Atlânticas: encontros entre mulheres africanas e da diáspora negra brasileira | Oficina do historiador | 2021

Oh paz infinita pode fazer elos de ligação numa história fragmentada.

África e América e novamente Europa e Ásia.

Angola, Jagas e os povos de Benin de onde vem minha mãe. Eu sou Atlântica”.

(Beatriz Nascimento)4

Este dossiê parte da referência e reverência à historiadora negra brasileira Maria Beatriz Nascimento (1942–1995). A intelectualidade produzida por Beatriz é ponto de partida para as confluências e conexões buscadas neste dossiê com o continente africano, em cujas terras a historiadora se fez presente corporal e mentalmente e dela produziu uma de suas obras referenciais, o filme Ôrí. Com texto e narração de Beatriz e direção de Raquel Gerber, Ôrí documenta os movimentos negros brasileiros entre 1977 e 1988, entre esses, organizações carnavalescas e bailes black, passando pela relação entre Brasil e África, tendo o quilombo como ideia central e apresentando, dentre seus fios condutores, parte da história pessoal de Beatriz, com narrações da mesma (RATTS, 2007, p. 28). É de fundamental importância que, no contexto de uma revista focada no conhecimento científico em História, coloquemos em primeiro plano uma grande teórica do pensamento negro brasileiro e diaspórico, cuja produção foi invisibilizada pelo racismo e pela branquitude acadêmica colonial. Que os textos de além-mares e terras africanas que se encontrarão com os textos da diáspora negra sejam abraçados pelas negras ideias de Beatriz. Façamos através e a partir de nós, cujo pensamento é prática e teoria, Atlânticas. Leia Mais

Mídias e História | Oficina do historiador | 2021

A proposta do dossiê Mídias e História foi motivada de um interesse específico d@s organizador@s 2 e, também, pela fundação, no ano de 2020, do Grupo de Trabalho História e Mídia (ANPUH-RS) do qual fazemos parte como fundadores. Desde o final do século XX, tem-se verificado uma significativa ampliação no âmbito historiográfico de pesquisas que utilizam as mídias como fonte e como objeto de pesquisa. Tais pesquisas têm mostrado uma gama ampliada de temas e de abordagens, evidenciando a riqueza do emprego dos meios de comunicação para a compreensão histórica do mundo.

Acompanhando esta tendência, percebemos uma considerável diversificação do instrumental teórico metodológico, que vem produzindo novas reflexões sobre o tema, especialmente aquelas que dizem respeito às suas relações com as diferentes formas de poder em conformidade com mecanismos hegemônicos de sua produção e sua circulação. Nesse sentido, percebemos que, nas pesquisas recentes, as formas de conceber as mídias, em especial, a imprensa, ora como “espelho da realidade” ora como simples instrumento de “manipulação de informação”, na defesa de interesses econômicos e políticos exteriores a seu campo de produção, estão sendo preteridas em relação às abordagens que privilegiam uma concepção de mídia como construtora de narrativas portadoras de visões de mundo. Cabe, ainda, salientar que as novas abordagens têm procurado reconhecer que os diferentes meios de comunicação buscam ocupar, de distintos modos e em diversos períodos históricos, como que, uma posição ativa na delimitação e na resolução dos temas politicamente relevantes e, assim, na constituição da memória e da identidade dos sujeitos. Leia Mais

História e Ambiente / Oficina do Historiador / 2020

Das possibilidades e usos da história ambiental, ou uma introdução ao dossiê temático “História e Ambiente”

O tema do meio ambiente na pesquisa histórica e a preocupação com discussões socioambientais foram especialmente fomentados a partir da década de 1970. Alguns exemplos podem ser aqui apresentados, tal como a publicação do volume especial Histoire et Environnement na revista francesa Annales – Économies, Sociétés, Civilisations (ano 29, n. 3, 1974) organizado por Emmanuel Le Roy Ladurie e o curso de Environmental History na Universidade da Califórnia Santa Barbara, em 1972, por Roderick Nash (2014).

Dos anos 1970 em diante, temos um aumento exponencial do debate público de diferentes áreas do conhecimento sobre a ecologia (termo cunhado por Ernst Haeckel, em 1866) e o surgimento de diferentes movimentos políticos e culturais sob esse escopo. Como parte desses movimentos está o desenvolvimento de pesquisas com os mais diversos enfoques sobre a referida temática, mas que preservam a premissa de compreender o fenômeno histórico não somente a partir de seus agentes humanos.

Estas pesquisas vão desde a história ambiental de empreendimentos coloniais (BUBLITZ, 2008), a estudos que medem a gestão da água e o saneamento básico (RÜCKERT, 2015), ao motivo edênico no imaginário sobre a natureza do Brasil (CARVALHO, 1998), ao estudo do movimento ecológico e suas raízes no romantismo do séc. XIX (PADUA, 2005), até chegar nas mudanças climáticas e no Antropoceno (CHAKRABARTY, 2009).

Pensando nesse escopo, a Oficina do Historiador lançou, no fim de 2019, a chamada de artigos para um dossiê temático intitulado “História e Ambiente”, direcionado a publicar pesquisas históricas que dissertam sobre impactos socioambientais gerados por processos de modernização, industrialização e urbanização, pesquisas que privilegiam biografias de pioneiros na área e investigações sobre relatos de viajantes e naturalistas, assim como relatos de interações entre diferentes agentes que tensionam a dicotomia Cultura vs. Natureza.

Neste sentido, podemos ver que as possibilidades de pesquisa em história ambiental são vastas. Este dossiê publicado pela Oficina do Historiador traz onze artigos inéditos e uma resenha de livro. Esses artigos se referem a situações complexas que se desenvolveram ao redor do mundo, com especificidades muito diferentes entre si. Ao tratar do território brasileiro, traz-se pesquisas historiográficas desenvolvidas nas regiões da Amazônia, da Bahia, do Cariri cearense e, no Rio Grande do Sul, tanto no Alto Uruguai como no Vale do Sinos. Além disso, o presente dossiê traz ainda três casos transnacionais: da antiga União Soviética (Ucrânia e Bielorrússia), da Bacia Platina (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e do altiplano boliviano.

O primeiro artigo do Dossiê é “Desastre nuclear, espaço e trauma: uma oração a Tchérnobil a partir de Svetlana Aleksiévitch” de João Camilo Grazziotin Portal, aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Esse artigo traz uma interessante perspectiva sobre a hecatombe nuclear de 1986 na União Soviética ao fazer uma discussão sobre o espaço traumatizado das “zonas contaminadas” a partir do livro Vozes de Tchérnobil. E, ainda, ao trazer uma análise se valendo dos escritos de Hannah Arendt sobre as inovações tecnológicas da Guerra Fria, de algumas discussões da área da psicologia sobre trauma e do debate sobre o Antropoceno, já que a causa desse desastre ambiental foi a ação humana.

O segundo artigo é “Aportes de la Historia Ambiental para la Historia Agraria de la Cuenca del Plata, primera mitad del siglo XIX. Una propuesta pedagógico-didáctica” da Dra. Silvia Lilian Ferro, professora do Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). O artigo traz uma revisão baseada na história ambiental sobre os processos históricos da primeira metade do séc. XIX na Bacia do Prata, especialmente, na justaposição entre a formação do sistema agrário e a organização política do período. Tem ainda como maior desafio a ideia de acrescentar o meio ambiente como um sujeito histórico que desempenhou papel relevante nas transformações da época, mostrando a possibilidade de se “ambientalizar” diferentes campos epistemológicos.

O terceiro artigo é “José Lutzenberger e a luta pela Amazônia: militância ambientalista internacional em defesa da floresta (1970-1990)”, da Dra. Elenita Malta Pereira, professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Me. Denis Henrique Fiuza, aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Sara Rocha Fritz, aluna de Graduação em História da UFSC. Esse artigo está inserido no projeto de pesquisa “José Lutzenberger: Um mediador entre o ambientalismo brasileiro e global (Déc. 1980-1990)”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Esse artigo aborda a militância ambiental de Lutzenberger, entre os anos 1970-1990, na defesa da preservação da Amazônia. Sua atuação e sua difusão da teoria de Gaia através de conferências, palestras e congressos foram de grande ajuda para trazer a emergência da situação da grande floresta para a pauta internacional, culminando com sua ascensão ao cargo de Secretário do Meio Ambiente no Governo Collor. O artigo aborda esses episódios e reflete sobre a trajetória do ambientalista através da biografia histórica e da história ambiental.

O quarto artigo é “Os impactos socioambientais e suas ameaças ao modo de vida das comunidades tradicionais de fundo de pasto na Bahia” da Me. Simone Conceição Soares Dias, aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e professora da rede municipal de ensino de Monte Santo e da rede de ensino do Estado da Bahia. Esse artigo aborda a deterioração das terras comunais e de seu uso por comunidades tradicionais de fundo de pasto na Bahia, no bioma da caatinga, através da modernização e da expropriação dessas terras. O uso comum da terra entra em conflito com iniciativas extrativistas a partir dos anos 1970 e são parcamente amparados por legislação no Brasil, causando disrupturas em um modo de vida tradicional.

O quinto artigo é “Campos de experimentação agrícola na Escuela-Ayllu de Warisata: reflexões sobre produtividade, trabalho e saber indígena no altiplano boliviano (1931-1940)”, de Me. Bruno Azambuja Araújo, aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O artigo percorre a autobiografia de Elizardo Pérez, um dos fundadores da Escuela-Ayllu de Warisata, um projeto idealizado na Bolívia dos anos 1930 para utilizar a educação e os saberes indígenas para desenvolver a região do altiplano próximo ao lago Titicaca. Ainda, aborda as questões que emergem desse contexto através da memória biocultural indígena e do conflito entre as concepções dos indígenas locais e dos grandes proprietários de terra.

O sexto artigo é “Contradições entre a modernização agrícola e o desenvolvimento sustentável: o caso do Alto Uruguai Rio-Grandense – 1975-2017” de Me. Anacleto Zanella, aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF). Esse artigo explora os Censos Agropecuários realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na região dos municípios gaúchos do Alto Uruguai, para analisar os processos de modernização da agricultura no Norte do RS no tempo presente e os impactos socioambientais advindos dessa transformação.

O sétimo artigo é “A história da coleta de resíduos em Novo Hamburgo, RS, e uma proposta de uma nova roteirização utilizando sistema de informações geográficas” de Natan Ruan Machado da Costa, aluno de Graduação em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dr. Victor Fernandez Nascimento, professor no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional nas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT) e que realiza estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto da UFRGS, e Dr. Jean Pierre Henry Balbaud Ometto, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil e coordenador do Centro de Ciências do Sistema da Terra (CCST / INPE). Analisa o aumento da produção de resíduos sólidos urbanos na cidade de Novo Hamburgo na história recente, resultado do aumento populacional e do aumento do consumo de serviços. O artigo ainda traz uma proposta que busca compensar a emissão de gases estufa resultantes do processo de transporte desses resíduos para o aterro sanitário utilizado pela Prefeitura, buscando aliar menores custos para manutenção da limpeza pública a um menor impacto ambiental.

