História Ambiental, Migrações e Globalidades | Fronteiras – Revista catarinense de História | 2022

Há séculos as sociedades estão vivenciando problemas socioambientais, como doenças, epidemias, pandemias, mudanças climáticas, enchentes, tornados, entre outros – que foram catalisados por atos de degradação e não preservação/conservação dos recursos naturais. Tais problemas ocorreram e ocorrem de forma inter-relacionada e em escala global. Como exemplo, podemos citar o mês de janeiro de 2022 – em meio à pandemia de covid-19, durante o aumento considerável no número de casos em todo o mundo por conta da dispersão da variante ômicron – o Brasil foi acometido por enchentes, queimadas e deslizamentos. E também foi assim, perante o cenário do caos e de eminentes crises ambientais, que foi fomentada a necessidade de trazer o meio ambiente para as discussões da disciplina de História. Na década de 1970, surge a História Ambiental, que trouxe uma premissa revisionista tornando a disciplina da História muito mais inclusiva nas suas narrativas do que ela tinha tradicionalmente se apresentado.

O estudo do meio natural pelo viés da História Ambiental Global tem sua relevância redimensionada por questões transversais como: as fronteiras e seus espaços de conflitos; a biodiversidade; o patrimônio que resulta das múltiplas relações entre natureza e cultura; entre outros. Também é importante relacionar estas questões com os estudos sobre os movimentos migratórios humanos e da flora e fauna, os estudos dos aspectos históricos, demográficos e ambientais – presentes na formação dos territórios. Desta forma, através de estudos e discussões que tangenciam os aspectos aqui apresentados, os textos que compõem o Dossiê História Ambiental, Migrações e Globalidades legitimam a necessidade de discutirmos o meio ambiente dentro da História e em escala global. Leia Mais

Povos indígenas, migrações e deslocamentos territoriais/Escritas/2022

A discussão sobre a inconstitucionalidade da tese do Marco Temporal tem estimulado a produção científica em diferentes campos do conhecimento que se dedicam à investigação sobre a relação das populações indígenas e seus territórios. A necessidade de uma maior compreensão sobre deslocamentos, migrações e fluxos territoriais efetuados por populações indígenas em específicos contextos socioculturais – seja em situações de perseguição, subordinação e violência, ou motivados por dimensões cosmológicas e/ou ecológicas, entre outros – complexifica um acirrado debate político atualmente judicializado, que possui como aspectos centrais a territorialidade, a historicidade e as relações interétnicas em processos sociais de resistência e conflitos de curta, média e longa durações. Leia Mais

Fronteiras, Migrações e Identidades nos mundos pré-modernos / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2020

A Ciência da História está interessada em compreender como as sociedades, nas mais distintas temporalidades, produziram para si e para os outros, diferentes formas de orientação e sentido no tempo, tanto para ações individuais quanto para as coletivas. Trabalhando com os indícios documentais e diversas historiografias disponíveis, o historiador consegue propor análises e reflexões que objetivam compreender, entre tantas possibilidades, os mecanismos de identificação, regulamentação social, processos conflituosos ou diplomáticos entre diferentes grupos sociais ou sociedades distintas. Em tempos de interações e conexões entre o local e o global, as ciências humanas tem se dedicado cada vez mais aos estudos das fronteiras, processos migratórios e identidades, de modo a discutir como estes fenômenos relacionam-se com a produção de orientação e sentido no tempo.

O dossiê Fronteiras, Migrações e Identidades nos mundos pré-modernos, proposto pelos professores Dominique Vieira Coelho dos Santos (FURB / Blumenau) e Renato Viana Boy (UFFS / Chapecó), abre espaço para questões dessa natureza, contemplando reflexões interdisciplinares que debatam as complexas relações entre fronteiras, migrações e identidades nos mundos pré-modernos. Reunimos aqui um grupo de seis artigos de pesquisadores e pesquisadoras que se dedicam ao estudo de temáticas situadas cronologicamente antes do período que chamamos de Modernidade, além de uma entrevista com o professor de História da África da Universidade Federal do Paraná, Otávio Luiz Vieira Pinto.

Dois artigos escolheram abordar a temática das sociedades pré-modernas enfatizando Roma Antiga. O primeiro deles, As trocas de correspondências entre Tibério César e a aristocracia senatorial durante seu afastamento para Capri (26 – 37 d.C.): uma análise dos crimes de traição nos Anais de Tácito, escrito por Rafael da Costa Campos, teve como objetivo expor a importância das trocas de correspondências como fundamental ferramenta política e administrativa do Principado. A análise ficou concentrada no período em que Tibério César se afastou de Roma e residiu na ilha de Capri (26 – 37 d.C.). O afastamento do princeps foi um marco de inflexão política em seu governo, e as trocas de correspondências apresentadas por Tácito em seus Anais expõem o seu impacto sob a aristocracia mediante a intensificação dos casos de acusações e condenações pelo crime de traição (maiestas). O segundo artigo, intitulado Uma República degradada: breve estudo da guerra de Jugurta de Caio Salústio Crispo, de Alice Maria de Souza, por sua vez, analisa a obra Guerra de Jugurta, de Caio Salústio Crispo, escrita durante o Segundo Triunvirato. Considerando os elementos exteriores ao texto em si – tais como contexto, objetivos do autor e gênero – interpreta o referido documento não somente como produto de apropriações do passado, mas, também como produtor de novas representações, servindo como veículo de transmissão e ressignificação da memória. Vemos, então, uma problemática envolvendo História e Memória. É o que faz Erick Carvalho de Mello, mas, agora, abordando a temática do celtismo e da celticidade. Sua reflexão, proposta no artigo O Mito e a cultura de memória Celtas: Uma convergência de imaginários, parte do campo da Memória Social, não da Ciência da História, mas, em um constante diálogo interdisciplinar, aborda o papel das diferentes apropriações do que se entende por “cultura celta” na formação das identidades nacionais de grupos como irlandeses, escoceses e bretões franceses. O autor procurou identificar como o mito do celtismo é construído na História recente e como a partir deste mito uma cultura de memória é formada e nos possibilita ter uma compreensão mais aprofundada sobre os conflitos históricos que esses grupos enfrentam hoje, sem deixar de dialogar com a forma como a temática tem sido tratada quando o foco são as populações prémodernas, se decidirmos denominá-las de “celtas” ou não.

O artigo Multiculturalidade e a Christiana Civilitas na Britannia de Guildas (s. VI), escrito a quatro mãos por Helena Schütz Leite e Renan Frighetto, se propõe a discutir sobre as transformações observadas no século VI na Britannia do século VI não sob o prisma da decadência e destruição do mundo romano no Ocidente europeu, visão muito presente na tradição historiográfica sobre o período. Diferente disso, os autores propõem, através do estudo da obra De Excidio Britanniae, de Gildas, perceber a pluralidade cultural que é possível observar ali, e a busca por uma identificação que aproximasse dos diferentes reinos da Britannia na Antiguidade Tardia.

Outro artigo que também lida com a questão das identidades e historiografia é A fronteira entre cristãos e muçulmanos: uma terra de ninguém?, escrito por Márcio Felipe Almeida. Entretanto, o ponto central das análises do autor está no espaço de fronteira disputado por populações cristãs e islâmicas no século XIII. Vale ressaltar que a fronteira, neste caso, não é uma linha divisória entre dois territórios, como se pode pensar à primeira vista. Diferente disso, neste artigo, Márcio Almeida discute a fronteira como sendo, ela mesma, um território pretendido pelos dois grupos em questão.

O último artigo deste dossiê é aquele que avança mais próximo do fim do período chamado de pré-moderno, intitulado A Colonização Oriental e os Processos de Reformulação Rural em Brandemburgo (séculos XII–XIV). Neste artigo, Álvaro Mendes Ferreira se dedicou a analisar o processo de transformações no espaço rural do Europa oriental, ocorridas no período assinalado, em virtude do processo de consolidação do regime senhorial. Tendo os processos na Marca de Brandemburgo como estudo de caso, o autor busca compreender como os vilórios eslavos se enquadravam neste cenário de transformações.

Por fim, apresentamos ainda uma entrevista com o professor Dr. Otávio Luiz Vieira Pinto, que tem dedicado suas pesquisas ao mundo persa e às trocas culturais entre os grupos da costa Suaíli, na África, e os grupos árabes e iranianos do Oriente Médio, entre os séculos VI e XI. Atualmente, Otávio Vieira Pinto é professor de História da África da Universidade Federal do Paraná, pesquisador do Middle Persian Studies (MPS) e do NEMED (Núcleo de Estudos Mediterrânicos), além de colaborador do projeto internacional Networks and Neighbours.

Além dos textos que compõem o dossiê, este número traz também dois artigos e duas resenhas. O artigo de Darlan Damasceno e Gilmar Arruda, intitulado Religiosidade e Natureza: imigrantes ucranianos e a transformação do meio ambiente (Paraná 1890-1915), aborda como a religiosidade dos imigrantes ucranianos atuou no processo de ressignificação e transformação do meio ambiente entre os anos 1890 e 1915, na região centro-sul do Estado do Paraná. As fontes utilizadas pelos autores, indicam que a religiosidade dos imigrantes foi fundamental no processo de (re)construção da realidade social nas colônias, e para moldar o modo de vida dos indivíduos através de esquemas de percepção inscritos em suas ações.

