Four Nations Approaches to Modern ‘British’ History: A (Dis)united Kingdom | Naomi Lloyd-Jones e Margaret M. Scull

Naomi Lloyd Jones
Naomi Lloyd-Jones | Imagem: Royal Historical Society

Four Nations Approaches, as the editors acknowledge from the start, follows in the footsteps of a very solid tradition of edited collections, brought about by the rise of ‘New British History’ in the 1990s and early 2000s. Unlike the majority of that scholarship, however, this volume focuses on the modern rather than the early modern period: the stated aim of this chronology is that it allows the historian to transcend the discussion of ‘state formation’ (p. 5, and see also p. 62). Hugh Kearney’s ‘four nations’ label is adopted here to highlight the fact that ‘the extent to which’ England, Scotland, Ireland, and Wales ‘shared a “British” history is interrogated, rather than assumed’ (p. 6), and the approach remains ‘pluralistic’ rather than ‘wholeistic’ (p. 5). ‘Interactions’, instead of ‘integration’, form the focus of analysis (p. 5).

On the whole, there are two dangers that the volume sets out to avoid: the Anglocentrism which is residual in J. G. A. Pocock’s work, and, almost inevitably, in many political and state-centred histories; and a backstaging of the differences and peculiarities of each nation in an effort to look at how they fit into a British ‘whole’. This backstaging usually leaves behind especially Wales, tacitly subsumed into England, and—as Krishan Kumar has most eloquently noted—England itself, whose supposed essence is often reduced to positional dominance in the Union and in the Empire.(1)  In this historical moment, however, an explicitly dis-homogenising historiographical approach is made most relevant by the post-2016 trajectories not of Wales and England, but of Scotland and Northern Ireland (pp. 15-18). Lloyd-Jones and Scull are very aware of the risks of hindsight-thinking. That of coming to see the United Kingdom as less of a historical reality merely because of its present disgregation was an issue with which historians had to grapple already in the 1990s. (2) Yet in firmly choosing the Four Nations framework, and determinedly bypassing not only Anglocentric paradigms, but the very idea of ‘Britishness’, this book may well be riding an early wave of what will become the politically mainstream understanding of ‘British’ history. Leia Mais

September 11, 2001 as a Cultural Trauma | Christine Muller || How Nations Remember: a narrative approac | James V. Wertsch

Os livros September 11, 2001 as a Cultural Trauma (2017), de Christine Muller, e How Nations Remember: a narrative approach (2021), de James V. Wertsch, são obras desenvolvidas a partir duma sólida base interdisciplinar (com contribuições vindas da Psicologia, Sociologia, Antropologia, História, Ciência Política, entre outras) que abordam os temas da memória das nações e a importância de eventos traumáticos na respetiva memória. A presente resenha aos dois livros surge num momento oportuno da História Contemporânea, em que várias nações do mundo usam a memória para revisitar o seu passado, impulsionadas por derivas nacionalistas identitárias, por tentações revisionistas, ou por movimentos de contestação como o Black Lives Matter.

Passados vinte anos sobre o atentado terrorista do 11 de setembro, e depois de inúmeros artigos e livros sobre o trauma cultural associado à infame data, foi com muito interesse que analisei a obra de Christine Muller, que aborda o ataque terrorista como um case study de trauma cultural. O livro lançado em 2017 apresenta exemplos de produções culturais populares norte-americanas, em que a típica narrativa otimista e recompensadora do “sonho americano” é substituída por narrativas dominadas por crises existenciais, ambivalência moral e fins trágicos inevitáveis. Leia Mais

Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza | D. Acemoglu e J. Robinson

  1. Introdução

O livro de Daron Acemoglu e James Robinson, Por que as Nações Fracassam: As origens do poder, da prosperidade e da pobreza, é um trabalho de aproximadamente 15 anos de pesquisa.

Os autores são, indubitavelmente, respeitadas autoridades do assunto. Acemoglu é professor titular de Economia do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e detentor da medalha John Bates Clark, concedida a economistas com menos de 40 anos que tiveram uma considerável contribuição no pensamento econômico em nível global. Leia Mais

Why Nations Fail: The Origins of Power/ Prosperity and Poverty | Darou Acemoglu e James Robinson

From Adam Smith to the modern randomistas, economists have repeatedly asked themselves the same troubling question: what are the main drivers of sustained growth? Trying to provide an adequate answer to this problem, researchers have recently devoted their attentions to micro-level analyses, arguing that small, punctual measures lead to significant results in economic development. Policies such as providing de-worming treatments or offering nutritional supplements for school pupils, they claim, are very effective in reducing poverty and thus should be treated as a priority by those willing to promote economic growth around the globe. However interesting the micro- -level studies may be, they seem to miss the elephant in the room: small policy reforms can only be implemented in a relatively stable social structure, otherwise it is very unlikely that they will be carried out correctly, if at all. Therefore, macro elements still matter.

