A História da Ciência para uma Educação em Ciências do futuro/Revista Brasileira de História da Ciência/2022

A história da ciência, como prática de escrever o passado das ciências, é presente desde muito tempo, na própria prática científica (Videira, 2007), bem como na educação sobre a ciência (Hodson, 2014). Sua institucionalização enquanto campo de estudo autônomo dentro da educação em ciências, entretanto, é muito mais recente e pode ser remontada à fundação do International History, Philosophy and Science Teaching Group (IHPST) e a revista Science & Education no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 (Hodson, 2014). Leia Mais

História e filosofia da ciência: Produção científica e circulação de repertórios | Temporalidades | 2021

A Revista Temporalidades, edição número 36 contempla o dossiê, “História e Filosofia da Ciência: Produção Científica e Circulação de Repertórios” e apresenta uma abordagem transdisciplinar conjugando as epistemologias científicas com o processo de produção, divulgação e circulação do trabalho científico, sobretudo para a sociedade em geral. Assim, entendemos a importância de buscar reflexões sobre tais eixos temáticos (ciência, história, epistemologia e divulgação científica), haja vista o entendimento de que, historicamente, a produção científica está associada a um projeto de divulgação do desenvolvimento tecnológico e técnico assim como da ampliação dos saberes científicos.

É neste processo, que percebemos a importância da linguagem na produção deste conhecimento e na sua divulgação, uma vez que a linguagem de cada pesquisador se encontra protegida pela especificidade de seus próprios códigos. Sobremodo, interrogar o uso e a finalidade dessa linguagem em seu desdobramento político e social torna-se imprescindível para perscrutar os sentidos do trabalho do pesquisador e de sua produção, assim como entender o alcance da contribuição desta atividade para a sociedade. Nesse caso, é preciso repensar a linguagem e a mobilização de repertórios do discurso científico articulado por meio de uma linguagem hermética e específica, a qual cria dificuldades de intepretação até mesmo para os seus principais interlocutores (membros da comunidade científica). Leia Mais

História da Ciência em debate: possibilidades, fontes e horizontes de pesquisa | Faces da História | 2021

Não são muitas as áreas de conhecimento que apresentam um caráter tão multifacetado quanto a História da Ciência1. Localizada na intersecção entre Filosofia, Sociologia e Antropologia, a disciplina que dá nome ao presente dossiê passou por inúmeras transformações durante todo o século XX. George Sarton, e seu inspirador otimismo relacionado ao “Novo Humanismo” (1988), pôde ilustrar as expectativas em relação à História da Ciência nas primeiras décadas de 1900:

A história da ciência deve ser […] usada apenas para seus próprios fins, para ilustrar imparcialmente o funcionamento da razão contra a irracionalidade, o desdobramento gradual da verdade, em todas as suas formas, sejam agradáveis ou desagradáveis, úteis ou inúteis, bem-vindas ou indesejáveis2. (SARTON, 1952, p. XIV, tradução nossa). Leia Mais

História e ciência em tempos de pandemia: reflexões e perspectivas | Temporalidades | 2020

Ciência, História e Sociedades: múltiplas possibilidades

A reflexão sobre História e Ciência em tempos de pandemia, tecida pelas múltiplas perspectivas e análises que compõem o presente dossiê temático da Revista Temporalidades, traz o convite para lançarmos novos olhares sobre a sociedade em que vivemos, seus códigos culturais e o papel da ciência e dos estudos das humanidades na compreensão de momentos de crises mundiais. A própria temporalidade da publicação acompanha um contexto de transformações nas estruturas econômicas, sanitárias e políticas, marcado pelo rápido alastramento de uma pandemia que trouxe como um dos grandes desafios o de se pensar o papel da ciência e do negacionismo como chaves de respostas às demandas sociais. A pandemia do COVID-19 apresenta suas peculiaridades pela complexidade do cená Leia Mais

Ciclo Ciência Viva (I) / Circumscribere / 2020

Circumscribere na pandemia

O ano de 2020 será lembrando como um período de profundas transformações nas sociedades no mundo. A pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) interrompeu o fluxo normal das atividades humanas. Isolados em suas casas, professores e pesquisadores de diferentes áreas e países tiveram de reinventar seu modo de produzir e transmitir o conhecimento científico. O uso de ferramentas tecnológicas foi fundamental nesse sentido; por meio de plataformas como Teams, Zoom, Google Meet, entre outras, esses profissionais conseguiram dar continuidade às aulas, reuniões, pesquisas, bancas, reuniões cientificas etc., mantendo universidades e instituições de ensino e pesquisa em pleno funcionamento.

A equipe da revista Circumscribere também manteve seu ritmo de trabalho, logrando dar andamento à produção de dois volumes este ano. Ao nos darmos conta de que o mundo acadêmico apoiava-se cada vez mais nas plataformas digitais, decidimos expandir nossas atividades e lançar um ciclo de debates para congregar professores, pesquisadores e interessados em assuntos relacionado à História da Ciência. Assim, nasceu o ciclo CIÊNCIA VIVA, com o objetivo de debater temas fundamentais da área e refletir a própria pandemia do ponto de vista da história da ciência.

Neste volume da revista Circumscribere, apresentamos alguns dos resultados desses debates. Os textos resultam de apresentações realizadas virtualmente durante a pandemia e de debates com professores e pesquisadores de vários centros de ensino e pesquisa do país. Outros volumes deverão ser lançados nos próximos semestres com base em novos temas abordados no Ciclo. Com iniciativas como essas, esperamos poder ampliar a presença de professores e pesquisadores nas redes sociais, de modo a contribuir para o combate das chamadas Fake news, bem como do pensamento anticiência que ganha força no mundo.

Boa leitura.

José Luiz Goldfarb


GOLDFARB, José Luiz. Circumscribere, São Paulo, v.26, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Fazendo História da ciência em uma comunidade digital, global e em rede: ferramentas de ligação para acadêmicos / Circumscribere / 2018

[Fazendo História da ciência em uma comunidade digital, global e em rede: ferramentas de ligação para acadêmicos]. Circumscribere, São Paulo, v.21, 2018. Acessar dossiê [DR]

 

