Pedidos, oferendas e ex votos / Revista Brasileira de História das Religiões / 2019

Esta é uma edição que traz à lume as súplicas, as oferendas e os ex-votos que evidenciam as várias formas de crer e de pedir intervenções sobrenaturais para enfrentar os desafios do cotidiano. O volume ora divulgado apresenta trabalhos que analisam práticas votivas e seus significados, simbologias, ações e objetos, assim como suas implicações na vida dos fiéis.

A edição inicia com um texto de Caroline Perrée que discute a sala dos milagres. A partir da elaboração das tipologias de ex-votos no contexto mexicano a autora explora a compreensão dos bens figurativos, metonímicos e simbólicos das peças depositadas pelos fiéis nas salas de milagres. Já Luís Américo Silva Bonfim lança-se a proposição de um sistema de registro e estudo taxonômico de expressões votivas no campo católico, em especial. Mapeando e analisando mais de duzentos sítios devocionais no Brasil e países sul-americanos, o autor produziu uma sinopse estilográfica e esquemas taxonômicos voltados à função da oferta votiva, ao índice canônico, às propriedades signicas e às formas expressivas dos ex-votos. Ambos os trabalhos que abrem a chamada temática, portanto, contribuem na proposição de elementos metodológicos para avaliação do rico arsenal votivo que encontramos em espaços sagrados voltados à adoração e ao agradecimento de fiéis.

Um segundo bloco de artigos traz estudos de caso. Maria Gargante Llanes avalia a presença de ex-votos na Catalunha partindo de registros escritos, quais sejam, uma topografia mariana do século XVII e uma novela do início do século XX. Lucas Bilbao, por sua vez, apresenta aspectos da religiosidade paroquial e de freguesias da região da campanha de Buenos Aires, na segunda metade do século XIX. O autor volta-se à análise de celebrações religiosas públicas, a materialidade das devoções e as evocações comunitárias.

O artigo de Wesley Fernandes Rodrigues aborda as representações das figuras santas em objetos votivos dos séculos XVIII e XIX no cenário luso-brasileiro, cotejando-as com as diretrizes do Concílio de Trento. Um olhar aos romeiros do Senhor dos Passos, em São Cristóvão / Sergipe, foi o foco do trabalho de Magno Francisco de Jesus Santos. A chamada finda com as discussões encetadas por Edilece Couto e Milton Moura sobre as práticas devocionais ao Caboclo e Cabocla, nos festejos de 2 de Julho, na Bahia, celebração esta que comemora a independência baiana. A integração entre uma festa civil e as idiossincrasias de oferendas legadas às entidades evidencia a fluidez, porosidades e complexidade do cenário sócio-cultural baiano.

O volume traz ainda artigos de Luiz Alexandre Solano Rossi e Érica Daiane Mauri sobre mitologias; de Alfredo dos Santos Oliva e Ricardo Mendes acerca das igrejas-base da Diocese de Apucarana; e de Edite Rocha e Vinicius Eufrásio sobre as práticas de sufrágio e cantoria dos cidadãos de Cláudio / MG. Findando a edição da RBHR temos duas resenhas, de Helmut Renders e de Karin Helena Antunes de Moraes.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Gizele Zanotto

Patricia Fogelman


ZANOTTO Gizele; FOGELMAN, Patricia Alejandra. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.12, n.34, maio / ago. 2019. Acessar publicação original [DR]

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Transe, êxtase e possessão / Revista Brasileira de História das Religiões / 2018

Caro leitor,

Com muita alegria lançamos a edição n. 31 da Revista Brasileira de História das Religiões, publicação vinculada ao Grupo de Trabalho de História das Religiões e das Religiosidades (GTHRR) da Associação Nacional de História (ANPUH). Esta edição traz como norte das reflexões dos pesquisadores os transes, êxtases e possessões que marcam tantas crenças.

