Sobre a arte brasileira da Pré-História aos anos 1960 – BARCINSKI (CA)

BARCINSKI, Fabiana Werneck (Org.). Sobre a arte brasileira da Pré-História aos anos 1960. São Paulo: Edições Sesc/WMF Martins Sontes., 2015, 365 p. Resenha de: MAIOR, Paulo Martin Souto. Clio Arqueológica, Recife, v. 31, n. 2, p.211-216, 2016.

Sobre a Arte Brasileira não é mais um tratado historicista dedicado aos diferentes períodos da história da arte no Brasil. Idealizado e organizado por Fabiana Barcinski, partiu de uma visão social da arte que pretendia dar um viés diferente à percepção da estética. Desde os primórdios da região como colônia portuguesa e como Nação independente depois, sem ignorar as raízes indígenas, a obra leva desde o início a uma reflexão sobre o que realmente seja a genuína arte brasileira. Para tanto, foram convidados escritores e pesquisadores de diversas instituições acadêmicas do Brasil. O resultado foi uma obra original, crítica e reflexiva sobre as múltiplas facetas da arte brasileira e sob os diferentes olhares de um grupo destacado de especialistas.

Dividido em nove temas, o livro se abre com o capítulo: Para uma história (social) da arte brasileira, escrito por Francisco Alambert, professor da USP e crítico de arte, que marca já o teor da obra, a partir da reflexão sobre a legitimidade e a pertinência de falar em uma arte “brasileira” com características próprias.

Segue-se A arte pré-histórica do Brasil: da técnica ao objeto, da autoria de Anne- Marie Pessis e Gabriela Martin, arqueólogas e professoras da UFPE, que refletem sobre a finalidade prática e imediata, material ou imaterial, do objeto que, hoje podemos considerar artístico, mas que, na realidade, era parte das estratégias de sobrevivência do grupo autor, considerando a arte pré-histórica brasileira como uma manufatura cuja evolução segue os passos do cognitivo ao lúdico e, finalmente, ao social.

Valeria Piccoli, arquiteta e integrante do Núcleo de pesquisa em crítica e história da arte na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no capítulo intitulado O olhar estrangeiro e a representação do Brasil, reflete sobre o explícito desinteresse da Coroa portuguesa de divulgar ou dar valor à produção de textos ou imagens das terras e povos sob sua soberania, notadamente nos dois primeiros séculos da colonização. A cartografia do litoral, tão necessária à colonização das novas terras desenvolve-se, entretanto que o interior do país, a chamada Terra Incógnita permanece deliberadamente reduzida à representação de vinhetas da vida cotidiana. Esse panorama vai mudar com a chegada dos holandeses ao Brasil. As obras de Frans Post, Albert Eckhout, Georg Marcgraf e Willem Piso abrem as primeiras janelas à desconhecida paisagem brasileira, enriquecida depois com as obras dos viajantes estrangeiros.

Com o artigo Maneirismo, Barroco e Rococó na arte religiosa e seus antecedentes europeus, de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, historiadora da arte e professora da UFRJ, a obra entra nos estilos universais dos séculos XVII a XVIII implantados no Brasil pelos colonizadores portugueses.

Destaca-se a importância preponderante da Igreja Católica como cliente da encomenda arquitetônica e artística no período colonial, em detrimento da arquitetura civil de caráter oficial. A historiadora da Arte Elaine Dias, da Universidade Estadual de Campinas, SP, assina o artigo Arte e academia entre política e natureza (1816-1857). O trabalho analisa o impacto da Missão Artística Francesa iniciada em 1816 que pretendia a criação de uma Escola de Ciências, Artes e Ofícios no Rio de Janeiro e que seria o cerne da Academia Imperial de Belas Artes instituição de fundamental importância na formação de brasileiros no campo da arte e da cultura.

A Arte no Brasil entre o segundo reinado e a Belle Époque, artigo assinado por Luciano Migliaccio, do Departamento de História da Arquitetura e Estética da USP, inicia a sua dissertação no momento da maioridade de D. Pedro II, proclamada em 1840. No Império do Brasil, separado de Portugal, o Rio de Janeiro torna-se a sede de uma corte detentora da política cultural do Estado. A Academia assumirá o papel preponderante nas exigências de propaganda do governo imperial. Paralelamente, o indigeníssimo passa a ser valorizado, embora com uma visão romântica alheia à realidade. O autor cita, entre outros exemplos, daquele indianismo incipiente, a estátua equestre de D. Pedro I ladeada por grupos indígenas com animais e plantas típicas da natureza brasileira.

