Centenário 1917: Grande Guerra, greves e revoluções / Revista Brasileira de História / 2017

Neste ano do centenário das grandes greves e revoluções ocorridas no contexto da Primeira Guerra Mundial e que, com ela, transformaram a face do mundo a tal ponto de inaugurarem o que alguns historiadores consideram um novo período histórico – o breve século XX, na expressão de Hobsbawm -, a Revista Brasileira de História não poderia deixar de apresentar ao público um conjunto de análises profundas e inovadoras sobre esses importantes eventos.

À data do centenário da Primeira Guerra Mundial, jay Winter, responsável por coordenar a importante Cambridge History of the First World War (Winter, 2014a), apresenta-nos quatro gerações de historiadores que se dedicaram e se dedicam ao estudo da Primeira Guerra Mundial (Winter, 2014b). Em 2004, o mesmo autor, em colaboração com Antoine Prost – autor de referência no estudo da guerra em França -, publicou Penser la Grande Guerre. Un essai d’historiographie.[1] Na obra declararam a existência de três gerações: “a primeira configuração explica a história pelas decisões dos atores; a segunda pelo jogo das forças sociais; a última faz da cultura o motor da história e encontra nela as suas explicações. As representações determinam os atos” (Winter; Prost, 2004, p.47-48).[2] Trata-se de um conjunto de movimentos que se seguem, coexistem e se entrecruzam. Um processo sempre em devir a que os contextos de produção de conhecimento não são inalienáveis. Atualmente, as “vanguardas” assumem um cunho transnacional, isto é, o foco é global na forma como atravessa as fronteiras nacionais, analisando experiências que, não obstante serem condicionadas por elas, se tornam globais (Winter, 2014b). Vejamos como Prost e Winter apresentam essas gerações historiográficas. A geração da Grande Guerra, contemporânea ao conflito e às suas consequências mais imediatas, foca sua atenção na ação do Estado. Numa análise de cima para baixo, procura apurar responsabilidades pela eclosão do conflito, entender as condições da sua origem e possíveis lições a serem aprendidas no sentido de evitar que se repita. Entre os anos 1960 e 1970, mudanças mais amplas da prática histórica irão influir na forma de entender a guerra, seja pela integração dos protagonistas na narrativa, seja pela adoção de novas perspectivas. A afirmação do paradigma marxista permite uma valorização política dos movimentos sociais e do seu lugar no fenômeno da guerra. Muda, definitivamente, a compreensão da natureza e a dimensão do conflito, entendido como consequência do imperialismo. Emerge, então, um segundo eixo de compreensão dedicado a uma história do social (Winter, 2009, p.2-4). Nesse ambiente instala-se, entre os anos 1970 e 1980, aquilo que Winter e Prost denominaram de Vietnam generation (geração Vietnã). Uma terceira geração que, profundamente afetada pelas consequências da Guerra do Vietnã, e de forma mais ampla pela Guerra Fria, não mais considera a just war como algo plausível, apresentando a Primeira Guerra Mundial como desastrosa para vencedores e vencidos (Winter, 2014a).

Os trabalhos que neste Dossiê se debruçam sobre a Primeira Guerra Mundial, mais especificamente sobre seus impactos na retaguarda e para além do conflito, integram fórmulas de compreensão da guerra propostas nos anos 1980 no âmbito de uma história cultural da guerra. Trata-se de olhar para “um conjunto de práticas, de representações, de atitudes, de criações dos anos de 1914-1918. E também dos anos seguintes, tanto é verdade que este tipo de história [cultural] dá um largo espaço à recordação e à comemoração do pós-guerra”.[3] Assim, uma série de temas em torno das representações da experiência no e além do tempo e espaço da guerra passam a corporizar essa guinada cultural.

A Grande Guerra impactou fortemente as vidas de todas as classes e grupos sociais do mundo de então. O segundo tema do Dossiê buscou contemplar essas relações. As greves e revoltas ocorridas nos anos finais da Primeira Guerra Mundial e nos anos iniciais do pós-guerra, especialmente no ano de 1917, configuraram um ciclo de agitação social global, como o define a historiadora portuguesa joana dias Pereira (2014). Esses são, portanto, eventos e processos históricos particularmente importantes para serem analisados na perspectiva do que o historiador holandês Marcel Van der Linden chamou de História Global do Trabalho, inserindo as lutas de cada país em contextos geográficos mais amplos, construindo uma história transnacional dos movimentos sociais trabalhistas, com comparações entre os países e análises das conexões entre eles (Van der Linden, 2013).

