História social e mundos do trabalho no Brasil | Revista Piauiense de História Social e do Trabalho | 2020

Referências

[História social e mundos do trabalho no Brasil]. Revista Piauiense de História Social e do Trabalho. Parnaíba, ano VI, n. 10. Jan./jul. 2020. Acessar dossiê [DR]

 

Domínios Teóricos da História Social e da Educação Histórica / Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino / 2019

Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino tem o prazer de apresentar ao público mais um número. São sete artigos e uma entrevista com temas que refletem os domínios teóricos da História Social e da Educação Histórica. Convém realçar que os textos aqui reunidos traduzem a atenção e o cuidado dos seus autores em provocar discussões que contribuam para o avanço e difusão de informações atinentes aos domínios teóricos.

Compõem a Seção de Artigos textos inéditos que reforçam a perspectiva interdisciplinar deste periódico, sendo eles: “A Representação da Cavalaria Medieval na Trilogia “O Senhor dos Anéis”, assinado por Geisy Stephany Lauton da Silva e Daniela Moura Rocha de Souza; “Há uma Lei específica que cria a profissão de professor no Brasil?” Escrito por Genivaldo Cruz Santos; “Alegorias da Justiça e a República Brasileira (Exercício de Leitura Iconológica), de autoria de Manuel Rolph Cabeceiras, Hiram Alem, Mateus Martins do Nascimento, Douglas Magalhães Almeida, José Luiz Rebelo e Renan Cardoso Galvão; “Espaço Urbano de Vitória da Conquista: lugar de oportunidades. Para quem?”, texto que tem como autores Priscilla Sandes Ferraz e Vilomar Sandes Sampaio; “Evolução e Expansão da Educação Superior no Brasil: uma revisão bibliográfica”, de autoria de Iracema Oliveira Lima e Sandra Regina Arruda; “O Sistema de Seleção Unificada (SISU) e a ausência de políticas de permanência estudantil: análise sobre o crescimento do número de convocações na Universidade do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus de Vitória da Conquista – BA”, tendo como autores Ari Fernandes Santos Nogueira, Sheila de Araújo Paiva e Iracema Oliveira Lima; o artigo “Uma dose de História: cachaça de alambique e aguardente de coluna”, Tendo como autores Leonardo Milani Avelar Rodrigues, Andrea Gomes da Silva, Patrícia Beltrão Lessa Constant, Cristiane Patrícia de Oliveira e Alexandre Galvão Carvalho.

Além da seção de artigos, a Revista apresenta uma entrevista com o Professor Demerval Saviani. Fruto de uma conversa estabelecida com a professora Sidnay Fernandes dos Santos, por ocasião do V Seminário Interdisciplinar de Ensino, Extensão e Pesquisa, ocorrido na Uneb, Campus VI, Caetité, nos dias 28, 29 e 30 agosto de 2019, a entrevista apresenta sua trajetória como pesquisador e militante da educação, além de uma série de considerações sobre a importância da Educação como um campo relevante de pesquisa e combate por uma sociedade justa.

Como sempre, desejamos a todos aqueles que acessam e colaboram com a Revista uma excelente leitura! Nossa expectativa habitual é a de facultar aos leitores e aos pesquisadores debates que interessem às Ciências Sociais como a cultura, as diversas linguagens, a educação, dentre outros temas que se encontram em consonância com o que se propõe este periódico.

Genilson Ferreira da Silva

Márcia Cristina Lacerda Ribeiro


SILVA, Genilson Ferreira da; RIBEIRO, Márcia Cristina Lacerda. Editorial. Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.2, n.2, jul. / dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Diálogos entre cultura, política e história social / Fatos & Versões / 2019

O que é a história social? Pergunta de difícil resposta, como lembram os autores do primeiro artigo deste dossiê (LANGARO e SILVÉRIO, 2019), que comporta múltiplas possibilidades de solução. Seria ela uma denominação ampla e vaga – características que teriam, inclusive, motivado sua escolha para figurar no primeiro nome da revista Annales (d’histoire économique et sociale) (LE GOFF, 2005) – para um campo vasto da investigação historiográfica, que abarca toda a existência humana e, portanto, uma oposição tão somente à história natural? Seria ela uma proposta de estudos dos seres humanos em uma perspectiva abrangente, como propôs Déa Ribeiro Fenelon (2009), que, ao invés de se separar o estudo das atividades humanas em diferentes compartimentos (história política, história econômica, etc.), buscaria estudar os sujeitos históricos de maneira mais abrangente, em suas múltiplas relações com o mundo em que vivem? Ou seria apenas mais um compartimento historiográfico, onde caberiam os estudos sobre movimentos sociais e de história do trabalho, concepção frequentemente repetida e vulgarizada?

Inquietos com tais questionamentos, os historiadores que compõem este dossiê, perseguiram respostas por meio de seus trabalhos de pesquisa. A ideia central deste exercício de convergência de investigações acadêmicas é contrapor o que a história social é hoje com o que ela pode ser, apostando no potencial de renovação da área. Para tanto, tomou-se como ponto de partida a preocupação fundamental da história social com a compreensão da desigualdade social, em suas relações e articulações com a diversidade cultural.