Propósitos e Propostas para a História da Ciência | Temporalidades | 2018

A História da Ciência sempre foi um campo aberto à interdisciplinaridade, ao diálogo entre historiadores e demais pesquisadores e, sobretudo, ao diálogo e ao questionamento acerca de sua identidade, de sua função, de sua construção narrativa e de sua ação histórica. O dossiê que agora tenho a honra de apresentar trouxe, em sua proposta inicial, tais indagações: Qual a especificidade da História da Ciência? Qual sua metodologia? Quais seus questionamentos teóricos? Qual seu olhar diante das fontes? O que a História da Ciência é capaz de fazer pelo e com o conhecimento? Longe de configurar-se como uma simples crise disciplinar de pouca monta para a História e seus praticantes, esse debate sobre si, sobre o lugar, sobre sua função, sobre seus praticantes e sobre suas características é marca indelével do fazer histórico, do métier do historiador e, portanto, da disciplina História. Sendo História, se a identidade da História da Ciência é forjada na sua própria indagação, no debate, nada mais salutar do que apresentar novos trabalhos como forma de revisitar essa identidade em constante discussão. É exatamente esse o passo que o dossiê “Propósitos e Propostas para a História da Ciência”, preparado pela dedicada equipe da Revista Temporalidades, dá ao apresentar 10 artigos de gradua(n)dos e pós-gradua(n)dos em História, em Filosofia, em Ciências e em História da Ciência. Antes de qualquer análise, vale destacar o interessante e diversificado perfil de autores e autoras que o presente dossiê oferece, marca típica dessa área do conhecimento. O leitor também perceberá que o debate disciplinar fica evidente nas distintas grafias utilizadas para determinar a própria área do conhecimento. Assim, por vezes grafa-se História da Ciência, noutras vezes seu o objeto de análise histórica vai ao plural e temos História das Ciências. É possível verificar, também, os destaques em maiúsculas e minúsculas (história das ciências, por exemplo); discussão que parece trivial, mas que poderia, muito bem, oferecer indícios sobre os diversos posicionamentos no debate disciplinar anteriormente mencionado. De qualquer forma, o que se apresenta aqui, entre propósitos e propostas, são histórias, no plural, nos plurais.

No primeiro artigo desta breve apresentação, Alexander Lima Reis e Millena Souza Farias, por meio de análise historiográfica, transitam entre periódicos, publicações de associações, livros e verbetes biográficos do século XIX, obras canônicas do século XX e bibliografia do recente início do século XXI que modifica a característica difusionista da história das ciências no Brasil. O autor e a autora não apenas destacam as formas pelas quais as ciências foram | são compreendidas e narradas ao longo dos quase três séculos de abrangência do trabalho, como também apresentam um verdadeiro desenho de algumas das principais alterações metodológicas que possibilitam a compreensão atual de ciência como sendo uma produção humana, social, política, cultura. Outra discussão historiográfica presente no dossiê pode ser encontrada no trabalho de Douglas Braga sobre o processo de institucionalização da medicina no Brasil ao longo do século XIX. Em sua análise, o autor apresenta algumas perspectivas sobre o referido processo de institucionalização, destacando e indagando tanto a concepção que apontava a medicina oitocentista como pré-científica, quanto a tendência de reduzir a comunidade médica do século XIX em torno de um bloco homogêneo e coeso, rotulado de higienista. Em linha semelhante de análise, o trabalho de Marcio Luiz Miotto apresenta algumas conseqüências institucionais do processo que vai da formação do profissional à atuação no campo da Psicologia, além de expor, por meio de três estudos de caso, uma discussão da tênue relação entre a História da Psicologia e áreas mais abrangentes do conhecimento, como a História da Filosofia e a História das Ciências.

A muito discutida interface entre a Educação e a história das ciências também marca presença no dossiê, mais especificamente, no artigo intitulado “Entre educação e ciência: discurso e atuação ambientalista de Angelo Machado (1974-2008)”, de Gabriel Schunk, e em “A utilização da história das ciências como instrumento facilitador para o aprendizado da física clássica no ensino médio”, dos autores Renan Alencar e Sérgio Yury Almeida da Silva. Seja pelo viés dos diferentes discursos da educação ambiental ou pelo uso da história das ciências como ferramenta metodológica facilitadora para o ensino de Física, cada texto, a sua maneira, vai discutir as concepções e fundamentos escolares da clássica, relevante e sempre atual relação entre o humano e a natureza.

Já no artigo de Vitor Claret Batalhone Júnior intitulado “Sob Ruínas e Atlas”, o leitor encontrará uma instigante análise sobre a produção intelectual do erudito britânico Samuel Purchas, análise que discute alterações ontológicas, epistemológicas, e suas relações com as noções ocidentais de tempo e espaço. Também debruçado sob os trabalhos de um personagem europeu, Weslley Oliveira Kettle apresenta as descrições naturais da capitania do Grão-Pará elaboradas pelo arquiteto bolonhês Antônio José Landi, com intuito de demonstrar como tais trabalhos fizeram parte de um propício projeto político, e não meramente científico, no contexto da colonização portuguesa na Amazônia. Em diálogo com a temática que relaciona os processos de colonização e as ciências, mas utilizando tratados náuticos para sua análise, o trabalho de Amanda Cieslak Kapp apresenta a relação entre teoria e prática na produção de conhecimento no cenário da expansão marítima durante a constituição do império espanhol no além-mar.

O leitor também encontrará uma análise sobre os desdobramentos da republicação de práticas e métodos agrícolas descritos, originalmente, por portugueses e brasileiros entre o final do século XVIII e o início do XIX. No trabalho de Janaina Salvador Cardoso é possível verificar o modo como as republicações no impresso O Auxiliador da Indústria Nacional contribuíram com o objetivo de promover a instrução de lavradores por meio de divulgação de práticas que melhoravam o aproveitamento de recursos naturais. Por último, e também utilizando fonte de jornal impresso, apresentamos o trabalho de Caroline Lisboa dos Santos Lima em que a autora estuda o projeto de saneamento do município de Passo Fundo à luz das notícias das páginas do periódico O Nacional. Destaca-se, na análise de Caroline Lisboa, posicionamentos diversos, interesses e preocupações com os recursos hídricos durante a execução do projeto de saneamento, discussão que termina por impactar, ainda hoje, o rio que abastece a região.

Diante desse diversificado passeio por temas, fontes, métodos, abordagens, discussões, propósitos e propostas da(s) história(s) da(s) ciência(s), resta o desejo de uma leitura prazerosa do dossiê que vem na sequência. Uma boa leitura.

Itabuna – BA

Francismary Alves da Silva – Universidade Federal do Sul da Bahia.


SILVA, Francismary Alves da. Apresentação. Temporalidades. Belo Horizonte, v.10, n.1, Jan./abr. 2018. Acessar publicação original [DR]

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História da Ciência / Oficina do Historiador / 2015

Desde fins da década de 1980, nós três temos nos dedicado a pesquisas em história das ciências. Era uma época com poucas possibilidades de atuação nas universidades brasileiras. Hoje, após quase trinta anos de muitas lutas, vemos essa área se expandir por todo Brasil. Novas gerações de pesquisadores emergem, fortalecendo nossa especialidade e disseminando os seus trabalhos nas mais diversas regiões do país. A essas novas gerações é dedicado este dossiê que tivemos um grande prazer de organizar.

Graças ao apoio da PUC-RS e da editora Tatyana Maia foi possível programar e executar a seleção de artigos que agora chegam a lume. Recebemos mais de uma dezena de artigos que foram submetidos, no sistema de avaliação cega, a pareceristas indicados por nós e pela equipe de Tatyana. Foram cerca de trinta pareceristas anônimos envolvidos na avaliação dos artigos que exigiram grande esforço em prazos reduzidos dos profissionais. Sem essa contribuição – reservada ao anonimato – não seria possível realizar a difícil e criteriosa seleção dos cinco artigos que compõem o dossiê.

