1913: antes da tempestade – ILLIES (FH)

ILLIES, Florian. 1913: antes da tempestade. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2016. 368p. Resenha de: VIEIRA, Vinícius de Castro Lima. Sobre prazeres, percepções e apropriações: um convite à leitura de 1913, de Florian Illies. Faces da História, Assis, v.6, n.1, p.472-477, jan./jun., 2019.

Ao texto de prazer, Roland Barthes, em 1973, propôs uma caracterização como o texto que procura ser desejado pelo leitor, que produz o deleite pelas/das palavras, que contenta pela ironia, pela erudição, pela fineza, pela cultura e pela inovação. Um texto de prazer, e esse é um detalhe crucial, não é aquele necessariamente dedicado a narrar o prazer, não é o pornográfico; o texto de prazer é aquele no qual se regozija pela forma de produção, pelo erotismo das palavras que instigam.

Para mim, não houve possibilidades – e aqui já me entrego de imediato – de ler o livro, 1913: antes da tempestade, de Florian Illies, e não lembrar das palavras de Barthes. Aliás, o prazer do texto no livro de Illies, ao menos nesta edição brasileira, começa – em um oximoro erótico – antes mesmo da leitura: já está encaminhado na belíssima capa estampada pelo quadro Rua à Noite, de Max Beckmann, que envolve o miolo composto por papel off-white de excelente qualidade e com uma agradável composição tipográfica. Por isso, não pretendo aqui fazer apenas comentários críticos sobre o trabalho de Illies, mas também escrever uma resenha que instigue a leitura do livro.

Mas atenção: não é porque o livro de Illies tenha sido um texto de prazer para este leitor, agora alocado na posição de autor, que o será, automaticamente, para outros. Pode ser que alguém sinta um completo enfado pelo livro; como também é possível que eu mesmo, num outro momento, eventualmente não o identifique mais como um texto de prazer. O prazer é individual, presente, momentâneo e efêmero. Como o sentido de um texto que só se completa nas co-criações do leitor, o prazer, por mais que o texto o procure, não está garantido. O prazer existe em função de alguém e é específico de um leitor em um certo momento; afinal, “se aceito julgar um texto segundo o prazer, não posso ser levado a dizer este é bom, aquele é mau (…). O texto (o mesmo acontece com a voz que canta) só me pode arrancar este juízo, nada objetivo: é isso. E mais ainda: é isso para mim!” (BARTHES, 2009, p. 137).

O livro de Illies cativa pela fina ironia, pelo bom humor, pelo nítido cuidado com as palavras e pelo vasto trabalho de pesquisa. A estrutura narrativa é descontínua, cada capítulo se refere a um mês do ano de 1913 e é subdividido em pequenas seções. Isso não impede, contudo, a percepção e o acompanhamento do transcorrer de determinadas situações, casos e conflitos ao longo do ano. Dessa forma, o livro pode ser apreciado em vários regimes de leituras, dentre os quais dois se destacam: o primeiro seria o da leitura fragmentária, mais interessada nas crônicas envolventes do cotidiano de personagens admiráveis como Rilke, Picasso, Kafka, Schiele, Freud e Schönberg; o segundo seria o da visão totalizante, que permite a percepção de uma espécie de zeitgeist do modernismo europeu no início do século XX. Evidentemente, esses regimes de leituras são mais complementares do que excludentes.

A nacionalidade alemã, a formação em história da arte e a atuação profissional como marchand de arte e jornalista cultural, são aspectos biográficos e profissionais de Illies que ajudam a compreender alguns desses encaminhamentos narrativos, como a natureza jornalística da prosa curta, direta e objetiva e, também, o decalque no destaque evidente ao mundo artístico-cultural germanófono.

Em 2000, o nome de Illies já havia reverberado bastante na intelectualidade alemã com a publicação de seu primeiro livro, Generation Golf, em que fazia uma análise de sua própria geração, nascida nos anos 1970 e modelada no transcorrer das duas décadas seguintes. Não foi por acaso, portanto, que 1913 se tornou um sucesso de crítica e de vendas logo após o seu lançamento, em 2012, na Alemanha; sendo, posteriormente, traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e português. O livro chegou ao Brasil, em 2016, numa edição publicada pela editora Estação Liberdade, com tradução de Silvia Bittencourt e sob auspícios do Ministério das Relações Exteriores alemão.