No texto de Cássila Cavaler Pessoa de Mello, De estrangeiro a cidadão: o processo de naturalização instaurado em 1832 e seus limites, a autora discute o processo de naturalização instaurado no Império do Brasil a partir da Lei de 23 de outubro de 1823. Aponta os motivos que estimularam os estrangeiros a buscarem o título de cidadão brasileiro e expõe os trâmites e as dificuldades enfrentadas por aqueles que optavam por se tornar cidadãos. O texto explora tanto a perspectiva estatal, quanto a dos indivíduos neste percurso.

Na seção resenha, temos dois instigantes textos. Um novo estudo sobre a vida de Marx, uma resenha de Daniel de Souza Lemos, trata da obra Karl Marx: uma biografia dialética, publicada no Brasil em 2019, de autoria de Angelo Segrillo, professor de História Contemporânea e coordenador do Laboratório de Estudos da Ásia do Departamento de História, na USP. O texto de Isabel Schapuis Wendling, intitulado Modelando Condutas: uma resenha da obra sobre os poderes nas escolas católicas masculinas no Brasil, resenha a obra Modelando Condutas: educação católica em escolas masculinas de Roseli Boschilia, publicada pelo museu Paranaense em 2018.

Este dossiê e os demais artigos que compõem o número 35 da Fronteiras: Revista Catarinense de História estão fundamentados na proposta de uma história plural, que dispõe de espaço às múltiplas possibilidades de análises históricas de populações, personagens e acontecimentos em tempos recuados, definidos aqui como pré-modernos até a atualidade mais recente, focos dos textos que se enquadram fora do nosso dossiê. Afinal, se a História é a Ciência dos seres humanos no tempo e quem faz História é como o ogro da lenda, que, ao farejar carne humana, vê ali sua caça, para lembrarmos uma célebre reflexão do medievalista francês March Bloch, não é possível nos contentarmos com qualquer narrativa supostamente historiográfica que deixe de contemplar estas outras dinâmicas espaço-temporais tão importantes para compreendermos nossa própria historicidade.

Desejamos uma proveitosa leitura!

Dominique Vieira Coelho dos Santos (FURB)

Renato Viana Boy (UFFS)

Organizadores do Dossiê

Samira Peruchi Moretto (UFFS) Editora


SANTOS, Dominique Vieira Coelho dos; BOY, Renato Viana; MORETTO, Samira Peruchi. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.35, 2020. Acessar publicação original [DR]

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International, transcontinental and intrarregional human mobilities: biopower, migrant strategies, and representations (19th to 21st centuries) / Diálogos / 2020    

This dossier emerges as an initiative of its coordinators and editors –Lai Sai Acón Chan and Ronald Soto-Quirós– who are interested in international migrations and collaborate jointly on a project to recover the historical memory of Chinese migrations in Costa Rica (PREMEHCHI for its acronym in Spanish). This project is led by an international multidisciplinary team of researchers from the University of Costa Rica, the UNED (Costa Rica), the multidisciplinary team on Latin America and the Iberian Peninsula of the Université Bordeaux Montaigne (Bordeaux, France) and the University of Minnesota Morris. PREMEHCHI is based at the University of Costa Rica (San José, Costa Rica) [1].

The dossier of this issue of Diálogos, a journal of the Department of History and the Graduate Program in History of the State University of Maringá (UEM) is a first effort to publish bilingual versions of the same article (English and Spanish or Portuguese) in order to achieve greater internationalization and facilitate the dissemination of knowledge. In this particular case, the dossier focuses on the phenomenon of international migration –or international human mobility – addressed from the perspective of scholars specializing in a wide array of disciplines (history, sociology, political science, cultural studies, cinema, and others), from different geographical locations (Costa Rica, Honduras, United States, France and Spain) and in a wide chronological span (XIX-XXI centuries).

In the dossier title the use of the concept of human mobility has been privileged over the term migration. The use of this term is becoming increasingly frequent nowadays [2]. The notion of human mobility has already begun to be used in different disciplines since the 1960s [3]. According to the International Organization for Migration (IOM), human mobility is a generic term that covers all the different forms of movement of people and implies a wider range of these movements than the term migration (IOM, 2019, p. 91-92).

Similarly, IOM (CEAR, n.d.) defines “human mobility” as the “mobilization of people from one place to another while exerting their right to free movement” and it is a

complex and motivated process for various reasons (voluntary or involuntary), which is carried out with the intention of staying at the destination for short or long periods, or even to develop a circular mobility. This process involves crossing the boundaries of a geographical or political division, within a country or abroad (my translation).

Meanwhile, in her work that analyzes interculturality, Aleida Alavez Ruiz (2014, p. 22) explains that “human mobility” is a

recent concept that allows including under the same umbrella various forms of movement of people such as refuge, asylum, international migration, internal displacement, mobility forced by transnational crimes (human trafficking), and mobility within the framework of integration systems, among others, and is informed by a series of political, cultural, economic and environmental factors, among others, that do not have similar characteristics in all cases […] There are many characteristics of human mobility, both as a human process, the expression of a human right which is motivated by various causes, sometimes with an intention such as taking up residence, as well as a process that involves crossing internal or external geopolitical borders (my translation).

Alavez Ruiz believes that the typology of human mobility can be determined by territory, the causes of mobility, intended destination, the time of permanence, the legal framework that regulates territorial dimension; the willingness of people to move, and the status of their travel documents (ALAVEZ RUIZ, 2014, p. 22-24). Whatever the categories, the same author points out that:

Human mobility is a concept that is linked to the historical process in which individuals or groups decide to move from one place to another based on their interest to settle or reside in a different place from their hometown, informed by various reasons that can range from economic to political, to social, to cultural or to environmental reasons, sometimes voluntarily, other times induced or compelled by circumstances. The history of humanity is characterized by the social nature of movements from one place to another in the search for better living conditions, although humans have also done so as a way of exercising dominion over other communities under the logic of imperialism or hegemonic control of other territories (ALAVEZ, 2014, p. 1, my translation).

Peña and Ausín indicate that human mobility is, at the same time, a value and a right, both from the point of view of individuals and from that of populations (PEÑA, AUSÍN, 2015, p. 9-45). Alavez reaffirms the idea of human mobility as a right:

In modernity, mobility is limited to the exercise of the human right of every person to migrate, which includes positive transformations that reduce inequalities, inequities and discrimination, for which no human being should be identified or recognized as illegal because of their migratory condition (ALAVEZ RUIZ, 2014, p. 21, my translation)

Understanding human mobility a process, a value and a right, and as such in this dossier we have been concerned with correlating it especially with another well-known concept: the term biopolitics –understood here as power practices for the control of life and bodies [4]. As Zandra Pedraza (2012, p. 95-96) rightly indicates:

I attribute the widespread use of the notion of biopolitics [. . .] to the links that this category has contributed to tend between the practice of governing, the body as a historical and political entity, life conceived as a state responsibility and the sense of the exercise of power when it is directed to “make live”. [. . .] The elements involved in this exercise – the practice of governing, the body as a historical and political entity, the life assimilated to state responsibility and the sense of the exercise of power – did not usually relate so closely before the notion of biopolitics that Michel Foucault revitalized in the seventies came into circulation. (my translation)

This notion of biopolitics is linked to another concept inevitably conceived by the same French philosopher, that of governmentality: a term to understand a specific way of exercising power or, the rationality proper to a government of the people. It is a form of political rationality that came into being in the 17th century and took a definite shape in the 18th century. This rationality is based on two fundamental elements: a series of specific government apparatuses and a set of knowledges, more precisely of knowledge systems (LASCOUMES, 2004; BOTTICELLI, 2015). As Paul Rabinow and Nikolas Rose (2003) point out in their interpretation of Foucault:

Biopower, we suggest, entails one or more truth discourses about the „vital‟ character of living human beings; an array of authorities considered competent to speak that truth; strategies for intervention upon collective existence in the name of life and health; and modes of subjectification, in which individuals work on themselves in the name of individual or collective life or health.

In this way, by stating all those elements –authoritarian voices that elaborate upon discursive lines, devices based on those discourses and modes of subjectification– we can conceive of human mobilities as spaces for the exercise of biopower. Thus, human mobilities can also be interpreted in the light of biopower’s own purposes. In this regard, Valera Barrios (2014, p. 18, my translation) explains: “Since the eighteenth-century governance and biopolitics have been moving towards the differentiation, homogenization and functional articulation of human corporeality.”