Daron Acemoglu and James Robinson bring the big picture back into focus. In Why Nations Fail, an ambitious and thought-provoking book, the authors assert that good institutions are the key for economic growth. According to Messrs Acemoglu and Robinson, it is politics –not geography, culture or ignorance – the factor that better explains the current disparities in the wealth of nations. Pluralistic political institutions create a level playing field where most citizens can, amongst other things, enjoy secure property rights, have access to an independent judicial system and develop their personal skills freely. These in turn foster technological innovation and economic activity, the critical engines of steady economic progress. In short, political freedom paves the way for prosperity. Exclusive institutions, in contrast, have disastrous effects on growth. In those environments, not only citizens do not have incentives to invest or innovate since most of their output will likely be expropriated by the governing elite, but also the powerful are not willing to accept creative destruction due to the challenges it may pose to their privileged economic or political status. As a result, although the elite may enjoy very high standards of living, the nation itself will at best stagnate or, at worst, fail. Leia Mais

O poder global e a nova geopolítica das nações | José Luís Fiori

Em O Poder Global e a Nova Geopolítica das Nações, José Luís Fiori tem o mérito de aproximar e, em alguns pontos, integrar as abordagens histórico-materialista e estratégico-realista das Relações Internacionais. O autor maneja o encaixe das abordagens concorrentes numa “teoria da acumulação do poder e da riqueza”, base de toda elaboração posterior, que irá culminar numa “teoria do poder global”. Assim fazendo, Fiori combina explanação histórica e determinação estrutural com análise de conjuntura, estratégia e tática, preenchendo espaços vazios da Teoria das Relações Internacionais.

Fiori parte da premissa de que as dimensões política e econômica determinam- se reciprocamente, sem que haja hierarquia ou precedência entre elas. Constata isso logo no Prefácio2 da obra, onde resgata a discussão entre as escolas da Economia Política Internacional. Lá trava diálogo pontual com os principais teóricos do “sistema-mundo”: André Gunder Frank, Immanuel Wallerstein e Giovanni Arrighi; do “imperialismo”, John Hobson, Rudolf Hilferding, Nicolai Bukharin e Vladimir Lenin; e da “teoria da estabilidade hegemônica”, Charles Kindleberger, Robert Gilpin e Robert Cox. Sociólogo do desenvolvimento de inspiração estruturalista, Fiori situa-se na tradição teórica do “sistema mundial moderno”; entretanto, situa-se com reservas, diferindo, como se verá adiante, dos pensadores expoentes dessa escola em pressupostos e diagnósticos decisivos. Depois segue em retrospecto o curso do tempo da “longa duração” rumo às origens da “economia-mundo” de Fernand Braudel. Retorna até o momento em que Karl Marx identifica a passagem do “modo de produção feudal” para o “modo de produção capitalista”, quando então se formavam os primeiros Estados nacionais, no interregno que vai do século XIII ao XVI. É nesse período fulcral da história ocidental que o autor identifica o embrião da simbiose única que, criadora do “milagre europeu”, faria da Europa o centro do poder e da riqueza mundial dos séculos seguintes: a união do poder político territorial com o capital privado.

Tal simbiose dará à luz as entidades que Fiori denominou “Estados-economias nacionais”, verdadeiras máquinas de conquista militar e expansão econômica, sobre cuja potência e capacidades já haviam refletido Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes. Conforme o autor, serão esses Leviatãs, governados por príncipes associados às burguesias nacionais, que irão encarregar-se da tarefa de expandir as fronteiras territoriais e incrementar o comércio e as finanças das nações da Europa, num movimento expansivo e inexorável que terá abarcado o globo todo antes do fim do século XIX. Fiori constata que o impulso e o dinamismo dessa expansão vêm da competição militar e econômica entre os Estados. Dialogando com Von Clauzewitz, o autor constata, ademais, que a guerra entra na arena quando os capitais sofrem bloqueios, continuando a política “por outros meios”. Como bem observaram Charles Tilly e Norbert Elias, com quem o autor igualmente dialoga, a guerra vem a se constituir no traço característico da história do sistema internacional e em elemento dinamizador do próprio “processo civilizatório”. O dado que explica a perenidade da guerra e da competição econômica seria o que Fiori denomina “pressão competitiva”.

