O mundo se despedaça | Chinua Achebe

O romance O mundo se despedaça, de Chinua Achebe, é um livro muito interessante. Os detalhes narrados pelo autor tornam essa obra riquíssima. Apesar de ser o primeiro romance do autor, o livro, que foi escrito em 1958 (dois anos antes da independência da Nigéria), foi traduzido para mais de quarenta línguas, e é indispensável para qualquer africanista. O fato de o autor contar apropriadamente da cultura e da ancestralidade Ibó (da qual é descendente) imprime ao livro um caráter histórico, além do literário.

O livro conta a história de Okonkwo, que, apesar de ter um pai (Unoka) preguiçoso e imprevidente, havia-se tornado um grande homem dentro de seu clã Umuófia. Fora um grande guerreiro, e ficou famoso aos dezoito anos, quando derrotou Amalinze (apelidado de “o Gato”, pois suas costas nunca haviam tocado o chão), depois de sete anos de invencibilidade. Seu clã era temido pelos outros ao seu redor, e todos evitavam entrar em guerra com ele. Okonkwo era um agricultor esforçado e tinha três esposas. No decorrer do livro, o autor cita inúmeros traços da cultura Ibó, detalhando os costumes e a vivência dentro destas sociedades. Leia Mais

A majestade do Xingu Z Moacyr Scliar

O novo romance de Moacyr Scliar, A majestade do Xingu, parece ser, a princípio, uma biografia romanceada do médico sanitarista Noel Nutels, imigrante russo de origem judaica que dedicou vida e profissão a cuidar dos índios brasileiros. Até aí não haveria nada de especial a destacar, uma vez que o romance seria unicamente a moldura que permitiria narrar a vida do biografado. A literatura seria apenas o expediente para cativar o leitor, e o interesse do texto reduzir-se-ia às peripécias da vida do médico. Mas, felizmente para a literatura, para a medicina e especialmente para o leitor, estamos diante de um texto que vai muito além de qualquer mecanismo mercadológico daquela espécie.

Felizmente para a literatura porque, ao invés de ser uma biografia romanceada, o livro constitui, antes de tudo, um romance, em que a biografia funciona como um catalisador, um ponto de partida e não de chegada. A diferença é vital: mais do que a vida do “médico dos índios”, o que importa ao autor são as relações dessa vida com o mundo que a cerca e, por extensão, com o mundo que nos cerca, a nós leitores. Não por acaso, a figura do narrador, um homem comum no leito de morte, meditando sobre sua vicia, ganha muito mais vulto do que a personagem de Noel Nutels. O médico paira sobre o texto, mas nunca é o seu centro absoluto, servindo antes de contraponto à vida e à narrativa desse moribundo, de onde emerge uma reflexão sobre a própria condição humana. Leia Mais