O oitavo artigo é “O Cariri visto de baixo: movimentos camponeses em tempo de seca, fome, epidemia e recrutamento no Primeiro Reinado”, da Dra. Ana Sara Ribeiro Parente Cortez Irffi, professora do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), e da Dra. Ana Isabel Ribeiro Parente Cortez Reis, professora de História na Universidade Regional do Cariri (URCA). Aborda a experiência de vida campesina na região do Cariri cearense, especialmente, através da seca dos anos 1825-1827, seguidas de um período de fome e de epidemia de varíola, além do recrutamento de civis para a Guerra da Cisplatina. O enfoque “visto de baixo” do artigo permite ver a realidade de uma vida dura, da luta pela terra e do conflito de classes.

O nono artigo é “A ideologia verde e suas manifestações no Brasil na década de 1970” de Bruna Gorgen Zeca, aluna de mestrado do Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). O artigo traz uma relevante discussão sobre a formação da ideologia ambientalista no Brasil, sob a Ditadura Militar nos anos 1970, e as primeiras discussões que foram realizadas no plano internacional e interno. Reforça, ainda, a resistência das instâncias governamentais em torno desse debate, uma vez que o milagre econômico do início dos anos 1970 e o crescimento do PIB ajudavam a manter o regime ditatorial no poder e necessitavam da exploração do ambiente para manter essa economia intacta.

O décimo artigo é “Entre o urbano e o rural: fotografias de paisagens das cidades do Vale dos Sinos na Primeira República” do Me. Alex Juarez Müller, professor da rede municipal de ensino de Gramado, RS. Aborda o conceito de modernização urbana, durante o período da República Velha (1889-1930), através de fotografias que foram tiradas nas cidades de São Leopoldo, Novo Hamburgo e Taquara. Essas fotografias revelam as modificações da paisagem urbana que ocorreram no período através da influência do modelo europeu de organização do espaço.

O décimo primeiro artigo é “Potencialidades de pesquisa em História Ambiental e a questão indígena” da Me. Angela Rebelo da Silva Arruda, aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Este artigo traz uma exploração das possibilidades da história ambiental especialmente voltada para a questão indígena no Brasil. A autora aponta, portanto, para uma série de dilemas ambientais encontrados no país devido à colonização predatória que foi empreendida na formação histórica do povo brasileiro e possíveis formas de realizar pesquisas nesse entorno.

Ainda, o dossiê traz a resenha de Bianca Letícia de Almeida, aluna de mestrado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sobre o livro The Environmental Humanities: A Critical Introduction, escrito por Robert S. Emmett e David E. Nye e publicado em 2017, ainda sem tradução para a língua portuguesa.

Esperamos que este dossiê temático possa publicizar novas perspectivas no campo de história ambiental, assim como fomentar a interdisciplinaridade que tem sido implementada de forma tão essencial nas pesquisas dessa área. A diversidade de artigos aqui encontrados, com abordagens desde a História das Ideias, passando pela luta pela terra, pela análise política, pela militância ambiental, pela análise de uma catástrofe ambiental como trauma coletivo, provam essa premissa e ajudam a mostrar a pujança do ambiente e da paisagem como objetos para a historiografia. Pois é ao ver o “outro”, não importando que tipo de alteridade, que conseguimos enxergar melhor a nós mesmos.

Referências

BUBLITZ, Juliana. O recomeço na mata: notas para uma história ambiental da colonização alemã no Rio Grande do Sul. História Unisinos, São Leopoldo, v. 12, n. 3, p. 207- 218, set. / dez. 2008. https: / / doi.org / 10.4013 / htu.20083.02

CARVALHO, José Murilo. O motivo edênico no imaginário popular brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 13, n. 38, out. 1998. https: / / doi. org / 10.1590 / S0102-69091998000300004

CHAKRABARTY, Dipesh. The climate of history: four theses. Critical Inquiry, Chicago, v. 35, n. 2, p. 197-222, inverno de 2009. https: / / doi.org / 10.1086 / 596640

LE ROY LADURIE, Emmanuel. Présentation. Annales. Économies, Sociétés, Civilisations, 29 année, n. 3, 1974. https: / / doi.org / 10.1017 / S0395264900169409

NASH, Roderick Frazier. Wilderness and the American Mind. New Haven and London: Yale University Press, 2014.

PADUA, José A. Herança romântica e ecologismo contemporâneo – Existe um vínculo histórico? Varia Historia, Belo Horizonte, v. 21, n. 33, 2005. https: / / doi. org / 10.1590 / S0104-87752005000100004

RÜCKERT, Fabiano Q. O saneamento e a politização da higiene no Rio Grande do Sul (1828-1930). 276f. 2015. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História. Universidade do Vale do Rio Caí, São Leopoldo, 2015.

Caio Flores-Coelho – Mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, RS, Brasil; doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil; professor auxiliar do Curso de Licenciatura em História do Instituto Superior de Educação Ivoti (ISEI), em Ivoti, RS, Brasil; professor- -tutor do Eixo de Humanismo Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, RS, Brasil; professor de História do Colégio Sinodal, em São Leopoldo, RS, Brasil. orcid.org / 0000-0003-1515-9404 E-mail: [email protected]

Paula Tatiane de Azevedo – Mestre em Ensino de História pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IFCH / UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil; doutoranda em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil. orcid.org / 0000-0001-7482-3139 E-mail: [email protected]

Lucas de Oliveira Klever – Mestre e doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil. orcid.org / 0000-0001-5376-9014 E-mail: [email protected]


FLORES-COELHO, Caio; AZEVEDO, Paula Tatiane de; KLEVER, Lucas de Oliveira. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 13, n. 2, jul. / dez., 2020. Acessar publicação original [DR]

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História, Arqueologia e Ontologia / Oficina do Historiador / 2020

Esta introdução tem como objetivo apresentar e contextualizar os artigos que compõem este dossiê sobre História, Arqueologia e Ontologia, que reúne estudos que versam sobre os materiais e os seus múltiplos papéis sociais no tempo, com o foco estabelecido, portanto, nas disciplinas de História, Arqueologia e as questões ontológicas da Filosofia.

A atividade social, por mais abstrato que seu estudo e manipulação possa ser, é desempenhada e embasada sobre a sensibilidade da existência física e consequente relação com outras formas físicas estabelecidas – o que podemos conceituar, com a devida flexibilidade, como “coisas”.

A partir deste largo escopo, diversas abordagens se desenham, dado que o espírito do tempo exerce sua força incomensurável sobre tudo o que há no mundo. Isso nos obriga a reconsiderar algumas noções tradicionais do pensamento ocidental, onde a História registra a alteração da condição de “sujeito” para “coisa” em eterna atualização, e o resultado dessa atividade fica marcado na matéria humana e não-humana que nos rodeia.

Os estudos aqui reunidos cruzam, portanto, as experiências que pessoas, materiais e coisas atravessaram juntos diante de uma perspectiva crítica sobre a relação “natural” entre essas diferentes entidades que povoam a existência.

Não é surpresa que a Arqueologia é uma disciplina interdisciplinar. Mas o que exatamente isso quer dizer? Sempre foi muito claro para quem a pratica que é necessário deter um tanto do chamado “conhecimento enciclopédico”: noções básicas de Antropologia, Geologia e Geomorfologia, Linguística, Informática, Zoologia, Filosofia, Artes Plásticas, Matemática, Restauro, História, Química e Museologia podem ser necessárias a qualquer momento; tanto em meio aos livros e artefatos dentro de um laboratório, quanto debaixo do sol ou do dossel vegetal num dia de campo.

Há um paradoxo nisso; embora a Arqueologia não seja a única beneficiária da interdisciplinaridade, não é inadequado afirmar que apenas ela depende disso para existir propriamente. Quando recortamos um tema, um período e uma área de pesquisa, também se torna necessário para nós delimitarmos quais empréstimos teóricos e técnicos serão empregados. Por que essa noção não é falsa? Ora, porque sempre que um artefato atinge a condição de evidência – ou seja, quando ele se torna intelectual e materialmente sensível para nós – ele comprova de modo inequívoco que algo aconteceu, algo existe – o quê, exatamente, é o que procuramos descobrir e é para isso que serve o intercâmbio com as outras disciplinas. Desta forma, a conceituação do que é arqueologia pode ser bastante móvel e variar de acordo com a necessidade do contexto; sabemos que estudamos as relações entre as pessoas e as coisas; mas definir quem é quem tem se tornado cada vez mais difícil.

Seja, como enfatiza o sociólogo e economista indiano Arjun Appadurai (1986), estudar a vida social das coisas, ou, como sugere a antropóloga Mary Douglas (2002), parafraseando Claude Lévi-Strauss, que as coisas não apenas têm suas funções, mas, principalmente, são boas para pensar “good for thinking”. Coisas também são objetos biográficos, contam histórias da vida das pessoas, como nos demonstra Janet Hoskins (1998).

“Como andam as coisas?” Uma pergunta que deveria incentivar uma breve conversa entre duas pessoas, colegas de arqueologia, com genuíno interesse sobre como suas pesquisas estão se desenvolvendo. É uma pergunta estranha, as coisas andam, se movimentam, têm vontades próprias – tudo indica que sim. As coisas fazem coisas com a gente, pois, de certa forma, sempre estamos em contato com as coisas, dentro de uma perspectiva, arqueológica ou não. A Arqueologia não pretende se situar como um ponto privilegiado de perspectiva sobre as coisas em si mesmas, senão ser uma das formas possíveis de desvelar quais coisas existem e para quem.

Nessa toada, muitas atividades podem ser arqueológicas, mesmo que não pareçam à primeira vista. Usando um exemplo clássico, a Arqueologia do Saber de Foucault (1972) é mais do que apenas uma metáfora útil. De fato, é promovida uma regressão intelectual que escava um outro tipo de sítio arqueológico e busca um outro tipo de evidência, através de um método especificamente construído para aquilo – muito similar à necessidade que cada sítio arqueológico impõe a quem se interessa em escavá-lo. Claro, os seus artefatos são diferentes de uma Arqueologia “tradicional”; mas o filósofo francês, ao preferir usar o termo “arqueologia”, o fez justamente no sentido de que a noção de “Arqueologia” cria, ou estabelece, artefatos – em seu caso particular, os diferentes discursos da História das ideias:

[…] it’s problem is to define discourses in their specificity; to show in what way the set of rules that they put to operation is irreducible to any other; to follow them the whole length of his exterior ridges, in order to underline them the better. It does not proceed, in slow progression, from the confused field of opinion to the uniqueness of the system or the definitive stability of science; i’ts not a ‘doxology’; but a differential analysis of the modalities of the discourse (FOUCAULT, 1972, p. 139).

Assim, é evidente o favorecimento não apenas de outras histórias, senão, como em nosso caso, de outras Arqueologias. Aqui, diferentes estudos e perspectivas tentam abordar, assim como Foucault, outras espécies de Arqueologia. Algumas são mais tradicionais, enquanto outras favorecem uma distensão similar. Uma observação atenta, contanto, tornará flagrante a ambiguidade em considerar alguns estudos e metodologias aqui presentes como “tradicionais” ou “clássicos”; e outros como “modernos” ou “contemporâneos”: “Jamais fomos modernos”, diria a chamada de Bruno Latour (2013). Como se deve saber, Latour critica a distância construída pelo pensamento ocidental, que relativiza o conhecimento produzido fora das escalas e dos laboratórios que são o belo brasão do fazer científico atual (dos últimos 520 anos). Ao considerar sabiamente que não há apenas um ponto privilegiado de percepção na classificação deste ou daquele mundo, ele crê que:

O balanço deste exame não chega a ser desfavorável. Podemos conservar as Luzes [o Iluminismo e suas reflexões] sem a modernidade, contanto que reintegremos, na Constituição, os objetos das ciências e das técnicas, quase-objetos entre tantos outros, cuja gênese não deve mais ser clandestina, mas antes acompanhada passo a passo, dos acontecimentos quentes que os originam até esse resfriamento progressivo que os transforma em essências da natureza ou sociedade (LATOUR, 2013, p. 133).

