Tempo e Argumento | Infâncias e Juventudes: Perspectivas Transnacionais e Interseccionais | 2022

Maria Carolina Zapiola Imagem Soudcloud
María Carolina Zapiola | Imagem: Soudcloud

A presente seção temática procura aprofundar e ampliar os conhecimentos sobre a história social e cultural da infância e da juventude através de uma perspectiva transnacional e interseccional. Com esse fim, explora experiências, práticas, representações, identidades e saberes sobre as crianças na América Latina, incluindo textos sobre as infâncias no Brasil, na Argentina, na Colômbia e no Uruguai, que dão conta das particularidades e especificidades dos estudos da infância e da experiência das infâncias em distintos países e regiões.

Repensar a história social e cultural da infância resulta central no momento presente, em que considerações sobre a saúde e o bem-estar das crianças na América Latina são ainda mais relevantes diante dos efeitos da pandemia pelo COVID-19, momento em que desigualdades ligadas à raça, etnicidade, classe social, e gênero têm ficado mais intensas e inegáveis. Em 2020, milhões de crianças na América Latina e no Caribe sofreram com pobreza, violência e falta de serviços básicos de saúde e mais de 154 milhões não foram à escola (UNICEF 2020a). De acordo com a UNICEF, devido ao impacto da COVID-19, o número de crianças que vivem na pobreza aumentou em 21,7%, passando de 71,6 milhões a 87,1 milhões (UNICEF, 2020b). Ao mesmo tempo, inclusive aqueles que desfrutam de posições econômicas relativamente melhores, têm sofrido com depressão, isolamento e solidão na medida em que o crescente desemprego, inflação e a perda de milhões de vidas tem tido um efeito devastador em todas as famílias da América Latina. Como resultado, as crianças que experimentaram a pandemia perderam seu sentido de segurança, desafiado por instabilidades educacionais, de saúde, econômicas e políticas. Leia Mais

Infâncias, Direitos e Vulnerabilidades | Fronteiras – Revista catarinense de História | 2021

Sobre os Direitos Humanos ou ainda sobre João, Bilú e tantas outras crianças…

Nas Ciências Humanas, quando levantamos a bandeira dos Direitos Humanos, em diversas oportunidades, no tempo presente, estamos convencidos e convencidas de que nossos pares, que são também em parte nossos interlocutores, compreendem perfeitamente do que estamos falando. Direitos Humanos são direitos inerentes à vida humana, gestados a partir da noção de inviolabilidade de um corpo que é único, provido de uma dignidade que não pode ser alijada do ser a qual pertence, de um sentimento de empatia de um ser, a outro, que é o seu igual. Estes sentimentos que nos unem como gênero humano, e que foram construídos, nunca é demais dizer, trouxeram junto ao ideal de igualdade o seu oposto, que não é, paradoxalmente, a sua negação: a noção de diferente, cuja promoção à igualdade consiste num dos pilares daqueles Direitos Humanos em que acreditamos. A História dirá se essa noção, tão cara a nós, corresponderá a uma conquista permanente.

Ao narrar a história dos Direitos Humanos, a história de como foram “inventados” ao longo dos 150 anos que separam a Declaração de Direitos dos Estados Unidos da América (1776), e a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1948), Lynn Hunt1 assim definiu sua trajetória: uma cascata. De uma concepção limitada de cidadão, gestada no curso do Iluminismo francês, o que era do âmbito dos Direitos Humanos não deixou de ampliar-se: aos homens não católicos, aos não proprietários, aos não livres. Depois, abrangeu os (ainda) não capazes, como as crianças e os jovens, e finalmente, os não homens, as mulheres. Como se sabe, as demandas de grupos sociais por sua incorporação à lógica dos Direitos Humanos (do direito à diferença entre iguais) não cessou com a inclusão das crianças, dos jovens e das mulheres na perspectiva da cidadania. Continua, por exemplo, nas reivindicações das populações negras periféricas, ou naquelas oriundas do público LGBTQIA+, cujos direitos são sistemática e cotidianamente violados. Leia Mais