De acordo com Fiori, na medida em que toda relação de poder político é assimétrica e está baseada num “jogo de soma zero”, a própria relação termina por exercer “pressão competitiva” sobre si mesma. Levada ao extremo das consequências, a “pressão competitiva” entre os Estados poderosos, em busca de maiores parcelas de poder, e Estados fracos, em defesa de sua independência e sobrevivência, torna-se “pressão sistêmica”. Em decorrência da pressão do sistema, os Estados irão inevitável e incansavelmente competir pelas posições econômicas e políticas de seus contendores.

Segundo o raciocínio do autor temos que: a “manutenção do poder” leva à “acumulação de poder”, e esta, à “acumulação de riqueza”, dado que o núcleo do poder assenta-se sobre bases materiais. Essas bases poderiam ser obtidas à força ou por via da produção, do comércio e das finanças, ou de uma combinação de meios coercitivos e econômicos, o que tem sido mais comum ao longo da história, tal como o demonstram o colonialismo e o imperialismo. Nesse caso, a “pressão competitiva” faria com que as classes governantes e as classes capitalistas, ainda que motivadas por interesses distintos – e por vezes divergentes –, somassem esforços no incremento do poder nacional, projetando força e internacionalizando a economia.

Para Fiori, nos tempos modernos, a conquista militar de territórios fiscais e coloniais teria dado lugar à conquista de “territórios econômicos supranacionais”, onde os “Estados-economias nacionais” impõem suas moedas e seus capitais privados ocupam posições monopolistas que lhes rendem lucros extraordinários. Os Estados que dessa forma se conseguem impor tornam-se “Estados-economias imperiais”. O exemplo mais eloquente desse fenômeno de projeção imperial do poder nacional seria os EUA. O “poder global” desse país estaria assentado, explica-nos o autor, sobre as bases de um vasto “território econômico supranacional” que após o fim da Guerra Fria passou a abarcar todo o globo. A “globalização econômica” que vem avançando desde as últimas décadas do século XX nada mais seria, continua o autor, do que a expansão do “território econômico supranacional” dos EUA.

Isso fica claro se tivermos em conta os elementos que, conforme Fiori, constituem e possibilitam o novo surto global de internacionalização do sistema capitalista. (1) As tecnologias de comunicação, informação e logística que viabilizaram a formação de um mercado financeiro global operante em tempo real e a descentralização dos processos produtivos foram desenvolvidas nos EUA. (2) As multinacionais dos EUA foram as pioneiras do processo e continuam figurando entre os maiores e mais importantes atores da globalização. (3) A moeda que serve de referência contábil e meio de pagamento do sistema financeiro internacional é o dólar norte-americano, sob controle de autoridade monetária norte-americana. (4) Os EUA detêm poder de decisão de última instância nos principais foros e regimes internacionais que estabelecem as regras e procedimentos de acordo com os quais os mercados são abertos, desregulamentados e privatizados.

Com relação à estabilidade do sistema internacional, Fiori defende que não são as diferentes geometrias de poder (unilateral, bilateral, multilateral) que a garantem, mas a ameaça de um grande conflito entre as potências que conformam o “núcleo dominante” do sistema. Porém, ressalva que, mesmo que a potência hegemônica não tenha rival a sua altura, a estabilidade sistêmica jamais se pereniza, pois a posição de hegemonia é sempre transitória. Isso ocorre porque a potência hegemônica, no afã de aumentar o seu poder, movida pelo imperativo da “competitividade sistêmica”, acaba por se desvencilhar das regras e instituições que sustentavam sua supremacia, mas que depois se tornaram constrangimentos. Como exemplo desse comportamento “autodestrutivo”, Fiori menciona os EUA e a crise que essa potência hegemônica provocou ao invadir o Iraque em 2003, na Segunda Guerra do Golfo, à revelia da ONU. O decreto de falência do sistema de convertibilidade ouro-dólar de 1973 é outro exemplo expressivo de rompimento com compromissos internacionais inconvenientes citado pelo autor.