The link between biopolitics and migration –and in a broader sense “human mobility”–is thus very suggestive [5], as pointed out by French researcher Solange Chavel (2015, p. 30-31):

the concept of biopower defined by Foucault as a key element in the study of migration, specifically at two different levels: the concept invites to unveil the “biological” hypotheses (related to what is considered “normal” to life and health ) or biopoliticies that justify, to some extent, the emergence of migration policies and control measures. It displays the plethoric organic metaphors that adorn the discourse on the regulation of migration and interrogate its foundations. Besides, in a more radical move, the concept allows one to question in a self-reflexive way the use of the term migration to qualify a certain type of human mobility. Describing some displacements on the earth’s surface as mere migrations represents a normative positioning that is not in any way bland. It implies accepting as natural a certain number of institutional arrangements that could well be discussed. In other words, the concept of biopower can help us identify certain blind spots of both scientific and political discourses about the migration phenomenon (my translation)

In this sense, our dossier is organized in four main axes. The first axis is concerned about historical cases of human mobilities considered as international transcontinental diasporas, their relationship with biopower devices, the different strategies of individuals in receiving countries and the representations that were generated around migrant individuals or populations. A second part analyzes human mobilities and their incidence and relationship in the generation of identity, national and homogenizing narratives and the possible institutional biopolitical control tools that are generated. A third section of the dossier specifically addresses the issue of continental intraregional human mobility with historical interpretation, but highlighting very contemporary cases, thus official speeches, biopower mechanisms and subjectivities involved are re-analyzed. Finally, the last section focuses on representations in the visual arts (film and television) of different types of human mobility and in very diverse geographical and chronological spaces.

In the first section of the dossier, the first two articles focus on migrant groups arriving in Costa Rica (Central America) between the end of the 19th century and until 1950: a study by historian Ricardo Martínez Esquivel and another one by Professor Lai Sai Acón Chan, both from University of Costa Rica. Martínez Esquivel carries out a prosopographic and social network analysis on the Syrian-Lebanese emigration processes to Costa Rica at the turn of the 19th to the 20th century; the mechanisms of social insertion used by this migrant group; and the relations between the Syrian-Lebanese and the Masonic sociability networks during the first half of the twentieth century. It concludes with an analysis of the active participation of Syrian-Lebanese immigrants in a process of readjustment of the social relations of the State and their contribution to forging new cultural representations of nationhood in the country.

For her part, Professor Acón Chan performs an innovative exercise on the degree of kinship that existed between several families of Chinese origin who settled in Nicoya (North Pacific of Costa Rica) and analyzes how it influenced their contributions to the socio-economic development of the city and the immigrants mobility patterns throughout the Costa Rican Pacific from the end of the 19th century until mid-20th century. The participants of the study were descendants of immigrants who took root in Nicoya between 1880 and 1950 and had two peculiarities: they belonged to the same family clans despite the different surnames with which they were registered or came from the same geographical area and sometimes even from the same village, which developed affinity ties as strong as consanguineous ties. This allowed them to support each other to achieve the collective development of the Chinese immigrant group in Nicoya.

Finally in this first section, Costa Rican historian David Ignacio Ibarra Arana, also from the University of Costa Rica, analyzes the representations of overseas Chinese. However, what is particular about it is that the study of these representations is done from the perspective of the country of origin. In the context of the Cold War, reports of conferences related to the Huaqiao, or overseas Chinese, analyzed between 1951 and 1953 are addressed. This was an initial period of divided policies towards Chinese communities abroad, by the government of the People’s Republic from China and the Guomindang, in Taiwan. More than supporting Chinese populations abroad, who faced dynamics of exclusion and discrimination in the countries where they resided, these Chinese governments found in the overseas compatriots a scenario to fight for their loyalties through political speeches and strategies.

A second batch of our contributions addresses human mobility, its relationship with identity configuration, and biopolitics. The component of homogeneity and the homogenization characteristic of biopolitics is evident in the contributions of Professor Mimi Yang of Carthage College (Kenosha, Wisconsin, United States) and American scholar Bradley Safarik of Science Po Bordeaux (Bordeaux, France). Yang proposes an interesting reflection that criticizes the monoculturalist American identity and postulates a multicultural and multiracial identity, shaped by the history of immigration. The author dissects the American Dream under the lens of both WASPs – White Anglo-Saxon Protestant – and non-WASPs immigrants, particularly in the mid-19th century. By correlating cultural duality and double consciousness through the lens of WASPs, later immigrants, nativists, and African-American culturalists, the document proposes the existence of a malleable and evolving American cultural identity, constantly (re) configured by successive waves of immigrants.

Following the case of the United States as well, but with a comparative perspective, Safarik relies in particular on the study of authorities that produce narratives on human mobility. In this way, the author considers that the president of the United States, Donald Trump, and the president of Brazil, Jair Bolsonaro, use political speeches and anti-immigration policy as a political tool to attract and strengthen their constituencies. In both cases, the campaign’s speech was transmitted to the administration. The implications of this strategy for the public perception of immigrants are examined based on Michel Foucault’s theories on biopower and biopolitics and their mobilization through political discourse and public policies.

Regarding the causes, characteristics, devices, strategies and subjectivities related to human mobility, a third section of our dossier focuses on the study of the continental-intraregional displacements of Central Americans towards the United States. First, the Honduran researcher Vladimir López Recinos provides a study with a historical perspective that analyzes the link between immigration and emigration to explain the particular case of migratory movements from Honduras to the United States of America (USA). With the analysis of figures, testimonies, and historical information collected and systematized, the environment of the first migratory practices is reconstructed to then locate the breaking point and / or transformation of a migration of a meager nature to a more compulsive one that is currently being developed in a context of migratory anarchy.

On the other hand, the Costa Rican sociologist Guillermo Acuña González of the National University of Costa Rica deals with the relationship between recent Central American regional mobility processes, the features of subjectivities that respond and the control actions to deter migratory processes. In this vision of human mobility in the light of governmentality, the researcher addresses some angles of the approach to the autonomy of migration and provides specific examples in which these relationships are present.

Finally, in the interest of exemplifying the transmission and dissemination of narratives about human mobility, the fourth and final axis of our dossier deals with representations in television and cinema. First, the historian Oscar Álvarez Gila of the University of the Basque Country-Euskal Herriko Unibertsitatea (UPV/ EHU) analyzes the phenomenon of Spanish exile. During the Spanish Civil War, the Basque regional government proceeded to evacuate the child population to other European countries. The memory of this childhood exile began to be recovered during the 1960s, both in Spain and abroad. This article establishes a comparison between the two earliest representations of Basque child exile on the screen. On the one hand, the novel (and later film, from 1969) The other Guernica tree, which reflects the discourse generated on this particular exile in Franco’s Spain, is analyzed. On the other hand, a 1963 chapter of the Route 66 American television series whose protagonists were Basque exiled children is analyzed. In the comparison between both representations the similarities and differences are identified, as well as the different political context in which they fit.

Secondly, and finally, Andrea Cabezas Vargas, a researcher and professor at the Université d‟Angers (France) and a specialist in Latin American cinema, explains how cinema, as well as television, the press and other media contribute to forging social and cultural imaginaries as Bourdieu demonstrated it extensively in Langage et pouvoir simbolique (2001) and Chomsky in La Fabrication du consentement (2008). However, by portraying social phenomena, the cinema not only builds an imaginary but also contributes to the creation of film archives with which constructs as well as reconstructs a part of the story. That is the position of the author who, making Ferro‟s (1993, 1977), Kracauer (1969, 1973), and Billard‟s (1982) postulates her own and with the philosophy of history, intends to analyze to what extent contemporary Central American cinema can be considered as a form of construction or reconstruction of the memory and history of Central American migrations in the first two decades of the 21st century.

Notas

1. For more information about this PREMEHCHI project, check http://premehchi.ucr.ac.cr/

2. To learn more about the change from the concept of migration to mobility as a general category, see, for example: (PELLERIN, 2011). To learn more about the interest of changing the word from “migrations” to “mobility” and the interest of the formulation of the “mobility turn” –the change of perspective that invites us to be less interested in fixed entities than to dynamic processes and to study social changes for themselves, rather than seeing them as transient states between an exit point and an arrival point–, see: (CHAVEL, 2014).

3. Regarding the evolution of the concept of human mobility already used since the 1960s and 1970s until today, see: “Chapter 1. Human Mobility: An Issue of Multidisciplinary Research.” (MONTANARI; STANISCIA, 2016 p. 1-24).

4. We must remember the various uses of the term biopolitics (KECK, 2008).

5. Some examples of authors who have addressed the issue of biopolitics and migration are (PARRINI, 2015 and SOUZA LIMA FARIA, 2017).

References

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January 2020, Bordeaux (France) and San José (Costa Rica)

Lai Sai Acon Chan –  Universidad de Costa Rica, Costa Rica. E-mail: [email protected]

Ronald Soto-Quiros –  Université Bordeaux Montaigne, France. E-mail: [email protected]

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Deslocamentos populacionais, migrações de crise e refugiados | Monções – Revista de Relações Internacionais | 2019

O início do século XXI pode ser marcado de diversas formas. Podemos elencar: as guerras ao terror, e suas graves consequências; a popularização da internet, e todas suas decorrências; a consolidação da China como ameaça à hegemonia das grandes potências ocidentais sobre o mundo, e seus impasses. Qualquer uma delas, ou outras que não inserimos aqui, não pode ser enxergada apenas como uma virada de página de um século para outro. Da mesma forma ocorre com as migrações internacionais, com suas variadas formas, estratégias, repercussões e impactos. As atualizações que esses movimentos populacionais estão sujeitos são marcadas, também, pelas assimilações que obtiveram a partir daquelas novidades que mencionamos.