A chamada temática é iniciada com um artigo de Vanda Fortuna Serafim, que se debruça sobre os fenômenos de transes, êxtases e possessões voltando seu foco para as crenças afro-brasileiras. O texto traz instigantes reflexões conceituais e abre com propriedade esta sessão da Revista. Na sequência o artigo de Linderval Augusto Monteiro e Ana Maria Vallias Silveira aprofunda a reflexão sobre o pensamento de Roger Bastide, especificamente acerca da noção de existência. O terceiro texto voltado às questões da religiosidade afro-brasileira é de autoria de Paulino de Jesus Francisco Cardoso e de Lisandra Barbosa Macedo. A reflexão dos autores trata da musicalidade, dos ritmos e melodias, bem como das relações dessas com o corpo, em crenças afro-brasileiras.

David Mesquiati Oliveira e Kenner Roger Cardozo Terra voltam sua perspectiva analítica para a questãos do êxtase na experiência religiosa pentecostal evidenciando a manifestação e sua importância na hermenêutica dessa matriz. Finalizando a sessão da chamada temática, temos o texto de Denise da Silva Menezes do Nascimento analisando os êxtases e visões de Mechthild de Magdeburb, religiosa beguina que registrou sua experiência produzindo as fontes em avaliação pela autora.

A sessão artigos livres traz textos de variadas temáticas, evidenciando a proficuidade das análises do campo religioso contemporâneo. Entre os temas abordados temos reflexões metodológicas, discurso espírita, secularização em Portugal, exvotos, devoção católica em articulação à crenças e práticas afro-brasileiras, deuses nórdicos, movimentos de matriz oriental e avaliação de lideranças religiosas.

O volume find com uma resenha instigante para estudiosos das religiões e, sobretudo, da história do catolicismo.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Gizele Zanotto

Editora da Chamada Temática


ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.31, n.11, maio / ago., 2018. Acessar publicação original [DR]

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Mito e Religiosidade Nórdica / Revista Brasileira de História das Religiões / 2015

Caro leitor,

É com imensa satisfação que apresentamos o vigésimo terceiro volume da RBHR com a temática Mito e Religiosidade Nórdica, organizado pelo Prof. Dr. Johnni Langer, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenador do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE), a quem expressamos nossa gratidão pela dedicação, seriedade e qualidade do trabalho realizado.

Iniciando a edição, o Prof. Langer apresenta um panorama dos estudos sobre religiosidade nórdica e a visibilidade por estes alcançados na academia brasileira nos últimos anos. Abrindo as discussões temáticas temos o artigo Vaningi: O javali e a identidade dos Vanir, de autoria de Hélio Pires, seguido por As runas de Cristo – aspectos da conversão da Escandinávia Medieval na Idade Média Tardia, de Álvaro Bragança Júnior. O terceiro artigo, Representações de honra e vingança na Mitologia Nórdica, é de Flavio Palamin. Contamos ainda com Oseberg: rito, mito e memória na construção da identidade nacional norueguesa no século XX, de Mário Jorge Bastos e Munir Ayoub; além de Discutindo o Xamanismo no Mito e na Literatura Escandinava: uma breve revisão historiográfica, escrito por Maria Emília Monteiro Porto e Pablo Gomes de Miranda.

A Saga do Santo Jón, de Arno Maschmann de Oliveira e André Araújo de Oliveira, é o sexto artigo apresentado; logo em seguida contamos com A sacralidade que vem das taças: o uso de bebidas no Mito e na Literatura Nórdica Medieval, de Luciana de Campos e A descoberta do Horizonte, a cristianização dos Vikings na América, de autoria de Gleudson Cardoso, José Lucas Fernandes e André Santos. O penúltimo artigo intitula-se O simbolismo da águia na religiosidade nórdica pré-cristã e cristã, escrito por Johnni Langer, Ricardo Menezes de Oliveira e Andressa Ferreira e, por fim, temos o texto Uma pequena igreja, um grande almofariz cultural: iconografia céltica religiosa em Kilpeck, Inglaterra, século XII, de Elisabete Leal e Amanda Basilio Santos.

