Ensino de história e o ofício do historiador / Fato & Versões / 2016

É com imensa alegria que o Conselho Editorial da Revista Fato & Versões lança mais um número, este referente ao segundo semestre de 2016 cujo tema central é o Ensino de história e o ofício do historiador. Organizar um dossiê com esta temática neste tempo de retrocessos institucionais e de patrulha no trabalho dos professores não é uma tarefa fácil, porém extremamente necessária para divulgar as pesquisas nesta área e, ao mesmo tempo, atuar politicamente na denúncia dos projetos que o poder legislativo em todo país tentam impor a nossa disciplina.

O projeto conhecido como “escola sem partido” e o ataque às propostas de discussão de gênero na educação básica são as partes mais visíveis deste momento conservador e autoritário que vivemos.

Entendemos que a universidade pública e os cursos de história têm um papel político relevante em tempos como este. Cabem aos profissionais que atuam nestes lugares promover o debate e atuar para que estes retrocessos não sejam oficializados e, mais do que isso, colocar no espaço público pesquisas e visões sobre o ensino e os sujeitos que dele fazem parte para contrapor a estas concepções junto à população em geral.

Sabemos que a disputa é desigual em função da pequena capacidade de circulação destes trabalhos e de nossas revistas científicas, mas acreditamos cumprir uma função relevante ao criar espaços de debate que não são únicos e que podem chegar aos nossos colegas professores de outras universidades e de diversas instituições da educação básica.

Neste número da revista Fato & Versões temos uma variedade de artigos que tratam do ensino de história pensando a relação da universidade com a educação básica nas disciplinas de estágio e a necessidade da disciplina de intervir nas discussões vivenciadas na sociedade como no texto de Renilson Rosa Ribeiro e Luís César Castrillon Mendes. Este também é o tema do texto das pesquisadoras Jaqueline Aparecida Martins Zarbato e Vivina Dias Sól Queiróz que discutem o ofício do historiador e a importância da relação entre teoria e prática na formação inicial dos professores.

Em sintonia com os debates atuais as pesquisadoras Ana Carolina Eiras Coelho Soares e Esdra Basílio discutem sobre as relações de gênero a partir de imagens construídas do corpo feminino na mídia impressa e suas funções pedagógicas. O artigo destaca também a importância do movimento feminista como marco de disputas e de atuação histórica das mulheres.

Gilberto Cezar Noronha, Jaqueline P. Vieira da Silva e Rosemary Ribeiro recuperam a produção intelectual da revista Cadernos de História, da Universidade Federal de Uberlândia, para tratar do atual processo de revisão do ensino de História. A partir destes textos trazem valiosas contribuições para pensarmos sobre os embates vividos no país e os desafios do ensino de história na educação básica. Ainda no campo das reflexões sobre o ofício de professor e as condições de atuação na educação básica temos um texto bastante autoral de Elias Coimbra Silva que parte das suas próprias experiências nas escolas públicas de São Paulo para discutir as condições de trabalho e de luta dos docentes para garantir seus empregos.

Para finalizar o dossiê temos dois artigos que tratam mais especificamente das questões metodológicas. O texto de Maria Helena Gondim Almeida parte de suas experiências docentes da educação básica para mostrar o potencial do teatro na sala de aula como mediação entre o conteúdo e a prática didática. A autora destaca ainda no artigo as possibilidades desta proposta como instrumento para explorar a capacidade criativa dos alunos e aglutinar diferentes disciplinas para construção de uma prática pedagógica interdisciplinar. Fabrícia Vieira Araújo e Leandro Garcia Pinto analisam as políticas públicas voltadas para os Direitos Humanos e sua relação com a Educação. Os autores interpretam o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e discutem como esta política e suas visões chegam nos livros didáticos. O tema dos direitos humanos na educação é relevante neste momento por percebermos os embates na sociedade brasileira e a tentativa de retirada de uma série de direitos duramente conquistados por uma parcela significativa de trabalhadores brasileiros.

