História Indígena na Bahia/Revista de História – UFBA/2022

Não é a marcha inelutável e impessoal da história que mata os índios: são ações e omissões muito tangíveis, movidas por interesses concretos (Manuela Carneiro da Cunha)1 Leia Mais

História indígena, agência e diálogos interdisciplinares/Acervo/2021

“História indígena, agência e diálogos interdisciplinares”, primeiro dossiê da revista Acervo a tratar da história dos povos originários no Brasil, nos dá a dimensão da significativa presença e atuação dos povos indígenas em nossa história. Ao agregar artigos que abordam temas, temporalidades e espaços diversos, destacando as agências indígenas dos séculos XVI ao XXI, esta edição evidencia o crescente avanço dos estudos sobre os indígenas na condição de sujeitos, cujas ações e escolhas influenciavam os rumos dos processos históricos. Fundamentados nas mais diversas fontes primárias e secundárias problematizadas à luz de análises interdisciplinares, os 28 artigos aqui publicados tratam de operações historiográficas e etnográficas que, no mais das vezes combinadas, revelam agências e trajetórias de homens e mulheres indígenas que vivenciaram realidades diversas em múltiplos processos de contatos interétnicos. Sem desconsiderar a extrema violência que caracterizou esses processos, historiadores e antropólogos desenvolvem narrativas inovadoras e decoloniais que demonstram as atuações políticas e culturais dos inúmeros e diferenciados povos que não se imobilizaram frente às incalculáveis agressões e ameaças com que depararam ao longo dos séculos. Leia Mais

La Historia Indígena y sus abordajes contemporáneos a los procesosindígenas de la Patagonia (siglos XIX a XXI)/Revista de Historia/2020

En los ámbitos universitarios argentinos, durante la última década del siglo XX, quienes decidían como profesores/as de historia o historiadores/as estudiar a las poblaciones indígenas de Latinoamérica y, en particular, de la región patagónica, debían abocarse al estudio  del  período colonial. Esto,bajo  el  supuesto de que las sociedades  indígenas habitaban previamente los territorios luego definidos como nacionales, fueron constituidos como el “pasado” del estado argentino, no sólo temporal sino en términos de un efectivo discurso de civilización y barbarie. Leia Mais

Os povos indígenas na história: agenciamentos, direitos e lutas/Cadernos de Pesquisa do CDHIS/2019

Embora o colonialismo tenha se esgotado formalmente na América a pelo menos dois séculos, a colonialidade, como a define Quijano1, persiste. Padrão de controle e classificação hierarquizante das populações, ela afeta todos os campos da vida social e reproduz, até hoje, relações de ser, pensar, fazer e poder que ainda são coloniais. A simples escolha semântica de América e Latina, ou de Novo Mundo, não só fortalece(u) a versão ocidental de nossa história e cultura, mas, ao silenciar outras tantas semânticas, exclui(u) também de um só golpe trabalhadores pobres, afrodescendentes e povos originários dos projetos de construção das nações dessa parte do mundo. Conduzidas por elites que, se não eram, queriam ou imaginavam ser europeias, as diferentes políticas de Estado, como por exemplo as indigenistas, sempre procuraram, de uma forma ou de outra, transformar essas populações em nacionais, sejam eles argentinos, peruanos, chilenos, mexicanos, brasileiros, bolivianos etc., ou o que quer que essas coisas representem. Como se não bastasse o fardo do peso histórico do genocídio, do etnocídio, da expulsão e da segregação cometidos contra os povos indígenas, sua face perversa e monstruosa se repete no atual momento político delicado pelo qual passa todo o continente, marcado não só pelo sucessivo retrocesso nos diretos sociais (transformados em serviços pelo ultra neoliberalismo de extrema direita que nos recoloniza), como no claro discurso de que essa parcela da população é prescindível, descartável; sina igualmente compartilhada por pobres e afrodescendentes. Leia Mais

História Indígena e estudos decoloniais / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2018

Os debates em torno da história indígena ganharam relevância nas últimas décadas e continuam a provocar novas elaborações teóricas e conceituais. O alargamento da reflexão sobre a temática indígena coloca cada vez mais em cena histórias e culturas singulares e diversas, em diferentes épocas e lugares. Apesar dos avanços, a história indígena ainda enfrenta obstáculos para ser reconhecida. É, por vezes, tolerada apenas na sua versão étnica (nossa representação historiográfica do indígena) e não histórica êmica (a representação historiográfica dos próprios indígenas). É necessário, portanto, o questionamento da concepção eurocêntrica / colonial sobre o mundo que resulta no epistemicídio, ou seja, na invisibilidade e exclusão de saberes e histórias dos povos originários. É verdade que a academia estava de costas para esses povos e indivíduos, apenas nos últimos anos passou a incorporar os indígenas nas universidades; não apagados como acontecia no passado, mas trazendo consigo sua bagagem cultural, seus saberes e pedagogias e fundamentalmente outra forma de ver e narrar a história.

Nessa perspectiva é imprescindível perpetuar um posicionamento epistemológico e político de valorização das teorias e epistemologias do sul, que pensam com e a partir de corpos e lugares étnico-raciais / sexuais subalternizados pelo processo histórico da colonialidade. Nesse sentido, os estudos decoloniais promovem uma profunda crítica a colonialidade (do poder, do saber e do ser) no combate à violência epistêmica. A construção de uma interpretação decolonizada acerca das experiências de diferentes sujeitos sociais perpassa pela interdisciplinaridade entre campos do conhecimento como a antropologia e arqueologia e pela análise de fontes diversas; escritas, visuais e orais. O dossiê História Indígena e estudos decoloniais revela, justamente, o desafio em questão. Temos avançado, não sem dificuldade, e temos muito ainda a prosseguir. O caminho é longo, apenas iniciamos a jornada.

A Lei Federal 11.645 / 08, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura indígenas nas escolas brasileiras, foi promulgada há dez anos. Para sua efetiva implementação, é necessário que haja mudanças no âmbito escolar e no ensino superior. Em ambos espaços, é fundamental que se reflita a partir do que os próprios indígenas produzem de conhecimento para a construção de uma educação verdadeiramente intercultural. As narrativas mitológicas ameríndias, nesse sentido, são importantes para o estudo da temática indígena, como nos alerta Renata Carvalho Silva no artigo “Mito e o ensino de história e cultura indígena em perspectiva decolonial”. Além de nos instigar a questionar dicotomias eurocentradas como natureza X humanidade / cultura e racionalidade X subjetividade, a mitologia têm o potencial de gerar empatia com sujeitos e visões de mundo outras. Como a própria autora adverte, o texto aponta “para uma dimensão rica e diversificada dos complexos de conhecimento e apreensão da existência humana e que o parâmetro universalizante da mesma nunca ultrapassou a linha de suas matrizes teóricas originais”. Suas reflexões destacam múltiplos desafios, mas também apontam para as inúmeras possibilidades de construir novos referenciais para estudo da história e cultura indígena.

Nas universidades, por sua vez, o ingresso crescente de estudantes indígenas e da luta por políticas efetivas de permanência estão transformando instituições ainda coloniais através da diversidade de corpos, vivências e conhecimentos. Elison Antonio Paim e Tatiana de Oliveira Santana apresentam algumas das memórias e das experiências trazidas e vivenciadas para e na universidade por mulheres Guajajara e Akrãtikatêjê no artigo “Mônadas sobre mulheres indígenas na universidade”. As dificuldades são evidentes, assim como a existência / resistência dessas acadêmicas indígenas. Em que pesem as dificuldades, os autores apontam para o novo, em que “os conflitos e tensões no âmbito acadêmico (…) contribuem para a construção de um futuro mais dialógico e respeitoso dentro do espaço acadêmico em relação à experiência de quem vive a universidade e tem o que falar sobre esse espaço, revelando as violências e tensões que se fazem presentes em seus corpos e em suas experiências”. Esse novo, segundo os autores, perpassa uma série de elementos fundamentais, como o acesso e a permanência, mas fundamentalmente a produção de novos saberes, ou seja, deixar as portas das universidades abertas para as experiências múltiplas que dão sentido a vida.

A presença indígena é revelada também a partir de artigos resultantes de pesquisas históricas referentes aos períodos pré-colonial e colonial. O sítio arqueológico AP.CG.1, localizado nas margens do rio Apuaê, Rio Grande do Sul, remete a uma ocupação guarani ancestral investigada no artigo “Arqueologia nas margens do rio Apuaê: um estudo de caso sobre a história pré-colonial do Alto Uruguai”. Fabricio José Nazzari Vicroski e Ânderson Marcelo Schmitt analisam vestígios arqueológicos desse povoamento pré-colonial, a saber: material lítico com indícios de ação antrópica e fragmentos de recipientes cerâmicos relacionados à indústria oleira dos horticultores Guarani. O estudo auxilia na construção da história do povoamento da região, majoritariamente indígena, inclusive de presença pluriétnica, ou seja, não exclusiva das populações Jê meridionais que tiveram seu território alterado após a chegada dos europeus no século XIX. Dois elementos, portanto, se sobressaem nesse estudo: o primeiro, que o povo Guarani também ocupou a região; o segundo, que as “pesquisas arqueológicas desenvolvidas nas margens do rio Apuaê também podem ser integrados às discussões acerca das disputas fundiárias entre indígenas a agricultores no Alto Uruguai, auxiliando assim na composição de um panorama geral acerca do povoamento da região”.

