História da Mídia e Saúde | Revista Brasileira de História da Mídia | 2020

Em plena pandemia do coronavírus, que completou mais de um ano e já vitimou mais de 2 milhões pessoas no mundo todo, discutir as relações entre a saúde e os processos comunicacionais é fundamental. Com o objetivo de aprofundar o debate sobre o assunto, a Revista Brasileira de História da Mídia publica, nesta edição, a primeira parte do dossiê História da Mídia e Saúde, que tem como editores convidados os professores Igor Sacramento e Wilson Couto Borges. O conjunto de textos selecionados lança luz sobre a história do presente, problematizando e analisando a pandemia do novo coronavírus, assim como desvela as relações entre mídia e saúde em momentos importantes do nosso passado recente.

Para pensar a pandemia do coronavírus em contraste com epidemias do passado, como a gripe espanhola, o artigo de Paulo Vaz, Nicole Sanchotene e Amanda Santos, que estudam a articulação entre sofrimento e futuro, traz relevantes contribuições. Em uma discussão metodológica, Maria Lívia de Sá Roriz observa as aproximações e distanciamentos entre as histórias de vida na pesquisa em comunicação e a abordagem de escuta realizada na clínica analítica. Leia Mais

História, Mídia e Linguagens | Outras Fronteiras | 2020

História, Mídias e Linguagens representam formas pelas quais os seres humanos experienciam o tempo, narram eventos e fatos históricos. Nestes termos, citamos como exemplo a Segunda Guerra Mundial, o 11 de setembro 2001 e a primavera árabe1, ocorrida a partir de dezembro de 2010, eventos simbolicamente construídos em escala planetária, seja pela imprensa ou pela indústria cultural. Mais recentemente, as redes sociais foram determinantes nas eleições nacionais das principais democracias liberais do planeta, impactando assim o tempo político e as democracias representativas. De acordo François Hartog em Regimes de Historicidade2, a plasticidade do sistema capitalista e as mídias se retroalimentam.

Para Jean Noel Jeanneney estudar a História das mídias é compreender a representação que uma sociedade faz de si mesma, seja esta falsa ou verdadeira, bem como as influências dessas representações sobre os rumos em que determinada sociedade caminha, a partir das ações de seus diversos atores políticos. Assim como os atores, os objetos de análise de História das mídias são extremamente diversos e dispersos. Leia Mais

Mídia e Poder em Perspectiva Histórica / Crítica Histórica / 2019

A motivação para a organização do dossiê Mídia e Poder em perspectiva histórica partiu da observação de que, nos últimos anos, se intensificou o debate, em diferentes setores da sociedade, tanto no Brasil como no mundo em geral, a respeito do papel das mídias, ou meios de comunicação, tradicionais e novos. Tem sido enfrentadas questões do tipo se tais meios têm atuado como um elemento que atua no sentido do fortalecimento ou do enfraquecimento da democracia, como mecanismos de legitimação da ordem ou de incitação de agitações político-sociais, como ferramentas para articulação de demandas e estabelecimento de novos vínculos coletivos, ou como u catalisador de desagregações sociais, atomização e pulverização de condutas e ações. Tendo em vista a complexidade do cenário contemporâneo, pois, a proposta do dossiê foi compor um quadro variado de pesquisas que abordassem questões relevantes relativas aos meios de comunicação especialmente sob o ponto de vista de historiadores e historiadoras.

O objetivo, agora alcançado, é permitir um olhar mais amplo no tempo e no espaço que enfoque as transformações conjunturais ou as de mais longo prazo a respeito dos meios de comunicação, sua história, sua importância e suas relações com variadas concepções de história e configurações de poder. O resultado final, aqui materializado e trazido à público, expressa os anseios iniciais dos organizadores e sublinha este campo frutífero de pesquisas que se têm desenvolvido no país.

A problemática política e as relações de poder que perpassam os sujeitos políticos, as organizações de classe e partidárias, o imaginário social, a cultura, a religião e o mercado de consumo na contemporaneidade se destacaram no conjunto dos textos. Os artigos selecionados são exemplares tanto para os pesquisadores da área, como para uma leitura menos profissionalmente comprometida, mas interessada nas relações entre a política, partidária ou não, e a chamada grande mídia durante todo o século XX. Se a imprensa é parte inerente do jogo democrático, como ferramenta ela serve a diferentes interesses, disputados, por vezes, violentamente, podendo se transformar tanto em um agente catalisador e incentivador do fortalecimento das leis, instituições e grupos sociais os mais diversos em formação ou transformação, bem como se constituir em um agente perturbador para o aprofundamento de modos de vida livres, solidários e plurais.

Como elemento explicativo para o foco temporal das pesquisas aqui presentes, é importante destacar a facilidade cada vez maior para o acesso aos acervos e hemerotecas dos grandes jornais brasileiros, muitos agora disponíveis on-line, facilitando uma consulta mais ágil a series maiores de antigas edições de jornais e revistas. Os historiadores têm se aproveitado muito bem dessa nova oportunidade e, apesar de contínuos desafios técnicos e estruturais dos acervos, encontram-se devidamente equipados com um já sólido instrumental teórico-metodológico próprio de nossa disciplina para dar conta dessa tarefa exploratória.

Vamos aos textos! Optamos por apresentar os artigos em ordem cronológica, a partir dos temas que abordam, sem intenções de engessar as temporalidades, mas indicando um processo amplo, que percorre os contextos políticos e econômicos do Brasil republicano, durante o último século.

Abre o Dossiê o artigo de Gabriel José Brandão de Souza, intitulado “Entre disputas e negociações: a construção histórica da região cacaueira a partir do jornal Gazeta de Ilhéos (1901- 1904)”. Nele, o autor analisa “o processo de construção da narrativa histórica da região cacaueira, a partir das disputas políticas e ideológicas entre os grupos de elites na cidade de Ilhéus-BA no início do século XX”. Para isso, utiliza a Gazeta de Ilhéos como fonte principal. Segundo Souza, importa “perceber como esses grupos passaram a utilizar-se da imprensa não apenas como uma difusora de ideias e ideais, mas como um importante partido político de oposição, compondo assim, uma outra estratégia do jogo político para além da violência, voltada para a veiculação das suas opiniões e da disputa de espaços de poder.”

Na trilha da reflexão sobre os usos políticos da imprensa, Douglas de Souza Angeli, em “Deixar de votar é votar no inimigo”: Igreja e imprensa católica na construção do eleitor no Rio Grande do Sul (1945-1950)”, aborda o tema “propondo compreender a mobilização visando à construção do eleitor no período inicial da experiência democrática, ou seja, a construção de um interesse pelo ato de votar no momento de retorno das eleições, de criação de partidos políticos nacionais e de ampliação significativa do eleitorado inscrito”. Para Angeli, para isso foi fundamental “a atuação de agentes específicos […]: a Igreja Católica, a Liga Eleitoral Católica e a imprensa católica”. Utilizando-se dos jornais Correio Rio-Grandense, Jornal do Dia e o Unitas – boletim da província eclesiástica do Rio Grande do Sul, o autor, afirma que “a construção do eleitor católico” foi, naquele momento ,“impelida com base em um discurso marcadamente anticomunista, articulado às estratégias de posicionamento da Igreja perante o Estado e às práticas de mobilização do clero e da Liga Eleitoral Católica visando ao alistamento e ao voto”.

O artigo seguinte, trabalha o mesmo espaço geográfico e temporal, alterando o foco para a análise de discursos voltados não à política, mas à construção de um imaginário social sobre a cidade de Porto Alegre e as “classes perigosas”. Em “Uma cidade nas sombras”: O mundo dos bas-fonds (Porto Alegre – meados de 1950)”, Marluce Dias Fagundes estuda como o centro de Porto Alegre teve sua paisagem transformada naquele período. Para a autora, é perceptível nas fontes “um contraste de luz e de sombras. Na medida em que a “modernidade” avança pelas ruas da capital sul-rio-grandense, a “decadência social e moral” invade esses mesmos logradouros. Uma região que até a contemporaneidade está presente no imaginário social da cidade é a Rua Voluntários da Pátria – parte dela reconhecida como uma “zona de meretrício”. Para compreender esse “mundo dos bas-fonds”, Fagundes recorre “à análise da imprensa local, sobretudo o Jornal Diário de Notícias, entre os anos de 1954 e 1960, destacando também “alguns casos de crimes sexuais de sedução que chegaram até à Polícia e à Justiça”.