Este número conta ainda, com dois textos na seção de artigos. O primeiro de Juliana B. Cavalcanti discuti o mundo romano e sua relação com a escravidão destacando as relações de poder nas comunidades paulinas e problematizando as construções históricas da relação de Paulo com a escravidão. Por fim, temos o artigo da pesquisadora Elismar Bertolucci de Araújo Anastácio sobre o escritor Hélio Serejo (1902-2012). A autora busca a narrativa deste escritor para entender a construção das “fronteiras”, a ocupação territorial no sul de Mato Grosso e os sentimentos dos sujeitos fronteiriços nesta região.

Boa leitura a todos,

Renato Jales Silva Junior

Dilza Porto


SILVA JUNIOR, Renato Jales; PORTO, Dilza. Apresentação. Fatos e Versões. Campo Grande, v.8, n.16, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Diversidade Histórica: O Ofício do Historiador em Foco / Revista de Teoria da História / 2013

O Nono Número da Revista de Teoria da História destaca-se pela diversidade temática e analítica dos artigos publicados, uma vez que encontramos reflexões sobre História das Ciências, Memória, História Intelectual, Filosofia da História, Marxismo, Escrita da História, dentre outras, almejando contribuir com os historiadores que pensam seu próprio ofício.

Abordando questões caras à História das Ciências e à Filosofia da História, Gabriel Lopes Anaya, no artigo A “unidade harmoniosa de vida” em Ludwik Fleck e as relações multiespécie – por uma história submersa no agroval, dialoga com novas leituras de agência histórica na coexistência dos seres humanos e outras espécies; e Fred Maciel, no artigo Saber científico e pensamento pós-moderno: apontamentos de Jürgen Habermas e Jean-François Lyotard, reflete a respeito do saber científico na sociedade contemporânea a partir do debate entre Jürgen Habermas e Jean-François Lyotard. Leia Mais

O ofício do historiador: fontes e lugares da memória / Historiae / 2011

Prosseguindo uma trilha demarcada deste o final dos anos setenta, com a antiga Revista do Departamento de Biblioteconomia e História, com este número a Historiae – Revista de História da Universidade Federal do Rio Grande chega ao seu segundo ano de existência em sua nova fase, dedicada exclusivamente às abordagens de natureza histórica.

Buscando sempre aperfeiçoar-se, a Historiae, a partir desta edição, lançará alguns dossiês, sobre temáticas específicas relevantes à produção histórico-historiográfica. Nesse sentido, esta primeira coletânea traz ao público leitor a questão do ofício do historiador, com ênfase às fontes e aos lugares de memória. Tal enfoque cristaliza uma das grandes preocupações da ciência histórica, com discussões em torno do métier do historiador, suas áreas de atuação, os “domínios” do conhecimento histórico, os objetos de pesquisa e os pontos de intersecção entre história e memória.

Nessa linha, no âmbito do dossiê são abordados temas como o fazer histórico e a historiografia e as fontes históricas advindas das interfaces e conexões com a fotografia, os diários pessoais, o teatro, os manuscritos, a história oral e a memória. Apesar desse segmento mais específico, a Historiae mantém a sua tradição de também publicar artigos com diversificados assuntos, como o ensino da história, a história econômica a partir da análise da imprensa e as relações entre política, retórica e biografia.

Segue assim esta publicação dedicada à ciência histórica editada pela Universidade Federal do Rio Grande em seu intento de divulgar, através de significativo intercâmbio, a produção científica, acadêmica e cultural em torno do mais amplo prisma do saber histórico.

Francisco das Neves Alves – Presidente do Corpo Editorial


ALVES, Francisco das Neves. Apresentação. Historiae, Rio Grande- RS, v. 2, n. 1, 2011. Acessar publicação original [DR]

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O Ofício do Historiador / Revista Brasileira de História / 2003

O Ofício do Historiador, denominação cara a Marc Bloch, foi o título escolhido para o dossiê do último número da RBH preparado pelo atual Conselho Editorial. Desta vez, a proposta do dossiê não estabelece limites tão rígidos e, de várias maneiras, alcança os demais artigos, conferindo maior homogeneidade a todo o volume.