O resultado foi um dossiê amplo e diverso, com artigos que colocam em diálogo cultura, política e relações sociais. São estudos que evidenciam a vida cotidiana, as práticas culturais de grupos populares, a atuação de movimentos sociais, histórias de trabalhadores e de suas relações de trabalho, e as relações entre campo e cidade. Também 2 composto por investigações que dão conta das maneiras como círculos políticos e intelectuais compreendem o “povo” e o popular – particularmente o povo brasileiro e sua miscigenação étnico-racial – ou produzem reflexões teóricas, com apurados estados da arte, referentes à história social brasileira.

Dentro deste amplo espectro de contribuições, o dossiê foi organizado da seguinte maneira: o primeiro artigo, intitulado “Olhares sobre a história social no e do Brasil Contemporâneo: trabalho, trabalhadores / as e movimentos sociais”, escrito por Jiani Fernando Langaro e Leandra Domingues Silvério, problematiza a trajetória da história social do trabalho e dos movimentos sociais, com base na historiografia do Brasil Contemporâneo. Os autores discutem como, de uma perspectiva mais restrita de história operária, caminhou-se para uma proposta mais aberta, de estudos sobre trabalhadores(as) e movimentos sociais.

O segundo trabalho, de Eduardo José da Silva Lima, intitulado “A luta pela moradia e os Estudos Culturais: invisibilidade e silenciamento em Palmas –TO”, estuda a luta pela moradia empreendia por movimentos sociais na cidade de Palmas, estado do Tocantins. A cidade planejada para ser a capital do novo estado criado no final da década de 1980, durante a Assembleia Nacional Constituinte, não deixou de ser excludente com as populações trabalhadoras pobres. Em uma trama que envolve exclusão social, especulação imobiliária, grilagens de solo urbano, mas também resistências, ocupações e luta pela moradia, o autor problematiza as contradições da dinâmica urbana de Palmas.

Na sequência, Rafael Giovanetti Teixeira, em “Para discutir classe social, o caso da usina açucareira paredão”, discute as relações sociais e de trabalho dos operários dessa usina instalada na cidade de Oriente, estado de São Paulo. Outrora uma fazenda de café sob o sistema de trabalho de colonato, ao longo do século XX, tornou-se uma usina açucareira, transformando as colônias em vilas operárias. Diante desse quadro, o autor questiona como os trabalhadores viveram as transformações operadas nas relações de trabalho, que também implicaram em mudanças nas relações com os locais de moradia e com a dinâmica entre campo e cidade.

Lucas Rodrigues do Carmo, em “Alforrias nos livros de notas de Jatahy: estratégias na negociação da liberdade (1872-1888)”, trata de outro importante tema da história social: a escravidão e os escravizados. Tomando como recorte a cidade de Jataí no período que antecede a abolição, e como fonte de pesquisa documentos cartoriais, o autor trabalha as trajetórias de sujeitos escravizados na cidade, em suas lutas para obterem liberdade. Assim, busca compreender os significados plurais da escravidão no Sudoeste goiano, bem como humanizar a escrita da história sobre este período.

“O Patrimônio e a instituição: desafios na formação e no desenvolvimento das políticas culturais patrimoniais”, é o artigo escrito por Lucas Santana Coelho Fonseca, preocupado em pensar o patrimônio cultural sob a ótica da história social. Enquanto tal, tem como preocupação principal os grupos marginalizados pelas políticas patrimoniais brasileiras, as quais analisa em um estado da arte permeado por uma leitura crítica quanto aos seus (des)caminhos.

O artigo seguinte, de Lucas Rezende Cruz, “Plano diretor de Ewald Janssen: a representação de uma Goiânia dos anos 1950”, traça um caminho pouco usual na historiografia brasileira: ao invés de abordar as propostas para a cidade de Goiânia feitas pelo topógrafo, engenheiro e urbanista Edwald Janssen a partir da história urbana, o autor escolhe a história social como campo conceitual para operar a análise. Dessa maneira, Cruz reflete sobre o lugar dos trabalhadores na cidade industrial vislumbrada e projetada por Janssen, uma proposta de correção dos problemas urbanos da Goiânia dos anos 1950, produto de uma expansão desordenada verificada na década anterior.

Por fim, fechando o dossiê, temos o artigo “‘Miscigenação, arianismo e nacionalismo’: uma análise historiográfica das obras de Manoel Bomfim e Oliveira Viana sobre a formação da sociedade brasileira”. Escrito por Luana Dias dos Santos e Luiz Carlos Bento, o texto trata das formas como Bomfim e Viana concebiam o povo brasileiro, especificamente seu caráter miscigenado, passando por temas como a escravidão e a imigração europeia. Os autores também discutem os nacionalismos e as construções identitárias nacionais forjadas pelos intelectuais cujas obras foram analisadas.

O dossiê constitui-se, portanto, em uma pequena amostragem da diversidade de perspectivas e do amadurecimento das reflexões sobre história social, desenvolvidas após o intenso processo de expansão da pós-graduação no Brasil e as transformações operadas na área nos últimos anos, com a ascensão de novas questões e problemas de pesquisa. Sem pretensões de esgotar o assunto, procura apresentar uma história social renovada, em que temas clássicos se repaginam para dar conta de demandas contemporâneas, dividindo espaço com novas propostas de investigação, emergentes no novo momento histórico inaugurado pelo século XXI.