Nossa satisfação em produzir este dossiê reflete também nossas trajetórias traçada ao longo de décadas em que cada um de nós três trabalhou na construção dessa área de pesquisa no país. Luiz Carlos Soares atuando na ANPUH – Associação Nacional de História – como presidente foi responsável por estabelecer a linha de pesquisa no quadro de disciplinas da História no âmbito do CNPq. Como presidente da SBHC – Sociedade Brasileira de História da Ciência – e criador do Grupo de Estudos de História da Ciência e da Tecnologia, GEHCT da ANPUH, prosseguiu na batalha de consolidação da área nos departamentos de história. Mauro Condé, como um dos criadores do SCIENTIA – Grupo de Teoria e História da Ciência – na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, produziu em Belo Horizonte um pólo importante na formação de novos pesquisadores. Carlos Maia foi um dos fundadores do NHC – Núcleo de Pesquisas em História da Ciência do CNPq – que se transformou no MAST, Museu de Astronomia, hoje, um dos centros de excelência dessa área no Brasil. Os três editaram diversos livros e organizaram outros mais. Vemos que os frutos de nosso trabalho, como o de muitos outros colegas, ampliou em muito as possibilidades acadêmicas de pesquisas em história das ciências.

Esse Dossiê também tem a função de apresentar aos jovens pesquisadores as oportunidades de trabalho em uma área de pesquisa inovadora dentro da disciplina história. A história das ciências vem despertando interesse crescente em inúmeros departamentos de história, o que revela uma maturidade conceitual e teórica de nossa historiografia que se renova a cada dia. Há pouco tempo ainda encontrávamos historiadores com resistência a fazer uma história do conhecimento científico. Via-se ciência como uma produção fora da história.

Mas hoje essa equação sofreu grande mudança. A atividade científica não é mais observada como se fosse uma produção estrita do pensamento de cientistas que estariam à margem da sociedade. Pensar a ciência, hoje, qualquer ciência, é vê-la como uma atividade enraizada socialmente, tão permeável aos vetores sociais quanto qualquer outra atividade humana. Essa é uma conquista teórico-metodológica de anos recentes e inaugura grandes extensões de novos territórios de pesquisa para nossos pós-graduandos.

As oportunidades para que dissertações e teses inaugurais ocorram é muito frutífera. Expandimos o horizonte de preocupações e interesses dos historiadores para terras pouco exploradas. Novas temáticas e objetos enriquecem a disciplina história e trazem mais vivacidade e desafios para os novos pesquisadores que se formam em nossas universidades. A história das ciências obriga que estejamos mais atentos aos limites teórico-conceituais disciplinares. Ela permite que se expanda esses limites. A história das ciências produz um arejamento nas velhas e consolidadas temáticas da história. Ela solicita e fornece um cabedal metodológico para quem ousa adentrar em seus temas. Não é qualquer pesquisador que se mostra capaz de identificar a historicidade do pensamento científico. Infelizmente, ainda há aqueles que nem percebem como a ciência é uma atividade historicamente situada.

Assim, convidamos os jovens pesquisadores, especialmente aqueles que ávidos por novidades e que se realizam em ousadias mais refinadas do pensamento, a se infiltrarem em nossas temáticas. Conquistem para a história essas terras devolutas que apresentam promissoras oportunidades de trabalho no Brasil. Essa é uma conquista que pode trazer uma grata satisfação profissional e um enorme prazer intelectual a todos que ingressarem na aventura de praticarem a história das ciências nos departamentos de história.

No artigo intitulado “A construção do conhecimento no instituto nacional de pesquisas da amazônia – INPA, por meio de suas expedições científicas, (1954-1975)”, Ângela Nascimento dos Santos Panzu eEduardo Gomes da Silva Filho analisam a produção do conhecimento científico no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, entre 1954 e 1975. Os autores procuram mostrar a constituição desse conhecimento analisando os relatórios das excursões e expedições científicas promovidas pelo Instituto na floresta Amazônica. Enfatizam o caráter coletivo da produção do conhecimento através da interação dos pesquisadores e de seus auxiliares recrutados na população local.

O artigo de Matheus Alves Duarte da Silva, “Soro ou vacina: controvérsias no controle da peste bubônica no Rio de Janeiro (1899-1901)”, aborda a querela entre Oswaldo Cruz e Camilo Terni, ocorrida em 1900, acerca do tratamento das vítimas da peste. Cruz defendia a utilização do soro antipestoso como tratamento e imunização da população. Em posição contrária, o cientista italiano Camilo Terni, enviado ao Brasil para estudar a doença, por sua vez, defendia a ineficácia do soro, recomendando a vacinação da população. O embate, que teve repercussão na mídia, foi vencido por Cruz, uma vez que o soro tornou-se a arma central no combate da peste. No entanto, Duarte da Silva procura mostrar como essa vitória foi construída por alianças e interesses. Karoline Viana Teixeira analisa, no artigo intitulado “Percepções e limites do fazer científico: o caso da Imperial Comissão Científica de Exploração (1859-1861)”, aquela que é considerada a primeira viagem científica composta exclusivamente por naturalistas brasileiros, a Comissão Científica de Exploração. Essa viagem refletiu o esforço do Império brasileiro para promover descobertas que redundassem no desenvolvimento da economia brasileira, procurando seguir o exemplo das nações europeias do século XIX.

Karoline Teixeira aborda, neste artigo, a experiência dessa Comissão Científica analisando as possibilidades e os limites do uso da ciência como instrumento do desenvolvimento do Império brasileiro. Império esse que lidava, por um lado, com a herança colonial mas, ao mesmo tempo, procurava se constituir como uma nação moderna e civilizada que fosse capaz de produzir conhecimento.

No artigo “Saúde e sociedade: o estudo de caso da AIDS na cidade de Itapetininga (anos 1990)”, Gustavo Vargas Laprovitera Boechat parte do pressuposto de que, mais que um fenômeno biológico, a doença é um fenômeno histórico, demonstrado pelas práticas sociais e pensamentos de uma dada comunidade quando essa define seu entendimento da doença, estratégias de prevenção, concepções de transmissão e cura. O artigo analisa a epidemia de HIV / AIDS na cidade de Itapetininga, de 1989 a 1996. Através de uma abordagem histórica, procura compreender como, em uma cidade do interior paulista, foram incorporados discursos e práticas sobre a AIDS. Analisando a produção jornalística local, bem como os prontuários médicos da Santa Casa de Misericórdia de Itapetininga, Gustavo Boechat analisa o universo sócio-político e simbólico reconstruindo as vivências e representações dessa comunidade em torno da doença.