Saindo do Rio Grande do Sul, vamos ao Rio de Janeiro, ainda nos anos 1950. Letícia Sabina Wermeier Krilow, no artigo, “Favela representada: disputas em torno de nomeações e significações nas páginas de jornais cariocas (1951-1954)” analisa como parte da “grande imprensa carioca” – Correio da Manhã, Jornal do Brasil e Última Hora -representou as áreas habitacionais chamadas favelas durante o Segundo Governo Vargas (1951-1954)”. Segundo Krilow, a relevância do trabalho dá-se “ao considerarmos que, no pós 1945, o Brasil passou por um acelerado processo de industrialização e urbanização, entretanto, tais processos não ocorreram espontaneamente, bem como geraram diversas consequências, nem todas positivas, o que causou sérios questionamentos”. Nesse sentido, a autora considera que “um dos fenômenos mais impactantes foi o grande aumento das áreas habitacionais chamadas de favelas”, e, por isso, “se torna relevante analisar a forma como este espaço urbano foi representado nos jornais”. Para ela, “levando-se em consideração o grande poder de legitimação / deslegitimação de ideias que os meios de comunicação possuem, notamos que a forma pela qual a favela é representada pode interferir ou legitimar tomadas de decisões políticas – políticas públicas –, o que possibilita vislumbrar que projetos de sociedade estão sendo difundidas, estando tais representações inscritas no que Bourdieu chama de luta simbólica, evidenciando também disputas entre os referidos jornais”.

Na sequência, Marcelo Marcon discute em “O Globo e as disputas em cena: Brizola e a criação e uma sigla emblemática, o Partido Democrático Trabalhista”, “a forma como o jornal Globo elaborou seu discurso no processo de disputa pelo domínio da sigla PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) entre Leonel Brizola e Ivete Vargas, e a consequente criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista)”. Segundo Marcon, “isso ocorreu no processo de abertura política do regime militar brasileiro e reorganização partidária” e, através da análise das fontes e da historiografia, entende “que O Globo apoiou Ivete Vargas e investiu na desqualificação política de Leonel Brizola, uma vez que o jornal e o político gaúcho possuíam diferentes visões acerca do rumo da política brasileira”.

Avançamos no período da ditadura militar com o artigo de Pricila Niches Müller, “Negócio da China: a relação entre mídia e poder na diplomacia do Governo Geisel (1974-1979)”. Nele, a autora estuda as “relações entre imprensa e política externa no Brasil, com foco na análise do posicionamento de órgãos da imprensa a respeito da política externa do governo Geisel (1974-1979), a qual buscou a diversificação de parcerias com o emprego de uma política dita “pragmática, responsável e ecumênica””. A ênfase de tal política, segundo Müller, deu-se “no estabelecimento inicial da parceria estratégica com a República Popular da China, inclusive em nível de Embaixadas entre ambos os países”. Objetivando “investigar de que maneira a formação de parceria entre Brasil e China está retratada na grande imprensa brasileira no contexto dos anos que compreendem o Governo Geisel”, o artigo aborda, especificamente, “a representação feita pela imprensa acerca da posse do General Ernesto Geisel e a política externa do governo, bem como uma análise da questão que envolve a imprensa e a “opinião pública”.

Já Luciana Rossato, em “Juventude e publicidade nas páginas das revistas semanais Veja e IstoÉ (década de 1980)”, estuda as relações entre mercado consumidor, juventude e imprensa. O instigante artigo elucida “como ideias sobre a juventude foram veiculadas pela mídia impressa através de peças publicitárias na década de 1980 no Brasil, período marcado pela abertura política e pela ampliação do mercado consumidor”. Rossato utiliza uma documentação “composta por 30 peças publicitárias publicadas nas revistas Veja e IstoÉ no decorrer dessa década”. A análise recorre “aos conceitos de juventude de Margulis e Urresti (1996) e Abramo (1997), aos conceitos de consumo de Feathersone (1995) e aos meios e mediações de Martin-Barbero (2008)”. Nas peças publicitárias a historiadora constata “que as revistas selecionadas eram voltadas a um grupo específico de jovens, pertencente a uma determinada classe social, e difundiam uma concepção de juventude e ser jovem ligada à liberdade e a uma vida marcada por múltiplas possibilidades de escolha”.

Fechando o Dossiê, Thaíse Ferreira da Luz, com o texto “O Bom, o Mau e o Feio: as representações do jornal O Estado de São Paulo sobre os três principais candidatos à Presidência da República nas eleições de 1989”, realiza uma análise “sobre a representação de figuras políticas na mídia impressa”. A intenção de Luz é “verificar como a construção da imagem dos três principais candidatos ao pleito presidencial de 1989, Fernando Collor de Mello, Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva, foi feita pelo jornal O Estado de São Paulo e, de que maneira essas representações elaboram uma construção simbólica desses candidatos”. Para tal, a autora observou “o uso das imagens nas páginas de O Estado de São Paulo e a construção discursiva do periódico, em uma mesma edição”.

Um Dossiê como este não se propõe a esgotar um conjunto de temas ou proposições de pesquisa, mas compor uma amostra, por pequena que seja, que pode auxiliar em desdobramentos posteriores, especialmente, apontando soluções teórico-metodológicas e novos temas e problemas de pesquisa. Tal diversidade e os encontros e desencontros eventuais demonstram que a riqueza da produção historiográfica brasileira está consolidada e extremamente viva e ativa.

Por fim, encerrando essa apresentação, nos parece ser importante nos situarmos como historiadores comprometidos com os problemas de nosso tempo. Por isso, foi inspiradora a imagem de capa selecionada para esta edição: Che lendo o jornal La Nación.

Ernesto Guevara de La Serna, o Che, foi um revolucionário argentino, combatente da Revolução Cubana de 1959, executado com auxílio de agentes da CIA na Bolívia em 9 de outubro de 1967. Che teve sua imagem veiculada mundialmente na grande mídia, impressa e televisiva, em estampas de camisetas, pôsteres e diferentes acessórios de moda, transformada inclusive em uma mercadoria, vinculada ao sistema político e econômico que passou a vida inteira combatendo e tendo sido por conta disso morto. Assim, não buscamos aqui a inspiração na “imagem” de Che, mas no agente teórico e prático que foi. A coerência entre pensamento e ação foi característica de sua trajetória, bem como a sua capacidade de agir no mundo visando transformá-lo de acordo com sua visão de como deveria ele ser.

Como profissionais de história, educadores e pesquisadores, que estão imersos em uma época marcada pelo ressurgimento de formas mais ou menos escancaradas de fascismo, nossa resposta ativa, nossa práxis, deve ser à altura. Desde nosso lugar, de nossa trincheira que são as universidades públicas, agora sob severo ataque, acreditamos que é um dever marcar a solidariedade e a ação que vá ao encontro dos interesses e necessidades dos povos pretos e periféricos, dos indígenas, das mulheres, dos LGBTs, da classe trabalhadora, enfim, daqueles cujas existências mesmas estão em vários sentidos ameaçadas.

E a universidade deve ser um espaço seu de direito! Falava Che aos estudantes cubanos em 1959:

Y, ¿qué tengo que decirle a la Universidad como artículo primero, como función esencial de su vida en esta Cuba nueva? Le tengo que decir que se pinte de negro, que se pinte de mulato, no sólo entre los alumnos, sino también entre los profesores; que se pinte de obrero y de campesino, que se pinte de pueblo, porque la Universidad no es el patrimonio de nadie y pertenece al pueblo de Cuba, y […] la Universidad debe ser flexible, pintarse de negro, de mulato, de obrero, de campesino, o quedarse sin puertas, y el pueblo la romperá y él pintará la Universidad con los colores que le parezca[1].

Que a luta antifascista em toda América Latina e no mundo seja vencedora!

