Povos Indígenas na América Portuguesa entre os Séculos XVI e XIX. Contatos Interétnicos, Agenciamentos e Territorializações | História (Unesp) | 2021

Indigenas no Brasil Povos indígenas
Povos Indígenas no Brasil | Foto: Kristian Bengtson – ISA

Por uma história indígena decolonial a partir das problemáticas do presente

Antes de adentrarmos naquilo que vem sendo pesquisado e publicado sobre os povos indígenas na história do Brasil, evidenciamos as historicidades dos povos originários pós-século XVI indo ao encontro da perspectiva de uma história decolonial que segue evidenciando as lutas, violações, conquistas de direitos dos homens e mulheres indígenas no passado com o olhar no presente.

Diante do exposto, afirmamos que hoje no Brasil existem cerca de 820 mil homens e mulheres indígenas, 305 grupos étnicos que se autoidentificam como povos indígenas, falantes de mais de 274 línguas diferenciadas. Apesar de representarem apenas 0,43% da população, os povos indígenas estão presentes em 80% dos municípios brasileiros, habitando 1.290 terras indígenas, sendo 408 homologadas e 821 em processo de regularização e/ou reivindicadas. As terras indígenas – demarcadas ou não – em sua quase totalidade encontram-se invadidas, depredadas e em processo de profunda devastação. Leia Mais

Diretório dos Índios: políticas indígenas e indigenistas na América portuguesa | SÆCULUM – Revista de História | 2021

Diretorio dos Indios Povos indígenas

O protagonismo dos povos indígenas no Brasil demorou a entrar na agenda da historiografia acerca da América Portuguesa, especialmente como indivíduos ou coletividades capazes de práticas políticas que poderiam decidir os seus destinos nos processos pós-contatos e diante da legislação indigenista. Incontáveis páginas foram escritas sobre o regime colonial nos trópicos sem que as suas agencias fossem mencionadas e até mesmo prevaleceram negações implícitas e explícitas sobre sua capacidade de ação, em estudos que tratam da política e da administração colonial portuguesa. As razões que procuram justificar operações historiográficas desse gênero têm sido de diferentes ordens. As mais frequentes são a alegação sobre a falta de fontes para inseri-los na historiografia, seu rápido e precoce “desaparecimento” das regiões conquistadas e colonizadas e a crença na desolação e na anomia dos indígenas, supostamente “incapacitados” de protagonismo histórico-social depois que foram conquistados e colonizados.

Não obstante, pesquisas históricas e antropológicas têm revisado esses argumentos. A publicação de guias e catálogos de fontes para a história indígena, como os organizados por John Monteiro na década de 1990 ou mais recentemente o dirigido por Juciene Ricarte Cardoso (2016), demostram que não é por falta de fontes que se explicará a ausência e/ou marginalização dos povos originários na tessitura da história colonial. Afinal, existem registros históricos importantes sobre as legislações indigenistas coloniais e muito material acerca das dinâmicas, contradições, práticas e vivências interétnicas na América Portuguesa [1]. Leia Mais

História indígena, agência e diálogos interdisciplinares/Acervo/2021

“História indígena, agência e diálogos interdisciplinares”, primeiro dossiê da revista Acervo a tratar da história dos povos originários no Brasil, nos dá a dimensão da significativa presença e atuação dos povos indígenas em nossa história. Ao agregar artigos que abordam temas, temporalidades e espaços diversos, destacando as agências indígenas dos séculos XVI ao XXI, esta edição evidencia o crescente avanço dos estudos sobre os indígenas na condição de sujeitos, cujas ações e escolhas influenciavam os rumos dos processos históricos. Fundamentados nas mais diversas fontes primárias e secundárias problematizadas à luz de análises interdisciplinares, os 28 artigos aqui publicados tratam de operações historiográficas e etnográficas que, no mais das vezes combinadas, revelam agências e trajetórias de homens e mulheres indígenas que vivenciaram realidades diversas em múltiplos processos de contatos interétnicos. Sem desconsiderar a extrema violência que caracterizou esses processos, historiadores e antropólogos desenvolvem narrativas inovadoras e decoloniais que demonstram as atuações políticas e culturais dos inúmeros e diferenciados povos que não se imobilizaram frente às incalculáveis agressões e ameaças com que depararam ao longo dos séculos. Leia Mais

História Indígena no Brasil: diálogos interdisciplinares / Revista Mosaico / 2011