Em Modernismo no Brasil: campo de disputas, sua autora Ana Paula Cavalcanti Simioni, docente do Instituto de Estudos Brasileiros, da USP vemos como a sua formação em Sociologia dão uma base segura ao posicionamento crítico adotado na hora de julgar os valores do Modernismo brasileiro. Reconhecendo o Rio e São Paulo como os pilares do Modernismo no Brasil, a autora chama a atenção para não negligenciar as produções ocorridas em Pernambuco, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, entre outros centros, a partir, inclusive de como entender o termo “Modernismo”.

Também com marcada direção sociológica, Glaucia Kruse Villas Bôas, da UFFRJ, escreve Concretismo, capítulo do livro que abarca temas como as artes plásticas, a poesia, o cinema novo, o teatro e a bossa nova com um discurso intelectualizado e universalista que se contrapõe ao empenho de fixar a brasilidade do Modernismo, interessado no “abrasileiramento dos brasileiros”, como dizia Mário de Andrade.

Os anos 1960: descobrir o corpo de Paula Braga, filósofa e historiadora da arte, nos fala no seu artigo do labirinto sensorial Tropicália como herança das vanguardas modernistas. A produção artística nacional deu um salto radical, ultrapassando em poucos anos o abismo que a separava da arte europeia, norteamericana e até japonesa. A autora considera que o neoconcretismo se inicia nos anos 1960 com o Manifesto Neoconcreto, publicado em 1959, na abertura da I Exposição de Arte Neoconcreta, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Os dez capítulos que formam a obra se encerram com Arte Popular, trabalho de Ricardo Gomes Lima, antropólogo e professor de arte na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O título do artigo é já explicativo. O autor refere-se à recusa inicial de considerar como objetos artísticos obras realizadas pelas camadas mais humildes da população, sejam urbanas ou rurais.

O autor considera que o povo brasileiro deixa de ser uma totalidade quando falamos em arte popular e arte erudita, separando os dois conceitos por uma linha econômica e social. Citamos, por oportuno, palavras do escritor Ariano Suassuna sobre a arte na história, que começou sendo popular para ser depois considerada erudita. O livro amplamente ilustrado, apesenta bibliografia relativa a cada capítulo.

A melhor definição que podemos fazer desse livro, quem nasce como uma obra de referência é o comentário de Luciano Migliaccio no seu capítulo Arte no Brasil entre e o Segundo Reinado e a Belle Époque: A arte brasileira, ontem como hoje, reflete em si as ambiguidades de um país que se quer moderno e que faz da arte um atalho para imaginar seu próprio futuro, ocultando as contradições que esconde em seu seio.

Paulo Martin Souto Maior – Departamento de Arqueologia, UFPE. E-mail: [email protected]   

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Os biomas e as sociedades humanas na Pré-História da região do Parque Nacional Serra da Capivara, Brasil. Vol. II A-B – PESSIS et al (CA)

PESSIS, Anne- Marie; MARTIN, Gabriela; GUIDON, Niéde (Org.). Os biomas e as sociedades humanas na Pré-História da região do Parque Nacional Serra da Capivara, Brasil. Vol. II A-B, Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM: São Paulo: IPSIS Gráfica e Editora, 2014. 852p. Resenha de: MAIOR, Paulo Souto. Clio Arqueológica, Recife, v. 30, n.2, p.241-249, 2015.

O projeto, Síntese dos biomas e sociedades humanas da região do Parque Nacional Serra da Capivara, no Sudeste do Piauí, apoiado e financiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia do Brasil, abre um espaço editorial destinado a divulgar o conhecimento resultante do trabalho dos pesquisadores da Fundação Museu do Homem Americano – Fumdham – e outras entidades científicas associadas em rede no decorrer de três décadas de pesquisa nessa região.