A edição conta ainda com três artigos livres. São eles: “Esta religião sobre a qual todos os homens concordam” – a invenção da maçonaria, uma revolução cultural entre religião, ciência e exílios, de Dévrig Mollès e que analisa o interesse crescente pela Maçonaria na América Latina. Pensando esta realidade sociólogos e historiadores das religiões, das relações internacionais ou das ciências regularmente salientarem sua importância nos processos de modernização do século XIX. O autor aponta como, apesar de ser uma questão ainda pouco conhecida na América Latina, a sua atualidade não é duvidosa: o mostra, por exemplo, o persistente conflito ideológico com a Igreja Católica. Para alimentar a compreensão e a reflexão sobre estas questões, o autor questiona qual foi a relação entre a criação da Maçonaria e a revolução cultural do século XVIII, o século do Iluminismo, da ciência e da razão?

O segundo artigo livre, de autoria de Jérri Marin, intitula-se A construção de imagens de D. Carlos Luiz D’Amour durante as visitas pastorais pela diocese de Cuiabá em 1885 e 1886, e analisa as imagens construídas acerca do bispo D. Carlos Luiz D’Amour e da sua gestão durante as duas visitas pastorais que realizou em 1885 e 1886 ao norte e ao sul da diocese de Cuiabá. As fontes são os relatórios das viagens que foram publicados em 1886 e 1890. Por fim, Paulo Rogério Melo de Oliveira, em Padre Roque González: entre a história e a hagiografia, interpreta as biografias / hagiografias escritas em homenagem e em prol da beatificação e santificação do padre Roque González de Santa Cruz, na primeira metade do século XX, buscando perceber como as obras, escritas por jesuítas historiadores, situam-se numa fronteira difusa entre a história e a hagiografia. A edição conta ainda com resenhas de dois livros, quais sejam, Buscando el Reino. La opción por los pobres de los argentinos que siguieronal Concilio Vaticano II e Fim da era constantiniana: Retrospectiva genealógica de um conceito crítico, produzidas respectivamente por María Andrea Nicoletti e Sebastian Pedro Pattin Correio.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Vanda Serafim

Gizele Zanotto

Editoras


SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.8, n.23, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Devoções, festas e sociabilidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2015

Caros leitores!

É com imensa satisfação que apresentamos o vigésimo primeiro número da Revista Brasileira de História das Religiões!

Nesta edição contamos com artigos em torno da temática “Devoções, festas e sociabilidades”, resultante do V Encontro do GT História das Religiões e das Religiosidades da Associação Nacional de História (GTHRR-ANPUH), realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), de 01 a 04 de dezembro de 2014. Nosso especial agradecimento às coordenadoras do evento, professoras Edilece Souza Couto e Elizete da Silva, que tornaram possível mais um debate qualificado e relevante para a temática das religiões e religiosidades e, junto a isso, a consolidação progressiva do GTHRR. “

Devoções, festas e sociabilidades” foi o tema desta edição do encontro, que oportunizou produtivas discussões, agregando significativas contribuições às nossas pesquisas e à nossa atuação docente. O evento contou com duas conferências proferidas pelas prefessoras Dra. Patrícia Folgeman (UBA) e Dra. Solange Ramos de Andrade (UEM).

As mesas-redondas versaram sobre variadas manifestações religiosas, contando com a presença dos seguintes profissionais: Eliane Cristina Deckmann Fleck (UNISINOS), Marta Borin (UFSM), Renata Siuda-Ambroziak (Universidade de Varsóvia Polônia), Antonio Lindvaldo Souza (UFS), Jânio Roque Castro (UNEB), José Roberto Severino (FACOMUFBA), Cândido da Costa e Silva (UCSAL), Edilece Souza Couto (UFBA), Mauro Passos (UFMG), Francisco Cancela (UNEB), Maria Hilda Baqueiro Paraíso (UFBA), Milton Araújo Moura (UFBA), Artur César Isaia (UFSC), Ileana Hodge (Universidad de Cuba), Vanda Fortuna Serafim (UEM), Fabrício Lyrio (UFRB), Íris Verena Oliveira (UNEB), Marli Geralda Teixeira, Elizete da Silva (UEFS), Lyndon Araújo (UFMA), Vasni Almeida (UFT), Leonardo Ferreira de Jesus (Rede Estadual da Bahia), Marcos Diniz (UECE) e André Luis Mattedi Dias (UFBA).