Nota

1. Discurso en el auditorium de la Universidad Central de las Villas (al recibir el doctorado honoris causa) 28 de diciembre de 1959 In Ernesto Guevara. Obras Escogidas. CEME – Centro de Estudios Miguel Enriquez, Archivo Chile, p. 148.

Irinéia Franco

Luiz Alberto Grijó

Dezembro / 2019


FRANCO, Irinéia; GRIJÓ, Luiz Alberto. Apresentação. Crítica Histórica, Maceió, v. 10, n. 20, dezembro, 2019. Acessar publicação original [DR]

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A mídia e os estratos do tempo / Revista Brasileira de História da Mídia / 2019

O XII Encontro Nacional de História da Mídia – Alcar 2019 reuniu pesquisadores do Brasil e do exterior na Universidade Federal do Rio Grande do Norte com o objetivo de discutir a mídia e os estratos do tempo. Foram três dias de intensos debates e trocas. Uma parte das contribuições do evento foi reunida para esta edição da Revista Brasileira de História da Mídia – RBHM, no dossiê temático A mídia e os estratos do tempo.

A conferência de abertura foi ministrada por Roger Chartier, diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, professor do Collège de France, em Paris, e um dos mais importantes representantes da Escola dos Annales na contemporaneidade. O texto resultante da conferência, com o título Entre memória e esquecimento: as temporalidades da história, dos media e das experiências, integra o dossiê. Durante o evento, Chartier concedeu longa entrevista à professora Karina Janz Woitowicz, editora da RBHM. A conversa, que contempla questões relacionadas ao encontro, mas também abrange a obra do autor de modo mais amplo, é um dos destaques desta edição. Leia Mais

História do Esporte e Comunicação: para além da imprensa e da mídia como fontes | Recorde | 2019

É com imensa satisfação que apresentamos uma seleção de trabalhos envolvidos com temáticas relacionadas à História do Esporte e da Comunicação. A proposta de organizarmos o presente dossiê surgiu de nosso envolvimento em ambas as disciplinas e da percepção de que existem imensas lacunas e possibilidades na intersecção entre elas. Não obstante, a adesão de pesquisadores nos surpreendeu, tanto pela quantidade de submissões, quanto pelo atendimento a algumas das sugestões e provocações que fizemos na chamada de trabalhos.[3] Neste sentido, foi possível organizar um dossiê com temas diversificados, fato que reforça nossa perspectiva de que existe uma via em construção nos estudos do esporte para pesquisadores de diferentes áreas que dialogam com a História do Esporte e a Comunicação.

Isto posto, convidamos os leitores a apreciarem os artigos. Primeiramente, destacamos três trabalhos que abordam o evento Jogos Olímpicos e dois sobre os Jogos Paralímpicos. Elcio Cornelsen e Izidoro Blikstein escreveram “A utilização da mídia em estratégias de marketing político no contexto da Olímpiada de Berlin” buscando identificar a construção da imagem que a imprensa alemã estabelece no momento da realização do evento utilizando um arcabouço conceitual das áreas de Marketing Político, Mídia e Análise do Discurso. Intitulado “Olimpíadas Rio 2016: A (In) Sustentabilidade do nosso Legado”, o trabalho de Roberta Ferreira Brondani e José Carlos Marques apresenta uma crítica ao suposto legado olímpico a partir de uma comparação entre o que apresenta a página “Rio 2016” no Portal do Comitê Olímpico Internacional e o conteúdo de reportagem exibida pelo programa Fantástico, da TV Globo, dois anos após os jogos. O artigo “Os Jogos Olímpicos jamais foram modernos: um ensaio da antropologia simétrica ao longo da história olímpica”, de Carlos Roberto Gaspar Teixeira e Roberto Tietzmann, se utiliza da perspectiva teórica da antropologia simétrica para problematizar a questão da presença dos “não-humanos” nos Jogos Olímpicos, bem como questionar o caráter moderno desses eventos utilizando como referência conceitual a proposta de Bruno Latour em sua obra Jamais fomos modernos (1994).

No que concerne as Paralimpíadas, o artigo de Tatiane Hilgemberg apresenta o desenvolvimento histórico do evento paralímpico em diálogo com as transformações ocorridas nos jogos, no próprio esporte e nas representações da ideia de deficiência. A autora estabelece também um paralelo com estudos críticos da deficiência e apresenta dados de sua pesquisa sobre a cobertura das Paralimpíadas pelo diário O Globo. Em “Paralimpíadas Escolares (2006-2018): evidências em mídias digitais acerca do evento esportivo”, Giandra Anceski Bataglion e Janice Zarpellon Mazo abordam o tema a partir de uma perspectiva local, descrevendo detalhadamente as composições históricas para a organização das Paralímpiadas Escolares no Brasil e buscando identificar agentes importantes, bem como sua repercussão em mídias digitais.

Dois trabalhos que relacionam a Economia com temáticas histórico-comunicacionais não apenas trazem discussões importantes, mas apontam promissoras e pouco exploradas sendas de investigação. Anderson David Gomes dos Santos apresenta uma pesquisa sobre os direitos de transmissão em eventos esportivos no Brasil articulando o tema com um estudo sobre a legislação desportiva no país. Trata-se de uma abordagem inovadora no âmbito da discussão de políticas públicas e econômicas sobre esporte que faz parte de um trabalho comparativo mais amplo com outros países latino-americanos (Argentina e México).

O trabalho coletivo capitaneado por Ana Carolina Vimieiro parte de uma perspectiva histórica da economia política do futebol para analisar criticamente as transformações, contradições e conflitos na mais recente “onda” do processo de mercantilização do futebol no país. Para tanto, as autoras utilizam conceitos como neoliberalização, comodificação e hibridação e uma análise empírica de tradicionais aspectos da organização estrutural e das relações de poder na conformação do futebol brasileiro no século XXI.

Quatro trabalhos se voltam para países latino-americanos, utilizando diferentes fontes para debater aspectos relativos aos próprios países ou à relação com outras nações.

Andrés Morales apresenta aspectos de sua atual pesquisa de doutorado sobre a representação simbólica da final de 1950 no imaginário coletivo dos uruguaios. Trabalhando com o conceito de hibridação de Néstor Canclini para analisar o discurso em diversas fontes da imprensa do país, o autor aponta também a importância do rádio e os vínculos politicos presentes nos diferentes meios de comunicação. Uma reflexão sobre a hipótese de “Maracanização” da sociedade uruguaia e sua influência no próprio futebol do país complementam o artigo, que aponta novos caminhos de investigação sobre um tema paradigmático nos estudos que relacionam Copas do Mundo e identidade nacional tanto no Brasil quanto no Uruguai.

O artigo de Gastón Laborido apresenta uma contextualização histórica dos fatores que possibilitaram a introdução do futebol na cidade de Montevidéu e a entrada desse esporte nos veículos da imprensa no início do século XX. A hipótese de um processo de “criolização” do futebol uruguaio, que teria surgido a partir da formação de um estilo de jogo híbrido, marcado pela presença de imigrantes que se contrapunham à forma britânica de praticá-lo, é reforçada e analisada nos discursos dos periódicos citados.

A partir de uma perspectiva da Nova História Política, o artigo de Alvaro do Cabo aborda questões sobre a Copa do Mundo de futebol realizada na Espanha em 1982. A primeira parte do trabalho é uma contextualização da conjuntura histórica que possibilitou a realização do torneio no país europeu: a transição democrática após a longa ditadura franquista. O segundo item utiliza os periódicos argentinos Clarín e El Gráfico para analisar as expectativas em torno da participação da seleção argentina, então campeã do mundo, na Copa de 1982, em meio a um contexto político marcado pelo conflito bélico com a Inglaterra, conhecido como Guerra das Malvinas.

Leda Soares e Carlos Guilherme Vogel analisam a série de ficção Club de Cuervos, uma produção latino-americana ambientada no México. Além de uma interessante contextualização da propagação do espaço midiático ocupado pelos seriados televisivos nas últimas décadas, com uma nova dinâmica estética e moral a partir do aumento das televisões fechadas e os canais a cabo, os autores observam uma questões de gênero, preconceito e homofobia no enredo da série. Tendo como tema central o futebol, a série possibilita a discussão de representações sociais em um ambiente latino-americano masculinizado.