Por fim, no artigo “Análise das fichas do serviço de ortofrenia e higiene mental do Rio de Janeiro (Arthur Ramos, 1934-1939): contribuições à história da psicologia”, Jefferson Mercadante analisa as fichas individuais de crianças atendidas pelo Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental no Rio de Janeiro, entre os anos de 1934 e 1939, a partir das quais procura identificar características eugenistas presentes na atuação de Arthur Ramos à frente da Seção de Ortofrenia e Higiene Mental. Segundo Mercadante, com intuito de servir à abordagem higienista, a psicanálise freudiana foi modificada. Ainda que não possamos exatamente filiar Arthur Ramos ao ideário eugênico da teoria racial determinista – já que percebemos sua preocupação com a valorização do homem por meio da cultura e a da saúde do espírito –, em certo sentido percebemos que, na medida que em sua fala predomina a ideia de prevenção e correção por meio da educação e da higiene mental, ele termina, de certa forma, por neutralizar as causas econômicas e políticas como fortes fatores da desigualdade social. Sob esta ótica, mesmo que pareça mais preocupada com a dimensão social dos problemas psíquicos, sua obra encontra-se impregnada da mesma ideologia que postulava a construção de uma nação nova a partir da atuação do controle médico que excluísse os aspectos degenerativos e desagregadores da sociedade.

Desejamos a todos uma excelente leitura!

Carlos Alvarez Maia – UERJ

Mauro Lúcio Leitão Condé – UFMG

Luiz Carlos Soares – UFRJ


MAIA, Carlos Alvarez; CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão; SOARES, Luiz Carlos. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 8, n. 2, jul. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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História da Ciência e história do livro / Circumscribere / 2015

Quando a historiadora americana Elizabeth Eisenstein publicou, em 1979, sua obra magistral, polêmica e incontornável, The Printing Press as an Agent of Change, [1] a história do livro (e da leitura) ainda lutava para se estabelecer plenamente como disciplina claramente reconhecida no vasto campo dos estudos históricos, mesmo que, desde o fim da década de 1950, pelo menos, já viesse ganhando contornos independentes da antiga tradição da ‘bibliografia’, sobretudo na França, com o impulso fundamental de Lucien Febvre e seus discípulos.[2] À altura da publicação do trabalho de Eisenstein, por outro lado, a história das ciências já era uma disciplina bem estabelecida no panorama acadêmico europeu e norteamericano, e estava conquistando espaços profissionais também na América Latina (aqui principalmente pelo viés do estudo das instituições científicas). De todo modo, ainda fortemente filiada às tradições da história das ideias, a história das ciências que se praticava naquele momento fazia, de maneira geral, uso do livro ‘científico’ [3] do passado estritamente como fonte portadora de conteúdos conceituais, cuja análise seria o objetivo maior da disciplina. Nesse sentido, a forma impressa pouco importava, pois a ênfase idealista no conteúdo poderia se realizar também se o suporte fosse manuscrito (como é o caso, por exemplo, das fontes para a história das ciências medievais, quando não editadas, ou de escritos e correspondências não publicados das gentes de ciência de séculos posteriores), ou simplesmente edições e reedições impressas.

Ao lado da eleição dos conteúdos conceituais como objeto privilegiado de investigação pelo historiador das ciências, em que a análise daquilo que estava escrito nos livros – e não dos livros em si – desempenhava papel sem dúvida central, naqueles fins da década de 1970 a única opinião mais genérica sobre a relevância do aparecimento da imprensa para a conformação das ‘ciências modernas’ era de caráter negativo: figuras fundadoras da disciplina, como Georges Sarton e Lynn Thorndike,[4] já haviam expresso havia muito tempo o veredito de que, nos séculos XV e XVI ao menos, a tipografia estivera a serviço da difusão, justamente, das obras ‘erradas’, por conta das frequentes associações entre humanistas e impressores. Assim, em vez de se imprimirem livros que carregassem o que eles viam como a verdadeira ‘nova ciência’, que lutava para se estabelecer, a Europa teria sido inundada por edições de clássicos das antigas autoridades, cujo conteúdo era justamente o que se impunha superar. De todo modo, isso não seria mais que um acidente externo, que não deveria desviar a atenção dos historiadores do seu pretenso verdadeiro objeto: o conteúdo dos livros (ou dos livros ‘certos’).

Por seu turno, a história do livro, em suas primeiras grandes realizações – e estabelecendo um padrão que permanece dominante –, estava pouco interessada pelo impresso científico enquanto gênero com alguma característica digna de atenção particular. De fato, as problemáticas que se impunham para o campo giravam em torno de outros gêneros e questões: a formação de públicos leitores para obras literárias e dramáticas, a renovação das tradições clássicas (precisamente pela edição de antigas autoridades), o surgimento da edição ‘popular’, as transformações nas práticas de erudição engendradas pela leitura paralela de várias obras, a imprensa como forma de propaganda política e confessional ou a estrutura econômica geral do mundo do livro, para ficarmos em apenas alguns exemplos destacados.[5]

Assim, há razões fortes para suspeitarmos que, em fins da década de 1970, a história da ciência e a história do livro eram campos que pareciam não ter nada de muito consequente a dizer um ao outro – ou, mais precisamente, suas relações não seriam mais que meramente casuais ou incidentais. De maneira muito incisiva, Elizabeth Eisenstein propôs justamente o contrário. Convencida pelo argumento parcialmente devido a Marshall McLuhan, sobre o aparecimento de uma ‘cultura tipográfica’ como condição constitutiva da modernidade, mas também certa do papel fundamental das ciências no surgimento do ‘mundo moderno’ (pagando aqui tributo a Herbert Butterfield), ela uniu ambas em uma narrativa de vastas consequências. Seu argumento chegou muito perto de afirmar uma relação de causalidade entre o surgimento da imprensa de tipos móveis, no norte da Europa em meados do século XV, e grandes movimentos como o Renascimento, a Reforma, e, o que mais nos interessa aqui, aquilo que então genericamente se reconhecia como a ‘Revolução Científica’ dos séculos XVI e XVII. Longe de ter estado a serviço apenas da edição dos clássicos da antiga tradição de investigação da natureza – como os livros de Aristóteles sobre fenômenos naturais, as obras enciclopédicas de Plínio ou Isidoro de Sevilha, a cosmografia de Ptolomeu, a medicina de Hipócrates e Galeno –, a tipografia desde cedo se engajara na produção de obras novas, e, para além disso, criara uma cultura de rápida difusão de ideias, em suporte estável e largamente acessível, junto com um convite à polêmica, à dúvida e ao debate, traços que seriam fundamentais na constituição das ciências modernas. Em uma palavra, ao alterar com velocidade impressionante todos os aspectos da clássica tríade de ‘produção, circulação e consumo’ dos produtos culturais – neste caso, científicos –, a imprensa teria promovido as condições para o surgimento e a manutenção da dita Revolução Científica. Em alguns dos melhores momentos dos livro, Eisenstein mostra justamente como homens de ciência como o cosmógrafo germânico Johannes Müller, dito Regiomontanus, já no século XV, ou o famoso astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, na segunda metade do XVI, envolveram-se eles próprios em empresas editoriais de fôlego, estabeleceram oficinas para a impressão de suas obras, e procuraram controlar todas as etapas do processo em benefício da difusão de suas ideias.