Essas pesquisas inseridas sobretudo no campo da Nova História Indígena enfocam na agência de sujeitos e povos indígenas, diante de realidades diversas, ao longo da história do Brasil. O texto de André Luís Bezerra Ferreira ““Mães das Liberdades”: os processos de mulheres indígenas no tribunal da Junta das Missões na Capitania do Maranhão (1720-1757)” revela a luta de mulheres indígenas pelas suas liberdades através da análise de processos instaurados no tribunal da Junta das Missões do Maranhão. São histórias incríveis de mães como Inácia e Margarida, que acionaram a justiça durante o período colonial e escravista na luta por melhores condições de vida. O autor conclui que “diante dos casos apresentados, podemos evidenciar a eminente agência de mulheres indígenas em prol de sua liberdade e a de seus filhos na Junta das Missões. Mães solteiras que empreendiam ações para o sustento de sua prole e que lutavam para que suas famílias permanecessem reunidas em um mesmo local.”

A história da capitania de Mato Grosso, por sua vez, é abordada no artigo de Gilian Evaristo França Silva intitulado “No século XVIII, uma encruzilhada de povos: os indígenas na formação da capitania de Mato Grosso”. O autor revela a significativa presença e trabalho dos povos indígenas e de origem africana através, sobretudo, da análise de dados demográficos presentes em documentação do Arquivo Histórico Ultramarino, situado em Lisboa. Conclui informando que “os indígenas (…) tiveram sua força de trabalho amplamente utilizada no cotidiano colonial matogrossense. Suas marcas estão visíveis na composição social dessa capitania, nos traços físicos, nas formas de uso do espaço, bem como nas práticas culturais carregadas de sincretismos”.

No século seguinte, criou-se na província do Paraná uma visão estereotipada sobre os Xokleng, como demonstra Soeli Regina Lima no texto “Do imaginário coletivo em torno dos indígenas na região de Rio Negro-PR: um estudo dos relatórios de governo (1853 – 1890)”. Os discursos pejorativos acerca dos “bugres” presentes nos relatórios governamentais, vale ressaltar, eram bastante comuns em toda a região Sul do Brasil no século XIX. Infelizmente, além de incitarem ações violentas, ainda têm ressonância no tempo presente. A autora concluiu que “a desumanização do indígena, a inferiorização do sujeito em comparação com a sociedade ocidental dominante acabou por legitimar a implementação de leis e as narrativas do governo imperial”.

Como resposta à uma história de exclusão, o movimento indígena e as pautas identitárias têm se fortalecido. Os indígenas Kaingang estão em luta pela finalização do processo de demarcação da Terra Indígena Toldo Pinhal, localizada no município de Seara, oeste de Santa Catarina. O artigo “Lugares de memória e ressignificação cultural na Terra Indígena Toldo Pinhal”, escrito por Jaisson Teixeira Lino e Jéssica Alberti Giaretta, revela a vivência contemporânea de aspectos culturais do “ser Kaingang” pela referida comunidade. Num processo de reafirmação étnica, os indígenas acionam lugares de memória e organizam evento cultural que atestam a necessidade do uso de sua terra coletiva e sagrada. Observam os autores que “a concepção sobre a formação da Terra Indígena Toldo Pinhal, (…) se configura também como uma forma de expressão da vontade contida na população indígena de reviver sobre seu território e novamente desfrutar da cultura Kaingang”.

A Revista Catarinense de História Fronteiras traz também nesta edição uma resenha e um artigo recebido em fluxo contínuo, portanto, não pertencentes ao dossiê História Indígena e estudos decoloniais. Andréia Amorim da Silva resenhou o livro de Olivier Dumoulin, “Reflexões sobre o papel social do historiador”, publicado em português pela Editora Autêntica em 2017, quatorze anos após a edição original. A reflexão, com enfoque em países europeus (sobretudo a França) e América do Norte, abarca desde o final do século XIX até a contemporaneidade, quando crescem as demandas pela atuação do historiador em espaços públicos para além da universidade. Antonio Marcos Myskiw e Guilherme Luís Adamczyk revelam a história dos “Grupos dos Onze” no Paraná, fronteira com a Argentina, através da análise dos arquivos da Delegacia de Ordem e Política Social do Paraná. O artigo “O Sudoeste do Paraná nos arquivos da DOPS / PR (1963-1970): os Grupos dos Onze” possibilita uma reflexão urgente e necessária sobre os movimentos de resistência à ditadura militar no Brasil.

Por fim, destacamos com satisfação a entrevista realizada com Ariel Ortega, cineasta Mbyá-Guarani que dirigiu, entre outros, os filmes Mokoi Tekoá Petei Jeguatá – Duas Aldeias, uma caminhada (2008), Bicicletas de Nhanderú (2011), Desterro Guarani (2011) e Tava, a casa de pedra (2012). A conversa inspirada com os entrevistadores nos permite adentrar no fazer cinematográfico indígena, especificamente guarani: “Hoje em dia já não podemos mais, para defender nossas terras, lutar com arco e flecha. Eu estou usando a câmera de outra forma, como luta. É uma ferramenta ocidental, mas que eu estou usando para me defender e para contar outra história. Por isso eu sempre digo que quando pego a câmera dentro da aldeia ela se transforma como um ser da aldeia também. (…) Os povos indígenas têm uma contribuição enorme para construir uma sociedade melhor”.

Desejamos a todos / as uma excelente leitura!

Clovis Antonio Brighenti

Luisa Tombini Wittmann


BRIGHENTI, Clovis Antonio; WITTMANN, Luisa Tombini. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.31, 2018. Acessar publicação original [DR]

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História Indígena / Ensino d(e) História Indígena e Educação Escolar Indígena Brasileira / História e Diversidade / 2018

Em tempos atuais, na sociedade brasileira, sinais de preconceito e intolerância contra Indígenas, Negros e LGBTs ganham visibilidade e reúnem novos adeptos e versões. Em vários momentos, ressoam em espaços de representações governamentais, midiáticos e até escolares, algumas expressões sobre um desses povos que achávamos ter vencido. Como por exemplo, “pra que tanta terra para índio”?, colocando em xeque lutas e conquistas históricas dos povos indígenas brasileiros.

A Revista História e Diversidade, por meio do Dossiê História Indígena / Ensino d(e) História Indígena e Educação Escolar Indígena Brasileira, apresenta no formato de artigos, estudos produzidos por pesquisadores / professores indígenas e não indígenas que buscam refletir sobre o processo histórico de contatos culturais, étnicos e políticos entre os povos indígenas e não indígenas ao longo da História do Brasil. E, ao mesmo tempo, analisar o resultado do pós-contato através da escolarização indígena, no qual saberes tradicionais e os novos conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos por esses povos começam a fazer parte do currículo acadêmico e escolar, promovendo diálogos e práticas pedagógicas interculturais de protagonismo indígena.

Os artigos foram divididos em seções temáticas que compreendem: 1) História Indígena e seu ensino, considerando a história de contato interétnico e cultural, remanescentes de tempos coloniais e dias atuais com escritas indígenas e outros pesquisadores. 2) Educação Escolar Indígena, com ênfase nas experiências acadêmicas acerca da escolarização indígena.

Nos “Fragmentos da história dos índios Bororo nas terras de Mato Grosso”, Loiva Canova analisa a presença do povo Bororo na nova repartição administrativa de Portugal, em 1748, as minas do Mato Grosso e as do Cuiabá. Contextualizando, a formação da Capitania de Mato Grosso a partir do processo de expansão, conquista e colonização que resultou na apropriação de terras indígenas, num cenário de resistência e conflitos étnicos na colonização portuguesa em terras ao sul da América.

A história e cultura dos “Remanescentes indígenas no Planalto Serrano” é descrita por Suelen de Andrade e Nanci Alves da Rosa, da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC), que enfatizam a história indígena dos povos Xoclengs e Kaigangs, os quais, juntamente com os Guaranis, forjaram as primeiras comunidades humanas na Serra Catarinense. As autoras abordam ainda, o resultado do contato desses povos com os bugreiros, que promoveram a “limpeza” étnica em nome da expansão e modernização do Planalto Catarinense.

Ao estudar “O primeiro contato do povo Pandéérééj do Município de Aripuanã (MT): uma perspectiva indígena”, a professora indígena Beatriz Cinta Larga e a professora Regiane Custódio lançam luzes sobre o contato interétnico entre os Cinta Larga e os não indígenas, partindo, de testemunhos, dos anciãos Eduardo Kaban Cinta Larga e Capitão Cinta Larga, captados pela etnografia escrita por João Dal Poz Neto (1991) e Julie Cruikshank (2002).

O testemunho do Xavante Elidio TsõrõnéParidzané, com a coautoria da professora Marli A. de Almeida, na escrita do artigo “A desintrusão de Marãiwatsédé: narrativas indígenas de um retorno”, apresenta-nos a história de contato dos Xavante pelos não indígenas, na década de 60 do século XX, durante o regime militar. Ao acompanhar a entrevista de seu pai, Cacique Damião Paridzané ao Bispo emérito da Prelazia do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, o indígena Elídio nos brinda com a história da desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsédé, uma das vitórias na batalha dos povos Xavante para o retorno aos seus territórios tradicionais, em 2013.

Em “Casamentos interétnicos na aldeia Umutina: autorreconhecimento da identidade Umutina”, a professora Umutina Alessandra Corezomáe Boroponepá narra a história de contato desses indígenas com não indígenas durante a construção das linhas telegráficas pelo Marechal Cândido Mariano Rondon que nas primeiras décadas do século XX, oportunizou a “mistura” étnica entre Umutina, Bororo, Terena e Chiquitano através de casamentos interétnicos, na aldeia Umutina, em Barra do Bugres (MT). O estudo realizado pela autora ao entrevistar os anciãos, aponta para a agência indígena, quando constata que os grupos indígenas “misturados” pelo casamento interétnico resolveram se autorreconhecer como Umutina.