Sem dúvida, os movimentos migratórios internacionais se avolumaram, isso em função, também, do aumento de guerras e catástrofes ambientais, principalmente nos países mais pobres. Consideramos que isso tenha ocorrido como consequência de uma somatória de elementos que aqui é difícil de ser resumida. Além dos conflitos e das tragédias, ocorridos por motivações internas ou externas a cada país, as formas como os vizinhos reagiram ou não, os posicionamentos políticos das nações mais desenvolvidas, as rotas que foram abertas ou consolidadas, as estratégias de sobrevivência e de administração dos recursos para chegar a um destino são apenas alguns dos pontos a constar nas observações. Há outros, diretamente ligados aos países em que escolhem, ou não, para sua reconstrução. E, neste ponto, reside aquilo que Michel Foucher denominou por obsessão pelas fronteiras, que pode ser entendida como uma expressão de endurecimento de práticas de controle por parte dos estados nacionais envolvidos. Mas, também, como uma atualização da governamentalidade ensinada por Michel Foucault, que se expressa, por exemplo, na seleção de ‘bons imigrantes’, que ocorre há muitos anos. Leia Mais

Migrações: perspectivas e avanços teórico-metodológicos / História – Debates e Tendências / 2019

Veem-se os emigrantes partirem uns após os outros, veem-se os imigrantes chegarem uns atrás dos outros e uns seguindo os outros, mas só se compreende o que é a emigração lá e o que é a imigração aqui, posteriormente, quando o processo já está bem encaminhado, quando a duna já está formada.

A Imigração, A. SAYAD

E / imigração e refúgio estão na pauta central das discussões e políticas de Estado – especialmente na União Europeia e nos Estados Unidos –, resultado da pressão política e das demandas sociais, do aumento dos deslocamentos populacionais e multiplicação de campos de refugiados, somado às crescentes manifestações de ódio contra os imigrantes. As respostas da sociedade de recepção e as medidas implementadas pelos governos são múltiplas e variáveis: há o acolhimento, imigrantes “desejáveis”, políticas de proteção e inserção do imigrante / refugiado; mas também há movimentos de xenofobia, o endurecimento das leis imigratórias e o fechamento das fronteiras – simbolicamente, via adoção de uma postura anti-imigração, e fisicamente, com policiamento, construção de cercas e muros. Leia Mais

Migrações, fronteiras e espaços / Contraponto / 2019

O presente dossiê da revista Contraponto tem uma temática prenhe de gerúndios. Ao longo desta edição será possível localizar a fluidez do tempo de migrantes, as porosidades e deslocamentos de fronteiras e mutantes delimitações espaciais, tudo isso em sintonia com aspectos históricos e seus agentes. A máxima, tudo que é sólido desmancha no ar, cunhada por Karl Marx no século XIX, e discutida por Marshall Berman nos estertores do XX, continua fazendo sentido nos caminhos da modernidade e de suas frenéticas metamorfoses.

O frisson de um tempo acelerado que desconserta gerações está na ordem do dia em nossa era tecnológica. Os feitos burgueses do século XIX hoje parecem brincadeira de criança. As conexões entre sociedades vêm ganhando cada vez mais um caráter global, com suas distancias / fronteiras abolidas diante do tempo real das comunicações, da internet, dos meios de transporte cada vez mais velozes. O tempo histórico vem se tornando dramaticamente global e conectado. As conquistas desse início de século soam como tramas futuristas, que Felippo Tommaso Marinetti talvez tenha sonhado em seu manifesto de 1909, prenhe de uma sociedade em progresso permanente, sem distancias e / ou diferenças. Mas, ao que tudo indica, os futuristas estavam equivocados. Na contramão da esperança “moderna” do capitalismo, facilmente encontrada em propagandas de bancos e redes de tv, o mundo vive tempos cada vez menos igualitários, onde preconceitos e diferenças se exacerbam. As grandes redes sociais e aparatos tecnológicos tem fornecido eco para ideias autoritárias e violentas.

Em sintonia com o atribulado tempo presente, esta edição da Revista Contraponto trará estudos que discutem problemáticas migratórias, fronteiriças e espaciais, privilegiando seus jogos de escala, na perspectiva metodológica clássica de Jacques Revel. O dossiê será aberto com o artigo “Mulheres e migração internacional: vivências de agricultoras familiares de Itapuranga-GO”, de Flávia Sousa Oliveira, que nos oferece um estudo sobre a conformação de fluxos migratório a partir de uma pequena cidade do interior de Goiás (cerca de 24 mil habitantes), para países como Estados Unidos, França, Portugal, Japão e Inglaterra. A temática das movimentações de trabalhadores contemporâneos e suas conexões internacionais também estará presente no artigo “Ser daqui e allá – Comunidade transnacional e Redes de migrantes paraguaios em São Paulo”, de Vanessa Kely Domingues, que apresenta uma discussão sobre as possibilidade de recomposição de laços comunitários e culturais na sociedade de destino dos migrantes na grande metrópole. Seguindo linha semelhante, figurará o artigo “Para além das fronteiras físicas: apontamentos acerca da imigração haitiana para o Oeste do Paraná”, de Joselene Ieda dos Santos Lopes de Carvalho, que trará como temática a dramática saga de migrantes haitianos pelo Brasil, especialmente daqueles que se dirigiram para o oeste do Paraná, investigados através de técnicas de História Oral, cujas referências fornecem pistas sobre seus caminhos, agencias e escolhas.

Dando continuidade ao dossiê, será apresentado o artigo “Fuga do Inferno Vermelho: imigração de ‘Russos da China’ para o Rio de Janeiro (1949-1960)”, de Gabriel Dias Cavalcante Mauro, que trata da interessante trajetória de migrantes russos oriundos da China, que se deslocaram até a cidade do Rio de Janeiro. O estudo também faz uso de técnicas de História Oral, dando voz à três imigrantes que contam detalhes de suas trajetórias e “estranhamentos” culturais. O artigo seguinte tratará também da densidade de deslocamentos internacionais, presentes no estudo intitulado “Um imigrante chamado Koutakusei”, de Franco Lindemberg Paiva dos Santos, que apresenta referências de uma trajetória migratória relacionada ao panorama geral da vinda de trabalhadores japoneses ao Brasil, descrevendo uma agencia individual (de Koutakusei) sem perder de vista a dimensão macro do processo em tela. Ainda tratando da temática da migração japonesa, segue o artigo “Os meandros da imigração japonesa para a América Latina: das políticas abolicionistas ao “ideal de branqueamento” na gênese dos discursos identitários nacionais no final do séc. XIX”, de Diego Avelino de Moraes Carvalho, que amplia o debate, relacionando-o com demandas das políticas de Estado no Brasil, analisando referencias da formação da identidade nacional e seus interesses no final dos oitocentos, extensível ao período pós-abolição.

Em sequência será exposto o artigo “‘Quando eu vim do sertão…’: Luiz Gonzaga e o baião – o fazer-se de dois migrantes”, texto de Ruberval José da Silva, onde mostra a trajetória migrante do cantor e compositor Luiz Gonzaga, trajetória essa justificada pelo autor como sendo de importante contribuição na formação da carreira do cantor nordestino. Felipe Soares, no texto “‘Histórias de beira de estrada’ – memória e história da ditadura na Amazônia da década de 1970”, aprensenta o processo de colonização da Amazônia no período dos governos militares como uma estratégia de controle dos conflitos ocorridos na região. “Migração, exílio e fronteiras: a narrativa de Ruffato em Flores Artificiais”, texto, resultado da pesquisa e produção de Icaro Carvalho, apresenta a busca pela compreensão do movimento de migração como um fator de pertecimento, ou de exclusão, a partir da obra Flores Artificiais, de Ruffato. Patricia Roque Teixeira das Chagas Rosa, é autora do texto “Deslocamento e reconstrução identitária no romance Quarenta dias”, que discute descolocamento a reconstrução indentitária a partir da análise do romance Quarenta dias (2017) da escritora Maria Valéria Rezende. Selma Antonia Pszdzimirki Viechnieski apresenta o texto intitulado: “As fronteiras identitárias no primeiro centenário da colônia amola faca (Virmond)”, uma colônia de poloneses fundada em 1921, espaço que expõe características da cultura polonesa, como o catolicismo. O texto discute a cultura como móvel, em transformação, estudando a identidade étnica, e o multiculturalismo.

Teresina-PI, dezembro de 2019.