Os dois trabalhos que complementam este seleto dossiê versam sobre o futebol e os estudos das crônicas da imprensa. A pesquisa de Nei Jorge dos Santos Junior ressignifica a perspectiva crítica do cronista Lima Barreto sobre a prática do futebol no início do século XX. O olhar a partir de diversas fontes impressas demonstra que a crítica ao esporte se insere em um contexto de defesa e tensionamento mais amplo que enxerga o futebol como uma prática até então elitista e excludente inserida em um discurso preconceituoso sobre as classes menos favorecidas e o “ethos” suburbano. Antes de ser um inimigo do futebol, o literato suburbano seria um crítico das representações geradas pelo futebol amador e os ”sportsman”.

O trabalho de André Couto sobre os cronistas do Jornal dos Sports conjuga uma análise temática que problematiza as principais características do jornal no período estudado, destacando o direcionamento para questões clubísticas e denuncistas e desenvolvendo uma espécie de taxonomia sobre as especificidades dos articuladores. Trata-se de um modelo que pode servir aos estudos que relacionam cronistas esportivos e imprensa em função da tipologia proposta.

O dossiê se completa com uma entrevista realizada por Silvana Goellner com a jornalista Isabelly Morais, que marcou as transmissões sobre Copas do Mundo na televisão brasileira ao narrar a estreia da seleção brasileira no torneio realizado na Rússia em 2018. A conversa explora a trajetória profissional da narradora, desde o período em que cursou Comunicação Social/Jornalismo o trabalho como narradora de futebol no rádio e na televisão.

Agradecemos aos autores que submeteram trabalhos e ao precioso trabalho de avaliação realizado pelos pareceristas. Boa leitura!

Notas

3. A chamada encontra-se em https://historiadoesporte.wordpress.com/2018/09/14/revista-recorde-chamadapara-dossie-historia-do-esporte-e-comunicacao-para-alem-da-imprensa-e-da-midiacomo-fontes/ .

Rafael Fortes – Professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutor em Comunicação. E-mail: rafael.soares@unirio.br

Álvaro do Cabo – Professor da Universidade Cândido Mendes. Doutor em História. E-mail: alvarodocabo@yahoo.com.br


FORTES, Rafael; CABO, Álvaro do. Apresentação. Recorde, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, jan. / jun., 2019. Acessar publicação original [DR].

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Memória e Mídia / Tempo e Argumento / 2017

A explosão dos acontecimentos de maio de 1968, na França, colocou em questão a relação entre a narrativa midiática dos “fatos históricos” e o trabalho acadêmico dos historiadores que consideravam esse tipo de concepção superficial e ultrapassada. Em O Renascimento do acontecimento, François Dosse reinterpreta o clássico artigo de Pierre Nora, que encara “O retorno do fato” com surpresa e desconforto, já que para os herdeiros de Braudel o que importava eram as permanências. Com a irrupção de acontecimentos espetaculares, que já poderiam ser considerados “históricos” no próprio momento em que repercutiam, Pierre Nora compreende que a imaginação histórica das massas difere muito do modo como os historiadores haviam aprendido a lidar com o passado. Preocupado com isso, ele define os limites do historiador no âmbito dos arquivos e debates acadêmicos, deixando o trabalho memorialístico para artistas e jornalistas, sendo que esta produção memorialística poderia servir, ela mesma para ser analisada por historiadores como documentos de época. Mas o que ocorre quando elas são documentos de nossa época? Não há um passado que reverbera no presente? Ou só o presente reverbera no passado, e este não passa de uma imagem caricata que nós produzimos segundo os nossos próprios desejos?

Na trama dos três tempos – o acontecimento, a sua formulação narrativa e a reação que ela desencadeia –, se estabelece uma relação fundamental para compreender a História do Tempo Presente, com novas camadas narrativas produzidas segundo os interesses do momento. Mas como observa Paul Ricoeur, mesmo a primeira narrativa produzida sobre um acontecimento, ainda que realizada imediatamente depois dele, já se constitui como memória. Tanto as notícias de jornais quanto os livros de memórias elaboram narrativas de presumida identidade com seus leitores. Visam convencer e, assim, corresponder a uma certa cumplicidade de expectativas sociais. O material impresso possui um poder de artefato de memória em registro físico, que pode ser guardado e catalogado, o que lhe dá uma perenidade. Aquilo que foi impresso possui significado social marcante, por ter sido publicado, o que envolve relativo reconhecimento e que, portanto, merece ser lembrado posteriormente, como “algo que vai ficar para a História”.

Certamente outras mídias, como a televisão, talvez tenham mais influência na reação do público diante dos acontecimentos narrados imediatamente. Por outro lado, ao longo do tempo, elas tendem a provocar mais esquecimento do que memória, segundo ponderou Frederic Jameson, já que o televisor, como aparelho de fluxo contínuo de imagens, está sempre nos desviando a atenção de uma coisa para a outra, nos distraindo de forma irreversível. Esse aspecto aleatório, em que o telespectador não sabe qual é a imagem, o programa ou o comercial que virá a seguir, bem como aquele que passa em outro canal, também é um complicador para a pesquisa histórica. Isso porque as emissoras são muitas vezes produtoras dos programas veiculados e proprietárias exclusivas do conteúdo que é difundido por elas, ainda que esta seja uma concessão pública. Por essa razão, sempre houve pouca disponibilidade de consulta à programação televisiva para fins de pesquisa histórica. A existência de alguns acervos físicos particulares, como observou Áureo Busetto, permitiu sua transferência para plataformas digitais, o que hoje amplia em muito os limites da pesquisa histórica nesse âmbito, fundamental para compreender a dinâmica do imaginário social a partir dos anos 1970.

Por outro lado, há produtos culturais que preservam sua autonomia no sentido de serem veiculados e vendidos como obras, como foi o caso dos livros, da música gravada em disco e posteriormente do cinema quando os filmes passaram a ser comercializados em fitas para serem vistos em casa. No cinema de ficção clássico, vemos nos chamados “filmes de época” personagens do presente que vestem roupas do passado, e dos seus conflitos pode ser tirada uma lição – tal como analisa Fábio Nigra quando trata da história dos Estados Unidos produzida em Hollywood. Considerado como arte, o cinema se torna também parte da monumentalização do passado, promovida pela memória, pelo desejo de colocar na tela os personagens que já não se encontram ao nosso redor. Ou, então, relembrar as ações daqueles que ainda se encontram ativos, mas que foram marginalizados e esquecidos ao longo do tempo, ou que ainda continuam publicamente em evidência. No cinema documentário, o tratamento dado ao passado é outro. Ao propor que trata diretamente de lugares, acontecimentos e personagens reais, observamos que não é raro que esses elementos dos quais ele trata estejam hoje soterrados, apagados ou desaparecidos, e precisem ser resgatados. Em ambos os casos, o cinema visa lançar uma luz sobre o passado, mas seu objetivo é fazer com que o espectador se identifique de alguma maneira com alguém que aparece na tela ou fala sobre aquilo que se vê.

Como obra, o cinema cria imagens que se cristalizam na memória, que se tornam referências do imaginário coletivo, sobre o qual desejam deliberadamente intervir. E intervir na memória através da mídia é uma preocupação recorrente dos movimentos sociais. Criar táticas de repercussão na mídia é um de seus métodos, embora também contem com suas próprias estratégias de divulgação militante, disputando um espaço no imaginário social. Ao mesmo tempo, lutam por manter o espaço já conquistado, reivindicando‐se como herdeiros das lutas do passado. Mas também esse legado é alvo de disputa na memória coletiva, sendo constantemente ressignificado por diversos grupos em função de seus próprios interesses. Em geral, reivindicam causas que aqueles personagens não poderiam ter concebido, atribuindo a suas ações um sentido muito distante daquele que era formulado. Por essa razão, sempre que propomos analisar as relações entre a memória e a mídia, emerge o problema da história militante, que busca denunciar manipulações da mídia, combater esquecimentos para assim reparar a memória social dos seus erros e omissões.