Os aspectos culturais dos indígenas Myky e o ensino d(e) história indígena em “Artefato cultural do povo Myky: machado de pedra” são apresentados pelo indígena Tupy Myky e pelo professor Carlos Edinei de Oliveira na pesquisa realizada na aldeia Japuíra, terra Indígena Menku, município de Brasnorte (MT) sobre a origem e uso do machado de pedra pelo povo Myky. Sobretudo pela importância patrimonial e cultural do machado de pedra para os indígenas que ao mesmo tempo os representa como símbolo cultural para a humanidade e também os auxilia no autorreconhecimento. Haja vista que ao entrevistar os anciãos, Tupy, conseguiu identificar traços culturais anteriores ao contato com o colonizador não indígena, viáveis para serem transformadas em narrativas didático-históricas de ensino d(e) história indígena.

A escrita “Cultura Indígena: batizado tradicional do menino Manoki” do professor indígena Claudionor Tamũxi Iranxe, da Escola Estadual Indígena Tapura, em Brasnorte (MT), em parceria com a professora Regiane Custódio apresenta-nos a possibilidade de conhecermos o batizado tradicional do menino Manoki como um procedimento cultural insubstituível para uma boa educação dos meninos, pois, marca o rito de passagem do menino para a adolescente, e consequentemente, para a idade adulta. O batizado tradicional é uma forma de educação dentro da cultura. Após seu acontecimento os meninos terão um aprendizado não apenas com os homens, mas se tornarão responsabilidade da família, e todo o grupo contribuirá com a sua formação.

O processo formativo de Educação Indígena desenvolvido no século XIX por religiosos é apresentado pela professora Verone Cristina da Silva em “Catequese, escola e militarismo: A missão dos capuchinhos na fronteira Brasil e Paraguai”. A autora analisa a catequese os indígenas Guaná pelos missionários capuchinhos na fronteira entre Brasil e Paraguai, com base no Decreto n. 426, ao longo do século XIX. Durante a investigação em documentos oficiais, o estudo apresenta agência indígena na escolarização dos Guaná como propositivo de catequese pelos colonizadores luso-brasileiros.

Em relação ao processo formativo educacional indígena, entre o final do século XX e início do século XXI, as autoras Iraci Aguiar Medeiros e Leda Gitahy analisaram a experiência da formação de professores indígenas realizada na Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, a partir de 2001. De acordo com este estudo, a experiência do 3º Grau Indígena inaugurou no Brasil, a formação dos professores indígenas para atuarem em suas aldeias. Isto posto, verifica-se que a capacitação de professores indígenas contribui para conquistas de lutas antigas, como afirmação de identidades, demarcação de terras e Educação Escolar Indígena.

A confluência entre as conquistas indígenas no campo da Educação Escolar Indígena e o estudo de Ensino d(e) História Indígena, com base na “nova história indígena” está muito bem representada pela escrita da professora e pesquisadora desse campo Luisa Tombini Wittman e demais autores, no “Papel da Universidade no Ensino de História Indígena: uma análise dos cursos de História em Santa Catarina”. Ao debruçar-se sob as propostas curriculares dos cursos de História da IES (UFSC, UDESC, UFFS, UNISUL, UNESC, FURB) que a partir da aprovação da Lei n. 11.645 / 08, têm o compromisso de formar profissionais da Educação Básica para o ensino da História e Cultura dos povos indígenas, os autores analisam a realidade, desafios e possibilidades de construção de uma História Indígena no estado de Santa Catarina.

Enfim, as produções que compõem este dossiê somam-se a vários estudos desenvolvidos no Brasil sobre o protagonismo indígena, sendo temáticas de pesquisa e ensino construídas por não indígenas, ou como apresentamos neste volume, através dos quais os indígenas narram suas histórias. Na tentativa de produzir conhecimentos e contribuir para a diminuição preconceito e intolerância.

Além do Dossiê, esta edição da Revista História e Diversidade publica também dois artigos complementares. O primeiro artigo denominado “Um novo lugar social a ser ocupado: os intelectuais e as representações dos negros no Brasil republicano”, de Juliana Aparecida Nunes, analisa o processo de representação dos negros durante o período republicano brasileiro, a partir da análise da construção da representação social realizada por intelectuais e os impactos sociais destas representações.

O segundo artigo, de autoria de Raylinn Barros da Silva, “Curar e higienizar o sertão do antigo extremo norte goiano (atual norte tocantinense): os missionários católicos Orionitas e suas estratégias de catolização pela saúde”, apresenta um estudo acerca da atuação dos missionários orionitas e o uso do processo sanitário e de higienização como instrumento de catolização a partir da década de 1950.

Boa leitura!

Cáceres, novembro de 2018

Carlos Edinei de Oliveira (Unemat)

Marli Auxiliadora de Almeida (Unemat)

Organizadores

Osvaldo Mariotto Cerezer (Unemat)

Editor


OLIVEIRA, Carlos Edinei de; ALMEIDA, Marli Auxiliadora de; CEREZER, Osvaldo Mariotto. Apresentação. História e Diversidade. Cáceres, v.10, n.1, 2018. Acessar publicação original [DR]

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História Indígena, historiografia e indigenismo: contribuições, desafios e perspectivas / Fronteiras – Revista de História / 2016

Com grande satisfação apresentamos o dossiê temático História Indígena, historiografia e indigenismo: contribuições, desafios e perspectivas. A ideia de publicar este dossiê surgiu durante o XXVIII Simpósio Nacional de História no qual, seguindo uma tradição da área, vários trabalhos sobre História Indígena foram apresentados, em especial, no simpósio temático coordenado por Jorge Eremites de Oliveira e Thiago Leandro Vieira Cavalcante. Em Florianópolis, foi lançada a proposta de publicação deste dossiê, que, todavia, foi recepcionada por diversos autores e autoras, inclusive do exterior, que não estavam participando do evento, fato que demonstra a abrangência e a consolidação da área de História Indígena e da Fronteiras – Revista de História nos últimos anos. Todos os artigos publicados representam qualitativamente uma boa amostra da produção brasileira, bem como internacional sobre História Indígena.

É importante registrar que este é o segundo dossiê sobre a temática indígena publicado pela Fronteiras. O primeiro saiu no segundo semestre de 1998 com o título Sociedades Indígenas. Naquele momento, a emergência dessa área de estudos viria a culminar no auxílio da criação do curso de Mestrado em História com a linha de pesquisa em História Indígena do então campus de Dourados da UFMS. Hoje, mais de uma década depois, a Fronteiras volta a dar destaque ao tema, demonstrando, sobretudo, o amadurecimento e a diversificação da área no Brasil e na América Latina e sua consolidação na, hoje, UFGD. Leia Mais

História Indígena na Contemporaneidade: Diálogos interdisciplinares e pesquisas colaborativas / Mnemosine Revista / 2016

Este dossiê organizado pela Drª Juciene Ricarte, da Universidade Federal de Campina Grande e pelo professor que assina esta apresentação nasceu da constatação inevitável que cada vez mais vem sendo ampliado os estudos sobre a temática indígena e com uma característica marcante: na área de História. São diversas pesquisas realizadas nos programas de pós-graduação espalhados pelo país – e fora dele –, que juntamente com os estudos antropológicos iniciados na década de 1980 definitivamente tornaram os indígenas um tema significativo entre os nas Ciências Humanas e Sociais.

O contexto sociopolítico vivenciado nas últimas décadas, com as mobilizações dos próprios indígenas pelo reconhecimento, conquistas e garantia de direitos, os conflitos quase sempre bastante violentos enfrentados pelos índios com as invasões das terras que habitam; a constatação oficial do crescimento demográfico indígena; as reinvindicações de políticas públicas específicas para essas populações e a considerável presença indígena nos centros urbanos, dentre outros temas, desafiam os estudos acadêmicos para refletirem sobre situações supostamente resolvidas com o advogado “desaparecimento” ocorrido ou gradual dos índios, como equivocadamente se acreditava em uma perspectiva evolucionista.

Nas pesquisas recentes são revisitadas fontes conhecidas bem como novos e diversos documentos foram explorados. Os diálogos com categorias antropológicas, sobretudo, as reflexões sobre as relações socioculturais em contextos de dominação e hegemonia políticas enriquecem os estudos históricos, inclusive quando as reflexões também dão conta de temporalidades precedentes na nossa história de onde se originaram as questões contemporâneas. Os textos ora publicados situam-se, portanto, nesse esforço de discutir, buscar compreender certos aspectos de situações, contextos, evidenciando a partir de uma abordagem histórica os indígenas como protagonistas.

Nesse sentido, no texto “A experiência de trabalhadores tutelados: a presença de indígenas em obras públicas da Província de Alagoas”, Aldemir Barros da Silva Júnior pensando o indígena com a categoria “trabalhador tutelado” no Século XIX, baseado principalmente em documentos da Diretoria Geral dos Índios em Alagoas, discutiu as diversas formas e os espaços em que ocorreu o trabalho indígena naquela Província a partir de meados do Século XIX. O autor discorreu sobre a utilização compulsória da mão-de-obra indígena principalmente nas obras públicas de aterros e construções de canais na alagada Maceió, a capital alagoana.