Essa edição da RBHR propriamente dita compõe-se de trabalhos que evidenciam a proficuidade dos estudos temáticos. O texto que abre as discussões “Festas, Devoções e sociabilidades” é uma contribuição da historiadora Patrícia Folgeman e contempla, de modo emblemático, um esforço que perpassa os demais trabalhos, isto é, pensar a “religião” e suas interfaces com outros conceitos utilizados na historiografia como “religiosidade” e “religiosidade popular”, contemplanto o uso de imagens, a criação e circulação de discursos religiosos e as redes de relações sociais derivadas de grupos e instituições.

O texto de Renata Siuda- Ambroziak trata das devoções marianas oficiais em análise comparativa do Brasil e Polônia, especificamente das crenças e práticas em prol de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora do Monte Claro, evidenciando suas aproximações e singularidades. Ainda analisando as crenças e práticas em honra a Nossa Senhora, Marta Rosa Borin avalia as tensões e conflitos referentes à devoção mariana no Rio Grande do Sul no início do século XX. Sua abordagem avalia as devoções a Nossa Senhora Medianeira Mediadora de Todas as Graças e A Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schöenstatt e as tentativas de consolidação e hegemonia aventadas pelos propulsores de cada devoção.

Eliane Cristina D. Fleck atém-se a devoção e piedade dos índios Guarani manifestas na religiosidade das missões jeusítico-guaranis do século XVII, a partir da documentação das Cartas Ânuas, analisadas pela autora. Mauro Passos, por sua vez, avalia a plasticidade da tradição religiosa e da sociabilidade do Congado no interior de Minas Gerais, salientando as idiossincrasias entre a religião oficial e a religiosidade popular ante tais práticas. Um olhar para as práticas devocionais também é foco de análise de Edilece Souza Couto, que em seu artigo atenta para as irmandades e ordens terceiras existentes em Salvador / BA, analisando as transformações arquitetônicas e legais que incindiram sobre as práticas religiosas ali realizadas.

A cultura e a religiosidade indígena e afro-brasileira também estão contempladas nos artigos de Francisco Cancela, Artur Cesar Isaia e Vanda F. Serafim. Cancela apresenta resultados de sua pesquisa acerca dos rituais mágico-curativos realizados em Porto Seguro entre os séculos XVIII e XIX. O autor evidencia o quanto práticas qualificadas como bebedeiras, batuques e superstições pelas autoridades evidenciavam a criatividade de seus partícipes em afirmar, reiventar e ressignificar valores tidos como oficiais para manter elementos de sua cultura. Para tanto o autor evidencia os intercâmbiso culturais e a socibilidade interétnica que se estabeleceram em um contexto de políticas de políticas assimilacionistas empreendidas pelas lideranças luso-brasileiras. Artur Isaia, em análise acerca do papel e atuação dos intelectuais da umbanda, evidencia seu esforço em compreender e “nomear” (termo do autor) a realidade do país considerando a própria religião como um de seus elementos base, “a” religião nacional. Vanda Fortuna Serafim atém-se ao intelectual Raimiundo Nina Rodrigues para analisar como as crenças e as devoções afro-brasileiras foram lidas pelo autor. Em especial, a autora acompanha as digressões de Nina Rodrigues concernentes ào conceito de festa. Revista Brasileira de História das Religiões.

Encerram o eixo temático dois artigos que versam sobre práticas e discursos. Marcos José Diniz Silva dedica-se a analisar o jornal O Nordeste de matriz católica e a construção de representações e valorações negativas ao espiritismo nos anos 1920. Seu foco prende-se aos mecanismos de condenação da crença espírita em expansão no sertão do Ceará. Por sua vez, o texto de Elizete da Silva pontua o investimento educativo e social dedicado às mulheres pelas religiões protestantes.