As condições de trabalho, a insuficiência dos salários e a repressão foram fatores que estimularam os conflitos e protestos daqueles anos, criando um clima de tensão permanente, às vezes explosivo, como os que ocorreram em São Paulo, Nova York, Turim, São Petersburgo, Sydney e tantas outras cidades. As experiências e as elaborações feitas a partir das greves daquele período foram tão marcantes que configuram para a historiografia o início de um novo ciclo de lutas trabalhistas e até mesmo de formação de uma nova classe operária (Procacci, 2013). A economia de guerra contribuiu para intensificar a solidariedade entre os trabalhadores ao evidenciar as contradições do capitalismo e da economia de mercado.

O centro do debate historiográfico sobre as greves de 1917 no Brasil, assim como em outros países, acabou sendo o grau de espontaneidade dos movimentos, polêmica que implicava a explicação das relações existentes entre a multidão de grevistas e os militantes anarquistas, socialistas e sindicalistas que participaram como lideranças dos movimentos. Hoje podemos falar de certo consenso em relação à ideia de que esses movimentos foram caracterizados por impulsos diversos, tanto espontâneos quanto organizados, que coexistiam e que constituíram o pano de fundo dessas agitações, cuja característica mais marcante foi a passagem da greve à revolta (Biondi, 2011). A tendência atual da historiografia sobre esses movimentos é a de analisar as diferentes redes formais e informais na mobilização dos trabalhadores e as mediações entre diferentes repertórios de ação coletiva, destacando, por exemplo, a relevância do papel das mulheres.

O terceiro tema central do Dossiê está centrado na história das revoluções russas de 1917, contada e recontada inúmeras vezes e sob as mais diversas perspectivas, mas sempre aberta a novas investigações. Em termos gerais, o processo revolucionário na Rússia de 1917 foi invariavelmente conectado à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), da mesma forma que o “Ensaio Geral” ocorrido 12 anos antes no Império dos Czares foi associado à Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). As revoluções, assim como a Guerra Civil e a formação da União Soviética, despertaram paixões políticas profundas e alimentaram debates teóricos acalorados, tanto no movimento operário dos mais diversos matizes, como nas instituições universitárias. Não foi sem razão que tantos intelectuais se engajaram na produção de suas versões sobre os acontecimentos de 1917 na Rússia. Ao longo de seu centenário, esses eventos serviram de exemplo e inspiração para incontáveis partidos e movimentos políticos ao redor do mundo. Não cabe fazer aqui uma longa e minuciosa exposição sobre tudo quanto já se escreveu sobre o assunto ao longo desses cem anos. Também não faremos referências às “histórias oficiais soviéticas” ou aos escritos dos “emigrados”. Mas é interessante lembrar algumas obras e momentos marcantes a respeito do tema e sua recepção no Brasil. Os primeiros relatos foram produzidos por intelectuais diretamente envolvidos nos acontecimentos, o que não chega a ser uma surpresa.

Nesse sentido, o primeiro título a ser mencionado é Ten days that shook the world, do jornalista estadunidense john Reed, escrito em perspectiva engajada no calor dos acontecimentos e publicado nos Estados Unidos em 1919, 2 anos depois da queda do czarismo e da ascensão dos bolcheviques. Trata-se, como dito pelo próprio autor, de uma crônica do que ele observou e viveu. Reed retornou ao país dos sovietes ainda em 1919, vinculado à Internacional Comunista, e faleceu em 1920, vítima de tifo. No Brasil, Dez dias que abalaram o mundo foi publicado com uma defasagem de mais de quatro décadas pelas editoras Fulgor (Rio de Janeiro, 1963), Record (Rio de Janeiro, 1967) e Global (São Paulo, 1978), entre outras (Reed, 2010).

Victor Serge foi outro “estrangeiro” que produziu uma memória sobre os acontecimentos que vivenciou no país dos sovietes. Serge era um jornalista anarquista de origem francesa, filho de exilados russos. Chegou à Rússia em fevereiro de 1919, passando a trabalhar para a Internacional Comunista, da mesma forma que john Reed. Seu L’an 1 de la révolution russe foi escrito na Rússia entre 1925 e 1928, quando já sofria as perseguições do stalinismo, e foi publicado na França em 1930. Serge integrou, por um tempo, as fileiras da Oposição de Esquerda, liderada por Trotsky, mas também rompeu com ela, morrendo isolado no México em 1947. A publicação de O ano I da Revolução Russa ocorreu no Brasil apenas em 1993, pela Editora Ensaio, e em 2007, pela Boitempo (Serge, 2007).