Um trabalho em condições insalubres, do qual os indígenas fugiam antes mesmo dos recrutamentos forçados nas aldeias a mando de autoridades provinciais ou diretores dos aldeamentos. Em um contexto sociopolítico em que recrudesceram as disputas pelas terras dos antigos aldeamentos situados em regiões de férteis e bastante irrigadas, invadidas por fazendeiros, os índios elaboraram diferentes estratégias para se livrar do trabalho coercitivo, como trabalhar nas fazendas o que lhes garantia até certo ponto autonomia para negociações e o sustento para si e para as famílias.

O estudo torna-se muito importante em pelo menos dois aspectos. O primeiro, quando tratou do trabalho indígena, tema desconhecido e até certo ponto um tabu nas discussões sobre a História do Brasil. E o segundo, porque mesmo no que passou após os anos 1980 a se chamada no país como a “nova história indígena”, ainda não se debruçou devidamente sobre o assunto. Isso porque além da comum alegada ausência de fontes para abordar a temática, o trabalho indígena foi desconsiderado em razão da ênfase na utilização da mão-de-obra negra escravizada e afirmações da “inadaptabilidade” dos índios para o trabalho. O que resultou no senso comum no arraigado preconceito de “preguiçoso” atribuído aos indígenas.

Portanto, o texto de Aldemir ao evidenciar a importância, as formas, os espaços e o protagonismo, particularmente dos Xukuru-Kariri (Palmeira dos Índios / AL), no trabalho indígena, contribui sobremaneira para um tema desconhecido e além do mais em se tratando de discussões relativas ao Nordeste, onde durante muito tempo foi negada a existência de indígena nessa Região. São reflexões relevantes também porque possibilita compreender as dinâmicas das atuais relações com as disputas pelas terras e o trabalho indígena naquela localidade, inspirando pensar em outros lugares no Nordeste.

No texto “Tradições adormecidas: práticas culturais e narrativas no cotidiano das índias parteiras da Aldeia Forte-Baía da Traição”, Aline de Castro retomou uma discussão muito cara aos indígenas no Nordeste: a afirmação de expressões socioculturais, saberes, conhecimentos “tradicionais” em espaços onde a população circunvizinha não indígena, autoridades e poderes públicos em geral, negam a existência indígena. E ainda mais se tratando de mulheres indígenas parteiras, desqualificadas frente ao exaltado saber médico como “herança” Ocidental, porém que esconde interesses mercantis.

Ao discutir as práticas das parteiras indígenas na Aldeia do Forte, Baía da Traição / PB, a autora evidenciou a importância de saberes específicos no contexto e conectados com a afirmação das expressões socioculturais indígenas, notadamente como tema inédito para as reflexões históricas e como contribuição para compreensão das relações dos povos indígenas na nossa sociedade em tempos atuais.

As migrações indígenas, principalmente para os centros urbanos, tem sido um tema de alguns estudos. A contribuição original de Edmundo Monte com o texto “História e memórias de migrações no Nordeste indígena: o “vaivém” dos Xukuru do Ororubá (Pesqueira / PE)”, estar no enfoque sobre um povo indígena habitando o Nordeste. É até possível afirmar que os estudiosos sobre migrações na Região não conseguiram perceber as particularidades identitárias indígena de alguns migrantes, o que é compreensível diante do até recentemente afirmado sistemático discurso da inexistência indígena no Nordeste.

No texto, o autor discutiu as migrações de período mais longo para o Sudeste em geral São Paulo, e sazonais dos índios Xukuru do Ororubá, habitantes em Pesqueira e Poção, região do Semiárido pernambucano, que em épocas de secas se deslocavam principalmente o “Sul”: a região da Mata Sul de Pernambuco e Norte alagoana, em busca de trabalho na lavoura canavieira. Baseado em memórias orais, Edmundo Monte buscou compreender as motivações, experiências cotidianas de sociabilidades e as formas do trabalho realizado pelos indígenas nos locais para onde se destinaram. As reflexões possibilitam além de discutir o desconhecido trabalho indígena, atualizá-las nos debates contemporâneos sobre os índios no Nordeste.

Para o pesquisador que se dedica ao estudo da temática indígena no Nordeste em suas peculiaridades, as experiências de povos indígenas em outras regiões no país parece algo distante. O que pode ser relativizado na leitura de textos como o de Manoel Gomes Rabelo Filho, intitulado “Interpretações do Kanaimî no contexto religioso Macuxi” onde o autor discorreu sobre uma dimensão mítica e religiosa, fundamental para aquele povo indígena habitante em Roraima.

Baseado na categoria das representações sociais, na literatura socioantropologica que tratou do assunto e ainda em entrevistas orais com indígenas que vivenciaram experiências distintas com o Kanaimî, o pesquisador Manoel Rabelo buscou refletir sobre os significados dessa entidade mítica para o universo religioso Macuxi. Uma discussão que possibilita conhecer outras situações, bem como de alguma forma aproximar-se das abordagens sobre as expressões religiosas indígenas em nossa Região.

No texto “O Estado Novo e os povos indígenas: o silêncio das palavras”, Zeneide Rios de Jesus analisou a política de colonização empreendida naquele período com a chamada Marcha para o Oeste, quando ocorreram invasões de terras indígenas ignoradas pelas reflexões históricas da época e posteriores. A autora evidenciou a participação de intelectuais no projeto governamental e como a imprensa silenciou a respeito dos impactos das políticas governamentais sobre os povos indígenas.

A discussão sobre as relações entre políticas governamentais, violências contra os povos indígenas e atuação da imprensa são bastante atuais. E as reflexões apresentadas no texto, questionam o papel dos historiadores na escrita da História do Brasil republicano e como pensam o lugar dos povos indígenas nos processos históricos recentes. E ainda o silêncio sobre o tema no Ensino de História.

Os Tupinambá em Olivença de forma sistemática tem a identidade étnica negada por fazendeiros, imobiliárias e empresários do turismo, invasores das terras habitadas pelos indígenas, em uma região paradisíaca no Sul da Bahia. A afirmação identitária Tupinambá e as mobilizações desses indígenas por reivindicação e garantia de direitos foram discutidas por Edson Silva e Tamires Brito no texto “Índios Tupinambá / BA: ‘o manto foi roubado’! O despertar pelos encantados de uma “identidade adormecida”’.

Observando um contexto de permanentes tensões, com várias formas de violências contras os Tupinambá, desde as prisões e assassinatos de lideranças, queima de casas, perseguições e expulsões de indígenas, a partir da pesquisa historiográfica e também de memórias orais, os autores buscaram evidenciar as diferentes estratégias dos indígenas para afirmação étnica, marcada pela dimensão simbólica intimamente relacionada com as expressões religiosas. A situação vivenciada pelos Tupinambá é por demais emblemáticas para discussões de processos semelhantes vivenciados por outros povos indígenas no Brasil.

As relações entre as expressões religiosas e a identidade étnica foram também analisadas por José Peixoto e Lucas Gueiros, no texto “Religiosidade e encantamento: o pagamento de promessa no ritual indígena Jiripankó”, onde os autores trataram dos rituais desse povo indígena habitante no Sertão de Alagoas. O estudo foi baseado nas reflexões de teóricos clássicos da Antropologia, assim como estudos recentes e ainda a partir de uma pesquisa e observações de campo, buscando melhor compreender os significados da prática do ritual para a afirmação da identidade indígena.

As reflexões apresentadas no texto somam-se aos poucos estudos que foram dedicados à temática das expressões religiosas indígenas no Nordeste atual. E possibilita pensar sobre as leituras indígenas dos encontros no passado dos universos religiosos nativos e colonial, as traduções e expressões indígenas desse encontro, as (des)continuidades, ressignificações, reformulações, associações e afirmações identitárias correlacionadas no universo simbólico religioso Jiripankó, possibilitando pensar outras situações assemelhadas ocorridas em áreas mais antigas da colonização, a exemplo do Nordeste.

A este conjunto de debates somam-se outros trabalhos de fundamental importância, resultantes do III Seminário Internacional América Indígena: processos de mediação e mestiçagens, que teve lugar no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em Seropédica entre os dias 28 e 29 de setembro de 2015, sob a coordenação das profas. Izabel Missagia e Vânia Moreira e contou com o auxílio da CAPES.

Os artigos apresentados contém as reflexões do Dr. José Ribamar Bessa Freire e Ana Paula da Silva, Professor do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade do Rio de Janeiro / UniRIO e doutoranda do mesmo programa, onde discutem o protagonismo e a atuação política indígenas na dinâmica de conflitos e interesses que marcaram o período historicamente conhecido como França Equinocial, notadamente o caso dos índios embaixadores na França, sobretudo Itapucu, refletindo sobre a participação destes na produção de “redes globais de conhecimento e poder” suas estratégias em contextos de interação sociocultural e política, destacando especialmente o papel de mediadores e articuladores de alguns líderes indígenas que a exemplo dos embaixadores Tupi foram buscar uma resposta oficial para seus problemas.

Juciene Ricarte da Universidade Federal de Campina Grande discute processos de incorporação de algumas chefias indígenas na política da administração portuguesa no Brasil nos sertões das capitanias do norte e o fundamento da legislação indigenista nas fronteiras interétnicas que lhe oferecia fundamento, notadamente o Diretório dos Índios na segunda metade do século XVIII. Nesse processo as lideranças adquiriam status de intermediários políticos que os conduziram a ostentar patentes de oficiais das vilas implantadas a partir do Diretório, por vezes em favor dos seus grupos étnicos de origem trazidos a ordem. Constata-se, que as iniciativas de cooptação e valorização das chefias indígenas tornaram-se tradição do Estado monárquico português no trato com as populações conquistadas, objetivando o controle de novas populações.