Referências

FENELON, Dea Ribeiro. O historiador e a cultura popular: história de classe ou história do povo? História & Perspectivas. Uberlândia / MG, UFU, n.º 40, pp. 27-51, jan. / jun. 2009.

LANGARO, Jiani Fernando e SILVÉRIO, Leandra Domingues. Olhares sobre a história social no e do Brasil Contemporâneo: trabalho, trabalhadores / as e movimentos sociais. Fato & Versões. Campo Grande, UFMS, vol. 11, num. 21, pp. 5-26, 2019

LE GOFF, Jacques. A história nova. In: LE GOFF, Jacques (org.). A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 32-84.


LANGARO, Jiani Fernando. Apresentação. Fatos e Versões. Campo Grande, v.11, n.22, 2019. Acessar publicação original [DR]

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História Social | Em Perspectiva | 2018

Neste número, a Revista Em Perspectiva acolheu investigações que abordam diferentes objetos, fontes e recortes temporais com o intuito de fomentar um debate amplo em torno das potencialidades da área de concentração em História Social. Assim sendo, os trabalhos aqui reunidos têm como foco as múltiplas experiências historicamente construídas por homens e mulheres.

Partindo dessa premissa, Ana Luíza Mello Santiago de Andrade, em Coisas da cidade: as transformações urbanas de São Paulo e seus debates na imprensa periódica na década de 1920, analisa as crônicas publicadas por Plínio Barreto durante a década de 1920 no jornal O Estado de S. Paulo, no período em que ocorriam diversas obras estruturais e nos hábitos cotidianos, para perceber tanto o processo de modernização ocorrido na cidade como também a forma como a imprensa periódica atuava de forma pedagógica para ensinar os habitantes como usufruir da modernidade. Leia Mais

História Social: E. P. Thompson (1924-2014) / História & Perspectivas / 2014

No cerne das discussões a respeito do ofício e das responsabilidades sociais dos historiadores (e historiadoras), colocamo-nos o desafio de organizar e publicar um Número Especial sobre Edward Palmer Thompson.

No ano de 2013, diversas universidades, centros de pesquisa e grupos políticos ao redor do mundo registraram, de diferentes maneiras, os 50 anos de publicação do livro “A Formação da Classe Operária Inglesa” (1963). Entre 2013 e 2014, registram-se, além do cinquentenário desta obra, os 20 anos de falecimento (1993) e os 90 de nascimento (1914) de seu respectivo autor.

A Revista HISTÓRIA & PERSPECTIVAS, sob a responsabilidade do Núcleo de Pesquisas e Estudos em História, Trabalho e Cidade (NUPEHCIT), por meio de seu Conselho Editorial, tem mantido uma política editorial aberta a diversas proposições teóricas e a multiplicidades temáticas, que são próprias da pesquisa em História.

Muito têm nos preocupado as repercussões em torno dos caminhos da profissionalização de historiadores, sobre o ensino de História em seus diversos âmbitos, a necessária relação entre a produção do conhecimento acadêmico e a sociedade, o papel e a importância política do historiador. Enfim, buscamos perscrutar e colocar em pauta as dimensões induzidas pelas questões “História para quem? História para quê?”.

Registra-se, assim, nesta publicação, concepções, temáticas e trajetórias próprias do historiador / poeta / escritor / militante inglês, que dispensam mais apresentações. Porém, em respeito ao diálogo abrangente que marca, como indicamos, a HISTÓRIA & PERSPECTIVAS, optamos por transpor um ponto de vista comemorativo sobre obra de Thompson, ou mesmo panfletário, em relação ao que pensamos ser “História Social”, adjetivação que complementa o título deste número.

O esforço foi o de propiciar aos leitores um conjunto de textos que possibilitassem renovadas discussões sobre experiências sociais, fazer-se de classe, noções de economia moral, perspectivas sobre ação política, valores, religião e direito. Ou seja, debates que animam pesquisadores e teóricos de diversas vertentes das ciências humanas e sociais.

Este Número Especial, portanto, inicia-se com uma carta escrita e enviada por Kate Thompson. Nela, a renomada escritora de livros juvenis, radicada na Irlanda, filha de E. P. Thompson e Dorothy Thompson, escreve algumas palavras sobre a infância vivida em um lar repleto de músicas e de pessoas, e nos apresenta um ambiente caseiro no qual se confundia rotina, política e trabalho com práticas de sobrevivência de um casal de historiadores ingleses e de seus familiares.

Posteriormente, os leitores encontrarão duas seções temáticas centrais intituladas “O historiador: entre a formação e a ação política” e “Produção historiográfica: desafios e conjecturas”.

Josep Fontana, ao iniciar a primeira das duas partes, escreve sobre o impacto causado pelo livro “A formação da classe operária inglesa” e por outras publicações do historiador inglês na Europa. Em sequência, encontra-se o conhecido texto “E. P. Thompson: história e política”, da saudosa professora Déa Ribeiro Fenelon, orginalmente publicado na Revista PROJETO HISTÓRIA, n.º 12.