As críticas ao trabalho de Eisenstein, apresentadas desde muito cedo por historiadores da cultura, porém, só se avolumaram ao longo dos anos: [6 ]foram apontados os excessos da ideia de cultura tipográfica como destruidora da comunicação manuscrita, oral, e, até certo ponto, visual; a desatenção às dificuldades práticas da difusão desimpedida do impresso, em uma Europa fraturada por clivagens de todos os tipos; a crença infundada na pretensa estabilidade dos conteúdos apresentados nesse suporte; os inúmeros problemas associados à recepção e à leitura, que não são de maneira alguma uniformes ao longo do espaço e do tempo; a necessidade de conceder agência a muitos outros atores além daqueles que ela reconhece (autor, impressor e leitor), como tipógrafos, revisores, fundidores de tipos, livreiros – e a própria complexidade das categorias centrais de ‘autoria’ e ‘leitura’, que ela pouco problematiza. Não obstante, o reconhecimento pioneiro de Eisenstein do livro científico impresso como parte de sistemas sociais e culturais historicamente enraizados, e não apenas portador de conteúdos passíveis de análise textual / conceitual, abriu frentes de investigação essenciais para a história das ciências tal como praticada a partir de então.

De fato, isso veio ao encontro de movimentos que já se esboçavam na disciplina desde meados da década de 1960, em grande parte tributários da recepção da obra seminal de Thomas Kuhn. Indo além da concepção então corrente de história das ciências como história das ideias científicas (e de história das ideias como, fundamentalmente, uma modalidade da análise de textos), consolidou-se a opinião de que as ciências – inclusive seus conceitos – devem ser pensadas como práticas culturais historicamente situadas. O campo se abriu cada vez mais à análise da cultura material, dos instrumentos, da organização e funcionamento dos laboratórios, das instituições que disciplinaram e deram suporte à investigação da natureza, da importância do mecenato e do mercado, das controvérsias, dos sistemas de ensino e mecanismos de popularização, e, o mais importante para nós aqui, reconheceu a necessidade de olhar para o livro impresso não apenas do ponto de vista estático de um pretenso texto ‘definitivo’, mas sim como peça dinâmica de um sistema muito complexo de produção, circulação e consumo – justamente o que a história do livro tem a oferecer. [7]

Assim, não se trata mais somente da análise textual dos livros, esses veículos sem dúvida fundamentais de que se serviram às gentes de ciência a partir do século XV para a expressão de suas ideias e o contato com as de outros, mas da incorporação de novas questões ao rol das preocupações dos historiadores das ciências: quais livros eram impressos, onde, por que e por quem? Quem os financiava? Quem os comprava, e, sobretudo, quem os lia, e como eles eram lidos, anotados, citados e classificados? Qual era o papel dos múltiplos agentes envolvidos em sua produção e difusão? Quando e onde faz sentido falar em ‘autoria’ científica? Como os livros são recebidos e geram outros livros, epítomes, comentários, séries? Como, em sua materialidade, os livros de ciência se relacionaram com a arte tipográfica e lhe impuseram desafios técnicos (visíveis no uso de caracteres matemáticos, na diagramação, sistemas de referenciamento etc.)? Como, para muito além do texto, o mundo do impresso mobilizou o uso de imagens e gravados igualmente fundamentais para a transmissão de ideias e a persuasão dos leitores, rompendo ou continuando venerandas tradições dos manuscritos? Como a profusão de impressos científicos foi afetada pelos sistemas de controle econômico da edição, pela ascensão dos privilégios e direitos de impressão, pelos mecanismos de censura? Qual foi o status do livro científico nas bibliotecas e coleções, e como sua presença nelas abre possibilidades de compreender o status das próprias ciências?[8]

Evidentemente, nem esta apresentação, nem os três artigos coligidos neste mini-dossiê têm a pretensão de responder a essa quantidade enorme de perguntas (às quais poderíamos acrescentar muitas outras mais), ou tampouco de oferecer uma síntese do campo híbrido que está se formando pelo encontro entre a história da ciência e a história do livro. Antes, nosso desejo é oferecer uma primeira demonstração de como esse campo também tem vicejado no Brasil, e com objetos de estudo variados.

Abrindo a seleção, temos um trabalho de Maria Helena Roxo Beltran, que é seguramente a pesquisadora que implantou entre nós o interesse por essa rica interface entre a história do livro e da ciência, produzindo uma já vasta série de estudos sobre os livros científicos como objetos singulares. Na parte inicial de seu artigo, Beltran apresenta uma breve síntese da formação desse campo interdisciplinar, em alguns aspectos assemelhada a esta, mas privilegiando duas questões que têm sido largamente exploradas em seus numerosos estudos: o problema da continuidade ou da ruptura entre manuscritos e livros, do ponto de vista da própria organização material (o que se conhece como mise en page), e, particularmente, a investigação do papel das imagens nos livros científicos impressos do século XVI, sem descuidar de refletir sobre aquela mesma questão de continuidade ou ruptura entre o mundo da letra de mão e o da letra de molde no âmbito dos usos da iconografia. É justamente sobre a temática das imagens que a autora se detém na segunda parte do artigo, descortinando, a partir de casos cuidadosamente selecionados (um livro sobre a arte da destilação, dois de história natural e um sobre as artes dos metais), suas inesgotáveis possibilidades investigativas: entre outras observações preciosas, Beltran indica como as imagens participam da estrutura retórica das obras, como portam uma epistemologia própria (e, poderíamos acrescentar, uma pedagogia também, na medida em que educam os olhares dos leitores), e como elas se reciclam e migram entre as páginas de um mesmo livro e de livros diferentes. Seu artigo se encerra com um convite à reflexão necessária sobre o status da visualidade contemporânea, em tempos de incerteza sobre o futuro do impresso e sobre a ocorrência em curso, ou não, de uma transformação comunicacional momentosa como foi o advento da tipografia.

Movemo-nos em seguida para um detalhado estudo de caso apresentado por Fabiano Cataldo de Azevedo. Seu trabalho investiga o processo de formação daquela que tem sido considerada a primeira biblioteca pública ‘moderna’ do Brasil, estabelecida em Salvador, em 1811. Após descrever minuciosamente as dinâmicas sociais envolvidas na criação da chamada Livraria Pública da Bahia, Azevedo se concentra no exame de dois catálogos do acervo da biblioteca, um impresso e um manuscrito, ambos provavelmente datados de 1818 (o estado atual do conhecimento não permite certeza quanto à data do manuscrito). Ele nos mostra como, de um total de 1.980 títulos que devem ter pertencido à coleção da biblioteca, um número nada desprezível de 57 era de obras médicas, escritas em latim, francês, português e inglês, muitas bastante recentes. Entre as diversas possibilidades de investigação abertas pelo artigo, Azevedo chama a atenção para a origem desse acervo considerável no próprio processo de criação da Livraria Pública, que envolveu doações de membros da elite baiana de princípios do século XIX, incluindo médicos destacados. Os títulos permitem assim acessarmos aspectos importantes da prática médica no ocaso do antigo sistema colonial na América Portuguesa, bem como a própria formação dos médicos baianos, tendo em vista a presença de alguns no currículo de medicina da Universidade de Coimbra (cabendo investigar outros importantes centros irradiadores da formação médica na época, como seria o caso de Londres ou Montpellier, além da notável ausência de obras em alemão). Azevedo ainda levanta o problema fundamental da classificação das obras de medicina que identificou nos catálogos da biblioteca baiana, tema caríssimo tanto à história da ciência quanto à história do livro (ou, mais especificamente, das bibliotecas), demonstrando mais uma vez a riqueza da fertilização cruzada entre os campos.