A Revista conta ainda com dois artigos livres. Em A cura dos corpos e a libertação das almas, Marilane Machado analisa como os discursos da Teologia da Libertação reverberaram na Pastoral da Saúde de Florianópolis / SC, em um contexto de extrapolamento da ação de instituições hospitalares e religiosas para a atuação junto às comunidades. Ana Rosa Cloclet Silva e Laís da Silva Lourenço, com o texto Entre a política e a religião, atém-se aos discursos difusos pelo semanário O Justiceiro , editado pelos padres Diogo Antônio Feijó e Miguel Arcanjo entre 1834 e 1835. Seguem-se a estes artigos livres duas resenhas, a primeira, de Marcos José Diniz da Silva, que apresenta a obra Do outro lado. A história do sobrenatural e do espiritismo, de Mary Del Priore; e a de Diego Omar da Silveira, que evidencia as discussões existentes na obra Intelectuais e militância católica no Brasil, organizada por Cândido Moreira Rodrigues e Christiane Jalles de Paula.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Vanda Serafim

Gizele Zanotto


SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.7, n.21, jan. / abr., 2015. Acessar publicação original

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Mídia, Religiões e Religiosidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2014

A vigésima edição da Revista Brasileira de História das Religiões conta com um Dossiê sobre Mídia, Religiões e Religiosidades.

Ao pensarmos nas formas de difusão de informações, visões de mundo, representações e ideias religiosas nos séculos XX e XXI, torna-se necessário lidar como outros tipos de suporte, tais como rádio, televisão, computador, cinema e ciberespaço. Torna-se, portanto, um desafio ao historiador refletir sobre os meios de expressão, adotados pelas religiões e religiosidades, intencionalmente ou não, para transmitir uma mensagem, seja por um canal específico ou por meios de comunicação de massa.

O dossiê Mídia, Religiões e Religiosidades, organizado por Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho, conta com seis contribuições. São elas: “Mediatización televisiva de los rituales religiosos: Las Mañanitas a la Virgen de Guadalupe” de Margarita Zires – que trata sobre o uso dos meios de comunicação e processos rituais no México; “Apocalipsis maya: una creencia posmoderna en la era de la información” de Renée de la Torre e Lizette Campechano – que analisam a importância das indústrias culturais e dos meios de comunicação e seu papel ante as profecias de fim dos tempos de 2012; “A representação do Ritual Romano de Exorcismos no filme O Exorcista (1973)” de Solange Ramos de Andrade e Michel Bossone – dedicados a compreender os meandros entre crenças e cinema com um etudo de caso; “Educação e produção de subjetividades da intolerância: As novas fronteiras da intolerância com a Umbanda” de Sidney Nilton de Oliveira – dedicado a analisar como grupos conservadores e fundamentalistas, em especial os neopentecostais, lidam com a umbanda; “Complexidades da religiosidade afro-brasileira no “terreiro” do ciberespaço” de Cristiana Tramonte – que se volta à análise de outras formas de organização e crença de grupos de religiosidade afro-brasileira; e “Ciberespaços para a crítica: Difusão e imagens da Igreja Universal pelo ciberespaço latino-americano” de Marcelo Tadvald – que analisa aprsença da IURD no espaço virtual.

Agradecemos a colaboração de Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho na organização do dossiê!

Em diálogo com a temática das Mídias, temos ainda duas comunicações: “Feições político-midiáticas da concorrência cristã brasileira” de André Ricardo de Souza, Giulliano Placeres e Vinicius Manduca e “Tradição oral e novas tecnologias no candomblé da metrópole” de Ivete Miranda Previtalli.

Na Seção “Artigos Livres”, que conta com 6 artigos, temos as contribuições de Eliane Cristina Deckmann Fleck e Mauro Dillmann, Fabio Augusto Scarpim, Beatriz Teixeira Weber e Renan Santos Mattos, Ronaldo de Oliveira Rodrigues, Andreia Martins e Gizele Zanotto.