Na sequência, “Paradoxo e polêmica, argumento e constrangimento: reflexões sobre E. P. Thompson”, profícuo artigo de Bryan D. Palmer, no qual o livro “A formação da classe operária” é analisado de maneira bastante original.

Posteriormente, Dennis Dworkin, em “E. P. Thompson: historiador militante, militante historiador”, retoma aspectos e trajetórias políticas vividas por Thompson frente a algumas de suas produções acadêmicas, algumas ainda inéditas em português.

O quinto texto desta primeira seção, que busca tratar da ação política em conjunto com a produção historiográfica do autor inglês, foi escrito por Wade Matthews, e se intitula: “Escolas de experiências: 1956, a New Left e a formação da classe operária inglesa”.

José Ángel Ruiz Jiménez, autor de um significativo livro sobre a militância de Thompson contra a Guerra Fria, contribui com o artigo “Orgullo de inglés nacido libre: el compromiso rebelde de E. P. Thompson contra el exterminismo”.

Esta parte inicial encerra-se com a tradução de “Diary”, texto de Perry Anderson. Este foi republicado, nos anos 1990, na Revista argentina “El cielo por asalto” com o título “Diario de uma relación. O título preferido por “El cielo” revela, de modo mais claro, o conteúdo deste significativo artigo, no qual Anderson regista controversos momentos de sua amizade com E. P. Thompson.

Produção historiográfica: desafios e conjecturas, como já dito, intitula a segunda seção deste Número Especial, iniciada pelo registro de uma célebre mesa redonda, ocorrida em outubro de 1985, na cidade de Nova Iorque. Naquela circunstância, Eric Hobsbawm, Christopher Hill, Perry Anderson e E. P. Thompson discorreram sobre “Agendas para uma história alternativa” e, ao final, a conhecida historiadora Joan Wallach Scott proferiu um balanço sobre as apresentações. Devemos a Horacio Tarcus e ao Conselho Editorial da Revista “El cielo por asalto”, a cessão deste registro.

O próprio Horacio Tarcus apresenta, sob o título “José Sazbón: perfil de un filósofo secreto”, o autor do artigo que se segue. Falecido em 2008, José Sazbón, um importantíssimo pensador argentino, ainda pouco conhecido no Brasil, apresenta uma densa análise sobre as disputas, concepções e peculiaridades da historiografia materialista da Grã-Bretanha, em um texto intitulado “Duas caras do marxismo inglês: o intercâmbio ThompsonAnderson”.

Em “E.P. Thompson (1924–1993): a religião dos trabalhadores”, Michael Löwy analisa as perspectivas contidas em textos de Thompson que lidam com a religião, indicando influências de Marx e de Weber nas obras em questão.

Michael Merrill, em “A transformação maior. E. P. Thompson, economia moral, capitalismo”, apresenta diferentes conceitos, usos e atribuições sobre a “economia moral”, demonstrando as influências e concepções que o conceito apresenta na obra de Thompson.

“Cursos universitários para jovens trabalhadores e militantes: uma análise a partir da crítica de Thompson da oposição entre educação e experiência”, de Célia Regina Vendramini, trata de cursos universitários direcionados a jovens trabalhadores e militantes de movimentos sociais do campo, especialmente de iniciativa do Movimento dos Sem-Terra, em parceria com universidades públicas brasileiras.

Fruto de uma dissertação de mestrado defendida na linha de pesquisa TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS (PPGHI / UFU), o sexto artigo desta seção traz abordagens sobre as noções de “Teatro e contrateatro”, apresentada por Thompson em Costumes em Comum, para analisar ações de militantes das Ligas Camponesas em Goiás. O referido texto, intitulado “O teatro do poder e o contrateatro dos posseiros: estratégias e resistências na luta pela terra no norte de Goiás 1950 / 1964” é de autoria de Carlos Alberto V. Borba e Sérgio Paulo Morais.

“A noção de experiência histórica e social em Edward Thompson: percursos iniciais”, artigo de João Alfredo Costa de Campos Melo Júnior, traz discussão sobre o livro “Senhores e caçadores”, publicado no Brasil em 1997. Na visão do autor, o artigo joga luz em conceitos centrais da teoria thompsoniana, em especial na razão do processo histórico e no estudo das origens da Lei Negra.

Uma terceira parte registra a famosa entrevista realizada com Thompson, em 1976, por Michael Merrill, representante, à época, da “Mid-Atlantic radical historians organization” (MARHO). Entre diversas passagens, as controvérsias e posições políticas estão presentes, como estão também postas profundas questões a respeito do ofício: noções como experiência, estruturas sociais e estruturalismo, percepções sobre a história social inglesa frente a outras escolas histórias, tempo e temporalidades, assim como o papel do historiador na escrita da história são profundamente debatidos neste diálogo.

Ao final dessas seções, encontra-se a resenha do livro “E. P. Thompson: política em razão”, dos autores Ricardo Gaspar Müller e Adriano Duarte, denominada “A razão rangendo os dentes: teoria e militância em E. P. Thompson”, escrita por Eder Alexandre Martins e Sara Krieger do Amaral (UFSC).