Dr. Antônio Alexandre Izídio Cardoso

Me. Márcio Douglas de Carvalho e Silva

Me. Bruno de Souza Silva

Organizadores


CARDOSO, Antônio Alexandre Izídio; SILVA, Márcio Douglas de Carvalho e; SILVA, Bruno de Souza. Apresentação. Contraponto, Teresina, v. 8, n. 2, jul / dez, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Migrações, pesquisa biográfica e (auto)biográfica | Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica | 2018

O tema das migrações humanas e os enfoques biográficos e (auto)biográficos revestem-se hoje à escala global de uma atualidade e pertinência incontestáveis. Vivemos no presente a era das migrações, caraterizada por deslocamentos maciços de migrantes econômicos e refugiados, escapando à miséria, conflitos armados, alterações climáticas, seca e seus impactos alimentares em várias zonas do globo. Simultaneamente, é notória uma generalização de presentificações biográficas por parte de pessoas comuns no espaço público, em função da acessibilidade a novos meios de comunicação, redes sociais, e a uma “condição biográfica” dos nossos tempos. Há também a democratização de expressões autobiográficas por parte de classes sociais e grupos diversificados que evidencia uma “tendência biográfica” (RENDERS, HAAN, HARMSMA, 2017)1 a requerer a atenção de leigos e analistas sociais. Leia Mais

Migrações e Fronteiras Amazônicas / Fronteiras – Revista de História / 2017

Nos últimos anos, a região amazônica tem se destacado como um campo de estudo em expansão, fruto do interesse de pesquisadores e pesquisadoras que têm se ocupado com temáticas amazônicas consolidadas e emergentes, bem como com populações originárias ou recém-chegadas à região. O interesse deve-se também às mudanças em curso na região, as quais obviamente estão relacionadas com as outras regiões do Brasil, com os países amazônicos vizinhos e com a comunidade internacional. A região amazônica é a maior área com cobertura vegetal na América do Sul. Nela vive a maior parte da população indígena brasileira e é falada a maioria das línguas indígenas. O Polo Industrial de Manaus consolidouse como um dos principais centros econômicos da América Latina. A Amazônia é, pois, uma verdadeira fronteira interna, cultural, social, econômica e ecologicamente falando. As migrações que se destinam para lá são marcadas, assim, por encontros e desencontros humanos, pois afeta constantemente a vida das comunidades assentadas há mais tempo no local e não poucas vezes ocasiona outras migrações.

Este número especial da Fronteiras – Revista de História do PPGH-UFGD, que ora apresentamos, propôs reunir algumas dessas pesquisas que analisam esses fenômenos sociais nos últimos anos. Este número, portanto, reúne um dossiê interdisciplinar com o objetivo de contribuir para o conhecimento da construção de fronteiras étnicas, culturais, sociais, econômicas e geográficas da Amazônia. Leia Mais

Fronteiras e Migrações / História e Diversidade / 2017

O Dossiê Fronteiras e Migrações reúne abordagens a partir de resultados de pesquisas que discutem essas temáticas, em especial, a relação entre concepções sobre fronteira e o fenômeno das migrações. A migração como fenômeno humano é um debate recorrente na História, sobretudo, se considerarmos os deslocamentos como estratégias de sobrevivência, de realizações e aspirações diversas e outras perspectivas de vida. Essas discussões se tornam emergentes quando dirigimos nossa atenção para situações pontuadas por crises financeiras, em maior ou menor grau, estado de guerra com várias conotações político-ideológicas ou étnicas, catástrofes e perseguições de diferentes naturezas e todas as formas de refúgios e exílios. Com a mesma densidade a temática “fronteiras” tem um formato caleidoscópico e, portanto, permite discussões abrangentes que, do ponto de vista epistemológico, abarca todos os campos do conhecimento em várias temporalidades.

As discussões e concepções sobre fronteira estão dispostas em um campo polissêmico de situações que abrange conceitos, vivências e experiências dos que habitam e dos que estudam os diversos espaços fronteiriços em várias dimensões. Tomando por base a escrita do historiador Arno Alvarez Kern (2016, p. 11) “o conceito de fronteira é utilizado a partir de uma escolha deliberada e racional, buscando respostas para os questionários científicos que estabelecemos sobre as situações limites, nos territórios onde sociedades e culturas diferentes se encontram e se confrontam”. Das vivências dos territórios (trans) fronteiriços ressaltam o caldo de culturas, as formas de sobrevivência, o pertencimento ao lugar e a constituição de múltiplas identidades.

Como acontecimento demarcador da existência humana e, em especial na atualidade, os fluxos migratórios são complexos e alguns deles se assemelham à calamidades demarcadas por dramas familiares, condições econômico-sociais adversas alocadas nos desdobramentos de uma economia global pontuada por uma distribuição desigual de rendimentos e de riquezas. Esse quadro produz cada vez mais restrições de acesso aos bens indispensáveis às vivências humanas como, por exemplo, a falta de oportunidades de trabalho ou mesmo o subemprego e a sub-vivência. Os conflitos armados, a depuração étnica, a violação de direitos universais, perseguições e a ineficiência de governos e / ou a falta de políticas públicas capazes de acolher as populações mais vulneráveis também são razões para que contingentes populacionais se desloquem de um lugar para outro e para outros mais.

Nessa perspectiva, o mencionado dossiê apresenta seis textos. Em “Imigrantes e migradores: a fronteira em movimento” a historiadora Márcia Solange Volkmer analisa a densidade populacional na fronteira Brasil / Argentina a partir de correntes migratórias oriundas das províncias da Confederação Argentina e da Europa, além dos imigrantes brasileiros. As formas em que se estabelecem as relações transfronteiriças no espaço platino também são tratadas pela autora. Com o texto “Deslocamentos de ontem e de hoje na fronteira Brasil-Guiana: quem são os novos personagens (e as causas) da história atual?”, a antropóloga Mariana Cunha Pereira discute os deslocamentos contínuos e temporários que instituem vivências na fronteira do Brasil com a Guiana, tendo como fundamento os processos de colonização dos espaços fronteiriços desde o século XIX. O trabalho explora os sentidos das relações interétnicas situando-os nos panoramas socioeconômico e cultural para dar visibilidade às complexas questões de nacionalidade de ambos os lados da fronteira.

Em seguida, com o texto “Movilidad pendular transfronteriza de trabajadoras paraguayas entre Ciudad del Este (Paraguay) y Foz do Iguaçu (Brasil)”, os autores Arnaldo González Aguilera e Pedro M. Staevie recorrem às fontes orais para abordar a costumeira travessia dos territórios fronteiriços entre Brasil e Paraguai – Ponte da Amizade –, privilegiando as atividades laborais femininas e as estratégias de sobrevivência familiar. No quarto texto intitulado “Deslocamentos humanos: brasileiros e bolivianos no painel da globalização e da imigração transfronteiriça” a historiadora Maria do Socorro S. Araújo traz uma discussão sobre os arranjos econômicos globais, ou seja, o processo de globalização e as contradições / desigualdades derivadas do mesmo, incluindo a divisão internacional do trabalho. Nesse contexto, a autora situa e aborda os deslocamentos humanos na fronteira oeste Brasil-Bolívia destacando o fluxo de bolivianos que buscam a sobrevivência em territórios brasileiros. Da mesma forma, o texto apresenta a imigração do tipo pendular que habitualmente acontece no mesmo espaço transfronteiriço, onde brasileiros e bolivianos constroem um cotidiano para além das nacionalidades.

O texto do professor e historiador Carlos Edinei de Oliveira destaca os processos de colonização recente em Mato Grosso, na segunda metade do século XX, nos municípios de Tangará da Serra, Campo Novo dos Parecis e Sapezal, territórios tradicionalmente ocupado por diferentes povos indígenas. Esses espaços são ocupados por populações oriundas de diferentes lugares do Brasil, provenientes dos fluxos migratórios que compuseram a nova fronteira agrícola do centro oeste. O autor rastreia o movimento de colonização que iniciou na Era Vargas, passando pela política desenvolvimentista do governo Kubitschek e se efetivando durante e pós-ditadura civilmilitar brasileira. Como fontes documentais, as abordagens se remetem às mensagens dos governadores de Mato Grosso, às propagandas imobiliárias publicadas em jornais e revistas e panfletos de prefeituras municipais.

Nessa perspectiva de discussões, por último, apresentamos o texto intitulado “Reflexões acerca da História de Sinop / MT: imigração e fronteira agrícola”, do professor e historiador Edison Antonio de Souza. Nesse trabalho, o autor faz uma leitura sobre a constituição da cidade enquanto espaço urbano decorrente da expansão da fronteira agrícola no Estado, durante a década de 1970, viabilizada como projeto originário de colonização. As abordagens versam sobre as condições políticas e econômicas com as quais as “cidades novas” se estabelecem no estado de Mato Grosso, destacando a relação direta com a economia do agronegócio.

Além do Dossiê, este número apresenta seis Textos Extras de autores de diferentes regiões e instituições brasileiras, contemplando estudos e debates acerca de questões como: revolução francesa, surdez e ensino de história, leprosários na Era Vargas, relatos orais de pracinhas e ensino de história, escravismo no sul do Brasil e pena de morte no Brasil Imperial.

O primeiro texto de autoria de Bruno Mesquita Falcetti com o título “A revolução francesa: panorama histórico e os efeitos que moldaram a sociedade contemporânea”, apresenta uma análise a respeito das consequências da Revolução Francesa para a sociedade contemporânea, tendo como referência de análise as seguintes questões: processo histórico de construção; aspectos sociais, relações de poder e estrutura dos Estados europeus na década de 1780; narrativa histórica; fatores que levam Napoleão Bonaparte a tornar-se o principal ator no pós-revolução e nas guerras e nova república, assim como os efeitos e influências da revolução francesa no ambiente internacional do século XIX.

