Doenças, higiene e insalubridade urbana na América Latina (séculos XIX e XX) | Revista Brasileira de História & Ciências Sociais/2022

Imagem Lucas Braga RilkertRevista Brasileira de Historia Ciencias Sociais
Imagem: Lucas Braga Rilkert/Revista Brasileira de História & Ciências Sociais

O Dossiê intitulado “Doenças, higiene e insalubridade urbana na América Latina (séculos XIX e XX)” foi produzido no contexto da Pandemia de Covid-19 e carrega as marcas de uma experiência epidêmica que provocou mudanças no comportamento social.

Na etapa inicial da Pandemia – quando o esforço dos maiores centros de pesquisa do mundo estava voltado para a experimentação e na produção de vacinas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) insistiu na importância de medidas sanitárias como o isolamento social e de higiene para conter a circulação do vírus. Simultaneamente, e com a mesma finalidade, autoridades sanitárias nacionais e/ou regionais recomendaram medidas profiláticas como a proibição do velório de vítimas da Covid-19, o fechamento de fronteiras, o isolamento de infectados e dos suspeitos de infecção, a proibição de aglomerações sociais e a higienização de ambientes e objetos supostamente contaminados, dentre outras. Leia Mais

Do medo das doenças à morte coletiva | Revista Latino-Americana de História | 2021

Trauma da Pandemia Covid19
Trauma coletivo da pandemia Covid-19 | Foto: BBC News

A proposta do Dossiê 2021.1 da Revista Latino-Americana de História da UNISINOS/RS trouxe como tema “Do medo das doenças à morte coletiva”. Um diálogo multissecular com o medo sempre uniu as pessoas, consideradas individualmente ou pertencentes a uma comunidade ou a civilização inteira. Doenças como lepra, peste, tuberculose e sífilis são evidências históricas geradoras de medo coletivo. São consideradas eventos naturais e sociais de grande relevância biológica, psicológica, demográfica e econômica, mas que a historiografia pouco ou não suficientemente se ocupou até algumas décadas. O motivo talvez seja que o esforço de tornar os eventos históricos compreensíveis e racionais venha a se defrontar com situações aparentemente irracionais e incompreensíveis que são as epidemias, imprevisíveis, por vezes fatais, e que são acompanhados por ansiedade, angústia e medo.

Hoje um mesmo medo congrega as pessoas. Enquanto a ciência se esforça na pesquisa de uma vacina ou de um fármaco antiviral, o vírus COVID19 se espalha, causando um número inesperado de mortes e sofrimento, da mesma maneira que em épocas pregressas houve o acometimento de jovens na pandemia da gripe espanhola, as trágicas sequelas da poliomielite, o surgimento de vírus mortais como o Ebola, a gripe H1N1 e os desdobramentos da SIDA. Esse dossiê é mais um esforço de trazer à luz da interpretação contemporânea o fenômeno do medo das doenças à morte coletiva. Leia Mais

Doenças e práticas de cura na História brasileira | Revista Ágora | 2021

O campo da História da Medicina e da Saúde tem crescido especialmente desde a década de 1950 e início da década de 1960, graças aos estudos pioneiros dos historiadores Louis Chevalier e Asa Briggs, que se debruçaram sobre os estudos sobre as epidemias e suas relações com a sociedade. Com o historiador inglês Charles Evans as doenças e as epidemias passaram a ser estudadas de forma mais ampla e intensa, ao serem analisadas como um fenômeno social.

No Brasil, as passagens do psicólogo Michael Foucault, entre 1965 e 1976, também contribuíram para colocar a temática da História das Doenças no foco dos historiadores, ainda que os primeiros trabalhos sob influência de suas proposições tenham sido um empreendimento realizado por psiquiatras, como Roberto Machado, organizador de “A danação da norma: a medicina social e a constituição da psiquiatria”, e Jurandir Sebastião Freire Costa, autor de “Ordem médica, norma familiar”. Essas obras focalizaram a afirmação da Medicina e a crescente ampliação de suas normas e prescrições na sociedade brasileira, especialmente no contexto da construção do Estado-nação imperial, com ênfase em conceitos como “medicalização da sociedade”, “biopoder” e no binômio coercitivo “saber/poder”. Leia Mais

Medicina, Saúde e Doenças na História (II) / História Revista / 2015

Ao propormos um dossiê com a temática Medicina, Saúde e Doenças na História para publicar na História Revista, para nossa satisfação, fomos surpreendidas com inúmeros artigos de excelente qualidade que ultrapassavam o limite de um dossiê. O editor da revista decidiu organizar os artigos em dois dossiês e publicar em dois números seguidos da revista.

O fato de recebermos tantos artigos vem reafirmar o crescimento do campo historiográfico da saúde e das doenças no Brasil. Desde mais de uma década, criou-se um núcleo de pesquisadores de algumas universidades brasileiras interessados nesse campo de estudos. Esse núcleo, aos poucos se ampliou com a inserção de mais pesquisadores de outras universidades, formando verdadeira rede de conhecimento.

Organização de simpósios em congressos da área, em especial da ANPUH (Associação Nacional de Professores Universitários de História) e da SBHC (Sociedade Brasileira de História da Ciência), publicação de artigos e de livros que tematizam a história da saúde e das doenças em suas várias vertentes consubstanciaram na construção e consolidação desse campo de conhecimento no Brasil, somado à existência crescente de linhas de pesquisa nos programas de pós-graduação, onde se formam novos pesquisadores, potencialmente novos membros dessa rede.