Tentamos, por fim, trazer aos leitores a oportunidade de reencontrar Thompson a partir de pesquisas, de registros e de textos teóricos em que posições críticas estão presentes. Pensamos que um ambiente de contestações faria jus à obra e vida deste autor inglês. Entretanto, percebemos que as diferentes manifestações de generosidade – com o Thompson e conosco – marcaram o fatigante, mas prazeroso trabalho de organização deste Número.

Cabe destacar, portanto, que este Número Especial não se consolidaria sem a contribuição de pesquisadores que responderam positivamente ao arrojado convite para que escrevessem artigos inéditos ou que autorizassem textos sobre E. P. Thompson para publicação. Josep Fontana, Harvey Kaye, Peter Linebaugh, Geoff Eley, Marcus Rediker, Bryan Palmer, Mike Davis, Dennis Dworkin, Wade Matthews José Ángel Ruiz Jiménez, Michael Löwy, Michael Merrill, Horacio Tarcus, Berta Stolioro, María Alicia Gutiérrez, Joana Luiza Muylaert de Araújo, Adriano Duarte, Ricardo Müller, Regina Vendramini, Antônio Rago Filho e vários outros que atenderam prontamente ao chamado e enviaram textos ou palavras de motivação que nos fizeram seguir e concretizar a proposta.

Por fim, devemos louvar a atitude da direção da Edufu (registar que a professora Joana Luiza Muylaert acreditou nessa proposta ainda na forma de um projeto) e notar a presteza e excelente trabalho dos revisores e demais profissionais desta editora. Encaminhar sinceros agradecimentos a todos os pesquisadores, tradutores, discentes e professores do INHIS, do NUPEHCIT, da Linha Trabalho e Movimentos Sociais, do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC), do Grupo de Pesquisa Trabalho, Educação e Sociedade (GPTES) e de outras diversas faculdades e instituições parceiras, com destaque para o Centro de Documentação e Investigação da cultura das esquerdas na Argentina (CeDInCI), para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ao Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE e Núcleo de Estudos sobre as Transformações no Mundo do trabalho (TMT); Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e ao Programa de Pós-Graduação em História PPGH-UEPG e Grupo de Pesquisa Mundos dos Trabalhadores: Culturas, Memórias e Identidades de Classe; e dos professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Campus Marechal Cândido Rondon), do Laboratório de Pesquisa Trabalho e Movimentos Sociais e o Grupo de Pesquisa História Social do Trabalho e da Cidade que colaboraram, assim como os autores, com esse projeto.

Atribuímos agradecimentos às revistas colaboradoras deste projeto: “El Cielo por Asalto” (Argentina), “Recerques: História. Economia. Cultura” (Barcelona) e Projeto História (PUC / SP).

Esperamos ter contribuído com um conteúdo relevante, desejamos uma boa leitura e a ampliação dos debates aqui anotados.

Sérgio Paulo Morais

Editor.


MORAIS, Sérgio Paulo. História Social: E. P. Thompson (1924-2014). História & Perspectivas, Uberlândia, Número Especial, 2014. Acessar publicação original [DR].

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DR

Documentos Judiciais e História Social / História Social / 2011

O uso de documentos judiciais como fonte histórica já está estabelecido na historiografia. Há cerca de quatro décadas, esse material vem sendo abordado por historiadores interessados em resgatar aspectos da fala, da vida e do cotidiano das camadas mais pobres da população, que por muito tempo foram relegadas à margem da História. O potencial dessa documentação abriu relevantes e férteis caminhos de investigação em nossa produção acadêmica, sobretudo, no campo da História Social. Por outro lado, a importância dos documentos judiciais para a pesquisa histórica – e para a formação de cidadãos – revela, de maneira gritante, a indiferença do Poder Público em matéria de arquivamento e preservação. O dossiê “Documentos Judiciais e História Social” propõe-se a discutir esse paradoxo, ou seja, se de um lado o leitor encontrará estudos de caso que mostram, com brilhantismo, as potencialidades da documentação judicial, por outro, deparar-se-á com textos que colocam em relevo a importância desse material.

Assim, logo na abertura, Paulo Afonso Zarth aborda “A importância dos arquivos do poder judiciário para a pesquisa histórica”, destacando sua experiência junto ao acervo do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS). Em busca de elementos para o estudo da história agrária do Planalto Sul Rio-grandense durante o século XIX, Zarth propõe-se a questionar pesquisas que enfatizavam a predominância das plantations na região. Amparado por ampla documentação sobre a estrutura de posse de terra, bens e disputas judiciais, Zarth pôde apresentar uma visão mais aprofundada das relações sociais e econômicas na região destacando-se, especialmente, a presença considerável de pequenos produtores de origem nacional e escravos, ao contrário de uma visão que lançava este porte de unidades produtivas nas mãos de imigrantes europeus.

No artigo seguinte, “O problema de viés de seleção na pesquisa histórica com fontes judiciais e policiais”, Karl Monsma ressalta a necessidade de estabelecimento de metodologia criteriosa para a escolha e tratamento de fontes policiais e judiciais. Ao passo que reforça a importância deste tipo de material de pesquisa, Monsma nos conduz por uma série de fatores que podem condicionar a própria constituição dos acervos documentais e, assim, determinadas escolhas por recortes de fontes, tanto quantitativas como qualitativas, podem influenciar decisivamente nos resultados das pesquisas.