Além destes, o conjunto de textos se encerra com às conferências de abertura e encerramento do evento, a primeira, realizada pelo professor Hal Langfur, da Universidade de Nova Iorque em Buffalo, que em sua conferência inaugural apresentou o estado da arte dos debates das questões etinoindigenas através de um recenseamento de pesquisas e debates sobre as questões relacionadas as populações indígenas, relacionando os estudos realizados nos Estados Unidos e no Brasil consideradas as suas convergências e singularidades. Na conferência de encerramento, a Drª. Danna Levin Rojo da Universidade Autonoma Metropolitana, México, apresentou em sua conferência a organização e a burocracia do estado colonial, investigando a relação do estado colonial espanhol como agente interventor e as populações indígenas nos diversos espaços de convívio em que estes foram assimilando os nativos como servidores o colaboradores que aparecem referidos indistintamente na documentação investigada como “índios amigos”. É uma análise comparativa de experiências nos diversos territórios ocupados que permite reconhecer que estas populações nativas agiram muitas vezes como artífices conscientes de seu próprio destino e não como meros objetos da manipulação habilidosa do espanhol invasor, num complexo tecido de relações.

Enfim, os textos que compõem o Dossiê são contribuições significativas para pensarmos os índios na História do Brasil, particularmente no Nordeste. E se revestem de igual importância quando também pensados na perspectiva dos questionamentos provocados pela demandas para efetivação da Lei 11.645 / 2008, que determinou na Educação Básica a inclusão do ensino da história e culturas dos povos indígenas, com a reclamada ausência de subsídios sobre o assunto. Além disso, o papel da academia seja de formar pesquisadores na pós-graduação e professores nos cursos de licenciatura, embora ao final todos sejam de alguma forma e em algum nível docentes, requer o (re) conhecimento sobre os povos indígenas como sujeitos sociopolíticos na História do Brasil e a superação de desinformações, equívocos e preconceitos sobre o tema. E os textos ora publicados em muito contribuirão para que isso ocorra. Resta desejar boas leituras, reflexões e discussões.

Edson Silva – Doutor Professor da Universidade Federal de Pernambuco / CA e da Pós-Graduação em História da Universidade federal de Campina Grande.


SILVA, Edson. Apresentação. Mnemosine Revista. Campina Grande, v.7, n.1, jan. / mar., 2016. Acessar publicação original [DR]

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História Indígena: terra, conflitos e perspectivas  / Escritas / 2015

A Escritas: Revista do Curso de História da Universidade Federal do Tocantins, Câmpus de Araguaína apresenta aos leitores, neste número, o Dossiê História Indígena: terra, conflitos e perspectivas, composto de oito artigos, que tratam a questão indígena em diferentes espaços, épocas e perspectivas analíticas. No primeiro artigo do Dossiê, Solon Natalício Araújo dos Santos investiga o papel dos Payayá e de outras etnias indígenas na chamada “Guerra dos Bárbaros”, ocorridas nos sertões da Capitania da Bahia no século XVII. No segundo artigo, Renata Ferreira de Oliveira trata dos discursos e narrativas acerca da posse das terras indígenas da Batalha, em Vitória da Conquista na Bahia, destacando tanto os relatos documentais quanto os relatos orais dos atuais moradores dessa região. Bruno Miranda Braga analisa os documentos que registram a presença de indígenas inseridos nas sociabilidades da Cidade de Manaus no segundo quartel do século XIX. Na sequência, Ana Cláudia de Souza Ferreira analisa os direitos territoriais indígenas presentes na legislação do Brasil Império, destacando o caso da Aldeia de Itaguaí, que se localizava no Rio de Janeiro. Noêmia Santos Pereira Moura e Edmundo Pires estudam o processo de territorialização Terena na Comunidade de Aldeinha, (1933 a 1984), em Mato Grosso do Sul, baseando-se em relatos escritos e orais. Dhiogo Rezende Gomes analisa os livros didáticos do 3º ano o Ensino Médio, retratando os limites da aplicação da lei que obriga os currículos e as escolas a trabalharem a história e cultura indígenas na educação básica. Sergio Luiz Marlow e Rosani Muniz Marlow, baseando-se um Michel Foucault, abordam a forma como as notícias do Jornal A Tribuna, do Estado do Espírito Santo, no ano de 2014, trataram da causa indígena na atualidade. Rogério Sávio Link aborda as representações que o Handbook of South American Indians faz sobre o povo indígena Apurinã em seus “seis volumes”, que foram produzidos na primeira metade do século XX e início da segunda metade.

Apresentamos, também, na seção livre, mais seis artigos com temas diversificados. Gustavo Balbueno de Almeida discute a criação do cargo de juiz de fora em Vila Bela da Santíssima Trindade, capital da capitania do Mato Grosso, em 1752. Arthur Ferreira Reis estuda a apropriação do pensamento econômico de autores franceses radicados no Brasil, durante o Primeiro Reinado, tendo como base os jornais O Spectador Brasileiro e O Verdadeiro Liberal. Daniel Dutra Coelho Braga investiga os significados políticos das medidas tomadas pela Marinha francesa, durante a Restauração Bourbon, especialmente no que se refere à retomada da tradição de grandes viagens científicas. Geane Bezerra Cavalcanti trata da ocupação urbana na cidade do Recife, nas décadas de 1930 e 1940, que era habitada por várias famílias pobres. Pedro Marcos Mansour Andes analisa as imagens que se construíram de Manaus durante o período da chamada “estagnação econômica da região”, discutindo as demandas da cidade no período de 1945-1967. Por fim, finalizando esta seção, temos o artigo de Leandro Mendonça Barbosa que fala das narrativas míticas gregas, buscando relacionar a questão da autoctonia com imaginário religioso do mundo antigo.

A todos que nos agraciarem com a consulta e leitura desse número, uma boa leitura.

Os Editores

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História indígena | Revista Ultramares | 2014

É com satisfação que apresentamos o dossiê História Indígena da Revista Ultramares.  Ao aceitarmos o desafio proposto pelos editores de organizar este dossiê, avaliamos que seria importante apresentar ao público, diferentes abordagens sobre a temática. Mas, sobretudo, nos preocupamos em trazer para esta edição, trabalhos que proporcionassem ao leitor o acesso às pesquisas, não só dos historiadores que se dedicam a refletir sobre história dos povos indígenas, mas também daqueles outros pesquisadores, cujos estudos, os índios estão presentes como tantos outros agentes históricos em de diferentes regiões do Brasil.

Desta feita, imbuídos pelo espírito que norteou o presente dossiê, os articulistas se debruçaram sobre diferentes fontes e realidades para trazer, como resultado de suas análises, algumas contribuições sobre a história dos índios durante o período colonial.  Abrindo o dossiê o artigo “Fortalezas Humanas. Indígenas no Rio de Janeiro do XVI e XVII” de Eunícia Fernandes, nos apresenta as estratégias no uso dos índios como elementos de defesa da capitania do Rio de Janeiro, numa articulação entre governança e religiosos da Companhia de Jesus, na formação de aldeamentos e distribuição de terras.  Ressaltando a importância do contingente indígena no processo de colonização e defesa daquele espaço. Leia Mais

História Indígena na América / Anos 90 / 2011

É com grata satisfação que a Revista Anos 90, do programa de Pós-Graduação em História da UFRGS, apresenta um Dossiê dedicado à História indígena na América. No total foram selecionados doze artigos, para integrarem o volume de número 34. O expressivo número de trabalhos enviados para submissão é um indicativo da vitalidade dessa temática atualmente.

Como proposta geral, o Dossiê tem a pretensão de repensar a história dos índios na América, fato que implica estabelecer uma reinterpretação geral dos processos históricos e contatos culturais em que as populações originárias estiveram envolvidas. Para tanto, é necessário investir em uma perspectiva que considere os indígenas como sujeitos, valorizando os acontecimentos nos quais foram agentes de suas próprias histórias e as estratégias dessas populações diante das novas conjunturas encetadas pela presença europeia no continente americano.

Nos últimos anos, pesquisadores de diferentes disciplinas têm dedicado atenção as sociedades indígenas. As contribuições oriundas da antropologia, arqueologia, história e educação têm proporcionado avanços promissores à temática indígena. Nesse sentido, a interdisciplinaridade tem contribuído para o entendimento sobre as diversas formas de interação e relação sociocultural entre as populações indígenas e a sociedade envolvente.

Os debates historiográficos mais recentes, amparados pelos subsídios provenientes da pesquisa em arquivos, têm enfatizado o papel desempenhado pelos indígenas enquanto agentes sociais, privilegiando as atitudes e respostas manifestas frente às situações de conflitos, além do papel das lideranças e sua atuação como mediadores culturais. Afinal, o mundo indígena não foi um receptor passivo das políticas e iniciativas que emanavam da colonização, muito pelo contrário, foi capaz de elaborar respostas e gerar ações próprias.

Entre os textos que integram este Dossiê, há uma preponderância da produção histórica recente, resultado de dissertações e teses de doutorados defendidas nos últimos anos nos Programas de Pós-Graduação do país. Trabalhos gestados e inseridos no panorama atual de debates sobre a participação e, especialmente, a capacidade indígena de agir em diferentes contextos históricos.