Finalmente, Rogério Monteiro de Siqueira considera, em seu artigo, alguns aspectos da riquíssima história editorial do projeto monumental do matemático Felix Klein (1849- 1925), que vislumbrou a publicação de uma enciclopédia das ciências matemáticas que deveria ser capaz de unificar todo o campo e determinar seu futuro. O projeto, de uma grandiosidade quase impossível, consumiu décadas, mobilizou centenas de matemáticos europeus, e se encerrou, de forma algo melancólica, no terrível decênio de 1930. Siqueira considera especificamente a seção de geometria da enciclopédia de Klein (que consumiu, somente ela, quase cinco mil páginas, escritas por mais de trinta autores), indicando em seu artigo inúmeros caminhos promissores para a investigação interdisciplinar entre história da ciência e história do livro. Ele demonstra, por exemplo, as dificuldades práticas envolvidas na passagem do grande desígnio de Klein para a edição concreta, por conta de necessidades econômicas da casa editora, diferentes ritmos de entrega das entradas pelos matemáticos convidados a contribuir, ou a publicação delas ocasionalmente fora da ordem ‘lógica’ determinada pelo fundador. Siqueira também mostra como essa lógica de classificação das diferentes partes da geometria encontra espelho, por algum tempo, na organização das seções do mais influente jornal de resenhas matemáticas de princípios do século XX (que será transferido da Europa para os Estados justamente nos anos de 1930, ocaso da enciclopédia de Klein, e passará a refletir em sua organização uma nova epistemologia das ciências matemáticas, calcada, obviamente, em novas formas de produção do conhecimento e novas dinâmicas acadêmicas). Notavelmente, o artigo ainda emprega de modo responsável metodologias da bibliometria para investigar o desaparecimento das referências à enciclopédia (e, completaríamos, o desaparecimento do mundo matemático alemão da segunda metade do século XIX, exemplarmente encarnado por Felix Klein) nos principais periódicos da área.

Nossa expectativa com o mini-dossiê que ora convidamos o leitor a percorrer é demonstrar que, felizmente, há muito trabalho pela frente na interface entre a história da ciência e a história do livro, que está deitando raízes tão profundas aqui quanto na comunidade internacional à qual Circumscribere nos conecta. Em uma observação final, mas não menos importante, permito-me usar do discurso em primeira pessoa para agradecer justamente à sua editora, Silvia Waisse, que me deu a oportunidade de usar suas páginas para esta primeira coletânea de trabalhos sobre o tema – e que, com firmeza e paciência, deu-me todo o apoio imaginável para levar a cabo a edição

Notas

1. Elizabeth L. Eisenstein, The Printing Press as an Agent of Change: Communications and Cultural Transformations in Early-modern Europe (Cambridge: Cambridge University Press, 1979). Devo muitas ideias do esboço que se segue, sobre as relações entre a história da ciência e a história do livro, ao excelente trabalho de Henrique Leitão, “O Livro Científico Antigo, Séculos XV e XVI: Notas sobre a Situação Portuguesa,” in O Livro Científico Antigo dos Séculos XV e XVI. Ciências Físico-matemáticas na Biblioteca Nacional. Catálogo de Livros Científicos dos Séculos XV e XVI (Lisboa: Biblioteca Nacional, 2004), 15-53, que, apesar do título, trata de muito mais que a situação portuguesa.

2. Que teve como primeiro resultado notável a obra de Lucien Febvre e Henri-Jean Martin, L’Apparition du Livre (Paris: Albin Michel, 1958).

3. Aqui chamaremos de ‘livro científico’ qualquer impresso que, por seu conteúdo, possa ser considerado pelo historiador da ciência como objeto de atenção. É evidente que o termo ‘científico’ é, em si, anacrônico – mas, na mesma linha, o próprio nome da disciplina ‘história da ciência’ também deveria ser considerado assim. Uma massa muito heterogênea de materiais pode ser considerada como livro científico, incluindo obras sobre assuntos que hoje não se reconhecem como tais, mas que ainda assim interessam à disciplina. A opção que às vezes se apresenta, de falar em ‘filosofia natural’ em vez de ‘ciência’, é totalmente insatisfatória, por representar anacronismo de ordem mais grave: filosofia natural era uma categoria reconhecida por atores históricos até princípios do século XIX, e não contempla inúmeros saberes que são do nosso interesse (como a matemática, a mecânica, a medicina, a astrologia, a alquimia…).

4. Ainda que reconheça a imensa importância da tipografia para acelerar a dispersão do conhecimento científico na Europa e adensar debates importantes, Sarton deixa muito clara sua reprovação à maior parte das escolhas dos primeiros impressores; vide, por exemplo, seu “The Scientific Literature Transmitted through the Incunabula,” Osiris 5 (1938): 41-123 e 125-245. Já Thorndike passa um julgamento sumário: as primeiras décadas da imprensa testemunharam uma verdadeira ‘inundação’ de obras ‘pseudocientíficas’; vide Lynn Thorndike, A History of Magic and Experimental Science, Vols. V and VI: The Sixteenth Century (New York: Columbia University Press), 5.

5. É notável, por exemplo, que dos 40 capítulos de uma obra como A Companion to the History of the Book, ed. Simon Eliot, & Jonathan Rose (Oxford: Wiley-Blackwell, 2009), que reúne contribuições de eminentes especialistas, nenhum se refira com destaque ao livro científico. Essa é a razão pela qual afirmamos que a falta de interesse pelo material científico é um padrão que permanece dominante no campo da história do livro propriamente.

6. Permanecem penetrantes e contundentes as críticas de Anthony Grafton, “The Importance of Being Printed,” Journal of Interdisciplinary History 11 (1980): 265-86, e Roger Chartier, “L’Ancien régime typographique; réflexions sur quelques travaux récents,” Annales E.S.C. 36 (1981): 191-209, a que se devem somar inúmeros trabalhos posteriores desses dois autores, particularmente do segundo. Do ponto de vista específico da história das ciências, o crítico mais sistemático de Eisenstein tem sido, sem dúvida, Adrian Johns, bastando, no momento, remetermos a seu monumental The Nature of the Book: Print and Knowledge in the Making (Chicago: University of Chicago Press, 1998).

7. Para uma detalhada narrativa do movimento de aproximação entre a história da ciência e a história do livro, acompanhada de profundas reflexões metodológicas, vide Adrian Johns, “Science and the Book in Modern Cultural Historiography,” Studies in History and Philosophy of Science 29 (1998): 167-94.