O trabalho de Rita de Cássia Mendes Pereira, “O trabalhador rural nas fontes da justiça do Trabalho (Vitória da Conquista-BA, 1963-1982)”, relata, inicialmente, os esforços do grupo de pesquisadores reunidos no Laboratório de História Social do Trabalho da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (LHIST / UESB), na organização de fontes para o estudo da região à qual pertence a cidade baiana. As atividades de coleta e catalogação do material produzido pela Junta de Conciliação da cidade embasaram a formulação dos problemas apresentados pela autora em relação a utilização dos documentos. O que possibilitou perceber as diferenças quanto à natureza das reivindicações e às estratégias de luta adotadas, pelos trabalhadores que recorreram à Justiça do Trabalho pelo cumprimento da legislação trabalhista e pela ampliação de direitos.

Em “Não só para “inglês ver: justiça, escravidão e abolicionismo em Minas Gerais”, Luiz Gustavo Santos Cota analisa a lei que proibiu o tráfico atlântico de escravos para o Brasil, publicada em 7 de novembro de 1831, e questiona o epíteto atribuído ao dispositivo como algo para “inglês ver”. A partir da pesquisa em processos judiciais, especialmente aqueles produzidos na década de 1880, o autor percebeu que a lei de 1831 serviu de importante instrumento na luta contra a escravidão. Ao observar a mobilização de advogados simpáticos à causa abolicionista e a ação dos mesmos para mobilizar o repertório legal necessário para garantir a liberdade dos cativos, o autor reforça a importância do uso das fontes judiciais para o questionamento de impressões arraigadas na historiografia, e aprofunda os novos desdobramentos de pesquisas que utilizaram este tipo de fontes.

O último texto do dossiê, “A Luta Pela Preservação dos Documentos Judiciais: a trajetória do combate à destruição das fontes a partir da Constituição de 1988”, de Magda Barros Biavaschi e Alisson Droppa, trata de uma longa trajetória da luta pela preservação de documentos que há décadas demonstraram o seu valor histórico e cultural. Os autores detalham a mobilização nas arenas judiciais, legislativas, na imprensa e nas associações de profissionais como magistrados, advogados e historiadores para garantir a permanência de processos judiciais e, em especial, trabalhistas de modo que possam garantir o acesso à informação, à pesquisa, em suma, à cidadania. A defesa do arquivamento integral de nossos arquivos judiciais fica evidente no dossiê.

Certamente, ao deparar-se com as páginas desta edição da revista História Social, o leitor identificará a relevância política e historiográfica dos temas debatidos. No artigo de Zarth, percebe-se que o próprio ato da preservação interferiu diretamente na concepção do objeto, especialmente, em relação à história do “homem esquecido”, tal como também nos é mostrado por Luiz Gustavo Cota. Os caminhos e as dificuldades estabelecidas pelo “viés de seleção” apresentado por Monsma reforçam a necessidade das séries documentais completas. Quanto mais preservado um acervo, ou seja, quanto menor o corte estabelecido para preservação das fontes, mais chances teremos para criar critérios de seleção e análise que resultem conclusões mais sólidas. No caso dos processos judiciais trabalhistas, estudados por Rita de Cássia, observa-se a importância da reflexão e do engajamento de instituições e intelectuais quanto ao uso e à preservação desse material. Nesse sentido, o artigo de Biavaschi e Droppa nos conduz por uma outra história, recente e triste, de uma ampla mobilização pela manutenção destes documentos tão ricos e relevantes para a observação do que nos foi deixado pelo passado e do nosso legado para gerações futuras enquanto grupos organizados transforma História em fumaça. Que este dossiê, “feito de pedra, tijollos, cimento e ferro”, em referencia a fonte utilizada por Zarth, que ajude-nos a salvar o “quanto possível, contra a ação destruidora do fogo, a importante papelada que constitui a garantia da riqueza de todos”.

Samuel Fernando de Souza – Pós-doutorado no CECULT-UNICAMP (2008 – 2012). Professor da Escola DIEESE de Ciências do Trabalho.


SOUZA, Samuel Fernando de. Apresentação. História Social. Campinas, n.21, 2011. Acessar publicação original [DR]

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Perspectivas em História Social / Antíteses / 2008

Editorial

Iniciar uma nova revista apresenta sempre múltiplos desafios, principalmente pela força criadora e aglutinadora que esta empreitada leva implícita, já que não depende apenas de nosso esforço único, mas também da ação coletiva e institucional. Por isso, das atividades acadêmicas seja talvez aquela na qual a longa duração se reflita de forma mais contundente. Em Antíteses, projetos individuais, de grupos e oficiais se encontrarão para dar origem a um produto que levará suas marcas e no qual poderão ser perceptíveis seus humores temporais.

O Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Estadual de Londrina abraçou a idéia desta publicação, já que considera o debate a chave para aperfeiçoar o conhecimento e as revistas como um dos instrumentos mais importantes para constituir uma arena onde autores e idéias sejam colocados à disposição pública e divulgados e, com isso, poderão transpor os limites espaciais e temporais aos quais estamos sujeitos.