Ao final da leitura de 1913, fica uma certa impressão de que este ano foi arrebatador, repleto de eventos inaugurais que seriam emblemáticos durante um longo período. Para me ater apenas a exemplos integrantes do inventário de Illies, poderia citar: o início da operação da primeira linha de montagem nas fábricas da Ford; a inauguração dos 57 andares do edifício Woolworth, em Nova Iorque, assumindo o posto de mais alta construção do mundo naquele momento; a publicação do primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido, marco da literatura modernista; as primeiras audições públicas de Canções de Guerre e de Sagração da Primavera, obras-primas de Schönberg e de Stravinsky, respectivamente; o retorno de Mona Lisa ao Museu do Louvre, dois anos depois de ter sido roubada; a realização da exposição Armory Show, que consolidaria a hegemonia do modernismo nas artes; a circulação do primeiro número da revista Vanity Fair entre muitas outras coisas. Tudo isso em 1913.

Ora, se for feito um levantamento tão detalhado quanto o de Illies para outros anos do último século, talvez se chegue a impressões similares de importância, de efervescência e de singularidade. O diferencial do ano de 1913 é especialmente definido pelo que se segue, pois o desenvolvimento econômico-tecnológico, a agitação cultural e, até mesmo, um certo chacoalhar nos costumes ocorre às vésperas da Primeira Guerra Mundial. E isso se torna ainda mais peremptório na narrativa de Illies por não haver indícios no cotidiano das pessoas de apreensão, medo ou desconfiança generalizados para com o futuro.

Evidentemente, as pessoas, em 1913, não poderiam conhecer a “tempestade” que lhes aguardavam; sobretudo porque as experiências traumáticas da Primeira Guerra Mundial estavam tão recheadas de ineditismo que não seria viável nem mesmo vislumbrá-las no horizonte de expectativas. A clivagem que a grande guerra mundial operou no espaço de experiências daquela geração permite que nós, hoje, retrospectivamente, compreendamos como foi possível a formulação de certos prognósticos, como o de David Starr, presidente da Universidade de Stanford em junho de 1913: “A grande guerra europeia, uma ameaça eterna, jamais chegará. Os banqueiros não arranjarão o dinheiro para tal guerra, a indústria não a manterá, os estadistas não terão como levá-la a cabo. Não acontecerá nenhuma grande guerra” (STAR apud ILLIES, 2016, p. 177); ou mesmo o de Lênin, em março desse mesmo ano: “Uma guerra entre a Áustria e a Rússia seria muito útil para a revolução na Europa Ocidental. Todavia, é quase impossível imaginar que Francisco José e Nicolau nos façam este favor” (LÊNIN apud ILLIES, 2016, p. 89).

Essa percepção de que a grande guerra mundial não estava inserida no campo das probabilidades, em 1913, emerge no olhar microscópico lançado por Illies sobre o período. Um olhar que focaliza o cotidiano de determinados integrantes – ou daqueles que viriam sê-los, em breve – das elites culturais, políticas, intelectuais, acadêmicas e científicas do continente europeu, em especial, das “capitais do modernismo” – Viena, Paris, Berlim e Munique. Illies pouco ou nada nos diz sobre os pobres e os camponeses europeus, nem sobre o cotidiano nos trópicos ou nos continentes asiático e africano. Um historiador, por outro lado, que empregasse um olhar instrumentalizado pelo telescópio1, sobre o mesmo período, talvez pudesse afirmar, pautado em elementos – que o próprio Illies menciona – como o aumento dos gastos militares, o incremento no contingente do exército austro-húngaro ou o aumento das tensões políticas nos Balcãs, que já estaria sendo tramado um cenário de guerra. E, assim, estaríamos diante de um bom exemplo das variações interpretativas proporcionadas pelos chamados jogos de escalas (REVEL, 1998).

Porém, Florian Illies não é esse historiador, não é essa sua intenção, nem, muito menos, é esse o seu olhar. Ele prefere nos deliciar com as intimidades da vida dos outros. Prefere nos contar a ida de Hitler para a Alemanha, em maio, fugindo do recrutamento do exército austríaco; a intensa paixão do feioso Oskar Kokoschka com a belíssima Alma Mahler, que lhe promete casamento se ele pintar uma “grande obra-prima” (ILLIES, 2016, p. 138); a apreensão de Freud para o encontro com seu ex-colaborador Jung, no IV Congresso da Associação Psicanalítica; e as indecisões de Kafka, suas “gagueiras por escrito” (ILLIES, 2016, p. 191), nas cartas trocadas com sua amada Felice Bauer.

