História e Migrações /Monções/2017

O Dossiê História e Migrações propõe contribuir para a compreensão da sociedade contemporânea e do ato de migrar.

Segundo Jorge Larrosa (2001-145) o texto dado a ler é um presente. Aqui, é um presente escrito a muitas mãos, dado a ler na amizade e na liberdade, pois a “A amizade da leitura não está em olhar um para outro, mas em olhar todos na mesma direção. E em ver coisas diferentes. A liberdade da leitura está em ver o que não foi visto nem previsto. E em dizê-lo”.

Nessa proposta, refletir sobre o migrante é pensar não somente seus percursos individuais, mas também pensar os intercâmbios sociais e culturais advindos do fenômeno migratório, seja no país/região de onde se partiu tais sujeitos sociais, seja no país/região que os recebeu. Na gama possível de significados para o ato de migrar, vislumbramos, portanto, outros sentidos. Migrar torna-se, entre outras possibilidades de leitura, um fato histórico.

Ouvir as vozes migrantes é como mergulhar em um mundo de trajetórias onde os sentidos de tempo e espaço se desdobram e se multiplicam. Em suas narrativas, falam do espaço onde vivem, referendando espaços anteriormente vividos; falam de um hoje, permeado por um ontem que ainda se faz presente em rostos e imagens como que amarelados pelo tempo, mas não olvidados. Falam, entre outras coisas, do que é sentir-se migrante.

Estas vozes narram experiências que se querem partilhadas e que falam de uma travessia que não se concluiu na chegada ao destino, mas que se perdurou no enfrentamento do novo. Encontrar uma nova cultura, novos códigos e condutas, uma nova língua. Reinventar-se sempre: lidar com a saudade dos que ficaram; superar as dificuldades de adaptação e o preconceito quase intrínseco à condição migrante; conviver com o medo de permanecer, amalgamado ao medo do retorno.

Nesta perspectiva, se “Entrar num texto é morar e demorar-se no dito do dito. […] é trazer o dito à proximidade do que fica por dizer, trazer o pensado à proximidade do que fica por pensar, trazer o respondido à proximidade do que fica por perguntar” (LARROSA, 143), só podemos desejar uma leitura prazerosa e instigante!

Eliene Dias de Oliveira – Professora Adjunta do Curso de História da UFMS/Campus Coxim. Bacharel e Licenciadoa em História pela Universidade Federal de Uberlândia; mestre em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia; doutora pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFGD. Bolsista CAPES PDSE, com realização de estágio doutoral na Università degli Studi di Genova, Itália. Pesquisadora do Grupo de Estudos Trilhas: migrações, fronteiras e gênero e membro da Associazione lnternazionale AREIA – audioarchivio delle migrazioni tra Europa e America Latina, com sede na Itália.

Jiani Fernando Langaro – Professor adjunto da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás. Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, mestre em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU e doutor nesta mesma área pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP.

Referência

LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.


OLIVEIRA, Eliene Dias de; LANGARO, Jiani Fernando. Prefácio. Monções. Coxim, v.4, n.6, 2017. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

História, Fronteiras e Identidades / Monções / 2016

A Revista Monções apresenta, neste número, o dossiê História, fronteiras e identidade. A proposta do conjunto de textos que trazemos aos/as leitores/as parte de uma perspectiva conceitual abrangente no que se refere as experiências de grupos e pessoas em espaços e/ou situações fronteiriças. Em outras palavras, compreende-se fronteira enquanto um termo polissêmico, embora tenha forte ligação com as noções de território, territorialidade e formação da nação, o conceito também abarcar uma enorme gama de possibilidades interpretativas, sobretudo quando se relacionada com culturas, identidades e sociabilidades. Assim, aborda-se a Fronteira como conceito e metáfora, compreendendo-a como algo sempre móvel e que propicia reflexões sobre diferentes percepções de mundo.

O artigo que abre o dossiê é Fronteiras (inter) disciplinares: o ensino de história no contexto das Universidades Novas, de Francismary Alves da Silva. Em sua análise, a autora traça um panorama acerca da constituição das ciências enquanto disciplinas. Ao tratar da especificamente da história, escreve que, no século XIX, “(…) a história se profissionalizou, adotou um método próprio, específico, afastou-se das especulações filosóficas, da estética literária, dos desígnios religiosos, tornou-se uma ciência.” Em outras palavras, os saberes, entre eles a história, constituíram paradigmas teórico-metodológicos próprios.