Cabe lembrar que inicialmente as pesquisas no Parque Nacional estiveram centradas nos sítios com pinturas rupestres pré-históricas em razão do seu extraordinário acervo, tanto pelo número de sítios achados, como sua densa concentração e seu estado de conservação. Em 1991, por essa riqueza gráfica e cultural, a Unesco inscreve o Parque Nacional Serra da Capivara na Lista do Patrimônio Mundial de Humanidade. As escavações arqueológicas foram no começo realizadas em função da procura de informações complementares sobre esse patrimônio cultural, mas rapidamente as descobertas extrapolam as metas e as expectativas formuladas. A inesperada antiguidade da presença humana na região requer, para desvendar esse universo desconhecido, uma abordagem de pesquisa interdisciplinar. Desde a criação do Projeto, em 1986, o tema de pesquisa proposto pela Fumdham foi definido como a interação do homem com o ambiente, desde a Pré-História até os dias atuais. Varias gerações de pesquisadores brasileiros e estrangeiros sucederam-se num fluxo contínuo de trabalhos interdisciplinares para configurar um mapa multidisciplinar que enquadrasse o tema central das pesquisas no Parque Nacional. A participação das diversas disciplinas na pesquisa evoluiu de maneira diferenciada, o que se traduz num grau distinto das colaborações. Algumas salientam o estado da arte, outras a evolução da pesquisa, outras, também, os aspectos inovativos e a introdução de novos dispositivos técnicos dentro do dispositivo de pesquisa.

Até agora, foram publicados três volumes, sendo que é no volume II, dividido nos tomos A e B, que se resenha aqui e integra artigos com uma diversidade temática salientando a importância da interdisciplinaridade entre as ciências que interagem na formulação de um objetivo comum. O volume II reúne trabalhos inéditos de 42 autores em artigos individuais ou em equipe, apresentando uma amostragem representativa do trabalho realizado naquela região.

Dividido em oito temas, a obra abre com um breve histórico introdutório, desde a chegada dos primeiros pesquisadores numa região praticamente desconhecida.

Niède Guidon relata essa trajetória, de forma sucinta e quase coloquial, com o texto: A Fundação Museu do Homem Americano e o Parque Nacional Serra da Capivara. Relato sucinto de três décadas de pesquisa.

O primeiro tema tratado considera o ambiente e paleoambiente na região do Parque Nacional Serra da Capivara com as contribuições de três artigos.

Apresentam-se os resultados de pesquisas paleoambientais que tiveram um sólido avanço, ampliando o conhecimento das drenagens e dos vales arcaicos. As escavações arqueológicas e paleontológicas evidenciaram perfis estratigráficos, viabilizando a extração de amostras de sedimentos que forneceram informações palinológicas e antracológicas, datações que permitiram compreender os processos deposicionais e contextualizar os vestígios arqueológicos subsedimentares nos sítios. Para entender a interação entre os grupos humanos e a paisagem no decorrer do tempo, requer inserir os vestígios arqueológicos e paleontológicos nos contextos estratigráfico, cronológico e cultural da paisagem.

A reconstituição dos contextos faz com que as pesquisas arqueológicas e paleoambientais sejam interdependentes. Dados obtidos nas escavações das lagoas fósseis e sondagens realizadas nas redes de drenagem permitiram demonstrar que o clima da região foi tropical úmido até há cerca de 10.000 anos. No alto da planície, dominava a floresta amazônica e, na planície, a mata atlântica. Hoje, apesar de a caatinga ter coberto a região, nos vales mais úmidos, ainda existem espécies animais e vegetais desses dois biomas.

O segundo tema apresenta, com duas contribuições, os resultados da pesquisa em Paleontologia. Os fósseis da região da Serra da Capivara foram descobertos ao longo das últimas décadas através das escavações e sondagens realizadas nas numerosas lagoas da região. As datações absolutas permitiram posicionar as associações fossilíferas dentro do limite Pleistoceno final/Holoceno. Uma síntese do conhecimento atual dessas associações apresenta-se nos dois capítulos. Novas espécies foram descritas pelos paleontólogos que participam das pesquisas desde os anos oitenta do século XX.

A Biologia e Antropologia Física compõem o terceiro tema apresentado. No decorrer de décadas de pesquisa, os dados coletados permitiram realizar importantes contribuições ao conhecimento nas áreas da Biologia, Zoologia e Botânica graças à estreita colaboração entre pesquisadores da Fiocruz e da Fumdham. A descoberta de vestígios de ancilostomídeo nas populações préhistóricas do Piauí, há pelo menos 7.000 anos, rompeu o paradigma de que a ancilostomíase havia sido trazida da Europa e da África para América pelos colonizadores. Também ficou evidenciado que os piolhos chegaram a América com seus hospedeiros humanos muito antes dos europeus. A pesquisa de parasitos de animais em coprólitos humanos revelou os hábitos alimentares do Homo sapiens pré-histórico a partir da identificação, nas fezes humanas, de parasitos específicos de animais, utilizados como alimento. São quatro os artigos que apresentam o estado da arte da Biologia.

