O interesse e a regra: ensaios sobre o multilateralismo | Gelson Fonseca Junior

O conjunto de ensaios sobre o multilateralismo reunido pelo embaixador Gelson Fonseca Jr em “O interesse e a regra” revelam as preocupações do autor sobre o papel a ser cumprido pela Organização das Nações Unidas na ordem internacional do século XXI. O livro é dividido em um artigo central, inédito, escrito depois de o autor ter deixado suas funções na ONU, e outro cinco artigos escritos há mais tempo, já publicados, que dialogam com o texto principal na medida em que tratam de temas que muitas vezes se cruzam e se complementam.

O artigo central discute a importância da referência de legitimidade emanada das Nações Unidas na dinâmica de contraposição constante que existe entre os interesses particulares dos Estados nacionais e o conjunto de regras e normas construído na arena multilateral. A busca pela legitimidade das ações internacionais dos estados nacionais no palco global é que faria a mediação entre o particular e o universal, entre a vontade individual e a norma multilateral. No texto, rico em exemplos históricos, fruto da vasta experiência do autor enquanto diplomata e estudioso das relações internacionais, o autor esquiva-se de se referenciar exclusivamente a uma linha teórica para entender o fenômeno do multilateralismo onusiano. Embora parte do artigo seja dedicada a desenvolver as idéias de John Ruggie, perspectivas funcionalistas, construtivistas e realistas alternam-se ao longo do texto. Frente à complexidade e à diversidade dos temas analisados, essa escolha se converte em um trunfo do artigo. Leia Mais

Le diplomate et l’intrus. L’entrée des sociétés dans l’arène internationale | Bertrand Badie

A obra “Le diplomate et l’intrus” demonstra como as categorias tradicionais de ação internacional evoluíram nos últimos anos, com especial ênfase na diplomacia. Em fato, nenhuma delas foi abolida, mas nenhuma delas pode ser considerada eficaz ou suficiente. A diplomacia, último refúgio da razão do Estado, é confrontada a uma demanda social crescente por maior participação nas questões de política externa. Deste modo, a diversificação dos atores na política internacional conduz a uma grande reflexão sobre o futuro da diplomacia e, principalmente, sobre o futuro do multilateralismo.

Bertrand Badie é professor de Ciência Política no Institut d’études politiques de Paris, e autor de várias obras, como L’État importé (1992); Un monde sans souveraineté (1999); Le retournement du monde. Sociologie de la scène internationale ; La diplomatie des droits de l’homme (2002); L’impuissance de la puissance (2004). Em Le Diplomat et l’intrus, Badie discute como os diplomatas precisam, hoje em dia, aprender a trabalhar com os novos atores internacionais. Partindo da hiperpotência norte-americana, passando por potências médias e emergentes, como França e Brasil, e as constestatárias, como Irã e Venezuela, o autor argumenta que analisar as relações internacionais implica não só estudar a política externa dos Estados, mas analisar também as relações entre sociedades e as forças sociais emergentes. Para tanto, definiu oito tipos diferentes de diplomacia: autárquicas, autônomas, clientelizadas, contestatárias, cooperativas, integradoras, soberanistas e burden-sharing. Com a globalização e os novos desafios políticos, anomias, conflitos e crises, todas oito construíram novas parcerias econômicas, culturais, associativas e até religiosas, constituindo uma “diplomacia privada” cada vez mais poderosa. Leia Mais