Aliás, Kafka é um dos personagens mais proeminentes da narrativa de Illies e merece aqui um comentário mais detido. Quando finalmente consegue se decidir, um dos maiores escritores do século XX, pede Felice Bauer em casamento de uma forma no mínimo sui generis. Escreve Kafka:  […] pondere Felice, diante desta incerteza é difícil pronunciar as palavras e também deve ser estranho ouvi-las. Ainda é cedo demais para dizer. Mas depois será tarde demais, não haverá mais tempo para discutir essas coisas, como você menciona na última carta. Mas não há mais tempo para hesitar demais, pelo menos é o que sinto, e por isso pergunto: dadas as condições acima, difíceis de eliminar, não quer pensar em se tornar a minha esposa? Você quer isso? […] Considere, Felice, as mudanças que se sucedem conosco em um casamento, o que cada um perderia, o que cada um ganharia. Eu perderia a minha solidão, assustadora na maioria das vezes e ganharia você, a quem amo acima de todas as pessoas. Você, porém, perderia a vida que tem agora, com a qual tem estado quase inteiramente satisfeita. Perderia Berlim, o escritório de que tanto gosta, as amigas, os pequenos prazeres, a perspectiva de se casar com um homem saudável, alegre e bom, de ganhar filhos bonitos e com saúde, algo que você, pense bem, realmente almeja. No lugar destas perdas incalculáveis, você ganharia uma pessoa doente, fraca, insociável, taciturna, triste, inflexível e quase sem esperança (KAFKA apud ILLIES, 2016, pp. 191-192).

Illies então segue, comentando ironicamente, “Quem não diria sim imediatamente? Um pedido de casamento em forma de admissão de falência” (ILLIES, 2016, p. 192).

Tudo bobagem, poderiam dizer os estudiosos presos à ortodoxia de uma história estrutural desencarnada. Mas acho que a essa altura já está bastante evidente que as miudezas, as de Illies aqui, em particular, podem municiar importantes reflexões. Se ainda não estiver, vamos a um exemplo ainda mais claro.

Um exemplo de reflexão teórico-conceitual que o livro de Illies encaminha aparece bem localizado no início do capítulo dedicado ao mês de março e diz respeito à importância em conferir uma dimensão histórica ao conceito de moderno. Como sabemos, o que é tomado, proposto e entendido como moderno, em uma determinada época, é objeto de disputa, envolvendo, em alguns casos, passado e presente, tradição e ruptura. À cada geração, ao menos desde meados do século XIX, o que é identificado como moderno é redefinido constantemente, de modo a consolidar o rompimento com parcelas de um passado e ser associado às experiências presentes. Toda essa reflexão é belamente ilustrada por Illies a partir do relato das relações do crítico de arte Julius Meier-Graefe com as vanguardas artísticas:  Sempre assistimos, espantados e admirados, a como os propagandistas mais impetuosos da vanguarda têm olhos apenas para aquela única revolução artística. Quando chega a geração seguinte, disposta a fazer a última vanguarda parecer antiquada, a perícia, o discernimento, o “olho” firme muitas vezes não funcionam mais. É o caso aqui. Meier-Grafe, que por iniciativa própria abrira os olhos dos alemães para Delacroix e Corot e Cézane e Manet e Degas e muitos outros, está sentado na casa de campo em Berlim-Nikolassee e escreve, impassível, a sentença: “Frente ao nome de Picasso, o historiador do futuro ficará paralisado e constatará: aqui se chegou ao fim”. Ponto. Inimaginável que, depois da destruição das formas do cubismo, seja possível seguir em frente. O grande autor, talvez o estilista mais ardente da crítica de arte do século, um mestre em narrar a “evolução” da arte, agora a enxerga, sobriamente, chegando ao fim. Lá, no mesmo ponto em que hoje enxergamos seu início (ILLIES, 2016, p. 87).