Em Antropologia Física, foi revelada a diversidade morfocraniana dos remanescentes ósseos humanos, acrescentando dados significativos ao estudo da evolução humana e da origem do homem americano. Na dimensão de biodiversidade de fauna existente com os resultados da pesquisa, foi possível identificar uma fauna de vertebrados composta aproximadamente de 370 espécies.

A floral local formada por vegetação xerofítica é decídua e adaptada à seca. A flora de caatinga atual e os restos da mata atlântica e de espécies amazônicas permitiram identificar os diferentes ambientes em que os grupos humanos viveram durante milênios.

A caracterização do ambiente apresentado nos três primeiros temas é fundamental para contextualizar os temas relativos às populações pré-históricas, que se estruturam em torno da sua evolução tecnológica e que aparecem nas manufaturas líticas, nos grupos ceramistas, nos registros gráficos rupestres, nas escolhas dos espaços ocupados e nos processos rituais fúnebres.

O Homem na Pré-História do Parque Nacional Serra da Capivara é o título do tema 4, que aborda assim a longa sequência cultural que caracteriza as ocupações humanas pré-históricas da região, desde o Pleistoceno Superior até a extinção das etnias indígenas. Um longo caminho de adaptação às limitações imposta pela evolução ambiental, para o qual as populações humanas inovaram tecnologicamente para se defender, coexistir e se afastar dos perigos como os da presença da megafauna, com a qual coexistiram cronologicamente. Eram observadores da mudança climática e da extinção da fauna de grande porte, multiplicando-se a fauna de pequeno porte, roedores, pequenos mamíferos, peixes que passaram a participar da suas novas dietas. A inovação na manufatura cerâmica, as primeiras roças de subsistência, o aumento das terras disponíveis para seus assentamentos provocados pela seca e sua consequente diminuição do volume das águas.

A pesquisa sobre a manufatura cerâmica não se formula para analisar os detalhes do procedimento técnico de sua elaboração, mas como meio de chegar ao conhecimento das populações que a fabricaram e utilizaram; interessa a funcionalidade e o uso da cerâmica pré-histórica. Nas análises dos perfis técnicos das cerâmicas é seguramente onde mais se tem avançado a nível regional.

Constata-se que a cerâmica utilitária em nada difere da utilizada nos rituais fúnebres.

O tema 5 trata dos materiais líticos pré-históricos, e as pesquisas contam com duas colaborações que coincidem com dois momentos metodológicos. O primeiro elaborado para o estudo da Toca do Sítio do Boqueirão da Pedra Furada, em que se estuda e relaciona os produtos líticos finalizados, com ou sem marcas de uso.

Utiliza-se uma classificação analítica dos implementos desse sítio segundo a estratigrafia do Pleistoceno superior ao Holoceno antigo. O segundo tempo metodológico trabalha com os processos de realização dos produtos líticos a partir de um grupo de sítios apresentando a evolução dos implementos líticos nas diferentes fases, por níveis estratigráficos da ocupação pré-histórica.

O sexto tema trata dos registros gráficos rupestres do Parque Nacional, que foram objeto do primeiro volume dessa Síntese, apresentando os primeiros resultados dos sítios descobertos e fornecendo uma proposta preliminar classificatória do acervo de pinturas e de gravuras. O número de sítios pintados ou gravados documentados experimentou, nas últimas décadas, um crescimento surpreendente permitindo dispor de um acervo de registros gráficos maior para uma mesma área e enriquecer o banco de dados imagéticos do Parque Nacional. Hoje, os novos aportes da pesquisa sobre as pinturas e gravuras rupestres, que fazem a diferença na última década, são de natureza técnico-metodológica. Sua aplicação atinge o grau de precisão do registro documentário imagético, permitindo obter um documento final, exaustivo e preciso dos sítios. Viabiliza a criação de bancos de dados imagéticos georreferenciados, tanto bidimensionais como tridimensionais.