8. A bibliografia de trabalhos que procuram responder a questões como essas em casos concretos já é vasta demais, mas, ao menos como um excelente ponto de partida, remetemos aos diversos artigos compilados em Marina Frasca-Spada, & Nick Jardine, ed., Books and the Sciences in History (Cambridge: Cambridge University Press, 2000)

Thomás A. S. Haddad – Professor de História da Ciência na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]


HADDAD, Thomás A. S. Diálogos entre a história da ciência e a história do livro: considerações preliminares. Circumscribere, São Paulo, v.15, 2015. Acessar publicação original [DR]

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Fontes para a História da Ciência / Circumscribere / 2012

O presente volume da nossa revista, Circumscribere, é duplamente especial. Em primeiro lugar, devido à publicação do texto completo das apresentações realizadas, nas III Conferências Allen Debus, por dois dos mais prestigiosos pesquisadores internacionais no âmbito da história da química. As inumeráveis contribuições do Prof. Debus à história da ciência e sua profunda influência na fundação do CESIMA são evocadas por Ana M. Alfonso- MGoldfarb, em sua apresentação à secção correspondente.

Nessa sua terceira edição, as Conferências Allen Debus contaram com a participação do Prof. Hasok Chang, do Departamento de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Cambridge, e do Prof. Paulo A. Porto, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo. A apresentação do Prof. Chang, A Água: O Longo Caminho entre o Elemento Aristotélico e H2O, focou na estrutura de um dos mais básicos componentes da vida, a água, como suporte de uma problematização mais ampla, referida à relação entre a realidade e o nosso conhecimento dela. O texto conclui chamando a atenção para o fato de que muitos séculos de luta foram necessários para que aprendêssemos a aceitar, e pudéssemos nos beneficiar, do espírito de pluralismo em âmbitos tão diversos como a política, a cultura, a língua, a arte, a ecologia e a culinária, tendo chegado a hora de aceita-lo, também, na ciência.

Por sua vez, o Prof. Porto apresentou os resultados do trabalho desenvolvido em colaboração com Hélio E. B. Viana junto ao Grupo de Pesquisa em História da Ciência e Ensino de Química (GHQ), IQMUSP, sobre o desenvolvimento de novas substâncias pela indústria química nas primeiras décadas do século XX. O Desenvolvimento de Novas Substâncias na Primeira Metade do Século XX: O Caso de Thomas Midgley Jr se utiliza desse estudo de caso particular para ilustrar o desenvolvimento de estratégias de pesquisa passando da tentativa e erro para o uso da tabela periódica dos elementos como guia, assim como para sugerir reflexões acerca das diferentes dimensões de risco intrinsecamente associadas à atividade química.

Em segundo lugar, temos o imenso prazer de publicar neste volume o dossiê Fontes para a História da Ciência, que tem um conteúdo e uma história singulares. Esse dossiê foi inicialmente idealizado, faz quase dez anos, como um volume individual do Selo Simão Mathias, precisamente dedicado ao delicado assunto das fontes para estudos em história da ciência. Graças ao trabalho dedicado e minucioso da Profa. Maria Helena Roxo Beltran, assistida por uma equipe coordenada pelo então estudante de doutorado e atual professor do Programa de Educação Matemática da PUCMSP, Prof. Fumikazu Saito, foram compilados, traduzidos, editados e revisados textos produzidos por grandes personalidades no campo da história da ciência, incluindo: Patricia Aceves, Universidade Autónoma Metropolitana – Unidade Xochimilco, e Ana M. D. Huerta Jaramillo, Benemérita Universidade de Puebla, México; Patrice Bret e Georges Métailié, do Centre Alexandre Koyré, Centre Nationale de la Recherche Scientifique, França; e Antonio González Bueno e Benito del Castillo García, Universidade Complutense de Madri, Espanha

No ínterim, e em função da explosão do acesso à Internet ocorrida na década de 2000, os idealizadores consideraram que um dossiê da relevância do presente serviria melhor seus propósitos se fosse difundido na “aldeia global” através de um veículo de excelência, mas eletrônico e de acesso aberto. Muito nos honra, aos membros do Corpo Editorial de Circumscribere, a escolha da mesma para a publicação deste que, esperamos, seja apenas o primeiro de uma série de dossiês de qualidade destinados aos estudiosos da história da ciência. Deve ser, todavia, mencionado o nosso agradecimento às Profas. Ana M. Alfonso-MGoldfarb, Márcia H.M. Ferraz e Patricia Aceves, por terem coordenado a edição do dossiê no seu atua formato.

Diante das mais de cem páginas de profundos estudos sobre as fontes para estudos em história da ciência que, certamente, cativarão a atenção os leitores, não há palavras que tornem meritório qualquer indeferimento. Assim, só resta desejar aos leitores de Circumscribere uma boa leitura!

Silvia Waisse


WAISSE, Silvia. Editorial. Circumscribere, São Paulo, v.12, 2012. Acessar publicação original [DR]

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História da Ciência em Portugal / Revista Brasileira de História da Ciência / 2009

Este número da Revista Brasileira de História da Ciência traz uma novidade importante com relação aos seus números anteriores, a saber: a publicação de um dossiê temático. No presente caso, trata-se de um conjunto de três artigos sobre temas diferentes, guardando eles um ponto em comum: o de discutirem aspectos do desenvolvimento científico e tecnológico em Portugal. Em outras palavras, trata-se de um dossiê com enfoque na recente produção historiográfica portuguesa.

Como deve ser conhecido por todos aqueles que se interessam e / ou atuam no domínio da história da ciência, essa área vem passando, desde a última década do século XX, por um intenso processo de renovação e ampliação temática e em seus quadros de investigadores profissionais. A recente decisão do governo português de oferecer um apoio à História da Ciência, questão que foi debatida em congresso em meados deste ano, é um sinal positivo de que essa área do conhecimento já alcançou uma certa visibilidade acadêmica, sem deixar de mencionar a inserção internacional que também é crescente.

Também é sabido que a história da ciência não é um tema que apareceu há pouco tempo no cenário científico-universitário de Portugal. O interesse e a produção de historiadores portugueses, ou que se interessam por questões ligadas àquele país, são antigas, podendo-se mencionar os nomes de Joaquim de Carvalho, Luís de Albuquerque e Joaquim Bensaúde como exemplos significativos da produção portuguesa. Além de serem relevantes no cenário lusitano, os três nomes acima, aos quais poderiam ser acrescidos muitos outros, têm uma outra característica importante: seus artigos e livros discutiram questões relativas aos descobrimentos náuticos portugueses.

Como é de se esperar, tendo em vista o lugar periférico de que Portugal desfrutou durante longo período de tempo no cenário intelectual e político mundial, a produção historiográfica portuguesa dedicou-se, e muito, a tentar compreender as razões que impediram a penetração no país das ideias modernizadoras da chamada Revolução Científica da Época Moderna. Associada ao declínio econômico vivido pelo país e à força exercida pelo catolicismo, prevaleceu a tese de que Portugal, além de atrasado sob o ponto de vista científico, seria um exemplo de que a ciência não poderia ser praticada em ambientes culturais com essas características. Aceitou-se a tese de que Portugal, a partir de meados do século XVII, e até muito recentemente, tivesse sido como um deserto de ideias e instituições científicas e acadêmicas.