Assim, o conjunto de textos aqui reunidos constitui uma amostra do que vem sendo discutido e debatido a respeito das possibilidades e das potencialidades da temática indígena, destacando a sua relevância para um projeto de país que se quer diverso e plural. É certo que tal perspectiva somente foi garantida através da Constituição Federal de 1988, ao reconhecer os direitos coletivos dos povos indígenas no Brasil, além é claro de suas terras tradicionais. No seu conjunto, estas medidas asseguraram o direito à diferença de determinados grupos, pois eles, agora, diante de uma nova legislação, passam a integrar a nação brasileira de fato e de direito. Enfim, começamos a superar o estigma assimilacionista que vinha sendo propalado desde a época do Marquês do Pombal.

E uma nação, quanto mais plural for, mais rica será, principalmente diante das possibilidades de gestar um futuro promissor. A efetivação dessa pluralidade deverá ser divulgada nas escolas de todo país através da Lei n. 11.645, de março de 2008. Tal lei, grosso modo, determina que conste nos currículos escolares conteúdos referentes a afro-descendentes e indígenas, ou seja, procura garantir que o ensino de História no Brasil contemple e inclua aqueles que até então estavam ausentes, ou pouco representados, nas narrativas nacionais. Afinal, a escrita da história nem sempre foi igualitária.

No primeiro artigo, Guillermo Wilde, professor na Universidade Nacional de San Martín e pesquisador do Conicet (Argentina), propõe repensar criticamente alguns dos aspectos presentes na configuração das lideranças indígenas, tema ao qual dedicou atenção em sua tese de doutorado (UBA, 2003). O modelo de análise proposto por Wilde procura avançar em relação aos esquemas estáticos adotados para analisar a emergência das lideranças indígenas nas terras baixas da América do Sul, privilegiando uma perspectiva que valoriza o ponto de vista histórico e processual destacando as mudanças sociais, culturais e políticas verificadas na sociedade colonial, particularmente nas reduções de índios guaranis instalados na Província do Paraguai. Assim, os atores sociais não agem unicamente movidos por uma dinâmica pautada na tradição ou apenas é o mero resultado de uma imposição externa. Enfim, o que importa é destacar as adaptações, as reformulações e as ressignificações de sentidos verificadas nas organizações políticas indígenas.

O segundo artigo que integra este dossiê é de Elisa F. Garcia, professora de História da América na Universidade Federal Fluminense, que tem dedicado atenção às populações indígenas instaladas na região platina. Território caracterizado pela questão da fronteira entre os dois Impérios Ibéricos, e no qual as populações indígenas jogaram um papel de destaque nas políticas indigenistas das respectivas monarquias, quer como aliados ou inimigos. Ao investir nas classificações coloniais, nas maneiras pelas quais foram identificados os diferentes grupos ameríndios instalados na região ela rompe com o tratamento tradicional dispensado pela historiografia que concebiam tais grupos como estanques e com papéis previamente definidos. Elisa procura dar ênfase ao caráter ativo das populações ameríndias nesse contexto de fronteira e de como os ameríndios procuravam tirar proveito de tal situação em prol de suas necessidades. Ao enfatizar as interações entre os diferentes grupos indígenas instalados na região platina, Elisa enfatiza que as identidades indígenas são o resultado de um processo histórico e dinâmico, no qual as dicotomias discutíveis perdem sentido ao serem analisadas a partir de situações concretas e de um contexto relacional.

O artigo de Ricardo Cavacanti-Schiel, doutor pelo Museu Nacional / UFRJ e pós-doutorando na Unicamp, aborda a história indígena nos Andes, especialmente os andes meridionais. Seu artigo é uma síntese primorosa que, a partir de inquietações etnológicas geradas a partir da comparação com as demais regiões nucleares da América, procura propor uma interpretação inovadora quanto aos mecanismos de funcionamento das sociedades andinas. Ao articular de forma direta e objetiva os dados da etnologia, da arqueologia e história, o autor estabelece uma discussão densa e consistente que desemboca em uma reavaliação de alguns dos pressupostos que serviam de fundamento para o caso andino. Ao investir na lógica cultural da incorporação, eles acabam por revelar outros mecanismos que conferem coerência e inteligibilidade às ações encetadas pelos nativos radicados na região dos Andes. Ao repensar o “principio ordenador” do Tawantisuyu (“as quatro partes do mundo”, como os Incas denominavam seu território), o autor acaba por revelar os demais códigos que serviam de fundamento para as sociedades andinas.

Paulo Rogério de Melo de Oliveira, professor na Universidade do Vale do Itajaí / SC, dedica atenção aos episódios conhecidos como a rebelião de Ñezu, um poderoso cacique e pajé que concentrava poderes políticos e religiosos entre os guaranis. Apesar dos contatos iniciais promissores, ao iniciarem a evangelização no território que atualmente corresponde à região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, logo os jesuítas enfrentaram a tenaz oposição de Ñezu, tido como um grande “feiticeiro”. Sua reação resultou na morte do missionário Roque Gonzáles, de destacada atuação na região. Através dessa atitude, ele visava a preservar o antigo modo de vida dos guaranis, que considerava ameaçado diante da presença dos padres em seu território, no qual procuravam introduzir a prática dos batismos entre os indígenas e erradicar a poligamia. O autor procura, a partir de uma leitura criteriosa dos interrogatórios realizados com os indígenas simpatizantes de Ñezu, esclarecer as motivações que levaram o referido pajé a executar os três jesuítas. Tal rebelião é indicativa das relações sempre tensas e ambíguas no tocante ao projeto catequético empreendido na America colonial.

O artigo de Maria Elena Imolesi, professora da Universidade de Buenos Aires (UBA), dedica atenção ao cotiguazu, ou casa das recolhidas, espaço dentro das reduções guaranis destinado a acolher mulheres de distintas procedências e condições, tais como viúvas, órfãos ou mulheres de outras parcialidades indígenas. Apesar das escassas referencias a este espaço nos documentos jesuíticos de circulação pública, há muitas menções na documentação interna cuja preocupação era a de garantir a reprodução da organização social estabelecida nas reduções do Paraguai. A autora explora esse espaço como um indicador da instabilidade e do conflito das reduções com o seu entorno, a partir das medidas tomadas para preservar as mulheres e garantir a reprodução física, indicando que houve excessos na adoção de algumas medidas pelos jesuítas, sintetizadas na expressão “el cotiguaçu no és carcél”. Ao reconstruir a história social desse espaço, a autora procura demonstrar que nem tudo saiu de acordo com o planificado pelos missionários.

O artigo de Giovani José da Silva, professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, aborda a trajetória etno-histórica dos indígenas conhecidos como Chiquitanos, população ameríndia localizada atualmente no território que corresponde à Republica da Bolívia. A história desse grupo está relacionada ao projeto de catequese empreendido pelos missionários jesuítas na América que, apesar de uma continuidade em termos de práticas e inserção territorial, também apresenta uma série de ressignificações e adaptações em função da situação histórica e de contatos com a sociedade envolvente. A constante necessidade de mão de obra acabou determinando uma precarização das relações de trabalho nessa região, que conjugada a outros fatores resultaram em condições desumanas de exploração do trabalho indígena, em que castigos e torturas eram práticas correntes. Apenas na segunda metade do século XX, é verificado um movimento de libertação dos indígenas, que culminou com a consolidação das Tierras Comunitárias de Origen, servindo de base para uma reformulação das leis agrárias, que tem conferido visibilidade aos Chiquitanos em suas demandas atuais.

O texto de Susane Rodrigues de Oliveira, professora na Universidade de Brasília, dedica atenção ao ensino de história. Para tanto, aborda como as sociedades indígenas estão representadas nas fontes coloniais, muitas vezes apresentadas como imagens estanques da realidade ameríndia, sem esmiuçar em que condições e contexto elas foram produzidas. Sua pesquisa é o resultado de um projeto mais amplo que contou com o recurso de questionários aplicados aos alunos do ensino médio nas escolas do Distrito Federal. A proposta da autora é a de problematizar, a partir das fontes coloniais, os pressupostos que norteiam a produção do conhecimento histórico referente às populações ameríndias, para então desconstruir a noção recorrente presente em muitos livros sobre a história como uma verdade inconteste. Enfim, pretende demonstrar como o estudo do passado pode auxiliar na compreensão do presente e lançar desafios para o futuro.

Karina Moreira e Melo, doutoranda na Unicamp, apresenta-nos uma discussão pouco presente na produção historiográfica regional, no caso as questões referentes à definição de uma política indigenista na Província de São Pedro. O estudo de Karina está centrado na instalação do aldeamento de São Nicolau do Rio Pardo – que até o momento não contava com um trabalho sistematizado sobre este espaço indígena formado em sua maioria por guaranis egressos das reduções. Através dos discursos proferidos pelos eclesiásticos e os políticos, principalmente no século XIX, a autora procura identificar as práticas indígenas, por vezes invisibilizada nessas manifestações públicas. A população do aldeamento de São Nicolau participou de inúmeros episódios bélicos na Província de São Pedro, com uma destacada atuação nos conflitos militares ou em atividades relacionadas à pecuária. A vivência nesse aldeamento, cuja longevidade chama atenção, permitiu a esses indígenas reelaborarem suas identidades, além de possibilitar a eles configurar novas relações sociais de maneira mais ampla e destacada do que imaginávamos até então.