A análise avança no sentido de apontar, já no século XX, o movimento em prol da interdisciplinaridade, que, mais recentemente, chegou à Universidade brasileira, tanto no que concerne à produção acadêmica, enquanto como conceito; como também aplicado a constituição de licenciaturas e bacharelados interdisciplinares. Sob esta conjuntura, o texto aponta e problematiza questões inerentes à esta nova realidade, particularmente no diz respeito à formação em história. Desse modo, ao tomar a fronteira entre a formação disciplinar e interdisciplinar como objeto de análise, a autora coloca perguntas pertinentes, tais como: os profissionais formados em história (…) poderão atuar com a complexidade e domínio o pensamento histórico requer? O texto traz outros questionamentos igualmente importantes sobre o tema, que valem a pena para entender o cenário atual, vivenciado no interior de algumas Universidades.

Na sequência, o artigo Francisco Adolfo de Varnhagen (1816- 1878): a escrita na “’fronteira” entre história, memória e narrativa no brasil oitocentista, escrito por Marcela Irian Machado Marinho e Renilson Rosa Ribeiro apresenta outra das múltiplas formas que a conceituação de fronteira pode apresentar. O texto analisa a obra de Varnhagen buscando desvendar os compromissos da escrita do Visconde de Porto Seguro com o ideal de nação presente no Segundo Reinado. Caracterizado como “um historiador que se situa na fronteira entre a erudição com a história, a memória e a narrativa”, o artigo revela nuances da tessitura da escrita de Varnhagen, no contexto da criação e consolidação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, e permite ao leitor compreender alguns dos elementos constitutivos da identidade histórica do Brasil, forjada naquele espaço de sociabilidades e de fomento do saber, sob a pena daquele que foi considerado um de seus mais importantes escritores.

No artigo intitulado A diferença entre “nós” e os “outros”: fronteiras e territórios na história do município de Nova Porteirinha/MG, Regina Célia Lima Caleiro e Rhaenny Maísa Freitas abordam a forma como as noções de fronteira e território estão presentes na constituição do município de Nova Porteirinha, Minas Gerais. Além da fronteira física, o texto percorre questões relacionadas à fronteira cultural e identitária, discutindo como o “nós”, relativo à sociedade nova porteirinhense, se forja em distinção ao “outro”, correspondente ao município de Janaúba, que está próximo geograficamente, e Porteirinha, cidade a qual estava vinculada originalmente.

Ao adotar a História Oral como pressuposto metodológico para analisar as entrevistas concedidas pelos moradores do local, as autoras conseguem captar, de forma sensível, a construção identitária do local, formada no bojo do processo de (re)territorialização decorrente da construção da Barragem Bico da Pedra, no Rio Gorutuba e na implantação de um projeto de irrigação destinado a tornar Nova Porterinha espaço de produção de gênero alimentícios de alta qualidade.

Luciano Pereira da Silva e Rogério Othon Teixeira Alves apresentam uma instigante análise sobre a Estrada de Ferro Montes Claros: o projeto de modernidade que não se efetivou. No texto, os autores observam que, a despeito de das características políticas e sociais e de sua condição geográfica de cidade interiorana, Monte Claros não escapou ao desejo de modernização que marcou a sociedade brasileira na passagem do século XIX para o XX. A concretização de tal desejo, segundo eles, se traduziu no projeto de construção da Estada de Ferro Montes Claros que, quando concluída, poderia “tirar a cidade de certo isolamento e atraso”. Por meio da análise de obras memorialísticas e publicações em jornais da época, os autores percorrem todo o processo de planejamento da ferrovia, do início de sua construção e apontam possibilidades interpretativas para sua interrupção. A analisa denota noções, intenções e valores presentes não só em Montes Claros, mas na sociedade brasileira como um todo, no sentido de observar como a inserção no sistema capitalista, simbolizada pela construção de uma ferrovia, alimentava o imaginário em torno de uma certa ideia de desenvolvimento, progresso e civilização caras àquele período.

O artigo de Carlos Alexandre Barros Trubiliano e Kamoni São Paulo, intitulado Apontamentos sobre dinâmicas de fronteiras e a ocupação recente de Rondônia (1970 -1990), se debruça sobre a noção de fronteira geográfica e analisa o processo de ocupação recente de Rondônia. Tomando como referência a obra de Frederick Jackson Turner que estuda o avanço para Oeste nos Estados Unidos, bem como as noções de frente de expansão e frente pioneira, formuladas por José de Souza Martins, o estudo aponta questões relacionadas ao processo de expansão capitalista em direção ao Norte do Brasil, a partir de década de 1970, em particular para a realidade experienciada em Rondônia. O texto destaca o volume de migrantes atraídos para a região e as consequências da política fundiária desenvolvida pelos governos militares que gerou, entre outras, um número significativo de conflito agrários na região.