Por fim, concluímos com as resenhas de Anna Maria Salustiano e Emerson Sena da Silveira, respectivamente sobre as obras Religiões e Religiosidades no (do) Ciberespaço e Religião e Juventude: os novos carismáticos.

Boa leitura!

Vanda Serafim

Gizele Zanotto


SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.7, n.20, set.., 2014. Acessar publicação original [DR]

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Facetas do Tradicionalismo Católico no Brasil / Revista Brasileira de História das Religiões / 2013

Há muito tempo o tema do tradicionalismo católico foi relegado pelos estudiosos ao segundo plano no Brasil. Personagens históricos como Geraldo de Proença Sigaud, Antônio de Castro Mayer, Antônio Mazzarotto, Gustavo Corção, Plínio Corrêa de Oliveira, entre outros, foram postos no ostracismo da história do catolicismo brasileiro. Contextualmente, os tradicionalismos católicos – também chamados de integrismos e conservadorismos – originaram-se no século XIX no interior de grupos clericais e leigos em reação à ascensão de um catolicismo progressista, calcado em premissas da Revolução Francesa e das perspectivas abertas pela ciência moderna.

Em geral, os tradicionalistas baseiam seu pensamento político-religioso em documentos do Concílio de Trento (1543-1563) e em documentos de santos, filósofos, teólogos e pontífices que se destacaram pela crítica ou mesmo pela recusa do mundo moderno, principalmente os pontificados antiliberais do século XIX. Dessa forma, tais grupos formaram-se em oposição a outros, defensores de mudanças expressivas na vivência da fé, na interpretação da mensagem revelada e na atuação mais engajada em assuntos político-sociais (os chamados catolicismos moderno, progressista ou social).

É mister indicar que essa tendência do catolicismo contemporâneo não foi estudada em sua profundidade, principalmente no Brasil. Preocupados com as novas formas de atuação política, que convidavam os cristãos a uma atitude prática frente à vida social do país e que levaram à proximidade com a esquerda política, muitos estudiosos viam nesses personagens a encarnação do que havia de mais retrógrado e reacionário, e, por isso, não mereciam nem mesmo o olhar da academia. Contudo, nesse átimo histórico, esses mesmos personagens tradicionalistas e o pensamento vinculado a eles retornam como fantasmas quando o então papa Bento XVI tomou atitudes como o moto proprio Summorum Pontificum Cura, fazendo emergir questões de fundo que muitos achavam esquecidas ou superadas: a presença do latim na liturgia, a busca de uma fidelidade mais profunda ao Sumo Pontífice e o questionamento a qualquer tipo de transigência com a modernidade e seus valores.

Para muitos a situação configura-se como a de um retorno a modos de vivência e expressão de fé tidas como incompatíveis com os “tempos modernos”, mas que, num olhar atento, evidenciam sua permanência – mesmo que às margens da teologia dominante – e, por que não, sua consistência teológica. Dessa forma, o dossiê Facetas do tradicionalismo católico no Brasil visa responder às necessidades historiográficas e conjunturais que, indubitavelmente, se impõem. Por iniciativa de um grupo de pesquisadores que estudam o tema mais detidamente, a obra visa demonstrar, sob várias perspectivas e olhares, alguns momentos importantes da história do tradicionalismo católico brasileiro.

O professor Ivan A. Manoel, no instigante texto que inicia esta coletânea, se propõe a discutir as origens do tradicionalismo católico, atentando para o fato de que as religiões – não somente a católica – são essencialmente tradicionalistas, no sentido de que a conservação da tradição está no fundamento de qualquer crença religiosa. O catolicismo é uma religião que está ancorada na tradição judaico-cristã e luta intensamente para preservar e reproduzir, especialmente quando se trata de conservar seu lugar destacado nas sociedades em que têm ou tiveram ascendência em dado contexto histórico. No ensaio “Origens do tradicionalismo católico: um ensaio de interpretação”, Manoel defenderá a tese de que o tradicionalismo católico, visando justamente manter e / ou forjar uma tradição, produziu uma concepção de história ancorada nos conceitos retilinear e pendular do processo histórico. A análise da doutrina elaborada pelo tradicionalismo bem como de suas implicações práticas e conceituais é o foco do texto em questão.