No plano analítico dos registros rupestres, a introdução de novas técnicas de medição permite aceder a um espaço analítico ampliado para o estudo e a interpretação dos registros imagéticos. Essas contribuições são verdadeiros instrumentos para formular diagnósticos, planejar intervenções preventivas para a conservação das primeiras obras gráficas da humanidade O sétimo tema trata das pesquisas em Metrologia Arqueológica e Patrimonial desenvolvidas pelo grupo de pesquisa (UFPE/CNPq), que está especializado na análise de elementos-traços em amostras arqueológicas e geológicas e na datação de sedimentos, vestígios cerâmicos e dentes através de métodos de Termoluminescência (TL), Luminescência Opticamente Estimulada (LOE) e Ressonância Paramagnética Eletrônica (EPR). As técnicas apresentadas estão acompanhadas por um estudo de caso, sendo que um deles trata das análises dos pigmentos das pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara. Esse grupo de pesquisa trabalha de forma articulada com as equipes arqueológicas da Fumdham no desenvolvimento de novas metodologias, buscando uma maior precisão nos resultados e adequação ás necessidades da pesquisa.

Finalmente, no oitavo tema, abre-se um espaço para a consideração do fim do mundo indígena e o começo dos tempos históricos. Nele, são apresentadas duas colaborações evidenciando a carência de documentos históricos que tratem do fenômeno indígena ou a existência de documentos históricos deturpados, apresentados pelo filtro dos valores dos três primeiros séculos da presença de europeus no Brasil. A imagem do indígena construída segundo a funcionalidade às necessidades da conquista, da colônia e do valor da produtividade. O indígena sem valor algum em relação ao escravo africano, que tem um preço de compra e um potencial de produtor de bens. O indígena protegido em certa forma da escravidão e do sistema desaparece gradativa e silenciosamente.

Os resultados de trabalhos de impacto social, desenvolvidos paralelamente à pesquisa científica, estão incluídos no volume III da Síntese, que, sob o título Arqueologia, Ambiente e Inclusão Social no Plano Diretor de São Raimundo Nonato, PI, estará disponível no decorrer do ano 2015.__

Paulo Souto Maior – Departamento de Arqueologia, UFPE.

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Las Casas del Alma: Maquetas arquitectónicas de la antigüedad (5.500 a.C./300 d.C.) – Centre de Cultura Contemporània de Barcelona (CA)

CENTRE DE CULTURA CONTEMPORÀNIA DE BARCELONA (Org.). Las Casas del Alma: Maquetas arquitectónicas de la antigüedad (5.500 a.C./300 d.C.). Barcelona: Editora Institut d’Edicions Diputació de Barcelona, 1994; SCHÁVELZON, Daniel. Treinta Siglos de Imágenes: Maquetas y Representaciones de Arquitectura en México y América Central Prehispánica. Buenos Aires: Editora Fundación Cepa, 2004. Resenha de: PESSIS, Anne Marie; MAIOR, Paulo Martin Souto. Clio Arqueológica, Recife, v.26, n.1, 2011.

Autores

No livro Las Casas del Alma: Maquetas arquitectónicas de la antigüedad (5500 a.C./300 d.C.), os artigos foram escritos por vinte e dois autores com formação em Arquitetura, Arqueologia, Engenharia, História, Letras Clássicas, Artes Plásticas e Filosofia. Em comum entre eles, estão os temas de suas teses de doutorado ou das pesquisas realizadas sobre a análise de representações arquitetônicas e urbanas da antiguidade. Em contrapartida, Treinta Siglos de Imágenes foi escrito por Daniel Schávelzon, professor da Universidade de Buenos Aires com formação em Arqueologia.

Estrutura, conteúdo e conceitos

O catálogo da exposição Las Casas del Alma — que ocorreu em 1994 em Barcelona e exibiu miniaturas, relevos, estuques, mosaicos, papiros e pinturas murais de representações arquitetônicas e urbanas está dividido em duas partes. A primeira contém seis capítulos separados por culturas e áreas geográficas: Maquetas y planos del mundo antiguo occidental; Egipto; Mesopotâmia; Grécia; Roma; e El valor de la antiguedad. A segunda apresenta as fotografias e as fichas descritivas dos vestígios da exposição.