O segundo texto, de autoria de Ernesto Padovani Netto, aborda uma questão crucial e pouco discutida na área da História. Com o título “À margem da historiografia e sem acesso às aulas de História: cultura e identidade surda na luta pelas conquistas de direitos”, o artigo apresenta um debate sobre a comunidade surda como um grupo de sujeitos históricos, vinculados por uma noção de identidade, mas não inclusos na historiografia e “excluídos” das aulas de história, em virtude da condição de surdos.

Já o terceiro artigo, de autoria de Ivan Ducatti e Terezinha Martins dos Santos Souza, apresenta um estudo acerca do tratamento dispensado aos leprosos no Brasil de Vargas. Com o título “A prisão em nome da saúde: o isolamento compulsório em leprosários no Brasil de Vargas”, os autores analisam o isolamento compulsório de portadores de hanseníase no Brasil a partir da década de 1930, destacando-a como um período marcado por fortes questões totalitárias, como o nazifascismo, influenciando o pensamento brasileiro e legitimando ações governamentais.

O quarto artigo“O relato vivo como evidência para a aprendizagem de história, a partir de experiências com Pracinhas”, de Jucilmara Luiza Loos Vieira, apresenta o resultado de um estudo desenvolvido com alunos do terceiro ano do ensino médio, sobre os pracinhas na segunda guerra mundial. Por meio de relatos orais de pracinhas, o estudo evidenciou a importância dos relatos para a formação da consciência histórica na relação entre passado, presente e futuro.

Por sua vez, o quinto artigo intitulado “O negro na sociedade escravista do Alegrete oitocentista: trajetórias e lutas pela liberdade”, de autoria de Márcio Jesus Ferreira Sônego, apresenta um estudo sobre as relações estabelecidas entre senhores e escravos em Alegrete no século XIX, com o objetivo de compreender as lutas empreendidas pelos escravizados em busca da liberdade. Por último, o sexto artigo de autoria de Oseas Batista Figueira Junior, com o título “Crime e castigo: pena de morte e a manutenção da ordem no Império Brasileiro (1830-1876)”, apresenta um estudo sobre como a elite imperial atuou para enfrentar e conter as agitações populares que ocorreram no Brasil do séc. XIX, examinando as formas de controle social criadas e a eficácia de tais instrumentos de controle.

Desejamos à todos bons momentos de leitura e aprendizado!

Cáceres / MT, dezembro de 2017

Maria do Socorro de Sousa Araújo (UNEMAT)

Osvaldo Mariotto Cerezer (Editor)


ARAÚJO, Maria do Socorro de Sousa; CEREZER, Osvaldo Mariotto. Apresentação. História e Diversidade. Cáceres, v.9, n.1, 2017. Acessar publicação original [DR]

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História e Migrações /Monções/2017

O Dossiê História e Migrações propõe contribuir para a compreensão da sociedade contemporânea e do ato de migrar.

Segundo Jorge Larrosa (2001-145) o texto dado a ler é um presente. Aqui, é um presente escrito a muitas mãos, dado a ler na amizade e na liberdade, pois a “A amizade da leitura não está em olhar um para outro, mas em olhar todos na mesma direção. E em ver coisas diferentes. A liberdade da leitura está em ver o que não foi visto nem previsto. E em dizê-lo”.

Nessa proposta, refletir sobre o migrante é pensar não somente seus percursos individuais, mas também pensar os intercâmbios sociais e culturais advindos do fenômeno migratório, seja no país/região de onde se partiu tais sujeitos sociais, seja no país/região que os recebeu. Na gama possível de significados para o ato de migrar, vislumbramos, portanto, outros sentidos. Migrar torna-se, entre outras possibilidades de leitura, um fato histórico.

Ouvir as vozes migrantes é como mergulhar em um mundo de trajetórias onde os sentidos de tempo e espaço se desdobram e se multiplicam. Em suas narrativas, falam do espaço onde vivem, referendando espaços anteriormente vividos; falam de um hoje, permeado por um ontem que ainda se faz presente em rostos e imagens como que amarelados pelo tempo, mas não olvidados. Falam, entre outras coisas, do que é sentir-se migrante.

Estas vozes narram experiências que se querem partilhadas e que falam de uma travessia que não se concluiu na chegada ao destino, mas que se perdurou no enfrentamento do novo. Encontrar uma nova cultura, novos códigos e condutas, uma nova língua. Reinventar-se sempre: lidar com a saudade dos que ficaram; superar as dificuldades de adaptação e o preconceito quase intrínseco à condição migrante; conviver com o medo de permanecer, amalgamado ao medo do retorno.

Nesta perspectiva, se “Entrar num texto é morar e demorar-se no dito do dito. […] é trazer o dito à proximidade do que fica por dizer, trazer o pensado à proximidade do que fica por pensar, trazer o respondido à proximidade do que fica por perguntar” (LARROSA, 143), só podemos desejar uma leitura prazerosa e instigante!

Eliene Dias de Oliveira – Professora Adjunta do Curso de História da UFMS/Campus Coxim. Bacharel e Licenciadoa em História pela Universidade Federal de Uberlândia; mestre em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia; doutora pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFGD. Bolsista CAPES PDSE, com realização de estágio doutoral na Università degli Studi di Genova, Itália. Pesquisadora do Grupo de Estudos Trilhas: migrações, fronteiras e gênero e membro da Associazione lnternazionale AREIA – audioarchivio delle migrazioni tra Europa e America Latina, com sede na Itália.

Jiani Fernando Langaro – Professor adjunto da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás. Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, mestre em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU e doutor nesta mesma área pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP.

Referência

LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.


OLIVEIRA, Eliene Dias de; LANGARO, Jiani Fernando. Prefácio. Monções. Coxim, v.4, n.6, 2017. Acessar publicação original [DR]

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História Ambiental: Memória e Migrações / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2015

A revista História em Reflexão chega ao seu volume 9, número 17 e é com grande alegria que escrevo a apresentação desta edição. Iniciativa dos discentes do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados, a revista surgiu com uma proposta arrojada, tendo sido uma das primeiras a circular exclusivamente on-line, apostando, desde seu nascimento, nas novas tecnologias de mídia e na internet. Atualmente esta dinamicidade permanece nas propostas de cada número, sendo o deste dossiê “História Ambiental: memória e migrações”, temas que se entrelaçam e que estão no âmago dos debates públicos contemporâneos. Grandes desastres “naturais”, intensos deslocamentos humanos e a necessidade de se usar a prática de recordar como instrumento de luta política e cultural marcam a passagem do século XX ao XXI. Cabe ao historiador, situar esses processos em sua historicidade, contextualizando-os em sua duração mais longa.

Preocupados com a convergência destes temas, os pós-graduandos em História da UFGD produziram esta edição, organizaram o dossiê e realizaram entrevistas sobre história ambiental. As discentes Marciana Santiago de Oliveira e Ilsyane do Rocio Kmitta entrevistaram Gilmar Arruda, expoente da área, o qual discorre sobre a emergência deste campo de estudos marcado pela interdisciplinaridade. Como bem situa o pesquisador, a área surge nos Estados Unidos da América, na década de 1970, porém, no Brasil, o tema natureza integra os interesses dos estudiosos da história desde o século XIX, preocupados em edificar uma determinada identidade nacional ou mesmo em problematiza-la. O grande problema explorado pela história ambiental, como bem frisa Arruda, é a dissociação que se processou entre seres humanos e natureza, como se a humanidade não fosse parte do próprio mundo natural.

Na segunda entrevista, realizada com Roberto Marinucci, intelectual preocupado com as migrações, temos um importante estado da arte (interdisciplinar) sobre os estudos migratórios. Fenômeno marcante no processo histórico contemporâneo, o pesquisador frisa a grande complexidade envolvendo a mobilidade humana, sobre como os movimentos atuais tem colocado por terra categorias fixas como imigração / emigração / migração. Além disso, destaca como os estudos migratórios estão cada vez mais reconhecendo o migrante como sujeito do ato de migrar, abandonando uma visão economicista que o tratava como uma peça dentro de um sistema de exclusão. Por outro lado, Marinucci também aborda a importância da memória nos estudos migratórios e em como o ato de recordar pode integrar movimentos de resistência dos migrantes, dentro do difícil processo de abandono do lugar de origem e de adaptação ao novo.

O dossiê, por sua vez, traz contribuições de diversos pesquisadores sobre as temáticas em destaque. O primeiro artigo, “Memória e Identidade em um Espaço de Migração: Fronteiras em Santa Rita, Alto Paraná, Paraguai”, de Andressa Szekut e Jorge Eremites de Oliveira, versa sobre a emigração brasileira ao Paraguai. Os autores problematizam as memórias e identidades construídas pelos emigrantes, naquele país, partícipes de um processo de colonização recente. Seu foco reside nas relações identitárias desses sujeitos, especialmente as estabelecidas entre o eu e outro.