Essa simetria não deve se iludir na percepção de que “há um caminho melhor”; todas estradas levam a Roma. Convém a nós, praticantes da Arqueologia, saber o que cada estudo e estrada traz como contribuição. Em suma, se é inútil perpetuar a divisão entre natureza e cultura, sujeito e objeto, primitivo e moderno – também é inútil condenar o passado pronapiano, por exemplo, sem entender qual era o seu contexto (HILBERT, 2007) – sem pensá-lo como uma coisa ainda viva em nós, da qual jamais nos desvencilharemos, senão antes, transformar a nossa prática para além de uma “Arqueologia negativa”.

Portanto, estudos que trabalham com quantificações puras e estatísticas, como é o caso da contribuição “Memória de pertencimento soterrada pelo tempo”, de Alexandre Matos e Joyce Macedo, onde os dados numéricos permitem notar uma variação na qualificação dos habitantes da cidade de Quevedos sobre qual é a importância real do seu patrimônio local.

Outro estudo revisita uma abordagem qualitativa que tem se escapado de uma visão teórica. Seria realmente fato que imagens fotográficas geoespaciais, tomadas por drones, representam uma realidade autoevidente, dada e imutável da paisagem? Assim, o uso da fotogrametria para produção documental fotográfica subitamente se transforma na assunção de um ponto de vista a partir da máquina; onde os processos de produção de documentação interagem de igual para igual com seus controles e controladores, nos céus do Forte Dunbeg, na Irlanda, como demonstra Sterling MacKinnon.

A troca de perspectiva também está em um sentido de reencontro com algo de aparência casual, como talvez a atividade artesanal de um pescador. Por trás da falsa ideia primeira de tranquila transparência, está a firme e fluida rede de relações tecida entre diferentes tipos de pescadores, tralhas, fainas e conhecimentos, se estende na maré – onde flutua sua própria noção de território como uma tarrafa. O artigo de Lucas Silva e Gustavo Wagner apresenta o movimento constante onde os nós dessa rede se tocam e distanciam juntos em direção do peixe, onde é possível observar a sua coesão social e identitária, trazendo um caráter inédito sobre a arte da haliêutica desenvolvida pelas comunidades pesqueiras ao longo do litoral meridional brasileiro.

A partir daí fica simples notar que a atividade artesanal também é um ponto onde conceitos prévios de identidade e visão de mundo estão imbricados a partir das condições de seu fazer. O estudo de Ana Paula Bezerra e Filipi Pompeu sobre o relato de um estilo único de olaria que combinava em si não apenas técnicas e formas de universos completamente diferentes, mas também reunia ali uma visão peculiar de mundo, também explora o fazer de aparência trivial. A moça surda-muda, anônima mesmo diante de todos os coadjuvantes do curto relato original, imprime como combinações insólitas diante da noção primeira de cerâmica, como excrementos, gordura e argila, a sua própria visão de mundo. A conexão íntima entre essas e outras características que aparentam forte repulsão à sociabilidade e o aguçamento de algumas sensibilidades em prol de outras, permite pensar a louça como uma outra forma de estar e interagir com um mundo onde ainda não existia a ideia de cultura Surda-Muda.

Outros dois textos apresentam diferentes implicações ontológicas da prática como substrato para a elaboração e intuição de um ponto de vista. Um deles, de Antônio Soares se volta para a construção de uma “casa de índio” como parte das atividades de educação patrimonial junto ao Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul, no município de Taquara. Após constatar que a casa Mbyá-Guarani erigida junto ao museu segue a forma usualmente descrita na literatura – mas não associa de igual modo alguns traços pertinentes, como orientação espacial e território, se torna claro que os Guaranis interpretaram a necessidade de conhecimento não indígena, adaptando a sua realidade no mundo do Outro através de uma casa que é funcional e prática para o branco no tocante ao contato com o ameríndio. A casa é um híbrido que engendra sob suas colunas, dois mundos.

A Arte, um conceito ocidental, também é pensada como algo antagônico à ciência, é aproximada e traz à tona o laboratório como ateliê. Segundo o autor, Felipe Tramasoli, ambas são pontos de partida distintos, mas poderiam apoiar-se no sentido da capacidade que tanto Arte quanto Arqueologia exigem uma reação discursiva – ou seja, são reativas no sentido de incitarem a diversidade criativa, mesmo que dentro de seus próprios termos e conceitos. Contanto, é possível fazer Arte da Arqueologia, assim como Arqueologia da Arte, buscando não apenas um referencial, mas um modo de trazer o sensível do passado para o presente, e vice-versa, negando a delimitação antes clara sobre onde começa o ontem, o hoje, a criatividade e o fazer científico.

A presença dos materiais e das substâncias como contentores de um mundo também é apreciada neste volume; inicialmente junto a vinte e duas garrafas de grés do século XIX, encontradas em plena Amazônia. Teriam elas pertencido ao biopirata inglês Henry Wickham, que contrabandeou sementes para a Ásia, quebrando o monopólio sul-americano? Teriam sido utilizadas para transportar as sementes, testemunhas diretas da usurpação? Ou seriam mero fruto da “coleção particular” de algum seringueiro influenciado pelo afluir de bens estrangeiros e / ou pelas “visagens” que habitam a floresta? As diversas possibilidades que se abrem diante da existência de algo trivial em um contexto incomum, favorecem a tomada de consciência para as narrativas não hegemônicas – fornecendo origens pouco óbvias que merecem ser investigadas, conforme comprova Tiago Muniz.

O fluxo das matérias e materiais, portanto, supera a forma, e deve ser pensado a partir de outros pontos de vista que não são humanos em sua origem primeira – como é o caso do drone e do estudo que versa sobre as coisas propriamente ditas e suas qualidades. Essas, como demonstrado, interferem constantemente nos assuntos “não coisas”, ou humanos, em uma percepção não apenas sociológica, mas arqueológica. Aí podem ser vislumbrados como uma constante mutável que aproxima a prática arqueológica de tudo aquilo que meramente existe, como uma forma ontológica essencial, como desperta no pensamento a contribuição de Klaus Hilbert.

Finalizando e amarrando estes trabalhos dentro de um apanhado teórico geral, estão as reflexões de John O’Donnell que permitem pensar, afinal, como a disciplina arqueológica tem se portado e absorvido as tensões e assimetrias perspectivas pós-modernas dentro de uma noção ideológica. Este balizamento ajuda a situar não apenas a onipresença de qualquer categoria dentro da Arqueologia, como permite notar suas consequências e desdobramentos lógicos.

Todos trabalhos aqui presentes possuem algum agregar que pode ou não ser útil para determinadas pesquisas. Mas, para o todo da Arqueologia, incorporando a noção de totalidade da disciplina, toda pesquisa arqueológica é um incremento para quem sabe ver que ela não pertence ao número ou a hipótese; senão se constitui permanentemente do atrito entre estes dois (dentre outros tantos) elementos.

Este Dossiê, bem como trabalhos e ramificações de pesquisas direta ou indiretamente ligados a ele, é uma homenagem póstuma ao querido colega Alexandre Pena Matos. Arqueólogo atuante na área de licenciamento, era graduado em História, especialista em Cultura Material e Arqueologia, mestre em História Regional e doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), fazendo parte de nossa equipe durante a sua pesquisa. Alexandre nos deixou aos 49 anos, cedo demais, e o artigo aqui publicado com a sua atual companheira, Joyce Macedo, é sua última obra acadêmica finalizada em vida. Que nossos votos de consolo fortifiquem a família e a todos que o rodeavam.

Referências

APPADURAI, Arjun. Introduction: Commodities and the Politics of Value. In: APPADURAI, Arjun (ed.). The Social Life of Things: Commodities in Cultural Perspective. Cambridge: Cambridge UP, 1986. p. 3-63. https: / / doi.org / 10.1017 / CBO9780511819582.

DOUGLAS, Mary. The World of Goods: Towards an Anthropology of Consumption. London: Routledge, 2002. https: / / doi.org / 10.4324 / 9780203434857.

FOUCAULT, Michel. Archaeology of Knowledge. New York: Pantheon Books. 1972.

HILBERT, Klaus. “Cave Canem!”: cuidado com os “Pronapianos”! Em busca dos jovens da arqueologia brasileira. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi: Ciências Humanas, Belém, v. 2, n. 1, p. 117-130, 2007. https: / / doi.org / 10.1590 / S1981-81222007000100009.

HOSKINS, Janet. Biographical Objects: How Things Tell the Stories of People’s Lives. London: Routledge, 1998.

LATOUR, Bruno. Jamais Fomos Modernos. Tradução de Carlos Irineu da Costa. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2013.

Klaus Hilbert – Doutor em Arqueologia pela Philipps Universität Marburg (Marburg, Hesse, Alemanha). Docente no Programa de Pós-Graduação em História PUCRS orcid.org / 0000-0002-7672-6540 E-mail: [email protected]

Filipi Gomes de Pompeu – Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Rio Grande do Sul, RS, Brasil); doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil)  orcid.org / 0000-0002-5929-3237 E-mail: [email protected]

Ana Paula Gomes Bezerra – Mestra em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE, Fortaleza, CE, Brasil), Doutoranda em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil), Coordenadora do G.T. de Cultura Material e Arqueologia da ANPUH / RS. orcid.org / 0000-0003-0441-8925 E-mail: [email protected]

Carlos Eduardo Ferreira Melchiades – Doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil). orcid.org / 0000-0003-3904-6607 E-mail: [email protected]


HILBERT, Klaus; POMPEU, Filipi Gomes de; BEZERRA, Ana Paula; MELCHIADES, Carlos Eduardo Ferreira. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 13, n. 1, jan. / jun., 2020. Acessar publicação original [DR]

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O governo Vargas e os 80 anos de Estado Novo / Oficina do Historiador / 2017

“O Estado Novo, de novo, e de novo…”

A Revista Oficina do Historiador apresenta ao leitor, neste número, um dos temas seminais da historiografia brasileira contemporânea: o Estado Novo [2] , nome pelo qual ficou conhecida a experiência histórica brasileira entre os anos 1937-1945. Para além da efeméride dos seus 80 anos, o Estado Novo, de um modo geral, é percebido através dos reflexos de disputas políticas, de debates acadêmicos, e de designações que vão sendo sobrepostas no tempo. Por isso um tema sempre atual.