O terceiro testemunho feito por um partícipe dos acontecimentos de 1917 foi dado por Leon Trotsky, The History of the Russian Revolution, escrito em 1930, traduzido para o inglês por Max Eastman e publicado em 1932 pela The University of Michigan Press em três volumes. Como se sabe, o autor teve papel protagonista não apenas na chamada Revolução de Outubro, como também no comando do Exército Vermelho, durante a Guerra Civil, e na construção do Estado Soviético. Portanto, a escolha dos “fatos” e a forma de narrá-los também foram fortemente condicionadas pelo papel que o autor-ator desempenhou em 1917 e depois, apesar das declarações de que sua obra primava pela “objetividade histórica”, sendo baseada em “documentos rigorosamente controlados” e não em “recordações pessoais”. A primeira edição brasileira foi feita pela Saga (Rio de Janeiro, 1967), ao passo que a Paz e Terra fez a segunda e a terceira (Rio de Janeiro, 1977 e 1978-1980).[4]

O bloco dos escritos legados pelos intelectuais vinculados ao movimento revolucionário pode ser fechado com uma referência à obra de Volin ou Voline, codinome de Vsevolod Mikhailovich Eichenbaum. de acordo com o pequeno esboço biográfico escrito por Rudolf Rocker em 1953, Volin era filho de médicos russos, fluente em francês e alemão tanto quanto em russo. Enviado a São Petersburgo para estudar direito, engajou-se no movimento operário desde a virada do século XIX para o XX, vinculando-se ao Partido Socialista Revolucionário. Foi preso por envolvimento na Revolução de 1905 e sentenciado ao exílio em 1907, escapando para a França, onde rompeu com os SRs em 1911 e se ligou ao anarquismo. Suas atividades antibeligerantes o indispuseram com o governo francês, forçando-o a uma fuga para os Estados Unidos, onde participou das atividades da União dos Trabalhadores Russos nos EUA e Canadá, uma organização inspirada na CGT francesa. Em 1917, quando a Revolução teve início na Rússia, ele voltou a sua terra natal, tomando parte ativa nas atividades dos libertários daquele país. Em 1919, quando começaram os conflitos entre libertários e bolcheviques, Volin foi preso e deportado em 1921, estabelecendo-se na Alemanha por 2 anos e, em seguida, indo para a França, onde morreu de tuberculose em 1945. Sua obra foi publicada postumamente em francês sob o título La Révolution inconnue, em 1947 e 1969, em três volumes. Edições em inglês foram publicadas em 1954 e 1955 sob o título de The unknown revolution 1917-1921. No Brasil, até onde se sabe, publicou-se apenas o primeiro volume de A Revolução Desconhecida, em 1980 (Volin, 1980).

O ano de 1950 foi um divisor de águas na historiografia sobre o tema, já que foi então que se produziu a primeira grande obra escrita por um historiador de ofício. Trata-se de The Bolshevik Revolution, 1917-1923, de autoria do britânico Edward Hallett Carr. Ela foi publicada na Inglaterra em três grandes volumes pela editora Macmillan em 1950, 1951 e 1952, respectivamente. E. H. Carr destacou-se pela capacidade analítica e pela vasta pesquisa que realizou para escrever sua obra. A edição inglesa foi traduzida para o português e publicada pela Editora Afrontamento, do Porto, com o título A Revolução Bolchevique. Os três volumes foram dados ao público em 1977, 1979 e 1984. A História da Rússia Soviética de Carr se completava com outros volumes dedicados ao “Interregno 1923-1924”, de 1954, “Socialismo num só país, 19241926”, publicado em três volumes em 1958, 1959 e 1964, e a última parte, “As origens duma economia planificada, 1926-1929”, cujo primeiro volume foi publicado em 1969 em coautoria com R. W. Davies.[5]

Ainda nas décadas de 1960 e 1970, outros historiadores publicaram obras específicas sobre as revoluções de 1917, a exemplo da síntese feita por Marc Ferro em 1967 (Ferro, 1967) ou da pesquisa de William G. Rosenberg, de 1974, sobre os liberais aglutinados no Partido Constitucional democrático durante o processo revolucionário (Rosenberg, 1974).