O nome escolhido para a revista é a primeira amostra dessa intenção, retomando uma palavra que o tempo tinha ossificado decidimos resgatá-la, mas desta vez livre de interpretações que podem gerar preconceitos teóricos, e de alguma forma brincamos com sua natureza polissêmica. Assim, adotando-a como própria, não pretendemos reviver questões ideológicas há muito superadas, mas registra-o como um dos mais importantes objetivos almejados pela revista.

Para alcançar esse propósito, procuramos interagir com um público acadêmico amplo valendo-nos das novas tecnologias e oferecendo diferentes alternativas de participação e discussão. Em primeiro lugar acreditamos na força dos dossiês temáticos, os quais abordarão uma gama de problemáticas consideradas relevantes. Nos artigos de fluxo contínuo os pesquisadores poderão tratar de temas que julguem meritórios, mas que não estejam contemplados nos dossiês em andamento.

Pesquisadores de notório saber serão convidados a expor suas contribuições nos âmbitos nos quais se destacam. Nesta ocasião, Estevão Chaves de Rezende Martins nos proporciona uma reflexão sobre “Memória e experiência vivida: a domesticação do tempo na história”, tema da aula inaugural que deu início ao período letivo de 2009 em nosso programa de pós-graduação, no qual analisa como os atos humanos de lembrar e esquecer se constituem em procedimentos elementares do conhecimento, da coesão social e, por conseqüência, da história.

Com as seções de notas sobre acervos e fontes de pesquisas, nos propomos a constituir uma ferramenta para que os investigadores possam divulgar suas descobertas, inquietações ou caminhos percorridos e, assim, apresentar aos nossos leitores novas possibilidades no âmbito da pesquisa, já que os acervos, por ocasiões tão ricos, encontram-se, muitas vezes, ocultos dos não iniciados que, dessa forma, poderão encontrar auxílios para trilhar suas próprias sendas, ou pontos de encontro para compartilhar suas experiências.

No espaço reservado às entrevistas, pretendemos divulgar opiniões de personalidades e acadêmicos, privilegiando aqueles que sejam pouco conhecidos no Brasil. Com isso, pretendemos contribuir para que outras perspectivas amplifiquem sua voz.

A seção de debates, uma modalidade que há anos era a favorita dos periódicos acadêmicos e que vem praticamente desaparecendo desse meio, foi retomada com força em Antíteses, como um espaço para a polêmica sadia e necessária, sem privilegiar nenhum ponto de vista em particular, permitindo que todos possam dialogar, respeitando as alteridades, sem perder com isso seu sentido original.

Muitas vezes essa prática foi deslocada para as resenhas, estas, aqui, sem perder seu ponto de vista nem esquecer seu lado crítico, serão reservadas para dar conhecimento de obras com méritos diversos a um público mais amplo. Com as traduções, nos propomos colocar à disposição da comunidade acadêmica textos que, apesar de seu mérito, ainda não hajam sido divulgados em nossa língua. Todas essas seções serão coordenadas por nossa colega Silvia Cristina Martins de Souza e Silva.

Por fim, com a seção Primeiros Passos, que será coordenada pelo professor Alfredo dos Santos Oliva, nos propomos a incorporar novos ares às discussões, incentivando, através de chamadas específicas, a participação de nossos acadêmicos da graduação e da pós-graduação a apresentação de artigos produzidos nas pesquisas realizadas na instituição em suas diversas instâncias.

Falando das concretizações deste primeiro número, gostaria salientar o difícil dilema que nos foi colocado pelo Dossiê “Perspectivas em História Social”, que não era outro senão o de tomar a decisão sobre quais colaborações incluir e quais excluir. De certa forma, toda história pode ser considerada História Social, na mesma medida que toda história é História Cultural. Não existe história não social ou história não cultural. Definir os limites desse corte, portanto, não é nada fácil, razão pela qual decidimos deixá-lo a critério do leitor.

Nesse número, o veio teórico-metodológico aberto por Rezende Martins continua, à sua medida, com o artigo de José D’Assunção Barros, que disserta em “História, narrativa, imagens. Desafios Contemporâneos do Discurso Historiográfico”, sobre um problema que a cada tanto retorna, agora com maior força, por causa dos novos critérios nos processos avaliativos da produção acadêmica. Assim, a preocupação recorrente acerca da tensão entre a liberdade acadêmica, neste caso na produção de textos, e a “objetividade cientifica” é o objeto principal de sua análise, contribuindo com isso para um debate sempre atual.

Adotando diferentes perspectivas, os outros artigos se ocupam de estudos de casos, que manifestam a riqueza da produção nas ciências sociais em geral, num país de dimensões continentais, com objetos e ângulos teóricometodológicos diversos.

César Augusto B. Queirós em “A questão social no Rio Grande do Sul: positivismo, borgismo e a incorporação do proletariado à sociedade moderna” analisa a forma como o Partido Republicano Rio-Grandense, de forte inspiração positivista, durante os governos de Júlio de Castilho e Borges de Medeiros, tratou o movimento operário, num momento de forte agitação social.

O aporte das próximas duas colaborações vai além dos seus objetivos específicos dos autores, já que, através do diálogo interdisciplinar, podemos trazer de volta para uma revista, focada na problemática histórica e editada por historiadores, discussões que no Brasil por diversos motivos estão quase ausentes do debate nesse campo historiográfico, mas que inegavelmente deveriam retornar para poder compreender melhor certos processos.