Rondônia é novamente tema de análise no texto de Eliane Teodoro Gomes e Gilmara Yoshihara Franco, denominado A conquista da última fronteira: a imprensa periódica e as narrativas sobre a ocupação de Rondônia (1960-1980). Nele, as autoras tomam a imprensa periódica, notadamente a revista Veja e o jornal Tribuna Popular, para analisar os sentidos da chegada dos migrantes no território rondoniense, bem como se apresentavam o ideário e os anseios de progresso e desenvolvimento que caracterizavam a Ditadura Civil- Militar e os sonhos daqueles que deixaram seus lugares de origem, em outras regiões do Brasil, e apostaram na conquista de um pedaço de terra no novo Oeste brasileiro.

Percorrendo outros caminhos que o conceito de fronteira permite estabelecer, o trabalho de Márcia Pereira da Silva, intitulado Os “males da mente”: o tratamento das doenças mentais entre o espiritismo e a psiquiatria na primeira metade do século XX no Brasil, mergulha universo dos discursos da medicina convencional e espírita acerca da loucura buscando compreender “as experiências na fronteira entre o que recomendava a psiquiatria e o que defendia os preceitos espíritas”, para o tratamento daquilo que denomina de “males da mente”. Ao analisar fontes e referências bibliográficas que abordam o tema, o texto permite ao leitor observar que, para além da fronteira estabelecida por tratamentos pautados em eletrochoques, lobotomia e isolamento, desenvolveu-se, por intermédio do Espiritismo, outras formas compreender, diagnosticar, enfrentar e tratar aquilo que a medicina ocidental chama de loucura.

Por fim, o artigo de Rita de Cássia Biason, Ética pública e o bom governo: uma tênue fronteira, toma obras clássicas de Platão, Aristóteles, Maquiavel e Hobbes para analisar suas respectivas concepções acerca da formação de bons governos e seu funcionamento a partir de uma ética própria ao Estado. A intenção da autora centra-se sobre o tema da ética na esfera pública. Por intermédio de seu estudo é possível observar como a ética, enquanto conceito, tem concepções distintas no tempo e no espaço e como alguns filósofos a interpretam, com vista a determinar aquilo que entendem como “bom governo” e atuação adequada dos homens que ocupam cargos públicos.

Esperamos que todos e todas apreciem a leitura.

Gilmara Yoshihara Franco

Márcia Pereira da Silva


FRANCO, Gilmara Yoshihara; SILVA, Márcia Pereira da. Apresentação. Monções. Coxim, v.3, n.5, 2016. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

História Urbana /Monções/2015

Com orgulho que apresentamos o segundo número da revista Monções, publicação semestral on-line produzida e editada pelo corpo discente do curso de História do Campus de Coxim da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/CPCX).

Em nosso dossiê temático, sobre Urbanidades, contamos com as contribuições da professora doutora Gilmara Yoshihara Franco cujo trabalho “Confrontos pelo poder: Cuiabá como palco das disputas políticas e o assassinato de Antônio Paes de Barros (1903-1906)” analisa a cidade de Cuiabá com espaço de disputas políticas – nos primórdios da Republica brasileira –, que culminaram no assassinato do presidente do estado de Mato Grosso Antônio Paes de Barros.

Do nordeste brasileiro, contamos com os estudos da doutoranda Hilmaria Xavier Silva e do mestre Felipe Tavares de Araújo Silva, respectivamente os artigos “Sensibilidades urbanas: o lugar do lixo, do sujo e do limpo em Campina Grande (1947 A 1992)” e “Os ritmos que cartografam Natal: as construções de habitações populares na Cidade da Esperança e em Mãe Luíza na década de 1960”, que tem como preocupação pensar as identidades urbanas e suas espacialidades, seja pelo prisma das sensibilidades ou através de analise das políticas publicas.

Pensando os imbricamentos entre modernidade e tradição e seus impactos nas sociabilidades urbanas, temos as contribuições da doutoranda Lenita Maria Rodrigues Calado com o artigo “Campo Grande, MS, e as imagens que produz: o diálogo entre a “modernidade” e a “tradição” em espaços públicos” e dos pesquisadores Elton Alves da Cunha e João Maurício Gomes Neto com o trabalho “Memórias dos tempos de jogar e rezar: relações de sociabilidades e constituição de urbanidades em Rolim de Moura/RO”.