Além da já tradicional ruptura com a chamada República “Velha”, o Estado Novo é concebido como momento do engendramento do dualismo brasileiro, opondo os setores agrário-latifundiários aos setores urbano-industriais.[3] O regime também é interpretado como ditatorial, autoritário, populista, desenvolvimentista, antiliberal, modernizante, industrializante, intervencionista, fascista, corporativista, nacionalista, popular, trabalhista, e etc. Termos e interpretações muitas vezes complementares e tantas outras, antinômicos e conflitantes. Portanto, campo de disputa política e de memória, o Estado Novo é atualizado no presente e diluído na chamada “Era Vargas”, ora como um legado que deve ser abandonado, ora com um legado legítimo de ser mobilizado. [4]

Nessas disputas nada se dá ao acaso. O próprio Estado Novo e seus ideólogos trataram de gerar uma memória e uma interpretação de si. Primeiramente, buscando legitimar-se frente aos seus adversários, os “comunistas”, categoria ampla e difusa, mas eficiente para legitimar o Estado de exceção frente aos “inimigos externos”, e, depois, as oligarquias regionais, ligadas ao federalismo, ao atraso, e a uma tendência centrífuga da Nação. Assim, a Constituição de 1937, no discurso de seus ideólogos, buscava reparar esses erros, fortalecendo o poder do Estado, centralizando o poder no executivo e aumentando a capacidade de intervenção estatal em todos os setores da vida social.[5]

Dessa forma, o discurso estadonovista também buscava legitimação a partir de uma interpretação da realidade histórica que operava uma leitura dos acontecimentos. Nesse sentido, repetiam sistematicamente que o golpe era um desdobramento natural, e mesmo inevitável, da Revolução de 1930, sendo o Estado Novo o garantidor dos objetivos de 1930, corrigindo os desvios de 1932, e da Constituição de 1934, e justificando seu autoritarismo. É claro que esse discurso estava sendo alicerçado há mais tempo, principalmente nas críticas dirigidas à experiência da Primeira República e à Constituição de 1891 e seu arcabouço institucional liberal.

Outro sentido para justificar o Estado Novo era o contexto internacional, a constatação das transformações mundiais no pós-Primeira Guerra mundial alterando as condições do comércio internacional, o equilíbrio de forças entre as nações, e o surgimento de modelos políticos que se apresentavam como mais funcionais para responder a crises, principalmente, a crise liberal, tais como o fascismo e o nazismo. Dessa forma, a emergência de uma sociedade de massas vem pari passu ao crescimento de um discurso autoritário que se opõe ao chamado “ idealismo liberal”. Nesse sentido, o Brasil apenas seguiu a vaga internacional ao implementar o Estado Novo e ao buscar o chamado “idealismo orgânico” buscando reformar as bases do pacto republicano numa nova ordem.[6]

O Estado Novo tem sido amplamente analisado pela historiografia contemporânea como um tema-chave para compreensão da relação entre Estado e sociedade no Brasil. Entretanto, ainda é uma temática de estudos relativamente recente. Em início dos anos 1990, René Gertz, no texto, Estado Novo: um inventário historiográfico [7], ressaltava os poucos estudos sobre o período e a diluição do Estado Novo na Era Vargas. De lá para cá muita coisa mudou, como já ressaltava Maria Helena Capelato, no texto Estado Novo. Novas histórias [8], chamando atenção para uma profusão de estudos sobre o Estado Novo, já em fins dos anos 1990.

Com essas breves observações introdutórias, fica evidente a imensa carga de disputas políticas e memoriais que o Estado Novo contém e que ainda é mobilizada na atualidade. Por isso, mostra-se uma temática seminal da historiografia contemporânea brasileira, sempre revisitada para a compreensão da nossa história.

O Dossiê O governo Vargas e os 80 anos de Estado Novo é composto por cinco artigos de diferentes temáticas que refletem essa produção recente. No artigo de abertura, O declínio do Estado Novo, a Legislação Eleitoral e a atuação Otávio Mangabeira na campanha da UDN baiana (1945), Eliana Evangelista Batista analisa os impactos do Ato de nº 9 e do Decreto-Lei nº 7.856 sobre as eleições de 1945, no contexto de crise estadonovista, e sobre os partidos políticos de oposição a Vargas, sobretudo a UDN baiana. Ainda a respeito da UDN baiana, a autora também analisa a relação do partido com seus eleitores e as estratégias dos seus dirigentes frente à nova legislação eleitoral. Nesse sentido, a autora destaca a atuação oposicionista de Otávio Mangabeira a Vargas, durante os anos 1930 e 1940, e a articulação da UDN baiana frente à reorganização político-partidária de 1945.

O mito da união nacional: a construção das “famílias brasileiras” na ditadura do Estado Novo, de Fábio Roberto Wilke, analisa a construção da mitologia política associada a Getúlio Vargas, o “pai dos pobres” e a construção retórica da política estadonovista em relação à família. Para isso, analisa o modo como o Estado Novo interferiu nela através de uma concepção pública, ou materializada, demonstrando ações efetivas do Estado, notadamente através de políticas públicas que buscaram transformar a força de trabalho. No mesmo sentido, o autor também analisa como o Estado Novo utilizou-se de uma ideia privada de família, para criar uma retórica política de união nacional através do trabalho.

Em Considerações sobre justiça de transição no Estado Novo, Enio Viterbo analisa o processo de redemocratização, em 1945, e a carência de uma justiça transicional, principalmente, para as violações de Direitos Humanos cometidas durante o Estado Novo. Para o autor, o modelo de “transição pactuada” acabou sendo responsável pela impunidade dos agentes estatais durante o período ditatorial. Para tanto, o autor analisa a doutrina internacional sobre justiça de transição empreendendo uma análise de direito e história comparada com a Itália pós Mussolini.

Já Marina Contin Ramos, no artigo Cruzeiro: a renovação monetária no Brasil e o Governo Vargas, analisa a renovação do sistema monetário nacional, através do lançamento de uma nova moeda, o cruzeiro, em 1942, pelo Decreto Lei 4971. Nesse sentido, ressalta as questões inflacionárias e a desvalorização que levaram à mudança monetária, seus estudos técnicos e debates, tendo por objetivo principal mostrar que a renovação no nosso meio circulante não implicava em uma questão apenas econômica, mas também numa questão simbólica que envolvia o fortalecimento do Estado e a formação da nação, questões caras ao projeto varguista.

O artigo que encerra esse dossiê é O “bom imigrante”: as religiosidades católica e protestante luterana como fator de identidade nacional (ou não) durante o Estado Novo. O autor, Sérgio Luiz Marlow, analisa a chamada “Campanha de Nacionalização” durante o Estado Novo, buscando compreender como o processo de nacionalização impactou os protestantes luteranos através da importância que o Catolicismo adquiria como uma espécie de fomentador da identidade nacional. Mais especificamente, o autor busca compreender de que forma um dos sínodos luteranos no Brasil, o Sínodo de Missouri, percebia a possível ligação entre o Estado Brasileiro e o Catolicismo Romano, quanto à perspectiva do nacionalismo que se desejava impor.

Assim, desejo que esse dossiê entre nessa senda de produções relevantes sobre a temática do Estado Novo, ampliando os horizontes de análise dentro do campo da história, e mais particularmente, de uma história recente do Brasil. Entendo que esse dossiê contribui em duas perspectivas: primeiramente, ao trazer novos debates e novas reflexões; e ainda, abrindo possibilidades de pesquisas futuras sobre a experiência histórica do Estado Novo.

Notas

2 Cabe lembrar que o nome oficial do regime implantado em 10 de novembro de 1937 era Estado Nacional, como aparecia na Constituição outorgada por Getúlio Vargas. Estado Novo era o nome do regime implantado em Portugal, 4 anos antes por Salazar. Entretanto, no Brasil, a imprensa e os intelectuais trataram o regime como o Estado Novo brasileiro, em referência ao Salazarismo e como superação da República Velha, e acabou se tornando o nome popular do regime.

3 FAUSTO, Bóris. (1994).

4 Penso aqui nas referências explicitas dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, que situava a necessidade de “acabar com a Era Vargas”, e de Luís Inácio Lula da Silva, de ser um “ continuador do varguismo”.

5 Dentre os principais ideólogos do Estado Novo estão Oliveira Viana, Francisco Campo e Azevedo Amaral.

6 Os termos “idealismo orgânico” e “idealismo constitucional” pertencem a analise de Oliveira Viana. Ver: VIANA, Oliveira. O idealismo da constituição. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1939. 2a edição.

7 SILVA, Jorge. L. Werneck. (org.) O feixe e o prisma. Uma revisão do Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.

8 FREITAS, Marcos Cézar. (org.) Historiografia em Perspectiva. São Paulo, Contexto, 1998.

Cássio A. A. Albernaz – Doutor em História – PUCRS. Professor colaborador junto ao Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS. Pós- Doutorando em História pela PUCRS / PNPD / Capes. E-mail: [email protected]


ALBERNAZ, Cássio A. A. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 10, n. 2, jul. / dez., 2017. Acessar publicação original [DR]

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História e gênero / Oficina do Historiador / 2017

Gênero como campo de pesquisa histórica

O estudo de gênero como categoria analítica oferece aos estudos históricos novas perspectivas de análise. A emergência de novos objetos e fontes da História Social da Cultura possibilitou a incorporação dos debates acerca das questões de gênero no interior do campo historiográfico. Soma-se a isso, a própria mobilização de grupos socialmente marginalizados na busca de seus direitos civis e do reconhecimento diante de suas diferenças de gênero. A explosão de movimentos sociais no final dos anos de 1980 para além da rígida categoria de “classe” favoreceu o aparecimento de múltiplas identidades e a construção de novas bandeiras de luta no interior das sociedades pós-modernas. A categoria gênero é entendida aqui a partir de uma perspectiva interdisciplinar, que caracteriza a História-Ciência desde o surgimento da escola dos Annales, mas também incorporando a multiplicidade de sujeitos coletivos que integram o debate. Como diria uma das mais importantes historiadoras sobre o assunto, Joan Scott, o gênero tem dois significados inter-relacionados “o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos” (SCOTT, 1986, p. 86) [1], assim como, também é definido pela historiadora como “uma forma primária de dar significado às relações de poder” (SCOTT, 1986, p. 86). O gênero, neste sentido, é estritamente ligado as relações de poder e as relações sociais dispostas em sociedade.

As lacunas da representação da diversidade nos espaços de disputa de poder em regimes democráticos, por exemplo, indicam um perfil próprio de indivíduos que ocupam esses espaços. Dentro das democracias liberais, em sua maioria, esse papel é reservado para indivíduos masculinos. A dificuldade enfrentada no campo político por pessoas à margem desse processo é fundamental para a compreensão de sua baixa presença nos cargos do governo. A desigualdade de gênero revela a impossibilidade de concretização de políticas públicas realmente democráticas e com forte característica de pluralidade.

Deste modo, a produção do dossiê está vinculada com a apreensão quanto aos rumos da política brasileira, marcada pelo afastamento da primeira mulher eleita presidenta do país e pelos inúmeros retrocessos de conquistas obtidas pelos movimentos sociais, sobretudo a recente retirada pelo Ministério da Educação (MEC) do documento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dos termos como “gênero” e “orientação sexual”.

Em síntese, o gênero na história proporciona a incorporação da crítica de sujeitos históricos marginalizados nas dinâmicas sociais, culturais e políticas dentro da produção historiográfica. Este é justamente a razão de ser do dossiê História e Gênero organizado pela Equipe Editorial da Revista Oficina do Historiador. Reunindo diversos artigos sobre a temática, com o intuito da ampliação do campo da história utilizando o gênero como um dispositivo de análise nas pesquisas históricas contemporâneas.

Em “Sobre penteados e cabelos africanos: visões eurocêntricas nas páginas da Eu sei tudo (1917-1929)”, Ana Carolina Carvalho Guimarães foca a sua pesquisa na análise de textos e imagens relativa às mulheres africanas, publicadas na Revista Eu Sei Tudo entre os anos de 1971 e 1929. Buscando analisar a partir dos periódicos da revista sua difusão de representações e estereótipos da cultura e das mulheres africanas.