Hoje em dia, pode-se dizer que a conclusão do parágrafo acima é errada. Para que sua inexatidão pudesse ser afirmada e disseminada, foi preciso que em Portugal, como também no Brasil, se abandonassem certos padrões de análise historiográfica mais afeitos ao universo europeu e anglo-saxão. Em outras, certamente rápidas, palavras, foi preciso que a história da ciência fosse percebida como algo mais do que a mera descrição das hipóteses verdadeiras. A ciência se caracteriza por ser uma prática específica e não apenas por ser “produtora” de um certo tipo de conhecimento.

A atual produção historiográfica portuguesa não se limita a estudar eventos diretamente relativos à ciência e à tecnologia no país. É possível encontrar temas ligados à química quântica do século XX, à física clássica no século XIX e à mecânica quântica também no século XX. Ao lado da diversificação temática, já se pode verificar a presença de alguns poucos centros de investigação inteiramente dedicados à história e à filosofia da ciência, ainda que se possa lamentar o fato de que haja pouca interação entre eles – que são relativamente bem distribuídos pelo país. Com o passar do tempo, é de se imaginar que aumente essa interação, o que resultaria em benefícios para todos.

Os três artigos que compõem esse dossiê são um exemplo significativo das recentes mudanças no cenário português em história da ciência. Mas, antes de passarmos a uma breve descrição do seu conteúdo, gostaria de mencionar que, pelo menos desde a década de 1990, Portugal e Brasil têm fortalecido os seus laços de investigação em história da ciência. Penso que o exemplo mais relevante desse fortalecimento é constituído pelos três encontros luso-brasileiros ocorridos em Évora (2000) e no Rio de Janeiro (2003 e 2009). Além disso, pesquisadores dos dois países já atuam em conjunto produzindo livros e artigos sobre o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Os autores dos artigos desse dossiê já possuem larga trajetória no cenário da história da ciência, sendo, inclusive, bem conhecidos da comunidade brasileira. Um deles (Luís Miguel Carolino) trabalhou durante dois períodos no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MCT). Os outros autores são nossos frequentes visitantes, o que mostra o interesse que têm em preservar os laços com o Brasil.

O artigo de Carolino, presentemente no Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, será o primeiro analisado. Tendo por título “Cristoforo Borri e o impacto da nova astronomia em Portugal no século XVII”, o seu objetivo consiste em entender o papel desempenhado por Cristoforo Borri no cenário da ideias cosmológicas nesse país. Para isso, acentua-se a análise das teses e concepções que Borri apresentou em seu texto sobre a nova astronomia. Sinalizando a maturidade alcançada pelos historiadores portugueses, Carolino discute criticamente a historiografia existente, mostrando as suas limitações, ao mesmo tempo em que apresenta e sugere saídas renovadoras para pensar a ciência e o conhecimento em Portugal no século XVII.

O segundo texto – “A vida privada e o carácter do físico João Jacinto de Magalhães (1722-1790)” – é escrito por pessoa com visível presença no contexto acadêmico português, o físico de origem Manuel Fernandes-Thomaz – pertencente aos quadros da Universidade de Aveiro, que chegou a desempenhar importante papel no cenário português de ciência e tecnologia. Em seu trabalho, Fernandes-Thomaz retoma o assunto sobre o qual ele mesmo já tinha se pronunciado, além de ter sido muito debatido e comentado por outros historiadores, a saber: a vida e a obra de João Jacinto de Magalhães, filósofo natural português que acabou seus dias longe de seu país de origem. É objetivo de Fernandes-Thomaz discutir a historiografia conhecida sobre o seu “objeto” de estudo, revisando-a e corrigindo-a quando necessário.

O terceiro e último texto, resultado da colaboração de três investigadores, trata de um tema ainda pouco explorado não somente em Portugal, mas em muitos outros sítios: a ciência forense. Assim, esse artigo não é apenas importante por se tratar de uma colaboração, prática ainda pouco comum entre os historiadores da ciência, mas também por chamar a nossa atenção para um tema ausente do nosso campo de visão e análise. Em “António da Costa Simões e a génese da química forense em Portugal”, António José Leonardo, Décio Ruivo Martins e Carlos Fiolhais – todos da Universidade de Coimbra – partem da valorização de uma fonte ainda pouco usada, a revista O Instituto, para mostrar como António da Costa Simões, médico e professor da faculdade de Medicina, inovou no campo da detecção de substâncias tóxicas. Além das contribuições de Costa Simões, atenta-se para a decisiva transformação perpetrada por Macedo Pinto, igualmente médico, e que foi o responsável pela organização de um laboratório químico devidamente equipado.

São três os séculos (XVII, XVIII e XIX) focados pelos trabalhos presentes nesse dossiê. Se quisesse arriscar uma característica comum a eles, creio que diria que é a capacidade de mostrar, contra uma historiografia ainda dominante, que havia em Portugal, mesmo naqueles momentos vistos e entendidos como críticos, uma rica e interessante circulação de ideias, pessoas e visões de mundo. Como ex-editor da RBHC e profundamente interessado nos rumos da história da ciência em Portugal, é com muita satisfação que saúdo a decisão da atual editoria em nos dar a conhecer alguns dos mais recentes produtos da historiografia portuguesa. Que esse dossiê contribua para a criação de novos laços entre os nossos países, bem como para o fortalecimento e a consolidação dos atualmente existentes.

Antonio Augusto Passos Videira – Departamento de Filosofia / IFCH. Universidade do Estado Rio do Janeiro.


VIDEIRA, Antonio Augusto Passos. Introdução. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, jul. / dez., 2009. Acessar publicação original [DR]

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História da ciência | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2007

O presente dossiê foi concebido com o propósito de apresentar à comunidade brasileira de história, bem como aos interessados pela disciplina, um pouco do que atualmente se faz, em nosso país, no domínio da história da ciência. De modo algum, alimentou-se o objetivo de preparar um dossiê exaustivo e completo. A partir da escolha de certos temas, procuramos mostrar os assuntos, as perspectivas, tanto teóricas quanto metodológicas, que animam alguns dos profissionais que atuam nesse campo de investigação. As escolhas dos autores são deste editor. Já os temas abordados nos artigos foram escolhidos livremente por seus respectivos autores e, acreditamos, oferecem uma pequena mostra da diversidade de interesses intelectuais de nossa comunidade.

É antiga e ainda pouco conhecida a história da ciência em nosso país. Em parte, esse desconhecimento é causado por nossa ignorância sobre a história do Brasil. Mas ele também pode ser creditado ao fato de os trabalhos em história da ciência sofrerem (e muito) com a perspectiva (certamente ainda dominante entre nós) que aborda a ciência a partir de sua atual configuração universal, ou seja, a história da ciência preferencialmente investiga ou os resultados obtidos em cada uma das disciplinas científicas que constituem o cenário acadêmico de nossos dias, ou a constituição da própria ciência como disciplina autônoma ao longo dos séculos. Num país como o nosso, essa posição pode implicar conclusões equivocadas e mesmo prejudiciais, sendo talvez a mais notória aquela que defende que, durante o chamado período colonial, não teria existido ciência entre nós, como foi o caso de Fernando de Azevedo e seus colaboradores na obra seminal As Ciências no Brasil, editada pela primeira vez em 1955. Leia Mais