Como pensar a cidade não responde somente a contemporaneidade, o dossiê traz o trabalho “A cidade de Alexandria e suas comunidades político-religiosas na antiguidade tardia (SÉCS. IV E V D.C.)” do doutorando Daniel de Figueiredo, onde leitor irá encontrar um surpreendente debate sobre a diversidade político-religiosa que ocupavam o espaço urbano da cidade de Alexandria.

Por fim, postergo os sinceros agradecimentos ao o apoio e incentivo prestado pelo corpo docente e discente que compõem o Departamento de História da UFMS/CPCX, bem com, o Conselho Editorial da revista Monções.

Carlos Alexandre Barros Trubiliano

Organizador do Dossiê Temático: Urbanidades


TRUBILIANO, Carlos Alexandre Barros. Apresentação. Monções. Coxim, v.3, n.3, 2015. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Representações e identidades / Monções / 2014

Saudações a todos os leitores.

Este é o primeiro número da MONÇÕES: revista do curso de História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – campus de Coxim. A universidade brasileira em tempos recentes vive um processo de franca expansão e interiorização. Este é o resultado dos ventos democráticos que sopram na sociedade brasileira atual. A expansão da UFMS proporcionou o acesso a Universidade Pública ao povo coxinense e de sua região formada por cidades como Pedro Gomes, Rio Verde e Sonora. A Revista Acadêmica de História Monções representa um novo momento do curso de História da UFMS – campus de Coxim. Momento em que o curso de História recomeça um ciclo de produções acadêmicas que o projetará nacionalmente.

O nome da revista faz referência às Monções ou às expedições fluviais, também chamadas de Bandeirantismo Fluvial. Os monçõeiros encontravam em Coxim um importante ponto de parada e reabastecimento para a continuidade da viagem até as margens do rio Cuiabá. A História das monções é caríssima ao Mato Grosso do Sul, pois significa, sobretudo, um elo cultural e histórico entre a região sudeste e Centro Oeste do Brasil. Certamente, não existe nome mais apropriado para uma revista do curso de História da UFMS – campus de Coxim. Este fato confere legitimidade ao nome MONÇÕES que foi escolhido de forma unânime pelo corpo docente da UFMS/CPCX. A Revista Acadêmica de História Monções/História-UFMS segue na esteira do recente “boom” das revistas eletrônicas acadêmicas indexadas e submetidas ao sistema Qualis Capes. Uma política que confere economicidade, agilidade, otimização e ampliação das produções acadêmicas.

O campus da cidade de Coxim sempre priorizou, em seu projeto pedagógico acadêmico, os estudos do Movimento Monçõeiro. Esses estudos possuem como objeto as estórias da comunidade local que se relacionam com essa cultura ribeirinha, assim como os resquícios das monções paulistas. O curso de História também conta com a existência de importante projeto financiado pelo PROEXT intitulado: “monções, patrimônio cultural sul-mato-grossense”. É preciso destacar também a vinculação da Revista Acadêmica de História Monções ao Memorial e Centro de Documentação Regional denominado “Memorial das Monções Henrique Spengler” que recebe turistas, acadêmicos e a comunidade local.

A Revista Acadêmica de História Monções da UFMS/CPCX é uma contribuição para a circulação do trabalho intelectual que precisa sempre de espaços abertos e este é um deles. A profusão do conhecimento através do estabelecimento de veículos editoriais fomenta a pluralidade democrática, afasta as trevas da ignorância (que macula o avanço social) e permite o debate, necessário à consolidação da cultura democrática.

Samuel de Jesus – Professor Doutor. Editor Responsável

JESUS, Samuel de. Apresentação. Monções. Coxim, v.1, n.1, set., 2014. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Monções | UFMS | 2014-2018

Moncoes UFMS Monções

Monções – Revista do Curso de História da UFMS/CPCX (Coxim, 2014-) Trabalhos na áreas de humanidade que pensem os acontecimentos históricos de forma inter e multidisciplinar. Desta forma a revista procura compreender os múltiplos aspectos que envolvem o acontecimento histórico.

A universidade brasileira em tempos recentes vive um processo de franca expansão e interiorização. Este é o resultado dos ventos democráticos que sopram na sociedade brasileira atual.

A expansão da UFMS proporcionou o acesso a Universidade Pública ao povo coxinense e de sua região formada por cidades como Pedro Gomes, Rio Verde e Sonora.

A Revista Acadêmica de História Monções representa um novo momento do curso de História da UFMS – campus de Coxim. Esse é o momento em que o curso de História recomeça um ciclo de produções acadêmicas que o projetará nacionalmente.

[Periodicidade semestral].

Acesso livre.

ISSN 2358 6524

Acessar resenhas

Acessar dossiês

Acessar sumários

Acessar arquivos