Essas são as reflexões a que está dedicado este número da Revista Tempo & Argumento, que reúne contribuições de pesquisadores do Brasil e da Argentina. Agradeço à colaboração de Javier Campo, professor da Faculdade de Artes da Universidad del Centro de la Província de Buenos Aires (UNCPBA), que dividiu comigo a organização do presente dossiê. Esperamos com isso ter dado nossa contribuição para pensar as relações entre Memória e Mídia, algo de inegável valor para qualquer pesquisa feita no âmbito da História do Tempo Presente.

Rafael Rosa Hagemeyer – Professor do Programa de Pós‐Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).


HAGEMEYER, Rafael Rosa. Apresentação. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.9, n.21, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Mídia, Religiões e Religiosidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2014

A vigésima edição da Revista Brasileira de História das Religiões conta com um Dossiê sobre Mídia, Religiões e Religiosidades.

Ao pensarmos nas formas de difusão de informações, visões de mundo, representações e ideias religiosas nos séculos XX e XXI, torna-se necessário lidar como outros tipos de suporte, tais como rádio, televisão, computador, cinema e ciberespaço. Torna-se, portanto, um desafio ao historiador refletir sobre os meios de expressão, adotados pelas religiões e religiosidades, intencionalmente ou não, para transmitir uma mensagem, seja por um canal específico ou por meios de comunicação de massa.

O dossiê Mídia, Religiões e Religiosidades, organizado por Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho, conta com seis contribuições. São elas: “Mediatización televisiva de los rituales religiosos: Las Mañanitas a la Virgen de Guadalupe” de Margarita Zires – que trata sobre o uso dos meios de comunicação e processos rituais no México; “Apocalipsis maya: una creencia posmoderna en la era de la información” de Renée de la Torre e Lizette Campechano – que analisam a importância das indústrias culturais e dos meios de comunicação e seu papel ante as profecias de fim dos tempos de 2012; “A representação do Ritual Romano de Exorcismos no filme O Exorcista (1973)” de Solange Ramos de Andrade e Michel Bossone – dedicados a compreender os meandros entre crenças e cinema com um etudo de caso; “Educação e produção de subjetividades da intolerância: As novas fronteiras da intolerância com a Umbanda” de Sidney Nilton de Oliveira – dedicado a analisar como grupos conservadores e fundamentalistas, em especial os neopentecostais, lidam com a umbanda; “Complexidades da religiosidade afro-brasileira no “terreiro” do ciberespaço” de Cristiana Tramonte – que se volta à análise de outras formas de organização e crença de grupos de religiosidade afro-brasileira; e “Ciberespaços para a crítica: Difusão e imagens da Igreja Universal pelo ciberespaço latino-americano” de Marcelo Tadvald – que analisa aprsença da IURD no espaço virtual.

Agradecemos a colaboração de Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho na organização do dossiê!

Em diálogo com a temática das Mídias, temos ainda duas comunicações: “Feições político-midiáticas da concorrência cristã brasileira” de André Ricardo de Souza, Giulliano Placeres e Vinicius Manduca e “Tradição oral e novas tecnologias no candomblé da metrópole” de Ivete Miranda Previtalli.

Na Seção “Artigos Livres”, que conta com 6 artigos, temos as contribuições de Eliane Cristina Deckmann Fleck e Mauro Dillmann, Fabio Augusto Scarpim, Beatriz Teixeira Weber e Renan Santos Mattos, Ronaldo de Oliveira Rodrigues, Andreia Martins e Gizele Zanotto.

Por fim, concluímos com as resenhas de Anna Maria Salustiano e Emerson Sena da Silveira, respectivamente sobre as obras Religiões e Religiosidades no (do) Ciberespaço e Religião e Juventude: os novos carismáticos.

Boa leitura!

Vanda Serafim

Gizele Zanotto


SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.7, n.20, set.., 2014. Acessar publicação original [DR]

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Mídia e Política / Albuquerque: Revista de História / 2013

Toda história é presente e aos vivos ela pertence. Diversos historiadores disseram a mesma coisa com outras palavras, em tempos diversos e de diferenciadas maneiras. O importante, contudo, é consolidar a idéia de que o objeto de estudo da história é o homem, o seu tempo e as suas construções.

A revista Albuquerque, em sua nona edição, está viva e presente. A cada número que vem à luz, amadurece e solidifica a sua proposta original de divulgar estudos inovadores que revigoram a área de conhecimento da história, enfatizando temáticas regionais. Mas, como representação da produção histórica viva e presente no ambiente acadêmico contemporâneo, a revista assume também a forma apropriada de um caleidoscópio de temas e de abordagens balizadas sempre pelo critério de qualidade científica.

Dessa forma, em sua primeira parte estão publicados artigos completos e de diversas e interessantes abordagens: Impactos sobre o desenvolvimento regional decorrentes do Assentamento Itamarati, Ponta Porã (MS): 2001 -2010, de Maria de Fátima Lessa Bellé, Gilberto Luiz Alves e Celso Correia de Souza; Nacionalismo, antifascismo e internacionalismo nas Brigadas Internacionais na Guerra Civil Espanhola (1936 -1939) de Jorge C. Fernández; Do Tejo ao Rio das Mortes: sobre fazer-se “homem bom” na longínqua Vila de São João Del Rei. Séculos XVIII e XIX de Tarcisio Greggio e Relações de trabalho e industrialização recente na periferia de Vitor Wagner Neto de Oliveira.

Na segunda parte, a revista Albuquerque, com o Dossiê Mídia e Política, apresenta um painel significativo e oportuno, tendo como eixo a imprensa brasileira que ainda reflete os seus dilemas históricos na sua difícil convivência e articulação com outras esferas de poder, com as incertezas da crise de paradigmas do nosso século e mudanças sociais, econômicas e tecnológicas vertiginosas. De fato, debruçar sobre o passado para buscar a compreensão e a explicação do nosso mundo, do nosso tempo e dos processos históricos que os produziram, é a especial e principal responsabilidade dos historiadores, iniciantes e veteranos aqui representados vivos e presentes.

O Caderno Especial dedicado a divulgar documentos interessantes para a história regional, nesta edição, acompanha a temática dos trabalhos do Dossiê Mídia e Política, reproduzindo um artigo do jornal A Tribuna de Corumbá, de 1943. O autor, Lobivar de Matos, falecido prematuramente aos trinta e três anos de idade, foi um expoente da poesia moderna da língua portuguesa, apenas reconhecido recentemente por pesquisadores da literatura regional. Naquela oportunidade, Lobivar de Matos homenageou a figura do cidadão Pedro de Medeiros, também poeta, líder popular e corumbaense proeminente.


Editores. Apresentação. Albuquerque: revista de história, Mato Grosso do Sul, v.5, n.9, 2013. Acessar publicação original [DR]

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História e Mídia / Anos 90 / 2012

Há muito que os meios de comunicação social, também referidos genericamente e no singular como “a mídia”, participam do trabalho dos historiadores, precipuamente como fontes para suas pesquisas com objetivos que vão desde a busca de “fatos”, até a procura de dados para estudos sobre mentalidades, visões de mundo, cultura ou valores de determinadas épocas e lugares. Cada vez mais, porém, os próprios veículos se tem tornado objeto de pesquisas, não apenas para a produção de narrativas a seu respeito, mas em investigações que enfocam e analisam seus agentes e instituições, as concepções e visões de mundo que produzem e reproduzem, suas relações com as demais áreas da produção cultural, especificamente com a história enquanto produção acadêmica ou não, a sua relação com os demais agentes sociais, com o mercado, com a política, com a memória social.

O dossiê História e Mídia, que Anos 90 publica nesse número, reflete um pouco do estado da arte em termos da produção historio gráfica acadêmica a respeito do tema na América Latina. Os textos aqui contidos, de modo geral, se articulam em maior ou menor grau, a partir de estudos de casos, com preocupações epistemológicas e seus corolários teórico-metodológicos que as abordagens nessa área têm trazido para os historiadores. Assim, jornais, cinema, revistas, a televisão e o que produzem seus agentes são tomados como parte de objetos de estudos que findam por enfrentar questões relevantes para a historiografia que vão desde as relações entre determinados periódicos e o mundo cultural de uma sociedade ou época até a relação entre o que socialmente se entende por história, ou se procura fazer entender como tal, e aquilo que é veiculado reiteradamente por um periódico ou por programas de televisão. Ou seja, os artigos aqui apresentados não se limitam às suas excelentes contribuições específicas em termos dos temas e períodos que abordam, mas apontam para uma reflexão mais geral que discute história, memória, instituições sociais, produção e reprodução cultural, política – como disputa pelo poder e relação de dominação – e historiografia.

