que os moradores imprimiram ao lugar. Os autores analisam também os movimentos em prol de melhorias para o local, culminando na remoção de parcela dos moradores para um novo local na cidade, o Bairro da Glória.

Em “Da imposição à Vocação: A economia da capitania dos Ilhéus nos circuitos mercantis”, Rafael dos Santos Barros desmistifica o suposto atraso econômico daquela capitania, atribuído à falta de participação na produção açucareira. O autor desenvolve a tese de que à região de Ilhéus atribuiu-se a função de produzir alimentos para as regiões monocultoras – prática comum nas regiões periféricas da colônia e do império – existindo severas proibições à introdução da cana-de-açúcar e tabaco.

Giovani José da Silva, em “‘Todo se cambia, incluso el paisaje’: Memórias indígenas e migração camba-chiquitano” une preocupações com as migrações, memórias e história ambiental e indígena em um estudo sobre a etnia Kamba (também conhecida como Camba-chiquitano). Originários da Bolívia, essa população indígena se fixou na periferia da cidade sul-mato-grossense de Corumbá, localizada na fronteira do Brasil com aquele país. Silva problematiza as relações dos indígenas com o mundo natural e as condições inóspitas que enfrentaram no processo de fixação naquela cidade.

Em “Rio Açu, Capitania do Rio Grande: sertão, natureza e espacialidades no Assu seiscentista (1624 – 1680)”, Tyego Franklim da Silva realiza um estudo sobre o período colonial da região de Assu / Açu, Rio Grande do Norte. Utilizando-se de documentos oficiais, crônicas e relatos de viajantes, o autor explora a conquista da região, bem como as relações que ali se estabeleceram entre europeus e povos indígenas e como eles se relacionaram com a natureza.

Dilson Vargas-Peixoto, em “Indícios da alteração ambiental nas crônicas de três viajantes (Rio Grande do Sul, 1808-1827)”, analisa as mudanças ambientais ocasionadas pela introdução de elementos da fauna e da flora europeia do Brasil, no século XIX. Toma como fonte os relatos de viajantes, notadamente Auguste de Saint- Hilaire, John Luccok e Nicolau Dreys, nos brindando com um belo trabalho de história ambiental.

Já na sessão de artigos livres, “O projeto político oposicionista de Assis Brasil nas campanhas eleitorais de 1922 no Rio Grande do Sul”, escrito por Pedro Paulo Lima Barbosa, problematiza os discursos e práticas políticas de Assis Brasil, com foco especial nas eleições de 1922. Como aponta, aquele político se insurgira contra o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) e a candidatura de Borges de Medeiros à presidência do estado, o que lhe daria um quinto mandato consecutivo. Problematiza as intencionalidades da candidatura, pois, embora fosse oposicionista, as posições políticas de Assis Brasil eram muito semelhantes a de seus adversários.

“A fotografia-quadro em imagens de conflitos bélicos: a permissividade à arte contemporânea e à expressão do produtor, nas coberturas fotográficas noticiosas de guerras” é o artigo escrito por Fernanda Rechenberg e Bruno Cavalcante Pereira, em que os autores tomam com objeto de estudo as fotografias realizadas em zonas de conflito armado. Como analisam, formou-se um mercado de imagens violentas, que acabam por contribuir com os discursos ideológicos de grandes potências e que pouco auxiliam na reflexão crítica sobre as guerras. Assim, os autores questionam a veracidade de tais registros fotográficos bem como refletem sobre a permissividade dessa arte no mundo contemporâneo.

Maurício Marques Brum, no artigo “‘Expulsar a esquerda do poder’: Considerações sobre a formação de cadeias de equivalência contra o governo de Salvador Allende (1970-1973) à luz da teoria de Ernesto Laclau”, analisa o contexto político-ideológico do Chile durante o governo Allende. O autor se detém no processo de corrosão dos ideais democráticos, que primevamente sustentaram a posse daquele presidente, e, posteriormente, foram substituídos pela concepção de que um golpe de estado se justificaria como recurso para alijar a esquerda do poder.

Em “Disputas eleitorais em Dourados, no sul do antigo Mato Grosso: influência do contexto estadual e crescimento do PTB nas eleições de 1954, 1958 e 1962”, Fernando de Castro Além nos traz capítulos da história política do município de Dourados, inserindo-a devidamente no contexto do antigo estado de Mato Grosso. Entre suas preocupações está a análise da prática dos mandatários estaduais em impulsionar candidaturas municipais e a rivalidade entre as principais siglas do período (PTB, PSD e UDN), concluindo o autor que houve uma ascensão eleitoral do PTB no município em tela.

Tomaz Espósito Neto, em “Uma análise histórico-jurídica do Código de Águas (1934) e o início da presença do Estado no setor elétrico brasileiro no primeiro Governo Vargas” analisa o decreto no 24.643 de 10 de julho de 1934 (Código de Águas) e consequente processo de ampliação da presença estatal no setor de energia elétrica, no Brasil, tendência dominante no setor até a década de 1990. Entre suas preocupações, está o estudo das motivações que levaram o Governo Vargas a adotar tal medida, bem como os conflitos com os setores do capital estrangeiro, que exploravam o setor no Brasil.

De maneira geral, os temas estudados abordam o Brasil e países vizinhos em diferentes temporalidades, mas buscam responder a questionamentos contemporâneos quanto à formação, uso e apropriação do espaço, às transformações operadas na natureza, à mobilidade humana, às identidades e práticas sociais e políticas construídas por diferentes grupos. Privilegiando os estudos de caso e a dimensão micro espacial, o conjunto de textos nos faz refletir sobre diversos caminhos trilhados por diferentes pesquisadores, que possuem, em comum, o desejo de responder a inquietudes que nos acompanham (e, vez por outra, nos assombram) neste começo de milênio.

Jiani Fernando Langaro – Professor Doutor UFGD.

Dourados / MS / Brasil – Inverno de 2015.


LANGARO, Jiani Fernando. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 9, n. 17, jan. / jun., 2015. Acessar publicação original [DR]

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