Por sua vez, Antonio Alves Bezerra em “Reflexões acerca do cotidiano de mulheres trabalhadoras rurais “boias frias” na cultura canavieira do interior paulista”, apresenta um artigo fundado em história oral sobre as experiências de lutas vivenciadas por mulheres trabalhadoras rurais que atuaram na cultura canavieira no Oeste paulista no início do século XXI.

No artigo “Antônio, Bento e Domingos: paternidade na elite farroupilha (1835-1845)”, Carla Adriana da Silva Barbosa situa a figura paterna como representante da segurança corporal e simbólica das famílias da elite farroupilha no contexto histórico, de 1835 a 1845, período marcado por guerras e pela soberania da figura masculina.

Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik, no artigo “História de vida e profissional da historiadora brasileira Laura de Melo e Souza: intersecções entre memória e biografia”, analisa a vida da historiadora Laura de Melo e Souza revelando detalhes de sua trajetória de vida e profissional.

Em “Mulheres, investigação de paternidade e justiça: cotidiano e provas (Belém, 1920- 1940)”, Ipojucan Dias Campos analisa mulheres e seus filhos adultos no início do século XX, na cidade de Belém, e seus esforços jurídicos para provar a paternidade de seus filhos. Seu cotidiano marcado por lutas de mulheres e suas famílias percebidas como “espúrias” pela sociedade.

Kety Carla De March, no artigo “Corpos subjugados: estupro como problemática histórica” discorre sua pesquisa na análise de processos criminais de estupro instaurados na comarca de Curitiba, Estado do Paraná, ao longo da década de 1950, analisando os discursos sobre a violência sexual e sua relação sobre os padrões de masculinidade e feminilidade no contexto histórico estabelecido.

A entrevista concedida pela Professora Doutora Claudia Schemes à Revista Oficina do Historiador, publicada nessa edição, é fundamental para a proposta do dossiê História e Gênero. Seus trabalhos são marcados pelas temáticas de gênero, envelhecimento, identidade e moda. Suas reflexões compreendem a importância dos estudos de gênero no campo historiográfico a partir da importância de uma visão mais ampla para as análises históricas atuais.

Desejamos que esse dossiê permita ampliar o horizonte de produções em torno da temática de gênero dentro do campo da história. Área com vasto campo para o desenvolvimento, o dossiê contribui para novos debates e novas reflexões abrindo espaço para a reunião de novas pesquisas sobre o assunto.

Nota

1. Ver texto completo em SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul. / dez. 1995, pp. 71-99.

Cristiano Enrique de Brum – Doutorando em História do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.

Julia Tainá Monticeli Rocha – Mestranda em História do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.

Henrique Perin – Mestrando em História do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS.

Tatyana de Amaral Maia – Professora adjunta do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS, Pós-Doutorado em História na Universidade do Porto, Doutora em História / UERJ.


BRUM, Cristiano Enrique de; ROCHA, Julia Tainá Monticeli; PERIN, Henrique; MAIA, Tatyana de Amaral. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 10, n. 1, jan. / jun., 2017. Acessar publicação original [DR]

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Corporativismo / Oficina do Historiador / 2016

O corporativismo, como diria Álvaro Garrido, um dos seus mais importantes estudiosos contemporâneos, se trata de “uma velharia que importa trazer a debate e submeter à crítica histórica” (GARRIDO, 2016: 17). Para tanto, em sua opinião, deve-se distinguir o corporativismo enquanto doutrina, ou como discurso ideológico das direitas autoritárias e antiliberais, do corporativismo institucionalizado pelos regimes autoritários e totalitários que o adotaram. Nesse sentido, pode-se dizer que a ideologia corporativa serviu de justificativa “para edificar um conjunto de instituições assentes na integração forçada dos interesses do Estado. (…) A ideologia corporativista e as suas instituições foram o centro do processo de fascistização da Europa e alguns países sul-americanos na primeira metade do século XX” (GARRIDO, 2016: 27).

De um lado, observa-se que os estudos sobre o chamado corporativismo histórico o associam diretamente aos regimes de tipo fascista do período entre guerras, definindo-o como uma doutrina destinada a assegurar a ordem social e a conciliação dos interesses econômicos entre capital e trabalho, sob a forte regulação do Estado. De outro lado, contudo, especialmente após a publicação do artigo “Still the century of Corporatism? (1974)”, de Philippe Schmitter, observa-se uma crescente preocupação em distinguir este corporativismo autoritário do que o autor chamou de neocorporativismo ou corporativismo democrático da segunda metade do século XX, por ele associado à ação dos grupos de interesse e seus sistemas de representação e novas formas relação com o Estado. Em sua definição, Schmitter diz que o corporativismo é um sistema de representação de interesses cujas instituições se organizam num número limitado de categorias, funcionalmente distintas e hierarquizadas, compulsórias e não concorrenciais, às quais o Estado concede o monopólio da representação em contrapartida de colaboração no exercício do controle social e político [1]. Essa seria sua definição clássica do corporativismo societal, distinto do que o próprio Schmitter chama de corporativismo político, ou seja, um sistema de representação política baseado numa visão orgânico-estatista da sociedade, onde suas unidades orgânicas (família, poderes locais e organizações profissionais) substituem o modelo eleitoral baseado no indivíduo e na representação parlamentar.

Mais recentemente, como diria mais uma vez Álvaro Garrido, observa-se também uma revitalização teórica do corporativismo, “muito embebida na episteme das Ciências Sociais”, onde avultam especialmente a Ciência Política, a Sociologia e a Economia. Em geral, segundo ele, “os politólogos e sociólogos que se ocupam do tema detém-se na teoria e ação dos grupos de interesse, na questão dos corpos sociais intermédios e nas formas de articulação entre o Estado e a ‘sociedade civil’”. Já no campo da Economia Política, diz Garrido, “as formas e práticas corporativistas também expressam as relações entre o Estado e a economia, ou entre o Estado e o mercado” (GARRIDO, 2016: 20). Hoje, diz o autor, o centro do debate teórico da Ciência Política interessada no fenômeno do corporativismo situa-se no estudo “das formas de conciliação entre as práticas de concertação corporativistas e a otimização dos agentes no âmbito do mercado, num quadro neoliberal de Economia Política” (GARRIDO, 2016: 24).

Em síntese, embora os sentidos atualmente atribuídos ao corporativismo sejam muitos e variados, isso não significa, como no caso de qualquer doutrina ou ideologia, que esse conceito possa ser definido de maneira atemporal, mas, ao contrário, que os novos estudos sobre o corporativismo devem ser feitos sempre com base em sua historicidade, tanto no sentido de um discurso ideológico quanto no de um conjunto de instituições que articulam as relações entre Estado e sociedade civil.

Esse é exatamente o sentido do presente dossiê, que reúne importantes estudos de pesquisadores portugueses e italianos vinculados à Rede Internacional de Estudos do Corporativismo (NETCOR), criada em princípios de 2015 em Lisboa, os quais se propõem a pensar justamente sobre o processo de institucionalização do corporativismo histórico nesses países, respectivamente, durante os regimes de Benito Mussolini e Antônio de Oliveira Salazar.

Francesca Nemore toma por base o caso italiano, principal referência para a difusão do corporativismo por diversos outros países da Europa entre guerras. Em estudo intitulado “New perspectives in the sources of the story of corporatism in Italy” Nemore analisa a perda e reconstrução do arquivo do Ministério das Corporações, o que, segundo ela, não representa apenas a história de um arquivo, em si, ou mesmo a história política e econômica do fascismo italiano, mas também dos seus períodos anterior e posterior.

Valerio Torreggiani, por sua vez, no estudo “Rediscovering the guild system: the New Age Circle as a British laboratory of corporatist ideas”, se dedica ao estudo de uma espécie de rede informal de intelectuais britânicos antiliberais – a New Age Circle (1907-1916), a fim de demonstrar que o corporativismo não se constituiu apenas num produto socioeconômico do fascismo ou de regimes de ideologia autoritária e nacionalista, como não seria o caso da Grã-Bretanha de princípios do século XX, antes mesmo da ascensão ao poder do fascismo italiano.

Os textos seguintes, de Manuel Cardoso Leal, José Reis dos Santos, Leonardo Pires e Natália Pereira, se dedicam à análise de diferentes formas de ordenamento social e representação de interesses em Portugal entre fins do século XIX e a década de 1940, durante o regime de Salazar. De sua parte, Cardoso Leal se propõe a estudar o que diz ser “A primeira representação orgânica no Parlamento de Portugal”, ocorrida entre 1895 e 1897, ao abrigo da lei eleitoral de 28 / 03 / 1895, e não apenas durante o governo de Sidônio Pais, como geralmente afirma a historiografia pertinente ao tema. Já o texto de José Reis dos Santos, “O corporativismo (integral) de Salazar e as redes internacionais das revoluções conservativas na Nova Ordem dos anos 30”, busca analisar a influência do ditador português no panorama intelectual europeu de 1930 e como este pretendeu difundir o seu modelo político e nova forma de governo como uma terceira via ao fascismo italiano e ao nacional-socialismo alemão. Leonardo Pires, por sua vez, em seu “Corporativismo e proteção laboral no Estado Novo português: o caso dos acidentes de trabalho e doenças profissionais”, visa analisar, por meio dos registros de acidentes laborais e de doenças profissionais, a relação entre os trabalhadores e o Estado Novo português em tempos de corporativismo. Natália Pereira, por fim, no texto intitulado “Nós, o povo: a rede de Casas do Povo e os alinhamentos corporativos em perspectiva comparada”, pretende explorar as dinâmicas sociais internas das Casas do Povo do distrito de Braga (1934-1973) e suas inter-relações com os organismos corporativos centrais do Estado Novo português, tais como os Grêmios da Lavoura, a Junta Central das Casas do Povo e a Federação Distrital das Casas do Povo de Braga.

Desejo a todos uma ótima leitura e que este dossiê possa contribuir para a renovação dos estudos e reflexões sobre a doutrina do corporativismo e sua institucionalização nos países ora analisados.

Luciano Aronne de Abreu – Organizador

Nota

1. Ver texto original: SCHMITTER, Philippe. Still the Century of Corporatism? In The Review of Politics, n. 36, n. 1, The New Corporatism: social and political structures in the Iberian world, p. 85-131 (1974).


ABREU, Luciano Aronne de. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 9, n. 2, jul. / dez., 2016. Acessar publicação original [DR]

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Radicalismos políticos / Oficina do Historiador / 2016

O começo do novo milênio refreou já amplamente as esperanças que a história tivesse chegado ao seu fim, ou seja que a derrota do último grande totalitarismo do século XX deixasse as portas abertas à construção de uma ordem internacional regida pelos princípios liberais e pelos modelos democráticos representativos. Ao contrário dessas prospecções, esses primeiros dezesseis anos de Século XXI testemunharam, mais uma vez, o ingresso na história mundial do conceito de crise; crise de longo curso e em diferentes dimensões: ideológica, econômica, geopolítica.

Essa crise tomou, com certeza, novas faces a nível internacional – hoje o radicalismo religioso dentro do paradigma de um alegado choque de civilizações ou a instabilidade financeira global – mas provocou, a nível nacional, fenômenos constantes na história do homem: a entrada de novos atores sociais e políticos, a produção de dinâmicas de conflito, a transferência, de uma parte a outra de um mesmo continente ou até de continentes diferentes, de ideias e práticas políticas frequentemente traduzidas segundo os sabores locais, a construção de memórias e discursos funcionais à transmissão dessas experiências. Como em todos os momentos de crise e de confrontação, essas irrupções tomam a forma do radicalismo face à realidade existente e correm o risco de serem encaixadas nas grandes narrativas históricas, diluindo, assim, as características peculiares que as tornam tão ricas do ponto de vista epistemológico mesmo em referência ao fenómenos mais amplos.