O vínculo intelectual entre o pensamento conservador tradicionalista ou conservador contrarrevolucionário e a Revolução Francesa é o mote de análise do texto “Expoentes do pensamento conservador: conservadores tradicionalistas e contrarrevolucionários”, de Cândido Moreira Rodrigues. Lançando luzes ao pensamento de Joseph de Maistre, Louis de Bonald, Juan Donoso-Cortés e Edmund Burke, o autor apresenta os elementos de condenação desses intelectuais à Revolução Francesa e aos seus desdobramentos, enfatizando como tais consequências afetaram o pensamento e a vivência católicos contemporâneos e sucessórios de forma indelével. Evidenciando que fora, sobretudo, a partir desses pensadores que se pautou o pensamento católico conservador dos séculos XIX e XX, Rodrigues finda o texto evidenciando a atualidade do debate mais pormenorizado sobre as próprias raízes do ideário do tradicionalismo católico contemporâneo.

Patrícia Carla de Melo Martins, por sua vez, atenta para a normatização religiosa pautada pelo ideário do tradicionalismo católico, com base na análise de regulamentos instaurados durante o bispado de Dom Antônio Joaquim de Melo (1831-1861) no contexto paulista. No artigo “Moralidade e tradicionalismo católico no século XIX: Códigos de conduta do Seminário Episcopal de São Paulo”, a autora destaca a importância das reformas efetivadas no Seminário Episcopal de São Paulo que, de certa forma, acabaram por refletir a própria reforma conservadora do clero paulistano.

A proposta da professora Tereza Malatian no ensaio “Tradicionalismo monarquista (1928-1945)” é discutir as relações existentes entre a doutrina católica conservadora e o contexto de renovação cristã vigente a partir dos anos 1920 com a formação e atuação dos membros da Ação Imperial Patrianovista Brasileira (AIPB), entidade que reuniu um grupo de intelectuais preocupados em analisar as relações entre Igreja e Estado, bem como em criticar as bases do regime republicano instaurado no país. Ao analisar os elementos basilares do patrianovismo, entre eles a eleição da religião como fundamento de sua proposta política, a autora evidencia a singularidade desse movimento monarquista, nacionalista e cristão, no contexto das primeiras décadas do século XX.

No texto intitulado “Em defesa da Ação Católica: Plínio Corrêa de Oliveira, um baluarte da tradição”, o pesquisador Rodrigo Coppe Caldeira analisa a obra Em defesa da Ação Católica (1943), redigida pelo católico leigo Plínio Corrêa de Oliveira. Com base em uma concepção ultramontana de catolicismo, Plínio teria feito da obra um baluarte da defesa de uma proposta de catolicismo antimoderno, tido como “fiel” às propostas do que chama de “Igreja de sempre”. O autor analisa suas fontes doutrinárias e teológicas, bem como os principais elementos defendidos por Plínio Oliveira, a partir de uma obra que se tornou expoente do pensamento ultramontano ou tradicionalista católico no Brasil.

O artigo redigido por Gizele Zanotto, “Paz de Cristo no reino de Cristo: ideal teológico-político da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP)”, destaca o encadeamento de uma proposta política com a doutrina religiosa defendida pelos membros da TFP no Brasil. Partindo de uma atitude soteriológica pautada no catolicismo das primeiras décadas do século XX, os membros do movimento católico tefepista empenham-se numa luta pela defesa da reedificação da cristandade em nossos dias, como resposta aos problemas do mundo contemporâneo que tanto afligem os católicos ditos tradicionalistas.