Desde o lançamento da proposta do dossiê, recebemos uma grande quantidade de artigos a cujos autores agradecemos muitíssimo. Lamentamos, porém, que a maioria não tenha sido incluída, o que ocorreu não pela falta de qualidade dos mesmos, pois muitos tiveram pareceres favoráveis, mas por uma decisão editorial que limitou o número de contribuições às dez aqui contidas.

Elas se iniciam com o trabalho de Marialva Barbosa que, tendo como pretexto “um olhar sobre as práticas, processos e sistemas de comunicação nas últimas décadas do século XIX”, com efeito propõe uma série de reflexões teóricas e, especialmente, metodológicas de apropriação histórica de objetos recortados na área dos meios de comunicação, os quais devem ser entendidos não em si mesmos, mas como imersos no espaço cultural maior a partir do qual se dá a sua produção e significação. A contribuição do artigo não se restringe a temas circunscritos ao período explicitado no seu título, ela é uma contribuição muito mais ampla, sendo aplicável a qualquer tema similar e, além disso, a qualquer escrita de história. A proposta é “que a história da comunicação seja sempre história dos processos e das práticas comunicacionais cujo procedimento metodológico desvende o circuito da comunicação”. Ainda segundo a autora, “uma história dos meios deve colocar a questão da comunicação como centro da reflexão e não apenas tentar descrever o conteúdo das mensagens ou remontar como se caracterizava a mídia outrora”.

O trabalho de Sônia Meneses, analisando o caso do jornal Folha de São Paulo e seu “projeto”, tendo como fonte principal mente os seus manuais de redação, discute a “operação midiográfica”. Este conceito, inspirado no de operação historio gráfica de Michel de Certeau, “tanto funciona para falar de práticas e elementos que conformam a produção midiática […], como sua posterior reprodução e ressignificação em vários ciclos hermenêuticos de significação do tempo”. A reflexão se volta para o modo como a produção midiática se torna também produção de um tipo muito específico de história e os mecanismos que lança mão para tal. Sônia Meneses aporta ainda mais elementos que contribuem com o aprimoramento das reflexões epistemológicas sobre a história e sua relação com o modo como é produzida, por quem é produzida e em quais condições, ao mesmo tempo em que enriquece as possibilidades teórico-metodológicas de apreensão pela historiografia acadêmica de objetos na área de história da mídia.

O trabalho seguinte é o de Claudio Elmir. Os desafios metodológicos da pesquisa em jornais é o seu foco básico. Tendo como ponto de partida uma pesquisa realizada com o jornal Última Hora, de Porto Alegre, as reflexões se voltam para os desafios encontrados, as perguntas formuladas à fonte e sobre ela e as possibilidades ou não de serem elas respondidas. Aqui o leitor encontra um tour pelo mundo da pesquisa acadêmica em periódicos diários de grande circulação, pelo que eles próprios são postos em questão e avaliados a partir dos desafios metodológicos que trazem à pesquisa histórica. “O jornal, nesta perspectiva da recepção, pode ser apropriado de formas as mais diversas. Quero propor uma breve digressão acerca de duas dessas maneiras de ler o jornal para fins de pesquisa. Uma delas […] consiste em tomá-lo (1) com fonte de informação. A segunda […], (2) faz dele objeto intelectual da pesquisa”. Claudio Elmir convida para uma crítica documental e para uma “aventura” pelos meandros da pesquisa histórica e seus desafios.

Marcelo Borrelli estuda o diário portenho El Clarín no período dos últimos meses do governo de Isabel Perón e dos primeiros do governo civil-militar instituído pelo golpe de Estado de 24 de março de 1976. Tem como tema específico o modo como o jornal apoiava as políticas de Estado e as ações clandestinas, “paraestatais”, voltadas para a “luta anti-subversiva”, a qual resultou, como todos sabemos, na carnificina que ceifou milhares de vidas de argentinos e de outras vítimas que foram assassinadas sem direito a qualquer procedimento jurídico-legal. Um estudo desse tipo “se torna imprescindível para se compreender o contexto que circundou o golpe de Estado de 24 de março de 1976, como também os argumentos que legitimaram um aprofundamento da repressão voltada contra os setores da esquerda radical e peronista mais combativos”. Num momento em que se implanta na Argentina a chamada Lei da Mídia de 2009, a qual visa extirpar monopólios e oligopólios na área da propriedade de meios de comunicação entre outras disposições, essa discussão a respeito do apoio que certas empresas monopolistas deram a ações criminosas implementadas por agentes estatais e paraestatais antes durante e depois dos regimes civis-militares latino-americanos mais recentes é extremamente pertinente e, mais ainda, necessária.

O texto de Reinaldo Lohn se debruça sobre questões semelhantes às abordadas por Marcelo Borrelli e, em parte, por Sônia Meneses. Estuda o periódico O Estado de Florianópolis, sob o ponto de vista de suas narrativas, as quais vinham ao encontro de uma certa visão de sociedade e país que se estava tentando estruturar desde os inícios do regime civil-militar de 1964. No caso da capital de Santa Catarina, um discurso do “novo” e do “moderno” que secundava e antecipava movimentos estatais e da iniciativa privada que transformavam a ocupação dos espaços urbanos da cidade com a substituições de edificações tidas como “casas velhas” por prédios “novos” de vários andares, bem como pela abertura de vias urbanas rápidas, parques e calçadões. Nesse caso, o “discurso jornalístico apresenta-se […] como uma das mais destacadas instâncias organizadoras do social, o que incluiu a definição sobre o que deve ser lembrado ou esquecido”.

Claudia Feld realiza uma profunda reflexão a respeito das conexões entre memória social e um meio específico de comunicação, a televisão. Toma como pretexto a reativação mais ampla da discussão na sociedade argentina, que ocorreu a partir de meados dos anos 1990, a respeito dos crimes da sua última ditadura civil-militar, especialmente as prisões, as torturas e as mortes patrocinadas por agentes e agências estatais e paraestatais. A televisão aparece como enquadrável em três eixos que seriam os seguintes: 1) como “empreendedora da memória”; 2) como “cenário da memória”; 3) e como veículo de transmissão de memória entre gerações. A partir de uma sólida discussão com as principais contribuições teóricas e epistemológicas a repeito, o trabalho mostra “que não se pode tomar a televisão isoladamente, porém todo o processo de memória e os atores envolvidos; mas tampouco se pode desconhecer o enorme potencial que tem a representação televisiva nos atuais processos de construção de memórias”.

O trabalho de Margarida Adamatti, por seu turno, também se situa em termos cronológicos no período da mais recente ditadura civil-militar brasileira, enfocando a questão da produção cinematográfica épico-histórica nacional em relação com o regime e, especialmente, em relação com a crítica de cinema em jornais “alternativos”. A sua opção metodológica é mais tradicional, de análise de conteúdo, mas obtém resultados interessantes no sentido de explicitar os critérios que lastreavam os autores das críticas, colaboradores dos jornais Opinião (1972-7) e Movimento (1975- 81), e as discussões que se travavam a respeito das produções cinematográficas, ou melhor, tendo elas como pretexto, pois “os jornais contribuíram com a disseminação de um pensamento historio gráfico oposto ao praticado pela grande imprensa, afinal foi a relação indissociável entre política e cinema que mudou a visão tradicional sobre a função da crítica de cinema.”