É preciso, ainda, fazer três comentários sugestivos e críticos sobre aspectos formais do livro, dois deles de responsabilidade do próprio autor e o outro me parece que mais específico à edição brasileira. Primeiramente, a ausência de indicações precisas das referências das fontes, ao meu olhar viciado de historiador, incomoda bastante. A lista das referências bibliográficas que segue ao final do livro é muito geral e não ajuda muito outros pesquisadores que eventualmente quiserem desenvolver ou mesmo checar algumas informações citadas por Illies. Certamente, o autor e os editores optaram por suprimir as notas de rodapé para favorecer a fluidez do texto, mas, ainda sim, poderiam ter se valido das notas de fim, com as quais obteriam efeito parecido, sem comprometer o rigor. Outra carência importante é a de um índice remissivo. Como são muitos nomes citados inúmeras vezes, esse índice, provavelmente, seria gigantesco, porém ajudaria os pesquisadores, estudantes e mesmo os curiosos com interesses mais específicos, a identificar os momentos exatos em que cada personagem é mencionado. Não posso deixar de sinalizar, por fim, os problemas de ortografia e de digitação que a edição brasileira apresenta. Para me bastar no mais grosseiro, o nome de Virginia Woolf aparece, ao menos três vezes, erroneamente grafado como “Virgina”. Detalhe que não anula a qualidade do livro, mas que precisará ser objeto de uma revisão mais cuidadosa em futuras reedições.

Estamos, portanto, diante de uma obra que tem méritos, defeitos e limitações, mas que consegue, antes de tudo, despertar o interesse do leitor pelo período e pelo desenrolar do próprio livro. Illies escolhe tão bem as palavras que nos deixa em dúvida se lemos num único fôlego para conhecer os desfechos de todas aquelas situações ou se diminuímos o ritmo para desfrutar pausadamente das imagens produzidas pela narrativa. E, ainda assim, no final, ficamos curiosos dos destinos das vidas ali narradas, desejosos de perceber de que modo a grande guerra alterou aqueles cotidianos e produziu outras sociabilidades, apreensões e “normalidades”. Por isso, seria formidável se Illies nos presenteasse com um 1915 ou um 1918. Enfim, foi ótimo para mim. Espero que para vocês também seja.

Notas

1 Quando me refiro aos olhares telescópicos e microscópicos faço alusão ao comentário de José Gonçalves Gondra sobre o trabalho de Jacques Revel. Sobre esse tema, consultar: GONDRA, 2012; REVEL, 1998.

Referências

BARTHES, Roland. O prazer do texto. Lisboa: Edições 70, 2009.

ILLIES, Florian. 1913: antes da tempestade. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2016.

GONDRA, José. Telescópios, microscópios e incertezas: Jacques Revel na história e na história da educação. In.: LOPES, Eliane; FARIA FILHO, Luciano (Org.). Pensadores sociais e história da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. v. 2.

REVEL, Jacques. Jogos de escalas: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998.

Vinícius de Castro Lima Vieira – Mestre em História Política pela UERJ, Rio de Janeiro-RJ, e doutorando em História Política na mesma instituição. Pesquisador do Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades Sociais (LEDDES). E-mail: [email protected].

Acessar publicação original

[IF]

Consciousness – HILL (M)

HILL, C. S. Consciousness. Nova York: Cambridge University Press, 2009. Resenha de: JUCÁ, Gabriel. Manuscrito, Campinas, v.32, n.2, July/Dec. 2011.

The view that conscious experiences are baffling phenomena of a metaphysically peculiar nature dies hard. Although scientific models of conscious awareness have in recent years been receiving more and more attention, such theories have yet to find room in the imagination of intellectuals. So the fact that scientists have already developed rigorous explanations of phenomena ranging from intentional action to visual perception has, unfortunately for those of physicalist inclinations, failed to capture public imagination. Can philosophers help the physicalist cause?

It is ironic that, in contemporary philosophy of mind, much important work on consciousness shows no distinct philosophical character, at least in the following sense: the positive theoretical contributions could just as well have been made by scientists. The refutations of dualist arguments involving qualia naturally require a firm grasp of contemporary philosophy, but they are evidently not what I mean by “positive theoretical contributions”, that is, actually explaining the data. Think, for example, of Daniel C. Dennett’s (1991, pp. 101-170) ingenious reinterpretations of the color phi experiment and Libet’s “timing of consciousness” puzzle, or of Paul Churchland’s ( 2002) work in praise of recurrent networks. Fascinating as they are, such ideas are hardly convincing to those skeptical about a major role for philosophy in the development of a naturalistic/physicalist perspective on the mind that is both comprehensive and rigorous.

What would such a philosophical view look like? One might try to develop a theory that, in addition to the mandatory tapping into recent empirical research, incorporates careful introspective and philosophical argument in figuring out just what the objects of experience are. Christopher S. Hill, a professor of philosophy at Brown University and a logician of distinction (he is the author of Thought and world: an austere portrayal of truth, reference and semantic correspondence) has set out to do just that. Initially a proponent of type materialism and conceptual dualism, a combo defended on his 1991 book Sensations, he evolved into a representationalist about conscious phenomena. The latter is the view defended on his latest book, Consciousness.