Fabiano Silva Santana e Sérgio Paulo Morais, em “Norma regulamentadora 36: pausa, desafio posto pela intensidade do trabalho nos frigoríficos”, analisam as relações de trabalho nos frigoríficos brasileiros. Sua preocupação se centra na “Norma Regulamentadora, nº 36” e nas condições de salubridade do trabalho na indústria alimentícia, enriquecendo com isso os conhecimentos da área de história do trabalho.

José Otávio Aguiar e Hilmaria Xavier, em “Ambiente, vivências e memórias da Favela da Cachoeira (Campina Grande 1959 – 2006)”, analisam a construção da Favela da Cachoeira, na cidade de Campina Grande, iniciada em 1959, edificação que não ocorreu apenas no aspecto físico, mas também no campo dos significados que os moradores imprimiram ao lugar. Os autores analisam também os movimentos em prol de melhorias para o local, culminando na remoção de parcela dos moradores para um novo local na cidade, o Bairro da Glória.

Em “Da imposição à Vocação: A economia da capitania dos Ilhéus nos circuitos mercantis”, Rafael dos Santos Barros desmistifica o suposto atraso econômico daquela capitania, atribuído à falta de participação na produção açucareira. O autor desenvolve a tese de que à região de Ilhéus atribuiu-se a função de produzir alimentos para as regiões monocultoras – prática comum nas regiões periféricas da colônia e do império – existindo severas proibições à introdução da cana-de-açúcar e tabaco.

Giovani José da Silva, em “‘Todo se cambia, incluso el paisaje’: Memórias indígenas e migração camba-chiquitano” une preocupações com as migrações, memórias e história ambiental e indígena em um estudo sobre a etnia Kamba (também conhecida como Camba-chiquitano). Originários da Bolívia, essa população indígena se fixou na periferia da cidade sul-mato-grossense de Corumbá, localizada na fronteira do Brasil com aquele país. Silva problematiza as relações dos indígenas com o mundo natural e as condições inóspitas que enfrentaram no processo de fixação naquela cidade.

Em “Rio Açu, Capitania do Rio Grande: sertão, natureza e espacialidades no Assu seiscentista (1624 – 1680)”, Tyego Franklim da Silva realiza um estudo sobre o período colonial da região de Assu / Açu, Rio Grande do Norte. Utilizando-se de documentos oficiais, crônicas e relatos de viajantes, o autor explora a conquista da região, bem como as relações que ali se estabeleceram entre europeus e povos indígenas e como eles se relacionaram com a natureza.

Dilson Vargas-Peixoto, em “Indícios da alteração ambiental nas crônicas de três viajantes (Rio Grande do Sul, 1808-1827)”, analisa as mudanças ambientais ocasionadas pela introdução de elementos da fauna e da flora europeia do Brasil, no século XIX. Toma como fonte os relatos de viajantes, notadamente Auguste de Saint- Hilaire, John Luccok e Nicolau Dreys, nos brindando com um belo trabalho de história ambiental.

Já na sessão de artigos livres, “O projeto político oposicionista de Assis Brasil nas campanhas eleitorais de 1922 no Rio Grande do Sul”, escrito por Pedro Paulo Lima Barbosa, problematiza os discursos e práticas políticas de Assis Brasil, com foco especial nas eleições de 1922. Como aponta, aquele político se insurgira contra o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) e a candidatura de Borges de Medeiros à presidência do estado, o que lhe daria um quinto mandato consecutivo. Problematiza as intencionalidades da candidatura, pois, embora fosse oposicionista, as posições políticas de Assis Brasil eram muito semelhantes a de seus adversários.

“A fotografia-quadro em imagens de conflitos bélicos: a permissividade à arte contemporânea e à expressão do produtor, nas coberturas fotográficas noticiosas de guerras” é o artigo escrito por Fernanda Rechenberg e Bruno Cavalcante Pereira, em que os autores tomam com objeto de estudo as fotografias realizadas em zonas de conflito armado. Como analisam, formou-se um mercado de imagens violentas, que acabam por contribuir com os discursos ideológicos de grandes potências e que pouco auxiliam na reflexão crítica sobre as guerras. Assim, os autores questionam a veracidade de tais registros fotográficos bem como refletem sobre a permissividade dessa arte no mundo contemporâneo.

Maurício Marques Brum, no artigo “‘Expulsar a esquerda do poder’: Considerações sobre a formação de cadeias de equivalência contra o governo de Salvador Allende (1970-1973) à luz da teoria de Ernesto Laclau”, analisa o contexto político-ideológico do Chile durante o governo Allende. O autor se detém no processo de corrosão dos ideais democráticos, que primevamente sustentaram a posse daquele presidente, e, posteriormente, foram substituídos pela concepção de que um golpe de estado se justificaria como recurso para alijar a esquerda do poder.

Em “Disputas eleitorais em Dourados, no sul do antigo Mato Grosso: influência do contexto estadual e crescimento do PTB nas eleições de 1954, 1958 e 1962”, Fernando de Castro Além nos traz capítulos da história política do município de Dourados, inserindo-a devidamente no contexto do antigo estado de Mato Grosso. Entre suas preocupações está a análise da prática dos mandatários estaduais em impulsionar candidaturas municipais e a rivalidade entre as principais siglas do período (PTB, PSD e UDN), concluindo o autor que houve uma ascensão eleitoral do PTB no município em tela.

Tomaz Espósito Neto, em “Uma análise histórico-jurídica do Código de Águas (1934) e o início da presença do Estado no setor elétrico brasileiro no primeiro Governo Vargas” analisa o decreto no 24.643 de 10 de julho de 1934 (Código de Águas) e consequente processo de ampliação da presença estatal no setor de energia elétrica, no Brasil, tendência dominante no setor até a década de 1990. Entre suas preocupações, está o estudo das motivações que levaram o Governo Vargas a adotar tal medida, bem como os conflitos com os setores do capital estrangeiro, que exploravam o setor no Brasil.

De maneira geral, os temas estudados abordam o Brasil e países vizinhos em diferentes temporalidades, mas buscam responder a questionamentos contemporâneos quanto à formação, uso e apropriação do espaço, às transformações operadas na natureza, à mobilidade humana, às identidades e práticas sociais e políticas construídas por diferentes grupos. Privilegiando os estudos de caso e a dimensão micro espacial, o conjunto de textos nos faz refletir sobre diversos caminhos trilhados por diferentes pesquisadores, que possuem, em comum, o desejo de responder a inquietudes que nos acompanham (e, vez por outra, nos assombram) neste começo de milênio.

Jiani Fernando Langaro – Professor Doutor UFGD.

Dourados / MS / Brasil – Inverno de 2015.


LANGARO, Jiani Fernando. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 9, n. 17, jan. / jun., 2015. Acessar publicação original [DR]

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História Ambiental e Migrações / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2014

Por muito tempo a História foi vista como uma disciplina que enfocava as correlações sociais, políticas e econômicas, sobrepujando outras categorias de análise. No entanto, esta premissa foi superada e outras relações passaram a ser vistas como fundamentais para a compreensão da própria disciplina da História. Segundo o historiador Donald Hughes, a História Ambiental pode adicionar bases e perspectivas a conceitos tradicionais dos historiadores: guerra, diplomacia, política e economia, revelando relações entre esses conceitos e o mundo físico [1].

Partindo deste mesmo pressuposto, o Dossiê de História Ambiental e Migrações, número 23 de Fronteiras, a Revista Catarinense de História, visa analisar a problemática ambiental com enfoques distintos em sua relação com a sociedade.

Marlon Brandt, em Agricultura e urbanização na paisagem do município de São José-SC (Séculos XVIII a XX), procura analisar as transformações da paisagem do município de São José, SC, partindo da ocupação açoriana no século XVIII, até a intensificação do crescimento urbano e adensamento demográfico na década de 1970, que foram modificando espaços que antes assumiam uma feição caracteristicamente rural em bairros densamente povoados.

Sandro Dutra e Silva busca identificar a postura de enfrentamento à natureza presente nos discursos da Marcha para Oeste, no artigo O desbravador do Oeste e as narrativas do enfrentamento e devastação da natureza na construção da Rodovia Belém-Brasília. Com a finalidade de identificar as representações do desbravador do Oeste, por meio da criação da imagem heroica de Bernardo Sayão, o texto procura se fundamentar nos pressupostos teóricos-metodológicos da História Ambiental, e baseia-se em diferentes fontes e documentos para caracterizar as representações da natureza no imaginário social brasileiro das décadas de 1940 a 1950.

Dando enfoque nas migrações contemporâneas, Emerson César de Campos e Michele Gonçalves Cardoso, em Migrações internacionais e família: experiências de migrantes criciumenses em configuração transnacional, analisam como o município de Criciúma tem se destacado pelo elevado número migrantes que partem da cidade rumo aos Estados Unidos ou para a Europa, em especial a Itália. Esses processos migratórios promoveram novos arranjos familiares e desempenham um importante papel na manutenção do projeto migratório e das novas configurações familiares. Soeli Regina Lima, também aborda a temática de migração no artigo Migrações e desenvolvimento local: um estudo biográfico. A autora analisa a trajetória de Luís Szczerbowski numa perspectiva bibliográfica, para entender o desenvolvimento econômico na cidade de Três Barras, em Santa Catarina.