Soraia Sales Dorneles, também doutoranda na Unicamp, apresenta-nos um texto que procura dimensionar o contato entre os indígenas do grupo Kaingang e as iniciativas de colonização no Rio Grande do Sul, durante do século XIX, primeiro com colonos alemães e posteriormente com os italianos. Com o avanço das frentes de colonização e a consequente ocupação das terras indígenas, foram intensificadas as experiências de contatos entre sujeitos que se desconheciam mutuamente. A autora procura demonstrar que a experiência cultural resultante desses encontros acaba por gestar novas formas de conceber as relações de alteridade e que nesse contexto a expressão “bugres” poderia tanto referir-se aos próprios indígenas como denotar certa indianização de pessoas que mantiveram uma proximidade com o mundo ameríndio. Nesse contexto, os processos de formação identitária são a resultante de situações concretas, no caso as contextuais.

A luta pela terra entre os Kaingang é o tema do artigo elaborado a quatro mãos por Ana Lúcia Vulfe Nötzold, professora na Universidade Federal de Santa Catarina, e Carina Santos de Almeida, doutoranda na mesma instituição. Tomando como estudo de caso os conflitos verificados na Terra Indígena Xapecó, em Santa Catarina, no século XX, as autoras procuram denunciar a expropriação territorial a que foram submetidos os Kaingangs instalados em Xapecó. Em boa medida, a usurpação dessas terras reservadas aos indígenas contou com a conivência de funcionários do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e mesmo de agentes do governo catarinense, pois consideravam a existência dessa Terra Indígena como um entrave ao modelo de desenvolvimento regional.

Marcio Antônio Both da Silva, professor na Unioeste / SC, em seu artigo, dedica atenção à questão fundiária e à política indígena no Rio Grande do Sul durante o governo do Partido Republicano Rio Grandense (PRR). O autor destaca que a apropriação territorial promovida nessa época, base da política de colonização e imigração no estado, foi verificada em uma região na qual estavam instaladas as principais reservas indígenas. Na sua avaliação, havia uma grande distância entre as políticas de proteção e tutela aos indígenas com o que se verificava na prática. Para exemplificar seu argumento recorre a um caso verificado em Palmeira das Missões / RS, através das informações contidas em um Processo crime, cujo desfecho resultou na morte de um índio e outros tantos feridos.

O último artigo que integra este Dossiê é de autoria de Antonio Carlos Amador Gil, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, que através de uma discussão pautada na bibliografia especializada procura dimensionar o espaço dedicado aos indígenas nas manifestações dos intelectuais mexicanos no período posterior à Revolução Mexicana. O autor demonstra que apenas com o governo de Lázaro Cárdenas começava a vigorar uma postura integracionista, que apesar de valorizar o papel dos indígenas na configuração do Estado mexicano deixava muito a desejar quanto às políticas públicas direcionadas às comunidades indígenas que seguiam atuantes no México pós-revolucionário.

Para finalizar o Dossiê, publicamos ainda a resenha de autoria Horácio Zapata, da Universidade Nacional de Rosário (Argentina), que aprecia o livro coordenado por Liliana Tamagno, intitulado: Pueblos indígenas: interculturalidad, colonialidad, política (Buenos Aires: Biblos, 2009).

Como organizador deste Dossiê, avalio que no seu conjunto a grande maioria dos textos reunidos para este volume procurou abranger diferentes situações vivenciadas pelos indígenas no Continente Americano, fato que resultou, como mencionou Guillaume Boccara, na gestação de Mundos Novos no Novo Mundo.

Eduardo Neumann


NEUMANN, Eduardo. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v. 18, n. 34, dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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História Indígena no Brasil: diálogos interdisciplinares / Revista Mosaico / 2011

A partir dos anos 1990, a história indígena vem se solidificando, sendo escolhida como tema de dissertações e teses dos programas de pós-graduação em nosso país, tendência que também se verifica na América-Latina. Desde então, tem havido publicações de inúmeros trabalhos acadêmicos, completos ou sob a forma de resumos, em anais de eventos científicos, ou ainda como livros, capítulos de livro e artigos em periódicos. Uma das características presentes na maioria dos trabalhos científicos sobre a temática indígena no campo da História é o diálogo interdisciplinar necessário com a Antropologia, a Arqueologia, a Linguística, a Educação, entre outras. Temos deixado de delegar especialmente ao campo da Antropologia a responsabilidade sobre o passado dos diferentes grupos étnicos em nosso país, e nos temos permitido, através de um caminho interdisicplinar, realizar pesquisas históricas diferenciadas sobre o referido tema. Esse diálogo contínuo e o uso de diferentes fontes históricas, assim como de variadas temporalidades, permite-nos negar a tese do historiador oitocentista Francisco Adolfo Varnhagen de que para os índios não haveria história, mas apenas etnografia. O mais importante é que uma das preocupações da historiografia recente sobre história indígena é não construir mais uma imagem do índio genérico, ou apenas de vítima dos primeiros contatos com os não indígenas na América portuguesa, “dizimados” e “assimilados”, ou seja em processo de desaparecimento. Ao contrário, Silvia Porto Alegre assevera que, nos últimos anos, os campos da História e da Antropologia revelaram que cada grupo indígena tinha um caráter étnico de posicionamento frente ao não indígena nas diferentes regiões brasileiras. E, mesmo que negados no plano discursivo, os grupos étnicos continuavam e continuam existindo e estão cada vez mais organizados politicamente, afirmando a sua etnicidade. O recorte da etnicidade entendido como fenômeno político é importante porque revela que as práticas políticas integracionistas criadas desde o Antigo Regime até o Brasil república não conseguiram fazer “desaparecerem” os povos indígenas até os dias atuais.

Diante do exposto, é com grande satisfação que a revista Mosaico dedica este dossiê à história indígena no Brasil, em que foram selecionados textos de autores de vários estados brasileiros que optaram por manter diálogos interdisciplinares, seja na perspectiva teórico-metodológica, seja na perspectiva das fontes documentais. Textos que trazem aportes para mergulharmos nas diferentes formas de relações interétnicas entre povos indígenas e colonizadores, assim como nas agências indígenas, nas questões culturais, religiosas e políticas, enquanto sujeitos históricos que souberam se reinventar nos espaços criados pelos interesses dos não indígenas ao longo da história do Brasil.

Juciene Ricarte Apolinário


APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Editorial. Revista Mosaico. Goiânia, v.4, n.2, jul. / dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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História Indígena / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2007

Com grande satisfação trazemos à comunidade o segundo número da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR). Com esse número completamos um ano de gratificantes trabalhos. Nosso primeiro número superou as expectativas de aceitação, atingindo aproximadamente três mil e quinhentos acessos. Para o número ora publicado recebemos mais de duas dezenas de trabalhos, dos quais publicamos dezessete. Tamanho interesse demonstra a qualidade do primeiro número e a versatilidade da Internet como meio de divulgação da produção científica. Essa qualidade foi alcançada através do profissionalismo e da prestativa colaboração da equipe de conselheiros, designer, técnicos e editores, além é claro no alto nível dos autores.

O número atual traz um dossiê especial sobre História Indígena, temática interdisciplinar que cada dia mais interessa aos historiadores. Como área emergente dentro do clã historiográfico ocupa posição de destaque na Universidade Federal da Grande Dourados. Seu Programa de Pós-graduação em História conta, desde seu inicio em 1999, com uma linha de pesquisa que recebe o mesmo título desse dossiê.

Observa-se também que diversos centros de pesquisa voltados a essa temática estão se consolidando por várias regiões do Brasil. Isso tem feito com que a produção científica nessa área, que se caracteriza fundamentalmente pelo diálogo com outras ciências humanas, cresça cada vez mais. Prova desse crescimento é a maciça presença desses pesquisadores no recentemente realizado XXIV Simpósio Nacional de História, que contou com dois simpósios totalmente direcionados a essa área. Juntos eles tiveram cerca de setenta trabalhos apresentados, sem considerar outros simpósios, como os que discutiam missões religiosas, em que a maioria dos trabalhos tinha ao menos relação com a história indígena. Esse expressivo número demonstra aos céticos e algozes da proposta interdisciplinar da História Indígena que ela vem cada vez mais se consolidando e atingindo altos níveis de qualidade.

Como nossa proposta é democrática na publicação e divulgação do conhecimento, apresentamos ainda neste número outros trabalhos de relevância e importância que abrangem outras temáticas dentro da historiografia. Assim concluímos mais esta etapa com o intuito de lhes proporcionar boas referências por meio desse veículo de publicação.

Sem prolongamentos passamos a apresentar os trabalhos do Dossiê que de modo geral seguem a linha da interdisciplinaridade atualmente adotada em discussões desse tipo. Jorge Eremites de Oliveira em parceria com Levi Marques Pereira no artigo “Duas no pé e uma na bunda”: da participação Terena na guerra entre o Paraguai e a Tríplice Aliança à luta pela ampliação dos limites da Terra Indígena Buriti, discutem a participação dos Terena na guerra entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, suas conseqüências na desterritorialização e reterritorialização do grupo, bem como suas significações no contexto do processo de ampliação dos limites da terra indígena Buriti em MS. O trabalho é fruto de uma perícia realizada por solicitação da Justiça Federal.

O texto de Nauk Maria de Jesus “A guerra justa contra os Payaguá (1ª metade do século XVIII)”, tem como objetivo apresentar a participação da câmara municipal da Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá na guerra contra os índios Payaguá, na primeira metade do século XVIII. Na análise são utilizados, principalmente, os documentos pertencentes ao acervo do Arquivo Histórico Ultramarino.

No artigo “Uniedas: o cotidiano de uma igreja protestante entre os índios Terena”, Graziele Acçolini aborda o histórico e as atividades cotidianas que ocorrem na igreja Uniedas presente na aldeia Bananal, Posto Indígena Taunay / Ipegue, município de Aquidauana – MS. Bem como, as influências que acarretam na vida de seus adeptos. Mostra a forma como é vivenciada a religião protestante entre os Terena, tendo em vista que essa convivência pode nos fornecer pistas relevantes sobre a manutenção da identidade étnica e a reconstrução constante da visão de mundo própria desse povo indígena.