O intuito do dossiê temático Radicalismos Políticos é exatamente o de retomar a longa e prolífica linha historiográfica da crise, do conflito e da radicalização no século XX sem solução de continuidade com o novo milênio. Esse objetivo é perseguido através da apresentação de casos de estudo cuja matriz política é condutível às grandes famílias políticas da modernidade – a direita e a esquerda – mas cujas peculiaridades geográficas e identitárias permitem apurar ainda mais o conhecimento das tão diferentes facetas com que essa dicotomia clássica se encarnou nas duas margens do Atlântico.

Embora os casos selecionados respeitem a divisão dos sujeitos entre direita e esquerda, tanto os organizadores como os autores estão conscientes da hibridação que os diferentes sujeitos políticos sofrem em época de convulsões ideológicas e políticas. Dessas hibridações há sinais claros nos textos apresentados. O acento, contudo, é posto no caráter diacrônico dos casos: uma série de experiências surgidas ao longo de todo o século XX, com particular referência às épocas de maior convulsão: os anos trinta e os anos sessenta, mas também nesse breve começo de novo milénio.

Na frente das direitas, particular destaque é dado ao principal movimento fascista da América Latina, a Ação Integralista Brasileira (AIB). Rodrigo Santos de Oliveira e Michelle Vasconcelos do Nascimento apresentam o processo de construção, por parte da AIB, da própria identidade na contraposição entre valores sociais integralistas e erros ideológicos dos adversários, legitimando, assim, o próprio caráter regenerativo e resolutório da crise nacional. O ímpeto identitário dos integralistas é reforçado pela análise de Alexandre Oliveira e Vinícius Ramos sobre a peculiaridade da AIB como movimento fascista que, à diferença do fascismo italiano, resistiu o mais possível à laicização do Estado, à construção de uma religião civil e à secundarização da religião católica como factor de mobilização das massas.

A ponte entre as duas margens do Atlântico é reconstruída por Pedro Ivo Tanagino que, no seu estudo, apresenta o mito conspiratório da AIB, cujas raízes e utilização como factor de mobilização resultam centrais nos movimentos nacionalistas de massa de entreguerras. Essa diferenciação do fascismo brasileiro face ao modelo original europeu encontra prelúdios nas especificidades doutrinárias dos intelectuais conservadores latino-americanos face aos europeus. Em particular, Luiz Mário Costa apresenta o trabalho dos primeiros anos do século XX de dois destacados intelectuais contra-revolucionários: o brasileiro Gustavo Barroso e o português Alfredo Pimenta. O intuito de desmontar a suposta fraternidade intelectual luso-brasileira, tomando como indicador a polêmica entre os dois mestres de pensamento sobre um tema central para as direitas – o Império – cujas dimensões do heroísmo e da missão civilizadora marcam o discurso dessa família política ao longo de toda a sua trajectória de declínio no século XX.

A analise das direitas nas margens lusófonos do Atlântico e na primeira metade do século é acompanhada pela investigação das congêneres e contemporâneas na América hispânica. Em particular, Olga Echeverría apresenta as direitas argentinas e uruguaias perante a consolidação dos regimes fascista e nacional-socialista na Europa. A autora refere, em particular, o efeito de radicalização que o nazi-fascismo exerceu nalgumas dessas direitas latino-americanas, descortinando, assim, aquele processo recorrente de marginalização das facções radicais face às moderadas mais aptas a colaborar com os partidos mainstream do arco da governação. Também nesses casos de estudo, a tônica é posta na diferença e particularidade dos sujeitos analisados, sublinhando a contraposição entre a postura interclassista e de massa do partido uruguaio face ao caráter elitista das direitas argentinas.

A radicalização de parte das direitas Hispano-americanas, em particular das camadas juvenis, é retomada por Ernesto Bohoslavsky e Gabriela Gomes, desta vez no contexto das amplas mobilizações civis dos anos sessenta e setenta. Acerca desse período, o foco é habitualmente posto sobre os meios de esquerda (camponeses, operários, intelectuais). Os autores, pelo contrário, oferecem um panorama da juventude estudantil que se radicaliza num sentido nacionalista e anticomunista na Argentina e no Chile entre 1959 e 1973, através de várias organizações, como a famosa Tacuara, antes da instauração das ditaduras militares.

A relação entre ditadura e direitas é abordado por Eduardo Chaves, com a análise da construção da memória de Dercy Furtado, deputada estadual, nos anos Setenta, do partido de suporte ao regime militar brasileiro: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). A dimensão da militância estudantil como da construção da própria imagem revelam facetas interessantes do ingresso e da saída do radicalismo político durante o ciclo de crise, ou melhor de percepção da crise.

Na frente das esquerdas, as contribuições apresentadas apontam para os três mais importantes períodos de crise dos últimos cem anos: o eclodir do movimento operário entre século XIX e XX, as batalhas sindicais dos anos sessenta e a crise financeira global do século XXI, que afetou duramente os países do Sul. Aqui os sujeitos analisados pertencem principalmente ao meio anarquista na sua alvorada e à extrema-esquerda pós-materialista. O repertório de mobilização do anarcosindicalismo é apreciado por Luiz Felipe Mundim na França do final do século XIX. O objetivo é reconstruir as origens da mobilização e dos métodos escolhidos para descrever o processo de radicalização que tornará o anarcosindicalismo um ator central nos conflitos sociais do princípio do Século XX. A mesma família política é apresentada por Luciano Telles, cuja análise da revista A Lucta Social descortina os processo de radicalização à esquerda dos operários brasileiros da zona de Manaus e a sua aproximação de classe ao tenentismo, à sombra de reivindicações comuns de justiça social.

A peculiaridade do anarquismo como movimento importante mas à margem da crescente onda comunista no século XX é retomada pelo estudo de Maurício Brum. Dentro da célebre experiência de Salvador Allende no Chile, o autor centra a sua análise do radicalismo de esquerda nos anos Sessenta sobre o único partido chileno que não integrou a Unidade Popular: o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR). O intuito é perceber as razões pelas quais uma organização radical escolhe um determinado posicionamento num momento decisivo de crise e as modalidade que emprega nessa luta política marginal. Finalmente, no novo milénio e no contexto da crise econômica global, o enfoque é dado menos a uma presença e mais a uma ausência: o caso de Portugal contemporâneo, pois, é emblemático para se perceber como os efeitos de uma crise em determinados países não se reproduzam em outros. Nesse sentido e postas as condições similares entre países do Sul de Europa, José Santana Pereira analisa a esquerda radical portuguesa e, em comparação com a emergente esquerda populista grega (Syriza) e espanhola (Podemos), explica as razões do fracasso das tentativas de construção de um novo sujeito “populista” também nas margens do rio Tejo.

A radicalização dos movimentos sociais tanto a direita como a esquerda determinada pelas crises é também focalizada por Tatiana Poggi, na dimensão particular do contraste legislativo aos chamados crimes de ódio na Europa ocidental. Nesse sentido, a autora analisa o processo que levou ao reconhecimento e defesa legal dos direitos humanos (civis, políticos e sociais) constantemente ameaçados pelas dinâmicas de conflito.

A variedade temática, geográfica, cronológica e metodológica do número monográfico apresentado é mais que uma escolha, é uma escolha justificada pela necessidade sobre um tema como o dos movimentos políticos e sociais em conflito que merece, há anos, uma atenção crescente pela literatura científica. Como demonstram as resenhas de Tiago Carvalho e Tiago Moreira Ramalho sobre duas recentes obras de relevo acerca desse tema, a interdisciplinaridade e pluralidade é fundamental para satisfazer cada vez mais o caráter cumulativo da ciência.

Por fim, algumas questões de grande relevância para as ciências sociais estão dispostas na entrevista realizada com os investigadores António Costa Pinto (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) e André Freire (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa). Nela, podemos verificar diferentes caminhos de pesquisas, questões interpretativas e, especialmente, contribuições para temáticas tão urgentes.

Como organizadores, temos a certeza que os trabalhos aqui apresentados são de grande ajuda não só para a investigação comparativa sobre radicalização de movimentos políticos e sociais, mas também para as áreas específicas temáticas, temporais ou regionais. Agradecemos ao corpo editorial da revista Oficina do Historiador, aos autores, pareceristas e entrevistados, por este dossiê temático. Desejamos a todos uma boa leitura!

Odilon Caldeira Neto (UFRGS)

Leandro Pereira Gonçalves (PUCRS)

Riccardo Marchi (ISCTE-IUL)


CALDEIRA NETO, Odilon; GONÇALVES, Leandro Pereira; MARCHI, Riccardo. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 9, n. 1, jan. / jun., 2016. Acessar publicação original [DR]

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História da Ciência / Oficina do Historiador / 2015

Desde fins da década de 1980, nós três temos nos dedicado a pesquisas em história das ciências. Era uma época com poucas possibilidades de atuação nas universidades brasileiras. Hoje, após quase trinta anos de muitas lutas, vemos essa área se expandir por todo Brasil. Novas gerações de pesquisadores emergem, fortalecendo nossa especialidade e disseminando os seus trabalhos nas mais diversas regiões do país. A essas novas gerações é dedicado este dossiê que tivemos um grande prazer de organizar.

Graças ao apoio da PUC-RS e da editora Tatyana Maia foi possível programar e executar a seleção de artigos que agora chegam a lume. Recebemos mais de uma dezena de artigos que foram submetidos, no sistema de avaliação cega, a pareceristas indicados por nós e pela equipe de Tatyana. Foram cerca de trinta pareceristas anônimos envolvidos na avaliação dos artigos que exigiram grande esforço em prazos reduzidos dos profissionais. Sem essa contribuição – reservada ao anonimato – não seria possível realizar a difícil e criteriosa seleção dos cinco artigos que compõem o dossiê.

Nossa satisfação em produzir este dossiê reflete também nossas trajetórias traçada ao longo de décadas em que cada um de nós três trabalhou na construção dessa área de pesquisa no país. Luiz Carlos Soares atuando na ANPUH – Associação Nacional de História – como presidente foi responsável por estabelecer a linha de pesquisa no quadro de disciplinas da História no âmbito do CNPq. Como presidente da SBHC – Sociedade Brasileira de História da Ciência – e criador do Grupo de Estudos de História da Ciência e da Tecnologia, GEHCT da ANPUH, prosseguiu na batalha de consolidação da área nos departamentos de história. Mauro Condé, como um dos criadores do SCIENTIA – Grupo de Teoria e História da Ciência – na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, produziu em Belo Horizonte um pólo importante na formação de novos pesquisadores. Carlos Maia foi um dos fundadores do NHC – Núcleo de Pesquisas em História da Ciência do CNPq – que se transformou no MAST, Museu de Astronomia, hoje, um dos centros de excelência dessa área no Brasil. Os três editaram diversos livros e organizaram outros mais. Vemos que os frutos de nosso trabalho, como o de muitos outros colegas, ampliou em muito as possibilidades acadêmicas de pesquisas em história das ciências.