Contudo, foi na década de 1980 que surgiram os trabalhos mais inovadores no sentido de deslocarem o foco dos grandes atos e atores (individuais e institucionais) e centrarem atenção no envolvimento direto dos trabalhadores nas revoluções russas de 1917. Essas obras superaram as narrativas tradicionais, mais preocupadas em destacar o papel das grandes lideranças dos partidos bolchevique, menchevique e socialista revolucionário, e investiram na análise detida do protagonismo operário na derrubada da autocracia e na ascensão dos revolucionários em fevereiro e outubro de 1917. A partir do uso intensivo de uma quantidade e variedade maiores de fontes e sob a influência da história social, essas obras deram grande contribuição à história da classe operária, suas condições de trabalho e de vida, organizações, greves e interfaces com a tomada do poder em 1917. Nesse sentido, podemos citar as contribuições de diane P. Koenker, Moskow Workers and the 1917 Revolution, de 1981 (Koenker, 1981); Diane P. Koenker e William G. Rosenberg, Strikes and Revolution in Russia, 1917, de 1989 (Koenker; Rosenberg, 1989), e de S. A. Smith, Red Petrograd: revolution in the factories, 1917-1918, de 1983 (Smith, 1983).

A partir da década de 1990 houve uma ampliação dos temas estudados para além das revoluções de 1917 stricto sensu. de acordo com Smith, isso foi possível graças à abertura dos arquivos da antiga União Soviética, o que possibilitou o estudo de aspectos e períodos pouco conhecidos até então, como a era stalinista. Em artigo recente, o autor passou em revista as pesquisas preocupadas em aprofundar o conhecimento sobre as conexões entre a Primeira Guerra Mundial e as Revoluções Russas de 1917, o papel dos boatos na erosão da autoridade sagrada da família real, o conteúdo emocional e moral da linguagem popular, o recrutamento e as experiências de soldados e oficiais russos como prisioneiros na Alemanha e durante a Guerra Civil, as relações entre nacionalidades e império, variações do processo revolucionário nas províncias e nas pequenas cidades e o comportamento dos camponeses e da nobreza em face da revolução, entre outros.[6] O próprio Smith investiu em um estudo comparativo entre as revoluções russas e chinesa, com particular atenção para os camponeses de ambos os países que migraram do campo para Petrogrado e Xangai (Smith, 2008). já Silvio Pons, autor de um dos artigos do presente Dossiê, publicou, em 2014, um amplo painel sobre as relações entre a União Soviética e os partidos comunistas ao redor do mundo ao longo do século XX, até o colapso de 1991 (Pons, 2014).

Em diálogo com essa historiografia, os textos aqui reunidos tratam de modo complementar de diferentes aspectos do contexto da Grande Guerra e dos movimentos sociais do período. Os textos “Música e guerra: impactos da Primeira Guerra Mundial no cenário musical carioca”, de Luciana Fagundes, e “Uma facada pelas costas: paranoia e Teoria da Conspiração entre conservadores no refluxo das Greves de 1917 na Alemanha”, de Vinicius Liebel, vão ao encontro da compreensão da experiência do conflito como Guerra Total[7] na forma como imaginários, sua transmissão e apreensão, são mobilizados além da frente de batalha e do tempo da guerra. Luciana Fagundes procura mostrar como a guerra se lutou para além das trincheiras pela mobilização político-diplomática de ideias numa propaganda que mediaria fórmulas e embates culturais do cenário musical do Rio de Janeiro. Vinicius Liebel ensaia mostrar de que forma a guerra e seus efeitos imediatos foram capitalizados nas lutas ideológicas do entre guerras instalando uma paranoia a que não se pode alienar a Segunda Guerra Mundial.

O artigo de Glaucia Fraccaro, “Mulheres, sindicato e organização política nas greves de 1917 em São Paulo”, analisa uma dimensão ainda pouco explorada no estudo das greves no Brasil, isto é, a participação das mulheres nas ligas operárias de bairro e nos sindicatos. Ela procura localizar as trabalhadoras examinando os pontos de pauta que interessavam diretamente as mulheres por ocasião das greves deflagradas em São Paulo no ano de 1917. Sua pesquisa dá relevo às dificuldades enfrentadas pelas operárias para encontrar colocação no mercado de trabalho e assegurar igualdade salarial em relação aos trabalhadores do sexo masculino que exerciam as mesmas atividades.