Luís Carlos Martins enfoca o período histórico anterior ao da implementação do regime civil-militar no Brasil. Na década de 1950, sob o governo de Getúlio Vargas, discutiram-se intensamente as questões da criação de uma empresa estatal petrolífera e do monopólio estatal no setor. Os principais jornais do país participaram ativamente do processo, o que o artigo analisa em detalhes no que diz respeito à imprensa do Rio de Janeiro, então capital da República. Ao contrário do que se poderia supor, pois é um tanto difundido na bibliografia que a “grande imprensa” dita “liberal” fazia figadal oposição ao governo “nacionalista” de Vargas, “no que se refere à relação entre os jornais e o universo político, notamos que os primeiros adotam sinuosas e distintas estratégias conforme os agentes do segundo se movem taticamente em torno do tema”. Isso aponta para a necessidade de que as pesquisas se aprofundem ainda mais nessa complexa relação entre imprensa e política que dificilmente pode ser reduzida a um maniqueísmo estreito.

O artigo de Aristeu Lopes tem como fonte as imagens presentes em periódicos da “imprensa ilustrada” do Rio de Janeiro na década de 1870. Seu objetivo é analisar a presença de uma simbologia republicana e como ela se articula com a imprensa de humor em si mesma e com um período marcado no Brasil pelo início da chamada “propaganda republicana” mais organizada e sistemática, ancorada em um Partido Republicano. A perspectiva adotada aponta para que “os periódicos analisados […] constituem uma fonte de pesquisa que permite compreender um momento da história do Brasil Imperial demarcado pelo surgimento de grupos políticos que passavam a contestar a ordem estabelecida”. Ou seja, o recurso aos jornais e sua produção não são um fim em si mesmo, mas uma estratégia teórico-metodológica para uma abordagem propriamente historiográfica.

O trabalho que encerra o dossiê é o de Mauro Franco. Seu objetivo é refletir sobre as “figurações do outro” através da imprensa brasileira no século XIX, especialmente a Revista Brasileira, em sua primeira fase de circulação (1857-61). A análise se volta para os conteúdos publicados na revista, tanto quanto às origens dos textos (boa parte composta por traduções de originais publicados em revistas francesas), quanto às suas características que visavam transformar o periódico em “um índice, um sintoma de uma nação / civilização que desejava por meio da palavra impressa contribuir para o desenvolvimento econômico, científico e artístico, em especial, do espaço público do jovem país.” Novamente, o recurso a um periódico abre a possibilidade para a reflexão a respeito das características mais gerais da sociedade imperial brasileira e suas elites.

Esperamos com esse dossiê contribuir para as discussões e reflexões a respeito do tema proposto, seus desdobramentos, limites e possibilidades.

Bom proveito.

Luiz Alberto Grijó.


GRIJÓ, Luiz Alberto. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v. 19, n. 36, dez., 2012. Acessar publicação original [DR]

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História e Mídia / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2010

O Conselho Editorial e Consultivo da Revista História em Reflexão (REHR) apresenta para seus leitores a VIII Edição do periódico eletrônico. A temática do dossiê dessa edição, foi escolhida devido à crescente produção que envolve o uso das mídias, seja como objeto ou fonte de investigação histórica. Com imensa satisfação publicamos o dossiê História e Mídia, a fim de colaborar com as discussões dos historiadores acerca da utilização da imprensa na pesquisa histórica, assim como enriquecer o conhecimento acerca do tema.

Ao idealizarmos esse dossiê levamos em consideração a crescente produção acadêmica que se utiliza a imprensa como fonte e objeto de pesquisa. Além disso, tomamos como referência a crescente influência da mídia no cotidiano das sociedades, já que se utiliza de uma estratégia que procura inserir nas publicações o que é ansiado pelo seu público. A respeito desse aspecto, Robert Darton menciona em O Beijo de LamouretteMídia, Cultura e Revolução que devemos escrever para “imagens de pessoas”, as mais leigas possíveis (1990, p.71). Assim, entendemos a mídia como portadora de um discurso ideológico pelo qual procura influenciar os discursos, propondo representações carregadas de aspectos simbólicos. O fato das publicações dos diversos veículos da mídia se apresentar cada vez mais acessíveis, fez com que o mundo midiático fosse parte inerente do convívio diário humano.

Na historiografia brasileira que discute a imprensa, temos diversos autores e autoras que apresentaram propostas de metodologias que, sem dúvida, auxiliaram muitos dos trabalhos publicados nesse dossiê da REHR, são eles: Tânia Regina de Luca, Maria Helena R. Capelato, Nelson Werneck Sodré, entre outros. Tais autores apresentaram várias maneiras de se pensar historicamente, especificamente, a mídia imprensa. Destacam-se as colocações de De Luca ao considerar o fazer história “dos nos e por meios dos periódicos” através de um texto que merece a atenção dos historiadores, que foi publicado no livro Fontes Históricas organizado por Carla Bassanezi Pinsky (2005). De forma geral, as discussões acerca do universo midiático são muito amplas, dessa maneira a REHR procurou colaborar e apresentar textos que enriquecem tal historiografia.

Na atualidade, percebe-se um crescente aumento de trabalhos ligados à mídia considerada de “massas” como a televisão, rádio, Internet, por exemplo. No Brasil a popularização da mídia no final do século XX e início do XXI, fez com que muitos historiadores ligados à programas de pós-graduação se debruçarem à discussão acerca da cybercultura e do cyberespaço. Em geral, esses termos da atualidade apresentam a emergência de novos espaços de sociabilidade de um ambiente virtual que, com esse tipo de mídia cada vez mais próxima da população, anunciam um tempo em que a Internet permanece inerente ao convívio social de muitos. De certa maneira, assim como outros meios de comunicação, o ambiente virtual têm a Internet como um objeto que vem merecendo atenção dos historiadores, seja pelo apelo ao consumo que possui ou por ser uma ferramenta que auxilia e coloca o internauta em outra esfera de relacionamento humano.

A respeito do dossiê desse semestre (julho- dezembro / 2010) informamos que está repleto de artigos relacionados ao “universo da mídia”, além daqueles norteados por temas livres. A somar, resenhas e uma entrevista são apresentadas também nessa edição. De início temos o artigo Quantas grafias compõem a historiografia? Multimídia e novas linguagens em História de Genaro Vilanova Miranda de Oliveira, o qual cita que as mídias audiovisuais e sonoras que ainda não têm a atenção que merece da historiografia. Conforme o autor seus questionamentos estão centrados na possibilidade de pesquisadores, professores e alunos de História escreverem a partir de “alfabetos” baseados em sons e imagens e não apenas em textos de arquivos. Em um estudo que chama atenção, apresenta-se um método não convencional de escrita, a historiomidiografia. Através de uma proposta metodológica Oliveira propõe o uso de editores de imagem, de som e de ferramentas de Web design para ampliar as formas de narrar à disciplina histórica.

Em a Imprensa e Política no Brasil: considerações sobre o uso do jornal como fonte de pesquisa histórica, Márcia Pereira da Silva e Gilmara Yoshihara Franco discutem a utilização da imprensa como fonte de pesquisa focando as análises do político. As autoras colocam a imprensa como fenômeno da modernidade situando historicamente o advento da mídia imprensa no contexto brasileiro. Dessa forma, são analisados especificamente os jornais utilizando uma abordagem bibliográfica que pretende auxiliar àqueles que se iniciam na escrita histórica.

O trabalho Escrita histórica e escrita midiática: a produção de sentidos históricos e o acontecimento emblemático contemporâneo produzido por Sônia Meneses também compõe esse rol de artigos. Através desse estudo Meneses problematiza entre outros fatores os conhecimentos e acontecimentos históricos do mundo contemporâneo conforme as relações história e mídia. Dessa forma, a autora discute a influência da mídia no processo histórico, relacionando a formação e a relação do acontecimento midiático com o acontecimento histórico.

O trabalho de Juliana dos Santos Pereira e Fabiano Coelho Considerações sobre o “milagre econômico” brasileiro na imprensa douradense (1970-1973) se utiliza do campo político para analisar o discurso da imprensa da cidade de Dourados do atual Mato Grosso do Sul acerca do “milagre econômico”. Dessa forma, os autores apresentam o comportamento do periódico Folha de Dourados diante de um fenômeno que conheceu o surto desenvolvimentista do setor industrial e de sua infra-estrutura. De modo geral, o estudo procura analisar as representações do impresso diante as ações do Estado.