É nesse ponto que Fiori se afasta de Wallerstein e Arrighi, a eles se opondo diametralmente. Wallerstein e Arrighi preveem o declínio do poder dos EUA e, em sequência, o colapso do “sistema-mundo”. Por seu turno, tal como Paul Kennedy, Fiori admite que, quando perdem posições econômicas, os Estados inevitavelmente perdem parcela da capacidade de sustentar a supremacia militar. Todavia, ressalva o autor, esse fato em nada altera o funcionamento do “sistema-mundo”, um sistema de acumulação de poder e riqueza em constante expansão, dinamizado pela competição econômica e pelo conflito armado, marcado pela ascensão, queda e sucessão de impérios e hegemonias.

Fiori prossegue a construção de seu “sistema mundial moderno” com a identificação de três categorias de “Estados-economias nacionais” em posição inferior na hierarquia internacional. São elas: (1) a dos Estados que se desenvolvem sob os auspícios das potências centrais (“desenvolvimento associado”); (2) a dos Estados que adotam a estratégia do catch up (alcançar o líder); e (3) a dos Estados da “periferia”, que fornecem insumos para as potências do “centro”.

Já concluindo, identifica também cinco transformações estruturais e de longo prazo operantes no início do século XXI: (1) a expansão do sistema internacional com a integração de novos Estados soberanos; (2) o deslocamento do eixo articulador da economia mundial para a Ásia (“eixo sino-americano”); (3) o crescimento da importância da China como centro articulador e “periferizador” da economia mundial; (4) a consolidação do sistema monetário internacional do “dólar flexível”, a aceleração da globalização e a expansão do “poder global” dos EUA; e (5) o assentamento de um eixo geopolítico da competição entre EUA e China.

Num balanço geral, a teoria de Fiori, crê o resenhista, é dotada de consistência, coerência e rigor. Tem grande força explicativa, e a história contemporânea, com seus desenvolvimentos recentes, é ponto a seu favor.

Notas

2. Com 27 páginas (13-40), o Prefácio desempenha do papel de marco teórico da obra.

George Wilson dos Santos Sturaro – Mestrando Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UFRGS. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected]


FIORI, J. L. O poder global e a nova geopolítica das nações. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007. Resenha de: STURARO, George Wilson dos Santos. Aedos. Porto Alegre, v.3, n.8, p.236-239, jan. / jun., 2011. Acessar publicação original

A política entre as nações: a luta pela guerra e pela paz | Hans J. Morgenthau

Coleção Clássicos Ipri vem conduzindo, desde 2001, a publicação de títulos internacionais inéditos ou esgotados da literatura especializada da área de relações internacionais no Brasil. Os volumes, que vêm acompanhados de prefácios redigidos por especialistas da área no Brasil, chegam ao mercado editorial em boa hora. A explosão de cursos de graduação na área, além do aumento da preocupação da própria sociedade com a chamada “agenda internacional” do país tem exigido uma compreensão muito mais sofisticada do sistema internacional e de seus impactos no plano doméstico.

A obra de Hans J. Morgenthau é a “jóia da coroa” da coleção, já que o volume é um divisor de águas na reflexão sobre a natureza e evolução da política internacional. Com efeito, a originalidade da obra está no seu objetivo de “descobrir e compreender as forças que determinam as relações políticas entre as nações” de forma sistemática, balizada por um arcabouço teórico que pretende ter um grande alcance explicativo da realidade internacional. Leia Mais

A Legitimidade e outras Questões Internacionais: Poder e Ética entre as Nações | Gelson Fonseca Júnior

Em seu livro A legitimidade e outras questões internacionais: poder e ética entre as nações, Gelson Fonseca Jr apresenta artigos resultantes de sua experiência ao longo dos últimos quinze anos como professor de Teoria de Relações Internacionais no Instituto Rio Branco. Sendo assim, o que se pode esperar do livro, e o que o livro realmente trás, é um conjunto de ensaios bastante intrigantes a respeito dos mais variados temas, tendo, contudo, na questão da legitimidade internacional seu ponto central (a ela, Fonseca Jr dedica dois artigos específicos).

Sendo fruto de sua experiência como professor, nada mais natural do que o fato de os textos contidos em A legitimidade assumirem um tom fortemente didático, mantendo Fonseca Jr um estilo que beira a conversação informal da sala de aula, sem, no entanto, perder o ar sério e professoral que marca os seus escritos. Leia Mais