A autora Vanderlise Machado Barão trabalha os aspectos artísticos e cosmológicos na cultura material dos Guarani, como uma forma de expressão de seus mitos e filosofias. Faz alusão ao pensamento desses povos sobre o mundo que os cerca, e sua relação com o que chamamos de arte, que pode ser uma manifestação de aspectos cosmológicos e até psicológicos para expressar-se diante do coletivo. Há também as manifestações artísticas comercializadas e que possuem aspectos diferenciados para os grupos, distanciando-se do mundo cosmológico, mas ainda assim fazendo parte da cultura material, em seu texto intitulado “O mito e o espaço nas representações artístico-culturais dos Mbyá Guarani.”

O artigo de Sonia Maria Couto Pereira “Considerações sobre a fonte iconográfica na escrita da história indígena” cruza os saberes da Etnoistória e Antropologia, abordando o debate a partir de fontes iconográficas produzidas pelo pintor-viajante Hercules Florence, durante a expedição Langsdorff (1825-1829) que percorreu por via fluvial o interior do Brasil colônia. As fontes favorecem a compreensão do modus vivendi de povos em situação de contato e suas dinâmicas próprias no âmbito das representações gráficas e seus códigos culturais. A autora mostra quando o uso das imagens foi além do suporte para o verbal e o debate sobre a interpretação do historiador na descrição iconográfica se ampliou e conferiu novos desafios para a compreensão do outro na trajetória histórica.

Carlos Alberto dos Santos Dutra em “O território Ofaié pelos caminhos da história” instiga o leitor a rever a história da ocupação do território sul-mato-grossense, lança um novo olhar e novas perguntas sobre a tradicionalidade de diversas áreas indígenas que demonstram ter sido bem mais que simples áreas de migração de grupos isolados. O autor entende que muitas delas configuraram-se em autênticos territórios de ocupação tradicional de povos cuja presença foi falseada no curso da história, cuja construção em bases memorialistas contribuiu para o desaparecimento do elemento Ofaié desses territórios.

O artigo, “Índios no nordeste: história e memórias da Guerra do Paraguai” de autoria de Edson Silva inova pela superação das tradicionais ênfases no conflito bélico. As atuais abordagens procuram compreender as diversas fases do conflito, bem como os diferentes grupos sociais nelas envolvidos. O que nos diz os registros documentais sobre isso? Qual a memória oral dos povos indígenas sobre o recrutamento? Qual a memória da Guerra? E sobre o retorno e seus significados para a afirmação dos povos indígenas na Região? São questões discutidas nesse texto.

O professor Dr. Marco Antonio Barbosa nos contempla com sua Conferência intitulada “Os povos indígenas e as organizações internacionais: Instituto do Indigenato no direito brasileiro e autodeterminação dos povos indígenas”. Barbosa trata do tema a partir de sua experiência prática de advogado de povos indígenas do Brasil, desde o ano de 1981. Expõe a temática dos povos indígenas na luta por seus direitos dentro dos Estados e pelo reconhecimento internacional. Tem como objetivo contribuir para que aqueles que tratam com questões indígenas adotem uma visão mais comparatista, porque a existência das sociedades indígenas, contemporâneas das denominadas sociedades modernas necessitam uma visão pluralista do direito e das sociedades.

O artigo de Carlos Xavier de Azevedo Netto denominado “Informação e Memória – as relações na pesquisa”mostra que a relação entre informação e memória tem sido temática de pesquisas em diversos grupos e disciplinas no país. O autor faz suas reflexões na realidade observada no nordeste brasileiro e opta por discutir a relação entre informação e memória sob o prisma da questão do patrimônio cultural, quer de natureza material, quer imaterial, de modo sincrônico ou diacrônico. Parte dos pressupostos da Ciência da Informação, Arqueologia, História, Antropologia e das Teorias da representação e Semiótica. Essas abordagens estão centradas na questão da produção, tratamento, organização e disseminação da informação patrimonial com vistas a consolidar processos de criação e solidificação da cidadania.

O texto intitulado “as Representações do Mito do Minhocão: uma análise das narrativas orais pantaneiras”, de autoria de Daiana Bragueto Martins é um estudo teóricoliterário do mito do Minhocão presente na voz do pantaneiro. A autora enfatiza as variações das narrativas orais, ‘ela’ busca compreender os fatores que levam os narradores pantaneiros a atualizarem o mito. Por meio de análises consistentes de duas narrativas orais de um mesmo narrador que narra suas experiências vividas com o Minhocão em momentos diferentes de sua vida, permite compreender como esse processo de atualização da narrativa oral ocorre na cultura oral pantaneira, encontra uma variação de gênero das narrativas orais sobre o Minhocão, classificado como mito ou como lenda.

O trabalho de Marcelo Rodrigues Jardim intitulado “Representações ecológicas em narrativas orais: a voz pantaneira” tem por principal objetivo compreender qual seria a relação entre narrativas orais sobre o mito do mãozão, veiculadas por narradores pantaneiros, com a presença de regras morais, subentendidas ou não, daquela comunidade narrativa. O mãozão, conforme é apresentado pela comunidade narrativa pantaneira, tem por principal característica a defesa de sua morada: a mata. Assim, aqueles que a invadem sem pedir a devida licença, ou a depredam, são castigados física e psiquicamente. O narrador traz para as narrativas, no momento do diálogo, representações dos anseios coletivos e individuais.

Rubens Leonardo Panegassi em seu texto O cristianismo na América portuguesa e seu papel mediador na utilização do mundo natural: o caso da cauinagem discute os aparetos simbólicos em sua relação com a diversidade cultural americana e suas utilizações culturais, especialmente do ritual “cauinagem”.

O texto denominado “Festa em Homenagem a D. Pedro II em Minas: cultura, representações e identidades”de autoria de João Ricardo Ferreira Pires apresenta e analisa a festa que foi feita em homenagem a D. Pedro II em Minas Gerais em 1881 quando de sua viagem a essa província, apontando nela algumas idéias que se referem ao fim do governo imperial e às representações culturais construídas a partir da crise do imaginário monárquico brasileiro. O autor divide o artigo em duas partes, primeiramente inicia discutindo o conceito de festa apresentando duas vertentes dentro da historiografia e ao fim analisa os conceitos de representação e imaginário aplicados aos estudos de festa.

Marco Alexandre de Aguiar autor do artigo intitulado “Algumas questões político-partidárias e o perfil do eleitorado de Botucatu-SP na década de 50 e início dos anos 60”, mostra que o Brasil está atravessando um processo político de consolidação da democracia. O autor levanta discussões e reflexões sobre a trajetória da democracia brasileira, podendo trazer luz sobre problemas e questões que persistem. Situado cronologicamente, na década de 50 e início dos anos 60, o texto analisa a situação política de Botucatu, cidade do interior paulista. Observa assuntos como fidelidade partidária, perfil do eleitorado botucatuense, estabelece uma relação entre questões locais, estaduais e nacionais em torno do comportamento político.

O autor Fabiano Coelho em seu artigo “Camponeses e Abastecimento Interno na Colônia: algumas reflexões” problematiza algumas questões que envolvem os camponeses e o abastecimento interno na América Portuguesa. Segundo ‘ele’ em meio ao contexto colonial existiam os trabalhadores rurais livres que, por muito tempo, tiveram suas faces escondidas pela historiografia tradicional brasileira. Estes camponeses, entretanto, desempenharam um papel relevante na questão do abastecimento interno da Colônia, principalmente com a produção de gêneros alimentícios. Ficando às margens das grandes propriedades, estes camponeses provedores de alimentos poderiam ser considerados como a retaguarda das atividades latifundiárias.

Ainda nesta edição apresentamos o texto de autoria de Francisco Silva Noelli, resenhando o livro intitulado“Arqueologia”, de autoria do renomado arqueólogo Pedro Paulo Funari. Contamos também com a resenha do livro de Irina Podgornydenominado“El Argentino Despertar de las Faunas y de las Gentes Prehistóricas: Coleccionistas, estudiosos, museos y universidad en la creación del patrimonio paleontológico y arqueológico nacional (1875-1913).” Resenha elaborada por Lúcio Menezes Ferreira.

Da forma acima apresentada, o segundo número da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR), vem a público com uma variedade de abordagens em torno da historiografia, com um número considerável de análises metodológicas, interdisciplinaridade acentuada, objetos inovadores, temas relevantes, e propostas que dão a esse meio de divulgação do conhecimento a tônica de sua qualidade editorial conjunta. A discussão em torno da História é um constante desafio, seus problemas fazem desse periódico um veículo que busca dar oportunidade aos seus colaboradores, sem jamais perder de vista a qualidade dos textos e propostas postos sob nossa responsabilidade.

É com essa dinâmica que com grande satisfação e sempre buscando a melhoria, que a Universidade Federal da Grande Dourados, por meio de seus órgãos, em especial aqui ao Programa de Pós-graduação e aos discentes de Pós-graduação em História – Mestrado – colocam a disposição da comunidade acadêmica a segunda edição da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR). A todas e a todos, nossos votos de muito obrigado e excelentes leituras.

Leandro Baller

Thiago Leandro Vieira Cavalcante

Editores


BALLER, Leandro; CAVALCANTE, Thiago Leandro Vieira. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v.1, n.2, jul. / dez., 2007. Acessar publicação original [DR]

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