Dos quatorze capítulos do livro Treinta Siglos de Imágenes, os três primeiros são conceituais e introdutórios e os demais onze referem-se às tipologias das representações arquitetônicas relacionadas às áreas geográficas nas quais foram encontradas: Las Maquetas prehispánicas y sus interpretaciones; Imágenes de poblados y su entorno; Las primeras representaciones de la arquitectura; Las maquetas de Mezcala; Las maquetas zapotecas y mixtecas; Teotihuacán: maquetas prefabricadas, dibujos y pinturas murales; Las maquetas de Nayarit, Jalisco y Colima: la imagen de la vida cotidiana; El Oriente de México: maquetas, templos en miniatura, relieves y grabados rupestres; Los mayas y sus diversas formas de representar la arquitectura; La arquitectura pintada en las cerámicas y muros mayas; Las maquetas del altiplano mexicano; Las maquetas aztecas; Las maquetas en Mesoaméricas: hipótesis e interpretación e Las maquetas en Sudamérica.

O catálogo Las casas del Alma diferencia-se de Treinta siglos de Imágenes pela diversidade da formação dos autores e por isso não pode ser visto como um texto unitário.

Dessa forma, Jeam Píer Adam, conhecido por seu livro La Construcion Romana: Materiales y Técnicas, faz um relato sobre as diferentes representações arquitetônicas da antiguidade que podem ter as funções de projeto, místicas e ou até anedóticas.i Golvin e Vergniex reproduzem o santuário do grande templo de Aton, através de um modelo informático em três dimensões, a partir de gravuras nas tumbas de Amarna.ii Wilson, em outro artigo, propõe a utilização das miniaturas como subsídios para se compreender os Dez livros de 197 Arquitetura de Vitruvio.iii E Harth propõe até relações simbólicas com projetos modernista do início do século XX.iv Em contrapartida, Muller evoca o aspecto decorativo e figurativo desses vestígios.v Num enfoque semelhante, Bartoli afirma que as maquetes são modelos inspirados em tipologias reais.vi Dessa forma, e no contexto geral da publicação, os artigos não analisam necessariamente as peças da exposição de 1994. Alguns desses textos são tentativas teóricas e interpretações com conclusões improváveis ou inócuas, especialmente em virtude da falta de subsídios ou de dados arqueológicos mais consistentes.

Comparativamente, Schávelzon adverte no início de seu livro que o acúmulo de hipóteses nos vários trabalhos referenciados impede uma única interpretação das miniaturas e, portanto, tenta estabelecer interpretações específicas para cada cultura.vii Assim, em Puebla, no México, algumas delas seriam modelos de prédios reais. Ou então, no caso olmeca, representariam construções da realeza.viii Caso mais explícito das que se encontraram em Mezcala e que teriam um significado simbólico de morada após a morte.ix Essa é a intenção maior do seu livro: a busca de hipóteses de interpretação dos significados e símbolos desses vestígios arqueológicos.

Em conjunto, os dois livros são válidos na medida em que registram as técnicas, os materiais e a estética das próprias miniaturas das representações arquitetônicas. Valem pelo caráter inventarial. Entretanto, as interpretações e justificativas funcionais são especulações ou suposições que, em alguns casos, carecem de base científica sólida. Mesmo assim, o contraponto geográfico e cronológico dos livros 􀉆 América pré-hispânica (Norte e Central) e o Velho Mundo entre 5.500 a.C. e 300 d.C. (Europa, Norte da África e Mesopotâmia) 􀉆 tornam esses textos complementares e obras de referência para a Arqueologia, uma vez que apresentam algumas tipologias arquitetônicas e urbanas que desapareceram e, portanto, se conhecem apenas através desses vestígios.

Notas

i ADAM, Jeam Pierre. 1994. “Dibujos y maquetas: la concepción arquitectónica antigua”, 25–34.

ii GOLVIN, Jean-Claude, VERGNIEX, Robert. 1994. “Primer análisis para la elaboración de una maqueta electrónica del santuario del gran templo de Atom en Amarna”, 35–40.

iii JONES, Mark Wilson. 1994. “Los procesos del diseño arquitectónico: comprender a Vitruvio a partir de los dibujos y maquetas romanos”, 119–128.

iv HARTH, Carlos Guri. 1994. “Signos de abstracción e imágenes invariantes”, 150–156.

v MULLER, Béatrice. 1994. “Las maquetas arquitectônicas del Próximo Oriente Antíguo: usos y significados”, 54–61.

vi BARTOLI, Gilda. 1994. “Las urna en forma de Cabaña de la protohistoria lacia y etrusca, y sus relaciones con la arquitectura real”, p. 111–118.

vii SCHÁVELZON, 2004: 36.

viii SCHÁVELZON, 2004: 46.

ix SCHÁVELZON, 2004: 77.

Anne Marie Pessis

Paulo Martin Souto Maior

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