A partir dos anos 1990, a história indígena vem se solidificando, sendo escolhida como tema de dissertações e teses dos programas de pós-graduação em nosso país, tendência que também se verifica na América-Latina. Desde então, tem havido publicações de inúmeros trabalhos acadêmicos, completos ou sob a forma de resumos, em anais de eventos científicos, ou ainda como livros, capítulos de livro e artigos em periódicos. Uma das características presentes na maioria dos trabalhos científicos sobre a temática indígena no campo da História é o diálogo interdisciplinar necessário com a Antropologia, a Arqueologia, a Linguística, a Educação, entre outras. Temos deixado de delegar especialmente ao campo da Antropologia a responsabilidade sobre o passado dos diferentes grupos étnicos em nosso país, e nos temos permitido, através de um caminho interdisicplinar, realizar pesquisas históricas diferenciadas sobre o referido tema. Esse diálogo contínuo e o uso de diferentes fontes históricas, assim como de variadas temporalidades, permite-nos negar a tese do historiador oitocentista Francisco Adolfo Varnhagen de que para os índios não haveria história, mas apenas etnografia. O mais importante é que uma das preocupações da historiografia recente sobre história indígena é não construir mais uma imagem do índio genérico, ou apenas de vítima dos primeiros contatos com os não indígenas na América portuguesa, “dizimados” e “assimilados”, ou seja em processo de desaparecimento. Ao contrário, Silvia Porto Alegre assevera que, nos últimos anos, os campos da História e da Antropologia revelaram que cada grupo indígena tinha um caráter étnico de posicionamento frente ao não indígena nas diferentes regiões brasileiras. E, mesmo que negados no plano discursivo, os grupos étnicos continuavam e continuam existindo e estão cada vez mais organizados politicamente, afirmando a sua etnicidade. O recorte da etnicidade entendido como fenômeno político é importante porque revela que as práticas políticas integracionistas criadas desde o Antigo Regime até o Brasil república não conseguiram fazer “desaparecerem” os povos indígenas até os dias atuais.

Diante do exposto, é com grande satisfação que a revista Mosaico dedica este dossiê à história indígena no Brasil, em que foram selecionados textos de autores de vários estados brasileiros que optaram por manter diálogos interdisciplinares, seja na perspectiva teórico-metodológica, seja na perspectiva das fontes documentais. Textos que trazem aportes para mergulharmos nas diferentes formas de relações interétnicas entre povos indígenas e colonizadores, assim como nas agências indígenas, nas questões culturais, religiosas e políticas, enquanto sujeitos históricos que souberam se reinventar nos espaços criados pelos interesses dos não indígenas ao longo da história do Brasil.

Juciene Ricarte Apolinário


APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Editorial. Revista Mosaico. Goiânia, v.4, n.2, jul. / dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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Brasil Colônia / Mnemosine Revista / 2010

Revisitando o Dossiê Brasil Colônia

Aos leitores apresento a primeira revista científica do Programa de Pós-Graduação em História da UFCG e, notadamente, do Curso de História da Unidade de História e Geografia. Com o presente dossiê, a Mnemosine Revista inicia uma trilogia que seguirá com “Brasil Império” e “Brasil República”. Objetiva-se possibilitar a divulgação de trabalhos de pesquisadores que tratem de temáticas desde a colônia até os dias atuais. O Dossiê Colônia foi organizado a partir de temas escolhidos livremente por seus respectivos autores e, acreditamos, revelando uma diversidade de interesses de discussões historiográficas, metodológicas e de diálogo com as fontes. Nos últimos anos, vem sendo publicados diversos trabalhos sobre Brasil Colônia, apesar de ser em menor proporção em relação aos trabalhos vinculados às temporalidades Império e República, no entanto, é perceptível um avanço no uso das fontes pelas redescobertas das pesquisas em arquivos brasileiros e no exterior. Os trabalhos dos últimos anos no campo do Brasil Colônia revelam que as práticas sócio- culturais construídas na América Portuguesa eram repletas de transgressões, sejam político-administrativas entre centro e metrópole, sejam nas práticas de sociabilidade discorridas em torno das festas, das lutas políticas de negação à ordem metropolitana, das relações de gênero, da diversidade dos planos educacionais que fugiram às regras religiosas, entre outras ressignificações que o cotidiano dos homens e mulheres luso-brasileiras conseguiam desconstruir a lógica do Projeto Colonial Português.

Para o presente dossiê apresento-lhes textos com abordagens variadas e que tratam de temas e problemas do Brasil Colônia, a partir das discussões sobre a recente historiografia portuguesa e brasileira respeitante ao Antigo Regime, enfocando novas possibilidades de estudo sobre a interdependência entre o centro (a metrópole e seu monarca) e a periferia (a colônia). Aborda-se a memória criada em torno da Inconfidência Mineira, através da análise dos boatos e murmurações que circularam em Minas Gerais e na cidade do Rio de Janeiro entre o início da repressão, em 1789, e a execução de Tiradentes, em 1792. É discutida a prática educativa desenvolvida na Paraíba colonial durante o domínio holandês. Analisa as estratégias e os objetivos dos poderes locais da Capitania da Paraíba, representados por meio dos oficiais da Câmara, na sua recusa em organizar a festa para homenagear São Francisco de Borja. Aborda-se a ocupação holandesa no nordeste brasileiro a partir de análises dos documentos deixados pelo cronista Roulox Baro. Analisa-se as transformações gerais ocorridas na economia do Rio de Janeiro na primeira metade do século XVIII, considerando o impacto causado pela ocupação de novas regiões e pelo fluir do ouro Estamos diante de um dossiê sobre Brasil Colônia com característica de multiplicidade de nortes interpretativos, opções de correntes teóricas, opções de recortes, ângulos e ressignificações diversas do passado da América Portuguesa por parte dos historiadores selecionados.


APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Apresentação. Mnemosine Revista. Campina Grande, v.1, n.1, jan. / jun., 2010. Acessar publicação original [DR]

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