O artigo de Silvio Pons, “Antonio Gramsci e a Revolução russa: uma reconsideração (1917-1935)”, apresenta-nos uma análise política aprofundada e inovadora do pensamento do intelectual italiano. Na análise de seus escritos sobre a Revolução russa e a construção de uma nova estatalidade, Pons nos mostra o processo de formação das principais categorias do pensamento político de Gramsci e sua originalidade no panorama do comunismo de sua época. Pons nos mostra também como, longe das visões deterministas, Gramsci inscreve as próprias considerações no campo das possibilidades históricas.

Notas

  1. Esta análise tem por orientação fundamental o trabalho de WINTER & PROST, 2004.
  2. Citado por CORREIA, 2014.
  3. Citado por LEMOINE, 2006, p.136.
  4.  TROTSKY, 1978-1980. Observe-se que em 1909 Trotsky já havia escrito sobre outra revolução russa, a de 1905. A obra foi originalmente publicada na Alemanha, em 1909, depois na Rússia, em 1922. Para a edição brasileira, cf. TROTSKY, 1975 e 1987.
  5. CARR, 1977-1984. Não deve ser simples coincidência que essa edição tenha sido publicada apenas 3 anos depois da queda da ditadura do Estado Novo em Portugal (1933-1974).
  6. Para um balanço abrangente sobre a historiografia a respeito do tema a partir dos anos 1990, cf. SMITH, 2015.
  7. Aproveitamos o termo de CHICKERING & FORSTER, 2008. Para compreensão da ampla controvérsia que envolve seu uso, ver SEGESSER, 2014.

Referências

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Os organizadores do Dossiê desejam a todos uma boa leitura!

Aldrin Castellucci – Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Alagoinhas, BA, Brasil. E-mail: [email protected] 

Edilene Toledo – Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Guarulhos, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 

Silvia Adriana Barbosa Correia – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]


CASTELLUCCI, Aldrin; TOLEDO, Edilene; CORREIA, Silvia Adriana Barbosa. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.37, n.76, set / dez, 2017. Acessar publicação original [DR]

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A primeira Guerra Mundial e suas repercussões no Brasil / Oficina do Historiador / 2015

Este dossiê reúne parte dos trabalhos apresentados por pesquisadores brasileiros e estrangeiros no Simpósio internacional “Memórias da Grande Guerra e repercussões no Brasil 1914-2014”, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com o auxílio econômico da Capes, que ocorreu na mesma universidade, em maio de 2014. A proposta do evento era motivada pelo Centenário da eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Nessa data se tornou necessária uma reflexão sobre esse assunto de extraordinária relevância para a história da humanidade, considerando também suas novas abordagens e possibilidades interpretativas. De fato, poucos acontecimentos da história contemporânea provocaram tanto a atenção de historiadores como a Primeira Guerra Mundial, considerada o divisor de águas e a etapa inicial de uma nova fase, do ponto de vista político, social, econômico e tecnológico. A guerra marcou o fim do “longo século XIX” e representou o crepúsculo da supremacia mundial europeia e de uma civilização convencida que pudesse guiar a humanidade através do conhecimento e da razão, rumo a um futuro de progresso e convivência pacífica entre as grandes potências continentais. O conflito provocou uma mudança radical das relações internacionais e contribuiu, ao mesmo tempo, para criar a contraposição ideológica que viria a caracterizar todo o século XX. A complexidade da Grande Guerra não fugiu aos olhos dos observadores da época que compreenderam o quanto se mostrava diferenciada em relação aos conflitos anteriores.

Quando a disputa pelos mercados e territórios da Europa alavancou o acirramento da crise entre os países do continente, interesses de ordem política, econômica e militares abalaram o equilíbrio precário de um castelo de cartas: não se podia puxar uma sem mover a outra. O conhecimento de que uma guerra na Europa poderia ser catastrófica para a sua população não evitou a corrida pela tecnologia da morte, e este foi o período em que os avanços na indústria bélica mais se acentuaram. Vale mencionar, a propósito, o uso, pela primeira vez, de armas químicas, dos carros de combates especiais e da aviação militar. Os bombardeios em massa contra civis provocaram milhões de mortos, bem como, deixaram outros tantos mutilados ou vitimados pelas epidemias causadas pelo inimigo invisível, a gripe espanhola.