Esse segundo dossiê atesta a diversidade de abordagens e fontes para se estudar a história da saúde e das doenças. Primeiramente, apresentamos o artigo de Viviane Machado Caminha São Bento e Nadja Paraense Santos intitulado “Botica jesuíta: apontamentos sobre a produção de medicamentos e a utilização de recursos naturais no Brasil colonial” que analisa a atuação dos jesuítas no desenvolvimento de medicamentos e práticas de cura, no período colonial.

O segundo artigo trabalha basicamente com o “Banco de Theses de Médicos Mineiros”, disponível no Arquivo Público Mineiro (APM). Trata-se de um corpus documental já inventariado que permite abordar aspectos que dizem respeito à formação, relações sociais e atuação dos médicos mineiros.

O terceiro artigo analisa as doenças no território baiano, a partir do curandeiro Faustino Ribeiro Junior, pelo viés da alimentação. A seguir Rômulo de Paula Andrade apresenta uma fecunda discussão política a partir de uma ação da saúde pública, qual seja a da campanha de erradicação da malária na Amazônia. O artigo “Bons ares, maus colonos: ambivalência entre raça e ambiente em Doenças Africanas no Brasil de Octavio de Freitas” investiga um personagem, a partir de sua obra, contextualizando suas ações. O artigo de Marinice Sant’Ana de Oliveira e Liane Maria Bertucci tem como objeto a Semana da Tuberculose, realizada em novembro de 1937, em Curitiba, no Paraná. As autoras analisam as ações de educação em saúde pública durante o evento e afirmam que os bons ares não são suficientes para evitar a tuberculose. No sétimo e último artigo, Charles Klajman trata de duas pandemias de gripe, a Espanhola de 1918 e a Influenza A de 2009. Examina as duas gripes de forma comparada, utilizando o referencial teórico da História Ecológica.

Esperamos que, como o dossiê anterior, este também se desdobre em profícuas discussões sobre a temática proposta.

Dilene Raimundo Nascimento – Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense. Docente do programa de Pós‐Graduação em História das Ciências e da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz

Sônia Maria de Magalhães – Doutorado (2004) em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. É docente no Departamento de História da Universidade Federal de Goiás


NASCIMENTO, Dilene Raimundo; MAGALHÃES, Sônia Maria de. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 20, n. 3, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Medicina, Saúde e Doenças na História / História Revista / 2015

Os intelectuais dos Annales foram pioneiros em estimular os estudos relacionados à doença. Precursores também ao valorizar os aspectos comuns da vida material, como os comportamentos biológicos, a história da alimentação, a história das enfermidades, contribuindo para uma releitura da história econômica e social. Os estudos de Emannuel Le Roy Ladurie e Fernand Braudel sobre a medicina e as doenças merecem destaque. O primeiro iniciou uma série de pesquisas sobre a história do clima e, posteriormente, da saúde e das doenças.[1] Ao segundo, coube a tarefa de promover pesquisas interdisciplinares, estimulando representantes de diferentes especialidades a discutir questões sobre história social da medicina e da doença alvitradas na revista Annales. O convite de Braudel foi bem recebido não só pelos historiadores, mas também por médicos e outros especialistas interessados em compreender historicamente o seu ofício. Desse exitoso encontro entre a História e as outras áreas do conhecimento resultaram vários artigos, procedendo em números especiais dedicados exclusivamente ao tema.[2]

Mas o texto basilar O corpo: o homem doente e sua história de Jean‐Pierre Peter e Jacques Revel, herdeiros de Fernand Braudel, promoveu um novo olhar sobre a temática para além do seu aspecto biológico. Eles vislumbraram a doença como elemento social, um acontecimento de reelaboração das conexões estabelecidas pelo homem, possibilitando evidências reveladoras sobre as mudanças sociais, uma esclarecedora leitura do mundo. O homem enfermo, outrora excluído da sua subjetividade, também ganha voz e visibilidade nesse processo. Desde então, esses objetos de pesquisa tem granjeado novo sentido na análise do historiador, que os examinam não apenas como um fenômeno mórbido, mas associados, sobretudo, aos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais. Nesse complexo cabeamento analítico, as temáticas abrangem saberes práticas, instituições, representações sociais e culturais, relações de poder, ciência, sociedade, cultura, religião, espaço ambiental[3].

No Brasil, o impacto desse campo historiográfico pode ser auferido na crescente produção de dissertações e teses, livros, periódicos, grupos de trabalhos e programas de pós‐graduação e eventos indicando profícuas perspectivas teórico‐ metodológicas, que não só enriquecem a historiografia brasileira, mas sugerem novos temas de pesquisa.

Deste modo, os artigos reunidos no dossiê Medicina, Saúde e Doenças na História contemplam uma parcela abrangente da literatura produzida no Brasil, as tendências de investigação e metodologias aplicadas pelos historiadores. Os autores dos artigos que compõem o dossiê discutem os significados históricos da medicina, saúde e doenças seja no século XIX seja no XX, abarcando os diversos estilos, objetos e narrativas que propõem compreender as tensões entre os impactos sociais das doenças e as ações de saúde pública (avanços, retrocessos e desafios inerentes à constituição do saber médico e às ações públicas).

Notas

1. LADURIE, E. Histoire du climat depuis de An Mil. Paris: Flamarion, 1967.

2. J. R. (Org.). Médicins, médecine et societé en France aux XVIII et XIX siécles. Annales. Economies, sociétés, civilizations, n. 5, septembre-octobre, p. 849-1055, 1977.

3. REVEL, J.; PETER, J-P. O corpo: o homem doente e sua história. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.

Dilene Raimundo Nascimento – Professora Doutora (COC / Fiocruz)

Sônia Maria de Magalhães – Professora Doutora (FH / UFG)


NASCIMENTO, Dilene Raimundo; MAGALHÃES, Sônia Maria de. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 20, n. 2, mai. / ago., 2015. Acessar publicação original [DR]

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