Esse Dossiê também tem a função de apresentar aos jovens pesquisadores as oportunidades de trabalho em uma área de pesquisa inovadora dentro da disciplina história. A história das ciências vem despertando interesse crescente em inúmeros departamentos de história, o que revela uma maturidade conceitual e teórica de nossa historiografia que se renova a cada dia. Há pouco tempo ainda encontrávamos historiadores com resistência a fazer uma história do conhecimento científico. Via-se ciência como uma produção fora da história.

Mas hoje essa equação sofreu grande mudança. A atividade científica não é mais observada como se fosse uma produção estrita do pensamento de cientistas que estariam à margem da sociedade. Pensar a ciência, hoje, qualquer ciência, é vê-la como uma atividade enraizada socialmente, tão permeável aos vetores sociais quanto qualquer outra atividade humana. Essa é uma conquista teórico-metodológica de anos recentes e inaugura grandes extensões de novos territórios de pesquisa para nossos pós-graduandos.

As oportunidades para que dissertações e teses inaugurais ocorram é muito frutífera. Expandimos o horizonte de preocupações e interesses dos historiadores para terras pouco exploradas. Novas temáticas e objetos enriquecem a disciplina história e trazem mais vivacidade e desafios para os novos pesquisadores que se formam em nossas universidades. A história das ciências obriga que estejamos mais atentos aos limites teórico-conceituais disciplinares. Ela permite que se expanda esses limites. A história das ciências produz um arejamento nas velhas e consolidadas temáticas da história. Ela solicita e fornece um cabedal metodológico para quem ousa adentrar em seus temas. Não é qualquer pesquisador que se mostra capaz de identificar a historicidade do pensamento científico. Infelizmente, ainda há aqueles que nem percebem como a ciência é uma atividade historicamente situada.

Assim, convidamos os jovens pesquisadores, especialmente aqueles que ávidos por novidades e que se realizam em ousadias mais refinadas do pensamento, a se infiltrarem em nossas temáticas. Conquistem para a história essas terras devolutas que apresentam promissoras oportunidades de trabalho no Brasil. Essa é uma conquista que pode trazer uma grata satisfação profissional e um enorme prazer intelectual a todos que ingressarem na aventura de praticarem a história das ciências nos departamentos de história.

No artigo intitulado “A construção do conhecimento no instituto nacional de pesquisas da amazônia – INPA, por meio de suas expedições científicas, (1954-1975)”, Ângela Nascimento dos Santos Panzu eEduardo Gomes da Silva Filho analisam a produção do conhecimento científico no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, entre 1954 e 1975. Os autores procuram mostrar a constituição desse conhecimento analisando os relatórios das excursões e expedições científicas promovidas pelo Instituto na floresta Amazônica. Enfatizam o caráter coletivo da produção do conhecimento através da interação dos pesquisadores e de seus auxiliares recrutados na população local.

O artigo de Matheus Alves Duarte da Silva, “Soro ou vacina: controvérsias no controle da peste bubônica no Rio de Janeiro (1899-1901)”, aborda a querela entre Oswaldo Cruz e Camilo Terni, ocorrida em 1900, acerca do tratamento das vítimas da peste. Cruz defendia a utilização do soro antipestoso como tratamento e imunização da população. Em posição contrária, o cientista italiano Camilo Terni, enviado ao Brasil para estudar a doença, por sua vez, defendia a ineficácia do soro, recomendando a vacinação da população. O embate, que teve repercussão na mídia, foi vencido por Cruz, uma vez que o soro tornou-se a arma central no combate da peste. No entanto, Duarte da Silva procura mostrar como essa vitória foi construída por alianças e interesses. Karoline Viana Teixeira analisa, no artigo intitulado “Percepções e limites do fazer científico: o caso da Imperial Comissão Científica de Exploração (1859-1861)”, aquela que é considerada a primeira viagem científica composta exclusivamente por naturalistas brasileiros, a Comissão Científica de Exploração. Essa viagem refletiu o esforço do Império brasileiro para promover descobertas que redundassem no desenvolvimento da economia brasileira, procurando seguir o exemplo das nações europeias do século XIX.

Karoline Teixeira aborda, neste artigo, a experiência dessa Comissão Científica analisando as possibilidades e os limites do uso da ciência como instrumento do desenvolvimento do Império brasileiro. Império esse que lidava, por um lado, com a herança colonial mas, ao mesmo tempo, procurava se constituir como uma nação moderna e civilizada que fosse capaz de produzir conhecimento.

No artigo “Saúde e sociedade: o estudo de caso da AIDS na cidade de Itapetininga (anos 1990)”, Gustavo Vargas Laprovitera Boechat parte do pressuposto de que, mais que um fenômeno biológico, a doença é um fenômeno histórico, demonstrado pelas práticas sociais e pensamentos de uma dada comunidade quando essa define seu entendimento da doença, estratégias de prevenção, concepções de transmissão e cura. O artigo analisa a epidemia de HIV / AIDS na cidade de Itapetininga, de 1989 a 1996. Através de uma abordagem histórica, procura compreender como, em uma cidade do interior paulista, foram incorporados discursos e práticas sobre a AIDS. Analisando a produção jornalística local, bem como os prontuários médicos da Santa Casa de Misericórdia de Itapetininga, Gustavo Boechat analisa o universo sócio-político e simbólico reconstruindo as vivências e representações dessa comunidade em torno da doença.

Por fim, no artigo “Análise das fichas do serviço de ortofrenia e higiene mental do Rio de Janeiro (Arthur Ramos, 1934-1939): contribuições à história da psicologia”, Jefferson Mercadante analisa as fichas individuais de crianças atendidas pelo Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental no Rio de Janeiro, entre os anos de 1934 e 1939, a partir das quais procura identificar características eugenistas presentes na atuação de Arthur Ramos à frente da Seção de Ortofrenia e Higiene Mental. Segundo Mercadante, com intuito de servir à abordagem higienista, a psicanálise freudiana foi modificada. Ainda que não possamos exatamente filiar Arthur Ramos ao ideário eugênico da teoria racial determinista – já que percebemos sua preocupação com a valorização do homem por meio da cultura e a da saúde do espírito –, em certo sentido percebemos que, na medida que em sua fala predomina a ideia de prevenção e correção por meio da educação e da higiene mental, ele termina, de certa forma, por neutralizar as causas econômicas e políticas como fortes fatores da desigualdade social. Sob esta ótica, mesmo que pareça mais preocupada com a dimensão social dos problemas psíquicos, sua obra encontra-se impregnada da mesma ideologia que postulava a construção de uma nação nova a partir da atuação do controle médico que excluísse os aspectos degenerativos e desagregadores da sociedade.

Desejamos a todos uma excelente leitura!

Carlos Alvarez Maia – UERJ

Mauro Lúcio Leitão Condé – UFMG

Luiz Carlos Soares – UFRJ


MAIA, Carlos Alvarez; CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão; SOARES, Luiz Carlos. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 8, n. 2, jul. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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A primeira Guerra Mundial e suas repercussões no Brasil / Oficina do Historiador / 2015

Este dossiê reúne parte dos trabalhos apresentados por pesquisadores brasileiros e estrangeiros no Simpósio internacional “Memórias da Grande Guerra e repercussões no Brasil 1914-2014”, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com o auxílio econômico da Capes, que ocorreu na mesma universidade, em maio de 2014. A proposta do evento era motivada pelo Centenário da eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Nessa data se tornou necessária uma reflexão sobre esse assunto de extraordinária relevância para a história da humanidade, considerando também suas novas abordagens e possibilidades interpretativas. De fato, poucos acontecimentos da história contemporânea provocaram tanto a atenção de historiadores como a Primeira Guerra Mundial, considerada o divisor de águas e a etapa inicial de uma nova fase, do ponto de vista político, social, econômico e tecnológico. A guerra marcou o fim do “longo século XIX” e representou o crepúsculo da supremacia mundial europeia e de uma civilização convencida que pudesse guiar a humanidade através do conhecimento e da razão, rumo a um futuro de progresso e convivência pacífica entre as grandes potências continentais. O conflito provocou uma mudança radical das relações internacionais e contribuiu, ao mesmo tempo, para criar a contraposição ideológica que viria a caracterizar todo o século XX. A complexidade da Grande Guerra não fugiu aos olhos dos observadores da época que compreenderam o quanto se mostrava diferenciada em relação aos conflitos anteriores.

Quando a disputa pelos mercados e territórios da Europa alavancou o acirramento da crise entre os países do continente, interesses de ordem política, econômica e militares abalaram o equilíbrio precário de um castelo de cartas: não se podia puxar uma sem mover a outra. O conhecimento de que uma guerra na Europa poderia ser catastrófica para a sua população não evitou a corrida pela tecnologia da morte, e este foi o período em que os avanços na indústria bélica mais se acentuaram. Vale mencionar, a propósito, o uso, pela primeira vez, de armas químicas, dos carros de combates especiais e da aviação militar. Os bombardeios em massa contra civis provocaram milhões de mortos, bem como, deixaram outros tantos mutilados ou vitimados pelas epidemias causadas pelo inimigo invisível, a gripe espanhola.

Ao mesmo tempo, o conflito fez surgir discussões e uma revisão do antigo modelo político europeu. O confronto resultou numa nova hegemonia política e no surgimento de regimes totalitários como o fascismo, o nazismo e o comunismo, que transformaram o cenário político e econômico mundial. Esta última questão é bem tratada, dentro de um contexto mais amplo, na entrevista sobre o nacionalismo que o professor galego Xosè Núñez Seixas concedeu para esse dossiê e que se revela de grande utilidade para entender algumas das repercussões ideológicas que envolveram as culturas políticas europeias e extra europeias da época.

Em cem anos, o tema da Grande Guerra foi estudado em profundidade e se produziu uma enorme massa de publicações específicas que junto aos eventos estreitamente políticos, diplomáticos e militares, concentraram-se também sobre os mais diversos campos de análise, entre os quais o tema relativo à condição dos combatentes e das vítimas, os prisioneiros, os sobreviventes, etc. A proximidade com a efeméride do centenário, porém, propiciou a ocasião para aprofundar uma abordagem historiográfica que, principalmente, na Europa, retomou o problema da responsabilidade e da origem do conflito. Nesse sentido, distinguiu-se o recente amplo trabalho do historiador australiano, Christopher Clark, resenhado nas páginas seguintes pelo pesquisador italiano, Christian Satto, que evidenciou o grande sucesso editorial da obra traduzida em inúmeros países do mundo entre os quais o Brasil. O mérito do livro é de reconstruir de forma articulada e detalhada as relações de poder na Europa entre o final do século XIX e o começo do XX, recusando de maneira convincente a tese tradicional que considera a eclosão do conflito por fatores de longa duração. Clark, de fato, interessa-se também pelos traumas imediatos a véspera da guerra e pelas responsabilidades dos protagonistas da crise de julho de 1914, isto é, os chefes de Estado definidos como “sonâmbulos” incapazes de perceber o horror que eles mesmos estavam trazendo ao planeta inteiro.

Outra razão importante para a realização desse dossiê relaciona-se às mudanças e às implicações que o conflito determinou também no Brasil, que foi o único país da América Latina a participar da Primeira Guerra. Aliado com os países da Tríplice Entente teve uma tímida participação na guerra, com envio de suprimentos agrícolas e da matéria-prima procurada pelas nações em conflito; enviando alguns pilotos de avião e tropas na frente ocidental, e oferecendo navios militares, além de um apoio médico organizado pelo governo brasileiro. Com esse propósito, o artigo de Cristiano Enrique de Brum analisa, através dos relatórios dos médicos protagonistas, a atuação da Missão Médico-Militar organizada em 1918 pelo governo brasileiro e enviada para a França, a fim de fundar um hospital em Paris. Tais documentos inéditos nos permitiram conhecer detalhes sobre a composição da expedição; sobre a viagem até a Europa; sobre o combate à gripe espanhola e a atuação em diversas partes da França.