Assim, Fabiane Santana Previtalli e Andréia Farina de Faria em “Reestruturação produtiva e novas formas de controle no local de trabalho: a experiência da indústria de fumo em Uberlândia / MG” nos brindam com uma abordagem da problemática relação entre novas tecnologias, trabalho e educação num contexto específico, mas que seguramente pode ser interpretada numa perspectiva mais abrangente.

Também desde uma perspectiva sociológica, Luciana da Luz Silva, em “Breve relato histórico da luta por moradia em Salvador: o caso da ocupação Quilombo de Escada” ilustra o conflito fundiário no cenário soteropolitano, não apenas focado nesse aspecto, mas com nuances que permitem inserir a problemática no contexto amplo do quotidiano e da luta pela sobrevivência de amplos segmentos sociais brasileiros, que não se limitam apenas a esse espaço geográfico.

A partir de outro ângulo, mas igualmente focado na problemática que nos é colocada pela exclusão, Mauro Amoroso, através de depoimentos de repórteres, proporciona, em “Memórias do olhar: as favelas do Rio de Janeiro na lembrança dos repórteres fotográficos”, um panorama acerca do papel da imprensa e do discurso foto jornalístico na cobertura de matérias sobre as favelas cariocas.

Esse artigo e os posteriores se ocupam de problemas e utilizam perspectivas que mostram o dinamismo da historiografia brasileira, que rapidamente incorporou as novidades vindas do mundo afora, mas que às vezes se esqueceu ou enviou ao ostracismo assuntos e visões, que, apesar dos justos questionamentos, são medulares na análise social, vista como um todo.

Demonstrando a riqueza desses novos olhares, Raul Max Lucas da Costa se centra, no artigo “Alcoolismo, discurso científico e escrita de si no Diário do Hospício de Lima Barreto”, na relação entre a perspectiva individual e coletiva para tratar de um problema social e médico, que tem despertado um interesse crescente, precisamente por mudar o locus a partir do qual é abordado, pelas diferentes tradições teóricas nos mais diversos tempos e espaços.

A preocupação por questões vinculadas à arte de curar é comum a Patrícia de Freitas que desde a perspectiva de gênero aborda em “‘A mulher é seu útero’. A criação da moderna medicina feminina no Brasil”, as vicissitudes particulares no surgimento de duas especialidades voltadas para a saúde das mulheres como a ginecologia e obstetrícia.

Igualmente com foco no gênero, Caroline P. Leal nos propõe continuar como tema das festas populares em “Carnaval em Porto Alegre: mulheres, entrudo, perseguição e repressão”, resgatando seu surgimento na capital da Província do Rio Grande, ainda no século XIX, assim como muitas das polêmicas que levaram à sua defesa ou condenação.

Já na seção de Notas sobre Acervos e Fontes, contamos com a colaboração de Nancy E. Juncos, colega da Argentina, que oferece, em “El retorno de los Documentos de las Temporalidades de Córdoba al Archivo General e Histórico de la Universidad Nacional” um pequeno, mas significativo, panorama de um riquíssimo arquivo da mais antiga universidade argentina, prestes a completar quatro séculos de existência, e que também foi a cabeça intelectual dos jesuítas no Cone Sul, durante o período colonial tendo, em épocas recentes protagonizado fatos relevantes como a Reforma Universitária, que repercutiu em vários países da América Latina.

Na continuação, Nora Siegrist, também colega da Argentina, elabora uma resenha do livro de Ana María Rivera Medina, Entre la cordillera y la Pampa: la vitivinicultura en Cuyo, Argentina (S. XVIII), e Ana Claudia Ribas nos ilustra a respeito da coletânea organizada por Luiz Fernando Duarte, Maria Luiza Heilborn, Myriam Lins de Barros, Clarice Peixoto, Família e Religião.

Para finalizar, manifesto meu reconhecimento a todos aqueles colegas que se animaram a colocar seus nomes à disposição para dar crédito a algo novo como membros de seus conselhos Editorial e Consultivo, que nos apóiam, e aos quais deveremos prestar contas, esperando confirmar a confiança depositada. Também aos autores, que nos confiaram seus textos, aos consultores ad hoc, que os avaliaram em tempo e que contribuíram com sugestões valiosas para aprimorá-los, demonstrando assim o quanto a criação do conhecimento é dinâmica e fruto do esforço coletivo.

Igualmente devo agradecer aos colegas do programa de pós-graduação por se engajarem na formação dos conselhos, indicando membros tão qualificados, e, em especial, ao seu Coordenador, José Miguel Arias Netto; a Francisco César Alvez Ferraz, agradeço pela organização deste primeiro dossiê; a Célia Regina da Silveira Célia, Isabel Bilhão e Silvia Cristina Martins de Souza e Silva, pela correção de alguns textos; às assistentes editorias, Daniela Reis de Moraes e Manuela Garanhani Lopes de Mello que, no atribulado fim de ano, esticaram seu tempo para se dedicarem a inúmeras tarefas. Sem as suas colaborações, a aspiração de lançar uma nova revista não teria sido possível.

Hernán Ramírez –  Editor

Londrina, dezembro de 2008

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