A key idea on Hill’s theory is approaching qualitative states as states of the external objects of perception or properties of bodily states. Following Gilbert Harman’s lead, Hill argues that awareness of qualia is not awareness of characteristics belonging to mental objects per se; instead, awareness of qualia is awareness of properties of intentional objects. Perceptual experience typically involves representing these properties in a transparent way, that is, the properties of the representations themselves are not readily available, unlike the properties of objects that we perceive. This can be justified by an appeal to introspection. As Hill says “It is introspection that shows that our awareness of external objects is not mediated by awareness of internal phenomena, and it is introspection which shows that introspection reveals only the representational properties of experiences” (pp.58-59). When we focus our attention on our visual experience of a given object, for example, we get better detailing of a feature belonging to the object – the brightness of its colors, its mereological relations, and so on. Thus, the most promising approach is a focus on the conscious mind as a representational engine. Moreover, the success of contemporary cognitive science demands just such an approach (p. 70). Indeed, scientific work in both “high level cognitive phenomena” and “lower level perceptual phenomena” presuppose this; Hill is thus led to affirm that scientific developments are the primary argument for the representationalist thesis (ibid.).

Unfortunately for proponents of such a view, there seem to be features of subjective experiences that just can’t be intrinsic to the discriminated objects. When a huge object such as The Moon is seen, for example, we have something that (from the viewpoint of average earthlings) looks rather small, even though it is perception of something enormous. So it appears that in conscious perception we are aware of at least some properties that are tied to a subjective situation, and this subjectivity might very well imply an “internal” character. This is what Hill calls “the problem of appearances” (pp.59-62).

How could those sympathetic to Harman’s view cope with the problem of appearances? Hill believes that such appearances, which he calls “A-properties” (p. 144) are indeed possessed exclusively by the objects of experience, but have a viewpoint-dependent nature. Thus, A-properties are relative to “such contextual factors as distance, angle of view, and lighting” (think of objects with the same light-reflecting properties all over but partially covered in shade: again, we have a grasp of something of a certain color all over but looking different here and there). These considerations set the stage for a Hill’s theory of visual qualia, which are to be identified with A-properties. The qualia involved in bodily sensations differ from the visual ones in not being viewpoint-dependent in this sense, but nevertheless share the crucial feature of not being mental in character. They are properties represented in awareness, not properties of awareness. This representational view extends to all qualia; indeed, even awareness of emotions is such a perceptual phenomenon.

An interesting consequence is the possibility of us being wrong even about our own experiences. In other words, incorrigibility about one’s own sensations gets discarded.  Since in perception there is always an appearance/reality distinction, one could be thinking they’re outraged when actually experiencing a different emotion, such as jealousy. Likewise, you might think you are in pain when you are in fact hallucinating pain (p. 181). But Consciousness‘ main strength is not the demolition of old intuitions of incorrigibility. It is rather the extension of Harman’s introspective insights into a theory of consciousness that is both comprehensive and detailed. The representational perspective allows Hill to tackle the seemingly ineffable realms of pain and emotion as deeply as it has ever been done in philosophy.

Indeed, as surprising as it may sound to those who see awareness of pain as awareness of an intrinsically subjective mental property, pains fit rather smoothly in the representational picture defended by Hill. Here are his arguments: awareness of pain closely resembles straightforward examples of perception. We are able to attend to pains and thus to intensify the contrast between pains and what is in “the background”. We can assign spatial characteristics to pains, such as location. We can assign “parts” to pains, and we also have particularized access to them (as Hill puts it, “if I am aware of the existence of a trio of pains in my arm, I must be aware of each individual member of the trio”). These facts, coupled with the assumptions that experiencing pain also involves subconceptual representations, a priori norms of grouping into wholes and a proprietary phenomenology, strongly suggest that awareness of pain is a form of perception. The objects perceived turn out to be bodily disturbances that involve actual or potential tissue damage (p.177). This means that being aware of pain qualia means representing bodily disturbances. In Hill’s theory, pains are to be identified with such disturbances. A-properties are not mental after all, and neither are pains. And since representation involves the possibility of misrepresenting, we can hallucinate pains. That is the case in cases of phantom limb pain. Patients who present this condition don’t really have pain (p.182).