A mobilização brasileira foi fomentada também por uma parte da imprensa nacional que, em diversas ocasiões, manifestou a sua posição pró-Aliados. Ao mesmo tempo, porém, como se evidencia no texto de Lorena Gill e Beatriz Loner, havia elementos sociais que durante a guerra promoveram movimentos antimilitares e mobilizações a favor da paz. O caso emblemático abordado é o dos trabalhadores organizados, mulheres e anarquistas em uma cidade gaúcha, Pelotas, com forte conotação operária.

Mesmo distante do palco central, o Brasil sentiu os reflexos do conflito. A participação do país lhe garantiu uma cadeira na Conferência de Paz de Paris, que originou o Tratado de Versalhes, e o pagamento de indenização por parte da Alemanha por ter prejudicado o comércio do café brasileiro durante o período do conflito armado. Ao mesmo tempo foi um os fundadores da Liga das Nações. Com o fim do conflito armado, houve uma grande demanda por diversos gêneros alimentícios, o que permitiu uma dinamização e retomada da economia brasileira. Além disso, os danos causados pela Primeira Guerra Mundial no continente europeu possibilitaram que o Brasil passasse por um surto de industrialização.

O recente livro de Olivier Compagnon cujo título na versão português-brasileira é O adeus à Europa: a América Latina e a Grande Guerra, resenhado profundamente por Heitor Carvalho Loureiro neste dossiê, tem o grande mérito de romper com o silêncio historiográfico sobre as consequências do conflito na América a Latina. O esforço do estudioso francês foi de evidenciar o impacto que a Grande Guerra teve também sobre os países mais longínquos do palco central europeu, como Brasil e Argentina, que até então se nutriram dos modelos europeus e de repente, com o conflito, sofreram uma crise de identidade que teve como principal reação a valorização de um passado autóctone, e uma exacerbação de um sentimento nacionalista, principalmente, na esfera cultural.

Outro aspecto relevante relaciona-se com a abundante presença de imigrantes alemães e italianos, atingidos diretamente pelos efeitos do conflito, no Rio Grande do Sul e nos outros estados caracterizados pelo fenômeno da imigração europeia. No caso dos italianos, que se tornaram aliados do Brasil, durante todo o período de participação da Itália na luta, manteve-se uma forte contribuição financeira para a pátria mãe, assim como muito jovens de origem italiana, residentes no Brasil, fizeram parte das forças militares italianas. A mobilidade foi muito significativa nos principais centros de imigração italiana, especialmente em São Paulo, onde se desencadearam processos que alimentaram entre os imigrantes, o mito da nação que precisava ser defendida, e a exaltação do dever patriótico. Na verdade, como se observa no artigo de Maíra Inês Vendrame foi já com a guerra da Líbia, combatida e vencida pela Itália em 1911, o primeiro momento no qual se reforçou no sentido nacional patriótico, o vínculo da população colonial com o país de origem. E já na véspera da guerra não faltaram as celebrações e festejos para os heróis mortos na defesa da causa colonialista.

No caso dos imigrantes alemães se registrou, desde a primeira fase da guerra, o envio de ajuda econômica através do consulado alemão, assim como o suporte midiático nos principais órgãos da imprensa teuto-brasileira. Tudo isso gerou pela primeira vez entre imigrantes alemães e seus descendentes, uma hostilidade aberta e generalizada de parte da população luso-brasileira e a desconfiança de grande parte das autoridades, que se aproximavam aos ideais dos Aliados. O clima tornou-se ainda mais hostil depois da declaração de guerra do Brasil à Alemanha. Não tardaram medidas de intervenção nas sociedades, associações, clubes, escolas, imprensa e no uso da língua alemã no dia a dia, ou seja, os primeiros passos de uma verdadeira nacionalização dos elementos teuto-brasileiros. Nesse sentido o artigo de Livia Claro Pires, analisa o papel da “Liga Brasileira pelos Aliados”, uma associação fundada em 1915 no Rio de Janeiro pelo crítico literário José Verissimo, pelo diplomata Graça Aranha, pelo capitão do Exército Eliseu Montarroyos e pelo burocrata Araújo Gonçalves, com o objetivo de prestar assistência moral no país às nações Aliadas. Em pouco tempo a propaganda inimiga da Liga se estendeu aos imigrantes alemães residentes no Brasil, vistos agora como elementos estranhos no corpo nacional.

Portanto, estes estudos apontam para a complexidade de um evento mundial, cujas repercussões em um país como o Brasil, ainda resultam parcialmente negligenciados pela historiografia.

Antonio de Ruggiero – Pesquisador PNPD / Capes e professor colaborador do PPGH / PUCRS,

Porto Alegre, 18 de junho de 2015


RUGGIERO, Antonio de. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 8, n. 1, jan. / jun., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Identidades e representações: pensamentos e práticas históricas / Oficina do Historiador / 2014

O século passado foi o mais mortífero de toda a história documentada, o número de mortes causadas pelas guerras foi estimado em 187 milhões de pessoas e mesmo tendo essa consciência o que o homem faz para conter? Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores contemporâneos, questiona como haveremos de viver neste mundo perigoso, desequilibrado e explosivo, em meio a grandes deslizamentos das placas tectônicas nacionais e internacionais, sociais e políticas? Tendo como centro do mundo uma política megalomaníaca dos Estados Unidos, principalmente após o 11 de setembro.[1]

Segundo o mesmo historiador: todo ser humano tem consciência do passado e na maioria das vezes lidamos com sociedades para as quais o passado é essencialmente o padrão para o presente. Para Hobsbawm, o historiador não pode ser apenas um simples reprodutor, deve ser criador. [2]

Em busca de criações e interpretações historiográficas, a Equipe Editorial da Oficina do Historiador: revista discente do Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, apresenta ao público acadêmico a edição Identidades e representações: pensamentos e práticas históricas.

Criada em setembro de 2009 como resultado de um projeto coordenado pela Doutora Janete Silveira Abrão, a primeira edição foi lançada no 1º semestre de 2010 e desde então, contou com edições regulares a cada 6 meses. Posteriormente, o Doutor Marçal de Menezes Paredes, ocupou o cargo de editor até o 1º semestre de 2014, momento em que assumi a direção do periódico. Mantendo a tradição da autonomia discente, a OH que é classificada pela Qualis / CAPES como B1, define-se como um espaço de veiculação de produção científica e pesquisas desenvolvidas por docentes e principalmente, por alunos dos diversos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em História do país.

Com a nova gestão editorial algumas mudanças foram implementadas na intenção de aprimorar a qualidade da revista em busca da internacionalização. A partir de agora os artigos em formato eletrônico da revista OH estão indexados no Directory of Open Access Journals (DOAJ), para acesso pela comunidade científica internacional. Com uma nova composição do Conselho Consultivo, formada por pesquisadores da Alemanha, Argentina, Brasil, França, Hungria, Portugal e Uruguai, o periódico possui uma excelente Equipe Editorial que é formada por doutorandos e mestrandos do PPGH / PUCS. Através da árdua dedicação acadêmica dos discentes a revista é mantida e projetos futuros são organizados de forma cada vez mais ativa. Dessa forma, parabenizo a equipe composta pelos doutorandos (as): Daniela Garces de Oliveira, Fernanda de Santos Nascimento, Geandra Denardi Munareto, Geneci Guimarães Oliveira, José Oliveira da Silva Filho, Leonardo Oliveira Conedera, Luciana da Costa de Oliveira e Priscila Weber, além da mestranda Egiselda Charão e do mestrando Waldemar Dalenogare.

A edição desse semestre apresenta algumas mudanças, como a ampliação do número de artigos, totalizando 12 sérios estudos que são resultado de pesquisas acadêmicas de vários institutos de investigação do Brasil (FEEVALE, PUCRS, UEG, UFMG, UFPE, UFPR, UFRJ, UFRN e UFSJ) e da Europa (Université Paris Diderot – Paris 7 – Università di Bologna). A diversificação das instituições demonstra o impacto do periódico e a aceitação entre os acadêmicos, contribuindo assim, com a possibilidade de ter acesso a pesquisas recentes e cada vez mais atualizadas no âmbito historiográfico. A nova edição da OH apresenta ao leitor duas resenhas, oriundas de pesquisadores da UFRGS e UNICAMP que trazem à baila reflexões de novas publicações editoriais.

A principal novidade está na última seção da revista. Em todos os números, haverá um espaço destinado à divulgação de um material extra que contribua com o debate e pesquisas universitárias. No v. 7, n. 2, temos a satisfação de contar com uma excelente entrevista do Presidente da Associação Nacional dos Historiadores (ANPUH), Doutor Rodrigo Patto de Sá Motta, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que esclarece uma série de questões sobre a profissionalização do historiador, que é ainda hoje umas das poucas atividades sem regulamentação. Desde a década de 1960, o assunto é debatido no Congresso Nacional e sempre caiu no esquecimento.[3] A retomada do debate ocorre após um intenso envolvimento dos historiadores no processo de regulamentação através da ANPUH, principalmente na gestão dos últimos presidentes da associação, Doutor Durval Muniz de Albuquerque Júnior (UFRN), Doutor Benito Bisso Schmidt (UFRGS) e agora com o nosso atual representante, que mantém viva a esperança da profissionalização.

Agradecemos a todos os que fizeram possível mais este número, em especial aos autores que escolheram a OH para exporem suas pesquisas, à equipe editorial, à coordenação do PPGH / PUCRS por todo apoio e principalmente aos leitores, que correspondem ao principal objetivo da revista.

Notas

1. HOBSBAWM, Eric. O terror. In: ______. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

2. HOBSBAWM, Eric. Tempos Interessantes: uma vida no século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

3. GONÇALVES, Leandro Pereira. Historiador. In: SCHWARZ, Rodrigo Garcia. (Org.). Dicionário de Direito do Trabalho, de Direito Processual do Trabalho e de Direito Previdenciário aplicado ao Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2012, p. 517-519.

Leandro Pereira Gonçalves – Professor do PPGH / PUCRS e Editor da Oficina do Historiador


GONÇALVES, Leandro Pereira. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 7, n. 2, jul. / dez., 2014. Acessar publicação original [DR]

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Oficina do Historiador | PUC-RS | 2010

Oficina do Historiador oficina do historiador

Oficina do Historiador (Porto Alegre, 2010-) é um periódico de publicação semestral editado pelo Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

A revista define-se como um espaço de veiculação de produção científica e pesquisas desenvolvidas por docentes e, principalmente, por alunos dos diversos Programas de Pós-Graduação em História do Brasil, bem como recém titulados com resultados finais ou parciais de suas pesquisas.

Seu caráter exclusivamente virtual responde ao intuito de divulgar a produção acadêmica para um público mais amplo de interessados em estudos sobre diversas temáticas e contextos históricos. Dessa forma, a Oficina do Historiador pretende fomentar a investigação e a divulgação de resultados de pesquisas e promover o debate historiográfico.

Periodicidade semestral.

Acesso livre.

ISSN 2178-3748 (Online)

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