História da saúde e da doença: da lepra a hanseníase | Dimensões | 2021

A cura dos Dez Leprosos Hanseníase
A cura dos Dez Leprosos | Imagem: IPMC

As doenças e suas implicações sociais foram, durante muito tempo, um capítulo negligenciado pela História. Pode-se dizer que foi a partir do fim da década de 1950 e início da década de 1960, que os primeiros historiadores, de origem francesa e inglesa vieram a se debruçar sobre o tema. Ocorre então, uma renovação nos estudos dessa temática, em especial a partir dos estudos dos pesquisadores da história da medicina como Louis Chevalier e Asa Brigges. É possível inferir, então, que estes estudos passaram a abordar não mais apenas os aspectos médicos e demográficos das doenças, mas, buscavam enxergá-las e entendê-las como fenômenos sociais1.

É possível afirmar que a historiografia, a partir dos anos 1980, passou a evidenciar os significados socioculturais das doenças, uma vez que, as respostas e os impactos gerados por estas, podem assumir formas diversas em diferentes grupos sociais2. Assim, os estudos da História das Doenças e da Saúde se tornaram mais complexos e abrangentes, onde por meio destes a “[…] vida social, política e cultural dos grupos humanos pode ser percebida e analisada pelos historiadores a partir da ocorrência de enfermidades individuais ou coletivas”3. Leia Mais

História e ciência em tempos de pandemia: reflexões e perspectivas | Temporalidades | 2020

Ciência, História e Sociedades: múltiplas possibilidades

A reflexão sobre História e Ciência em tempos de pandemia, tecida pelas múltiplas perspectivas e análises que compõem o presente dossiê temático da Revista Temporalidades, traz o convite para lançarmos novos olhares sobre a sociedade em que vivemos, seus códigos culturais e o papel da ciência e dos estudos das humanidades na compreensão de momentos de crises mundiais. A própria temporalidade da publicação acompanha um contexto de transformações nas estruturas econômicas, sanitárias e políticas, marcado pelo rápido alastramento de uma pandemia que trouxe como um dos grandes desafios o de se pensar o papel da ciência e do negacionismo como chaves de respostas às demandas sociais. A pandemia do COVID-19 apresenta suas peculiaridades pela complexidade do cená Leia Mais

História: entre a saúde a doença / Esboços / 2006

História: entre a saúde a doença / Esboços / 2006

Podemos pensar que a doença é um evento pontual, presente apenas na vida de alguns indivíduos (“os outros”, de preferência) que têm a infelicidade de a verem cruzar a soleira de sua porta. Porém, percebemos que nós e quase todas as pessoas de nosso convívio já enfrentaram uma experiência relacionada com algum mal-estar. “Todas as pessoas vivas têm dupla cidadania, uma no reino da saúde e outra no reino da doença”, pondera Susan Sontag, em “A doença como metáfora”. Adoecer, buscar a cura ou manter a saúde são aspectos da vida que mobilizam a atenção da sociedade. Fiel a esse vaticínio, esse número da Revista Esboços: revista do programa de pós-graduação em história da Universidade Federal da Santa Catarina escarafuncha as relações entre saúde e doença, entre saudáveis e doentes.

Como objetos do historiador, saúde e doença tornam-se ricas oportunidades de compreender o contexto onde se apresentam. O dossiê “História: entre a saúde e a doença” proporciona o contato com este universo de diferentes maneiras. É possível compreender as diferentes teorias médicas que buscavam a explicação para as doenças, como a Eugênia, a relação que se fazia entre gênero e alguns males ou perceber as reflexões de um médico sobre a doença e sua vitória, a morte.

Certas patologias emergem como objetos de destaque. Aqui, é o caso da lepra e da AIDS, temas sobre os quais os historiadores não deixam de formular suas questões. Se as doenças são acontecimentos que alteram o curso de uma vida, que dizer daquelas cujo caráter epidêmico ou incurável e que fazem um grande número de vítimas em um curto espaço de tempo? Isto se torna ainda mais relevante quando, além das alterações biológicas, as doenças provocam outros males causados pelo medo, pelo preconceito e pela exclusão social.

Diante da necessidade de manter ou recuperar a saúde, diferentes respostas são construídas de acordo com o contexto histórico em questão. Assim, vemos emergir os hospitais, como espaços inicialmente destinados à caridade para, posteriormente, se apresentarem como locais de cura. Ou as transformações da terapêutica, em consonância com a disseminação de novas teorias sobre a doença, como foi o caso da microbiologia no início do século XX.

É possível, ainda, perceber nos vários artigos que compõem este número da Esboços como exemplos das diferentes possibilidades metodológicas na abordagem da temática. Temos desde fontes mais familiares, como periódicos e teses médicas, às menos tradicionais, como biografias, programas de TV e o cinema, revelando a presença incisiva da saúde e da doença no cotidiano. A escolha do tema História: entre a saúde e a doença não foi, portanto, aleatória. Foi feita pela vontade em divulgar os trabalhos historiográficos, em contínuo crescimento, na área. Assim, agradecemos a todos os colabores deste número, cujos estudos revelam que saúde e doença são muito mais do que processos biológicos: são eventos que transformam o papel dos indivíduos e suas relações na sociedade.

Os editores

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