In the case of emotions, Hill explores the somatic view first proposed by William James in 1884. In a nutshell, the somatic approach says that emotions consist entirely of awareness of bodily changes triggered by biologically significant events. When one’s relative is hurt, for example, their body is guided by instinct to react in a certain way, often with crying, the usual modifications in body language, gesturing and a peculiar pace in the flow of thoughts. The agent’s emotional sensations are nothing more than awareness of these changes. Indeed, as James argued, it is difficult to conceive of emotions in the absence of such awareness. A point in favor of the somatic theory is its predictive power: researchers have verified that involuntary grimacing modifies mood. Another point in favor of the somatic approach is its refutable character. Should one find out that spinal patients (whose awareness of bodily changes is impaired) have the exact same emotional profile (given the same background conditions) of those without spinal injuries, the theory would be in serious trouble. Fortunately for Hill and other proponents of the somatic approach (Portuguese neuroscientist Antonio Damasio is an example), it seems spinal patients do have somewhat different emotional profiles (p. 199). For these reasons, it seems reasonable to conceive of emotional sensations as representations of bodily reactions.

But how can such a theory account for the fact that emotions don’t seem to be about bodily events, but about whatever triggers the events in the first place?  If I grieve, it appears to me that the grief is “directed” at the loss I have had, and not about my somatic reactions to the event. Hill’s contribution here is to complement the previous somatic theories with loops of perceptual imagery “that provides an emotion with its intentional object” (p. 207). Thus, a major obstacle to the somatic approach can be negotiated smoothly.

Sympathetic though this review is, it must be said that the way Hill uses the term “qualia” can be misleading. Hill is faithful to the idea that perceptual qualia are, as Jaegwon Kim says, “the ways that things look, seem, and appear to conscious observers” (p.145). This is perfectly compatible with the account described above, but there is more to it than just that. The term “qualia” carries a deeper significance in philosophical discourse; “the way things look, seem and appear to conscious observers” is usually seen as characterizing mental states. Moreover, this characterization is said to be irreducible. “Qualia” is then used as a crucial theoretical term that states one’s position concerning reduction/elimination. The very deflated qualia mentioned by Hill, on the other hand, could just as well be accepted by qualia eliminativists. After all, who would deny that there are ways things look and appear to those who are conscious?  Eliminativists have basically been saying that there is nothing irreducibly mental in consciousness. In other words, there is no felt quality that is immune to physicalist theorizing/reduction. For this reason, I feel Hill ought to stick to a more neutral term such as “appearances”, and assume a qualia-eliminativist position. His very bland definition of qualia has no theoretical bite.

Another minor flaw on Consciousness is Hill’s confusing treatment of the folk concept of pain. He alleges that the bodily disturbance theory of pain cannot do justice to the incorrigible and intrinsically experiential character of the folk concept. Unfortunately, the latter simply cannot be abandoned, for the folk concept is used to keep track of painful experiences, and this matters a great deal. As a result, we ought to say pain is either the sort of experience we have when certain somatosensory representations are activated (the folk concept) or a bodily disturbance we can be aware of (the representational theory). But is this warranted? Everything in folk psychology is used to keep track of important things, but it would be naïve to expect all of its concepts to be preserved by advanced theorizing. The concept of images seen in one’s mind’s eye, for example, appears to be bankrupt even if it is used to keep track of something quite relevant, namely, visual imagination. Likewise, we shouldn’t expect a philosophical theory of pain to fully honor the folk conception of pain.

Minor complaints aside, Consciousness helps to clarify the issues like few other books in the field. It stands out for comprehensiveness – key concepts are employed in unifying aspects of consciousness that appear very dissimilar. More importantly, though, it incorporates scientific insight without letting scientists do all the relevant work. Philosophy still has important things to say about the human mind.

References

BROOK, A., ROSS, D. Daniel Dennett. Nova York: Cambridge University Press, 2002.         [ Links ]

CHURCHLAND, P. “Catching consciousness in a recurrent net”. In: A. Brooke and D. Ross (eds.) (2002), pp. 64-80.         [ Links ]

DENNETT, D. C. Consciousness explained. Boston: Little, Brown, 1991.         [ Links ]

HILL, C. S. Consciousness. Nova York: Cambridge University Press, 2009.         [ Links ]

Gabriel Jucá – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Filosofia, Rua Marquês de São Vicente, 225, Rio de Janeiro, RJ, CEP 22453-900, BRASIL, [email protected]

Acessar publicação original