Ao mesmo tempo, o conflito fez surgir discussões e uma revisão do antigo modelo político europeu. O confronto resultou numa nova hegemonia política e no surgimento de regimes totalitários como o fascismo, o nazismo e o comunismo, que transformaram o cenário político e econômico mundial. Esta última questão é bem tratada, dentro de um contexto mais amplo, na entrevista sobre o nacionalismo que o professor galego Xosè Núñez Seixas concedeu para esse dossiê e que se revela de grande utilidade para entender algumas das repercussões ideológicas que envolveram as culturas políticas europeias e extra europeias da época.

Em cem anos, o tema da Grande Guerra foi estudado em profundidade e se produziu uma enorme massa de publicações específicas que junto aos eventos estreitamente políticos, diplomáticos e militares, concentraram-se também sobre os mais diversos campos de análise, entre os quais o tema relativo à condição dos combatentes e das vítimas, os prisioneiros, os sobreviventes, etc. A proximidade com a efeméride do centenário, porém, propiciou a ocasião para aprofundar uma abordagem historiográfica que, principalmente, na Europa, retomou o problema da responsabilidade e da origem do conflito. Nesse sentido, distinguiu-se o recente amplo trabalho do historiador australiano, Christopher Clark, resenhado nas páginas seguintes pelo pesquisador italiano, Christian Satto, que evidenciou o grande sucesso editorial da obra traduzida em inúmeros países do mundo entre os quais o Brasil. O mérito do livro é de reconstruir de forma articulada e detalhada as relações de poder na Europa entre o final do século XIX e o começo do XX, recusando de maneira convincente a tese tradicional que considera a eclosão do conflito por fatores de longa duração. Clark, de fato, interessa-se também pelos traumas imediatos a véspera da guerra e pelas responsabilidades dos protagonistas da crise de julho de 1914, isto é, os chefes de Estado definidos como “sonâmbulos” incapazes de perceber o horror que eles mesmos estavam trazendo ao planeta inteiro.

Outra razão importante para a realização desse dossiê relaciona-se às mudanças e às implicações que o conflito determinou também no Brasil, que foi o único país da América Latina a participar da Primeira Guerra. Aliado com os países da Tríplice Entente teve uma tímida participação na guerra, com envio de suprimentos agrícolas e da matéria-prima procurada pelas nações em conflito; enviando alguns pilotos de avião e tropas na frente ocidental, e oferecendo navios militares, além de um apoio médico organizado pelo governo brasileiro. Com esse propósito, o artigo de Cristiano Enrique de Brum analisa, através dos relatórios dos médicos protagonistas, a atuação da Missão Médico-Militar organizada em 1918 pelo governo brasileiro e enviada para a França, a fim de fundar um hospital em Paris. Tais documentos inéditos nos permitiram conhecer detalhes sobre a composição da expedição; sobre a viagem até a Europa; sobre o combate à gripe espanhola e a atuação em diversas partes da França.

A mobilização brasileira foi fomentada também por uma parte da imprensa nacional que, em diversas ocasiões, manifestou a sua posição pró-Aliados. Ao mesmo tempo, porém, como se evidencia no texto de Lorena Gill e Beatriz Loner, havia elementos sociais que durante a guerra promoveram movimentos antimilitares e mobilizações a favor da paz. O caso emblemático abordado é o dos trabalhadores organizados, mulheres e anarquistas em uma cidade gaúcha, Pelotas, com forte conotação operária.

Mesmo distante do palco central, o Brasil sentiu os reflexos do conflito. A participação do país lhe garantiu uma cadeira na Conferência de Paz de Paris, que originou o Tratado de Versalhes, e o pagamento de indenização por parte da Alemanha por ter prejudicado o comércio do café brasileiro durante o período do conflito armado. Ao mesmo tempo foi um os fundadores da Liga das Nações. Com o fim do conflito armado, houve uma grande demanda por diversos gêneros alimentícios, o que permitiu uma dinamização e retomada da economia brasileira. Além disso, os danos causados pela Primeira Guerra Mundial no continente europeu possibilitaram que o Brasil passasse por um surto de industrialização.