Este número tem outras peculiaridades. Aproxima gerações, pois ao lado de autores seniors — como Ulpiano Bezerra de Meneses – estão jovens pesquisadores em início de carreira — como Rebeca Gontijo ou Fabio Duarte Joly. Atravessa fronteiras geográficas, colocando ao lado de historiadores brasileiros, quatro outros que trabalham no exterior e que prepararam artigos especialmente para a revista: dois no México — Carlo A. Aguirre Rojas e Regina A. Crespo; um na Argentina — Hernán Sorgentini; e outro na Alemanha — Débora B. Alves. Este é um claro sinal do quanto a RBH se firmou como pólo de qualidade atraindo a atenção para além dos limites nacionais.

Os artigos que compõem o dossiê apresentam abordagens de natureza teórica ou historiográfica. O de Ulpiano Bezerra de Meneses, que abre o número, dialoga com a História da Arte, a Antropologia Visual, a Sociologia Visual, propondo “algumas premissas para a consolidação de uma História Visual”. Em seguida, o de Diana Gonçalves Vidal e Luciano Mendes de Faria Filho analisa a constituição do campo da História da Educação no Brasil e da construção de uma certa identidade, ainda que multifacetada e plural, do historiador da educação. Os textos de Carlos A. Aguirre e de Hernán Sorgentini refletem criticamente sobre a relação entre produção do conhecimento histórico, memória e tradição, detendo-se ambos no trabalho de Carlo Ginzburg. Rebeca Gontijo escolheu estudar Manoel Bomfim com a intenção de captar este “pensador da História” na Primeira República brasileira. As fontes para o historiador são discutidas por Débora B. Alves que indica os problemas particulares suscitados por cartas de imigrantes alemães escritas nas “distantes” fazendas fluminenses e publicadas em jornais alemães na metade do século XIX.

Os artigos que se seguem também nos conduzem ao cruzamento de outras fronteiras. O texto de Regina Crespo estuda as viagens ao Brasil de dois intelectuais mexicanos, José Vasconcelos e Alfonso Reyes que, depois da “descoberta” da “outra” América Latina, estabelecem rotas de aproximação entre os dois países. Beatriz Domingues reflete sobre os escritos de dois jesuítas mexicanos, Venegas e Clavijero, a respeito da “longínqua e árida” Baixa Califórnia, no século XVIII, que nos levam a dimensionar encontros culturais e religiosos muito particulares. Indicando como os temas e questões da História Antiga continuam controversos, Fábio Joly dialoga e discorda da historiografia sobre Columela, mostrando que a perspectiva desse autor em torno da organização do trabalho escravo na propriedade rural na Roma imperial se apóia não apenas em critérios econômicos mas também políticos.

Entrando no espaço brasileiro, Marcus Carvalho retoma a questão da atuação de agentes sociais (no caso provenientes das camadas subalternas) e suas relações com a haute spolitique partidária, num momento histórico conturbado, a Insurreição Praieira de 1848. No período contemporâneo, Joana Pedro, ao estudar a memória das mulheres sobre sua vivência com os contraceptivos, proporciona o encontro da experiência privada de cada uma delas com o espaço eminentemente político das propostas de planejamento populacional em nosso país. Fechando este número, uma importante entrevista de Jacob Gorender a Waldir Rampinelli, sobre o PCB; e as resenhas que, como sempre, contribuem para uma profícua discussão historiográfica.

O Conselho Editorial, com muito pesar, recebeu a notícia do falecimento da grande historiadora brasileira, Alice Piffer Canabrava, ex-presidente da ANPUH e fundadora da Revista Brasileira de História. Assim, decidiu prestar sua homenagem a ela, dedicando-lhe este número da revista.

In Memoriam
Alice Piffer Canabrava (1911-2003)


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.23, n.45, jul, 2003. Acessar publicação original [DR]

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