Roberta Barros Meira procura comparar a importância recíproca entre natureza, imigração e agricultura, nos discursos dos diferentes atores ligados diretamente a questões como a ocupação e defesa do território e a transição da mão de obra escrava para a livre em Entre a experiência e a fantasia: natureza, agricultura e imigração no Brasil do Império.

Em História Ambiental do(s) Agreste(s) de Pernambuco: As ações humanas no ambiente natural sob a ótica dos indígenas e dos estudos acadêmicos (Séculos XIX – XX), Edmundo Monte aborda as mudanças ocorridas no ambiente natural do atual Agreste pernambucano, como consequência das ações humanas na região, sobretudo entre os séculos XIX e XX, para atender os ideais de progresso da nação.

Jackson Peres analisa como se deu a exploração dos recursos naturais na região da Baixada do Maciambú, no artigo A exploração dos recursos naturais no Porto dos Patos entre os séculos XVI e XIX. O autor mostra como os navegadores, desde o século XVI, usufruíram dos recursos naturais, especialmente de água, lenha e caça, bem como dos alimentos produzidos pelos indígenas que viviam na região.

Em Discussões acerca da necessidade de instalação de colônias agrícolas no sul de Mato Grosso (1889-1920), foi feita uma análise com base na colônia de Terenos, sobre a primeira experiência de colonização pública naquele estado. No artigo, Vinicius Rajão da Fonseca faz uma discussão entre a configuração da fronteira no sul de Mato Grosso, nas décadas finais do século XIX, e os discursos sobre a necessidade da colonização do estado, através da instalação de núcleos coloniais agrícolas.

Simoni Mendes de Paula, em A utilização dos recursos energéticos no rio Itajaí-Açú (SC), analisa os projetos para a produção de energia elétrica no rio Itajaí-Açú, em Santa Catarina. No último quartel do século XIX, indústrias como a Hering e a Karsten iniciaram sua produção utilizando-se da energia hidráulica produzida na região do Testo Salto. Nas décadas seguintes, empresas como a Empresa Eletricidade do Salto e a Empresa Força e Luz ratificaram o potencial hidrelétrico do vale do Itajaí com a construção de usinas hidrelétricas.

A mandioca e os carros de boi: ruralidades de uma Ilha ao Sul do Brasil, de Giovana Callado Ferreira, discute as mudanças produzidas pelo processo de urbanização na Ilha de Santa Catarina nos espaços outrora considerados “rurais”. Através da prática do cultivo da mandioca, da produção da farinha e da reemergência dos encontros dos donos de carros de boi, o texto mostra que apesar dos discursos vigentes apontarem para o esvaziamento das práticas de ruralidade, as trocas promovidas entre o “rural” e o “urbano” permitem perceber um universo sócio cultural muito mais complexo do que supunha a velha dicotomia entre o campo e a cidade.

Misael Costa Corrêa, em Alectoromaquia: Os galos de briga dentro da história ambiental, traz aspectos historiográficos da espécie gallus gallus e aponta vestígios de sua provável origem na Ásia, onde, desde muito cedo, a antropização possibilitou sua domesticação e posteriormente sua difusão pelo mundo. Mostra, também, aspectos que tangem à prática das brigas de galos, seus aspectos legais e morais.

Em Ciência e Natureza nas páginas da Revista da Escola de Engenharia de Porto Alegre (1914-1930), Fabiano Quadros Rückert aborda as relações entre a Escola de Engenharia de Porto Alegre e o governo do Partido Republicano Rio-Grandense, e mostra como esta oferece subsídios para compreensão do perfil editorial da EGATEA, destacando questões referentes ao uso da Ciência para exploração da Natureza e o processo de modernização das atividades agrárias no Rio Grande do Sul da Primeira República.

Este número traz ainda a seção de Resenhas, com a resenha da obra Vidal, Vidais: textos de Geografia Humana, Regional e Política, apresentada por Carlos Alberto Menarin.

Esperamos que os leitores possam fazer um ótimo proveito dos mais variados textos apresentados neste número.

Nota

1. HUGHES, Donald. Environmental History and Older History. In: GANDARA, Gercinair Silvério (orgs). Natureza e Cidades: viver entre águas doces e salgadas. Goiânia: PUC / UNIEVANGÉLICA Goiás, 2012. p. 25.

Samira Peruchi Moretto

Eunice Sueli Nodari

Organizadoras do Dossiê de História Ambiental e Migrações


MORETTO, Samira Peruchi; NODARI, Eunice Sueli. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.23, 2014. Acessar publicação original [DR]

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Migrações / Esboços / 2002

A temática relativa aos processos de Migração e Imigração desde longa data fazem parte da pauta de investigação dos historiadores e outros cientistas sociais. Considerando este aspecto, poder-se-ia concluir (apressada e equivocadamente), que o tema pouco tem de novo, visto já ter sido intensamente explorado. Mas, ao contrário das velhas minas de ouro abandonadas por não se encontrar nelas mais nenhum veio ou filão produtivo, o assunto em foco continua sendo uma mina que ainda não se esgotou. Valiosas pepitas e ricos filões estão surgindo.

O labor da pesquisa historiográfica continua detectando novas fontes que passam a ser interrogadas. Fontes antigas são interrogadas. Fontes antigas são interrogadas com novas perguntas e, desta forma, o tema vai sendo mais conhecido.

Neste número, Esboços apresenta o resultado de algumas novas prospecções neste terreno que parece inesgotável.

Em relação à etnia alemã, aborda-se a estratégia das empresas colonizadoras que atuavam entre teutos e ítalos das antigas colônias do Rio Grande do Sul. Da mesma forma, trata-se da complicada língua alemã no contexto de nacionalização e o fantasma do nazismo no município de Marechal Cândido Rondon, considerado o mais germânico do Paraná.

A italianidade em Santa Catarina é abordada através de um estudo a partir de periódicos impressos em italiano, bem como o processo de revigoramento do sentimento de pertença à etnia, por ocasião das comemorações do centenário da imigração italiana em Santa Catarina.

Esboços também contempla a questão relativa à escravidão, uma imigração forçada e pouco estudada na historiografia imigratória do Brasil meridional; através dos estudos que abrangem a baía de Paranaguá.

O movimento imigratório focalizado com muita propriedade pelas lentes do fotógrafo Sebastião Salgado também é objeto de análise neste número, assim como o significado do avanço da estrada de ferro em Guarapuava – PR.

Através deste número, Esboços pretende contribuir para o debate historiográfico do tema proposto, enfatizando que o tema não está esgotado.

João Klug – Professor Doutor. Departamento de História – Programa de Pós-Graduação em História/ UFSC.

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[DR]

Travessias: Migrações / Revista Brasileira de História / 1997

O presente número da Revista Brasileira se História tem como Dossiê o tema Travessias: Migrações em que os importantes problemas da imigração e migração receberam um tratamento original e inovador por diversos autores.

A questão das motivações para a vinda e a permanência de tradições de luta operária dos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul; o papel da família e da ética do trabalho como estratégia de sobrevivência e integração de italianos no Espírito Santo e alemães em Curitiba; a participação na cultura urbana em Buenos Aires, revelam novas tendências nas pesquisas sobre os imigrantes.

A fase anterior do levantamento e descrição das várias modalidades do trabalho imigrante, os núcleos coloniais de pequena propriedade, as diferenças étnicas permitem agora o desenvolvimento de novas vertentes de pesquisa. O que se privilegia hoje é o seu impacto na sociedade brasileira e sua contribuição global ao mesmo tempo que se estuda os efeitos da imigração sobre os padrões culturais de seus agentes.

Por outro lado, temos uma pesquisa que dá notícia dos primeiros migrantes nordestinos (cearenses) para a lavoura cafeeira paulista e que, a partir de 1920, viriam a substituir cada vez mais a corrente européia em declínio. Finalmente, a análise de uma entrevista com migrante sem terra de Brasilia tenta, no campo da história oral, esquadrinhar o universo do imaginário dos eternos andantes do mundo rural brasileiro tão bem retratados por Graciliano Ramos.

A secção Documentos tem a oportunidade de transcrever interessante testemunho de viajante francês anônimo que descreve a baía de Guanabara e o Rio de Janeiro sob o ponto de vista geográfico e de estratégia militar, acrescido de observações sobre os costumes brasileiros.

Os artigos estudam os carijós que os paulistas levaram para Minas Gerais; as festas religiosas e seus choques com o ultramontanismo do clero; o papel do informante na estrutura repressiva policial da ditadura militar e a política da Frente Popular no Chile.

O Conselho Editorial agradece a cortesia do Museu Lasar Segall em ceder o direito de reprodução do quadro Navio de Emigrantes de seu acervo para a capa deste número.

Queremos ainda agradecer a atual administração da Anpuh que, cumprido compromisso assumido no Simpósio de julho de 1997 avocou a responsabilidade financeira e gráfica da publicação deste número 34.


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.17, n.34, 1997. Acessar publicação original [DR]

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