O recente livro de Olivier Compagnon cujo título na versão português-brasileira é O adeus à Europa: a América Latina e a Grande Guerra, resenhado profundamente por Heitor Carvalho Loureiro neste dossiê, tem o grande mérito de romper com o silêncio historiográfico sobre as consequências do conflito na América a Latina. O esforço do estudioso francês foi de evidenciar o impacto que a Grande Guerra teve também sobre os países mais longínquos do palco central europeu, como Brasil e Argentina, que até então se nutriram dos modelos europeus e de repente, com o conflito, sofreram uma crise de identidade que teve como principal reação a valorização de um passado autóctone, e uma exacerbação de um sentimento nacionalista, principalmente, na esfera cultural.

Outro aspecto relevante relaciona-se com a abundante presença de imigrantes alemães e italianos, atingidos diretamente pelos efeitos do conflito, no Rio Grande do Sul e nos outros estados caracterizados pelo fenômeno da imigração europeia. No caso dos italianos, que se tornaram aliados do Brasil, durante todo o período de participação da Itália na luta, manteve-se uma forte contribuição financeira para a pátria mãe, assim como muito jovens de origem italiana, residentes no Brasil, fizeram parte das forças militares italianas. A mobilidade foi muito significativa nos principais centros de imigração italiana, especialmente em São Paulo, onde se desencadearam processos que alimentaram entre os imigrantes, o mito da nação que precisava ser defendida, e a exaltação do dever patriótico. Na verdade, como se observa no artigo de Maíra Inês Vendrame foi já com a guerra da Líbia, combatida e vencida pela Itália em 1911, o primeiro momento no qual se reforçou no sentido nacional patriótico, o vínculo da população colonial com o país de origem. E já na véspera da guerra não faltaram as celebrações e festejos para os heróis mortos na defesa da causa colonialista.

No caso dos imigrantes alemães se registrou, desde a primeira fase da guerra, o envio de ajuda econômica através do consulado alemão, assim como o suporte midiático nos principais órgãos da imprensa teuto-brasileira. Tudo isso gerou pela primeira vez entre imigrantes alemães e seus descendentes, uma hostilidade aberta e generalizada de parte da população luso-brasileira e a desconfiança de grande parte das autoridades, que se aproximavam aos ideais dos Aliados. O clima tornou-se ainda mais hostil depois da declaração de guerra do Brasil à Alemanha. Não tardaram medidas de intervenção nas sociedades, associações, clubes, escolas, imprensa e no uso da língua alemã no dia a dia, ou seja, os primeiros passos de uma verdadeira nacionalização dos elementos teuto-brasileiros. Nesse sentido o artigo de Livia Claro Pires, analisa o papel da “Liga Brasileira pelos Aliados”, uma associação fundada em 1915 no Rio de Janeiro pelo crítico literário José Verissimo, pelo diplomata Graça Aranha, pelo capitão do Exército Eliseu Montarroyos e pelo burocrata Araújo Gonçalves, com o objetivo de prestar assistência moral no país às nações Aliadas. Em pouco tempo a propaganda inimiga da Liga se estendeu aos imigrantes alemães residentes no Brasil, vistos agora como elementos estranhos no corpo nacional.

Portanto, estes estudos apontam para a complexidade de um evento mundial, cujas repercussões em um país como o Brasil, ainda resultam parcialmente negligenciados pela historiografia.

Antonio de Ruggiero – Pesquisador PNPD / Capes e professor colaborador do PPGH / PUCRS,

Porto Alegre, 18 de junho de 2015


RUGGIERO, Antonio de. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 8, n. 1, jan. / jun., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Primeira Guerra Mundial / História – Debates e Tendências / 2014

A Primeira Guerra Mundial é considerada pela historiografia como a primeira grande guerra moderna em que morreram mais civis do que militares. As consequências imediatas daquele grande conflito foram os oito a nove milhões de mortos, os trinta milhões de feridos, o redesenho geopolítico da Europa, com o surgimento de vários novos países e a extinção de quatro grandes impérios.

Havia, na Europa, um cenário montado, propício para a eclosão de um conflito de grandes proporções. Por isso, quando, em 28 de junho de 1914, o arquiduque austríaco, herdeiro do trono, Franz Ferdinand foi abatido a tiros pelo nacionalista sérvio (ou terrorista ao gosto de uma linguagem atual) Gravillo Princip, o barril de pólvora sobre o qual estava assentada a estabilidade europeia explodiu. Leia Mais