Christiane Jalles de Paula analisará o percurso intelectual do líder católico Gustavo Corção, figura de destaque do final dos anos 1940 nos meios católicos, mas que, em função das novas diretrizes defendidas pelo grupo hegemônico da instituição, viu-se cada vez mais questionado em suas posições, especialmente após o Concílio Vaticano II (1962-1965). Em seu artigo “A descoberta da ‘outra’: Gustavo Corção e a recepção do Concílio Vaticano II”, a autora aborda o processo de deslegitimação da postura de Corção, especialmente investigando as relações entre religião e política, situação que o “enquadrou” como um dos representantes do chamado conservadorismo católico no país.

Já Rosângela Wosiack Zulian, no artigo “Entre a ortodoxia e a heresia: uma releitura da tradição católica polonesa na Diocese de Ponta Grossa (PR)”, que encerra esta coletânea, estuda a atuação do bispo Dom Antônio Mazzarotto, tido como defensor da fé e da hierarquia eclesiástica. O ensaio se detém no conflito discursivo entre o bispo e um grupo de católicos poloneses, tidos então como grupo “herético”. Por meio de análise de documentos primários, a autora se debruça sobre os argumentos da mencionada celeuma avaliando o quanto de tal situação está em consonância com o movimento de “romanização” empreendido pela Igreja Católica, visando uniformizar práticas e condutas. Com base na compreensão de que a romanização foi um processo plural, Zulian se debruça sobre os discursos produzidos pelo bispo e pelos poloneses em disputa pela manipulação do poder simbólico religioso.

Complementam esse dossiê as seções de artigos livres, comunicações e resenhas. A primeira delas inicia com artigos dedicados à análise da obra dos intelectuais Michel de Certeau, Edward Burnnet Tylor, Sêneca e Jacques Maritain. O artigo de Virgínia Buarque debruça-se a avaliar as contribuições de Certeau para a História das Idéias Religiosas quando chamado à colaboração com análises sobre a história inaciana no contexto posterior a Segunda Guerra Mundial. Já Vanda Fortuna Serafim avalia a repercussão da obra de Tylor para os estudos da religião, em especial, pela mobilização da obra Primitive Culture. Já José Carlos Silva de Almeida apresenta elementos da vida e obra de Sêneca sob a perspectiva de sua aproximação com a comunidade e as práticas hebraicas. Por fim, Névio de Campos estuda a questão da natureza humana na obra de Maritain, sobretudo em sua proposta de humanismo integral, em contraposição crítica ao denominado humanismo antropocêntrico.

Na sequência temos um artigo dedicado às práticas medievais a partir da ênfase na importância das letras e palavras no contexto cristão anglo-saxão. Em seu texto Elton Oliveira Souza de Medeiros se debruça sobre o Pater Noster em sua articulação entre elementos mágicos e cristãos. Roberto Bueno, por sua vez, pesquisa os elementos de argumentação autoritária derivadas das obras de Danoso Cortés, Jaime Balmes e Carl Schmitt. O último artigo da seção, de autoria de Cintia Régia Rodrigues dedica-se à análise da relação que a Igreja Católica – via atuação de capuchinhos franceses – e o governo estadual do Rio Grande do Sul mantiveram com as populações nativas em princípios do século XX.

O dossiê complementa-se com a seção Comunicações e o artigo de Sezinando Luiz Menezes, José Henrique Rollo Gonçalves e Saulo Henrique Justiniano Silva, que analisam o messianismo judaico no contexto da consolidação do Tribunal do Santo Ofício na metrópole portuguesa do século XVI. Já a resenha da obra Os mortos e os vivos: uma introdução ao espiritismo, de autoria de Reginaldo Prandi e aqui avaliada por Marcos José Diniz Silva, fecha este volume da RBHR.

Esperamos que a riqueza temática e analítica deste volume seja aproveitada por todos os nossos leitores. Junto a isso, desejamos que a Revista Brasileira de História das Religiões do Grupo de Trabalho de História das Religiões e Religiosidades da ANPUH consolide-se em sua nova plataforma, iniciada justamente com esse dossiê.

Boa leitura a tod@s!

Gizele Zanotto

Rodrigo Coppe Caldeira

ZANOTTO, Gizele; CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões, Maringá- PR, v.6, n.16, maio, 2013. Acessar publicação original [DR]

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