Diego Abelino José Maximo Moreira traz seu artigo O começo do rádio no antigo sul de Mato Grosso: instalação das primeiras empresas e seus objetivos (1930-1970). Nesse trabalho, Maximo analisa a instalação de emissoras de rádio nas seguintes cidades do atual Mato Grosso do Sul: Corumbá, Dourados, e Campo Grande. O autor leu em consideração a origem, capital e dificuldades enfrentadas pelas empresas. Conforme as colocações contidas no texto os proprietários eram de diversas localidades, localizados até mesmo fora do Estado de Mato Grosso.

No que se refere ao artigo A construção fílmica do passado: imagens e narrativas do movimento belicista de 1930, André Luiz dos Santos Franco discute sobre as representação fílmica contida em “Revolução de 1930” de autoria e direção de Silvio Back. O filme remonta ao ano de 1980, cinqüenta anos após o movimento civil militar que, através de um golpe, colocou no poder Getúlio Vargas. De acordo com o autor, o processo histórico onde se localiza o conflito serve de objeto para que o historiador possa compreender os métodos e técnicas utilizadas para originar a representação fílmica.

A seguir apresentamos aos leitores a sessão de Artigos livres dessa edição da REHR, iniciamos com o trabalho de Miguel Pacífico Filho Consenso, anacronismo e violência: a historiografia brasileira sobre a escravidão, que procura colocar em primeiro lugar fatores sobre a historiografia que versa sobre a escravidão, a partir de um confronto entre formulações que possuem sua base no consenso e aquele que considera a violência entre senhores e escravos como sendo plausível. Sendo assim, o autor salienta como tais debates se fundamentaram sob argumentos de anacronismo. Para além de tais questões elucidadas no texto, o autor expõe apontamentos mencionando alguns fatores que demonstra que tais debates extrapolam o universo acadêmico, situando por fim, o seu trabalho de doutoramento na discussão.

Luciano Demetrius Barbosa Lima apresenta o artigo Entre Cabanos e plebeus: a presença da história clássica romana na obra Motins Políticos. O autor toma como referência o livro Motins Políticos ou história dos principais acontecimentos políticos na Província do Pará desde o ano de 1821 até 1835 do historiador Domingos Antônio Raiol, para abordar questionamentos acerca da utilização por intelectuais brasileiros do século XIX, de fatores ligados à sociedade greco-romana. Lima através de seu estudo percebe tais referências em meio a uma descrição de conflitos políticos-sociais do Pará no texto de Raiol. O autor trata as menções à história Greco-romana a partir da noção de representação.

O artigo de Eder da Silva Silveira Estudo de caso e micro-história: distanciamentos, características e aproximações busca refletir sobre duas modalidades de pesquisa: o Estudo de Caso e a Micro-História. Atravéz de seu estudo o autor objetiva sinalizar algumas das principais características, distanciamentos, relações e aproximações entre Estudo de Caso e Micro-história.

No texto História Oral, Memória, História de Rodolfo Fiorucci sobre o uso da história oral e as publicações acerca da memória na trajetória epistemológica da disciplina histórica. No decorrer de seu texto Fiorucci faz uma breve explanação referente ao uso da história oral no Brasil e, além disso, trata dos métodos e teorias dessa vertente historiográfica.

O artigo do historiador José Costa D’Assunção Barros cujo título A escola dos Annales: considerações sobre a História do Movimento faz uma análise acerca do movimento dos Annales e suas respectivas fases que o compõe. Ao levar em consideração a sua importância para a historiografia, Barros trata de aspectos específicos que versam sobre a identidade dos Annales quanto um movimento. Desse modo, são analisados fatores ligados a interdisciplinaridade, a problematização da História, e as novas proposições nas formas de conceber o Tempo. Conforme esse entendimento o autor situa a discussão levando em consideração os novos rumos do saber histórico promovido pelos intelectuais ligados às fases tal movimento.

Rodrigo Machado da Silva apresenta o artigo Nas páginas descritivas do passado: a escrita da história como discurso para a civilização que traz um estudo sobre o que o intelectual mineiro Diogo de Vasconcellos discute a respeito da função e concepção de História. Através de livros de tal autor, como História Antiga Média de Minas Gerais Rodrigo M. da Silva analisa a construção e recepção da narrativa histórica na produção desse intelectual. Outro ponto abordado é aquele onde o autor do artigo analisa, é sobre a retórica utilizada para inserir Minas Gerais no que o estudioso mineiro tange como “ápice da civilização ocidental” durante o limiar do período republicano brasileiro.

Breno Mendes publica na presente revista uma análise cujo título Nossa (cordial) Revolução: o legado dos desterrados em sua própria terra remonta sua análise em algumas questões referendadas por Sérgio Buarque de Holanda que tiveram relevo na historiografia brasileira. Ao tratar de um tema que vincula esse historiador de renome, Mendes aborda de duas categorias referidas por Holanda: “cordialidade” e “nossa revolução”. O autor propõe analisar nesse texto o lugar social de Raízes do Brasil e na tentativa colocada pelo autor de uma “superação do passado”. Em linhas finais, o autor articulação entre conceitos que foram propostos por R. Koselleck e F. Nietzsche na narrativa de Holanda.

José Carlos da Silva Cardozo produziu e publica seu artigo O Juizado de Órfãos e a organização da sociedade nos anos iniciais do século XX, nesse texto, Silva estuda a atuação do Juizado de Órfãos da capital Gaúcha, Porto Alegre. Conforme os argumentos do autor, a instituição auxiliou para a regularização social de famílias da cidade, as quais enfrentavam uma situação de desagregação familiar, envolvendo menores durante o início do século XX. A partir de fontes que possuem informações sobre as tutelas dos menores, o autor percebe os valores morais nas decisões e desfechos de tutelas dos adolescentes e crianças.

Em Roma Locuta: Causa Finita? O repto da Igreja brasileira ao papado de João Paulo II texto elaborado por Lucelmo Lacerda, que procurou observar a formação do Cristianismo da Libertação e a oposição do Vaticano quanto à posição da primeira. Em seu texto o autor percebe a independência do modelo eclesial vinculados à Teologia da Libertação no interior da Igreja do Brasil. A partir de uma vasta bibliografia e entrevistas o autor propõe reordenar o relacionamento da Santa Sé e Igrejas locais.

Nesta edição a Revista Eletrônica História em Reflexão teve a honra de poder entrevistar o professor Jose Augusto Valladares Padua, professor do Departamento de História da UFRJ, que se dedica a pesquisar e escrever sobre a História Ambiental, figurando como um dos mais respeitados intelectuais brasileiros nesse campo. Influenciado por Warren Dean, seu livro Um Sopro de Destruição: Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista (1786-1888) é, certamente, uma indispensável leitura para os interessados na temática Ambiental sob a ótica do conhecimento histórico.

Para fechar essa edição da REHR, publica a resenha produzida por Ismael Gonçalves Alves, cujo livro resenhado é História da infância em Pernambuco organizado por Humberto Miranda e Maria Emília Vasconcelos.

A Equipe que compõe a REHR deseja para os leitores um ótimo aproveitamento dos textos publicados. Agradecemos a todos a credibilidade confiada e que o labirinto da História apresentado nessa edição colabore para as reflexões de todos!

Camila Cremonese Adamo

Fabiano Coelho

Daniele Reiter Chedid

Cássio Knapp

Fernanda Chaves de Andrade

(Editores)

Dourados-MS, Verão de 2010.


CREMONESE, Camila Adamo; COELHO, Fabiano; CHEDID, Daniele Reiter; KNAPP, Cássio; ANDRADE, Fernanda Chaves de. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 4, n.8, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]

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Ciência e Mídia / História Ciências Saúde — Manguinhos / 2010

Tenho o prazer de anunciar novo integrante do corpo de editores das seções da revista: Luisa Massarani, investigadora que há muito tempo se dedica ao estudo da divulgação da ciência, atual chefe do Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz. Em seu âmbito, Luisa havia criado o Núcleo de Estudos da Divulgação Científica (http: / / bit.ly / 63zyWY), que tem por objetivo promover a reflexão sobre temas concernentes a essa dimensão tão importante da ciência, antípoda ao encastelamento na ‘torre de marfim’, ao confinamento na linguagem esotérica que circula somente entre pares, no mundo competitivo do ‘publique ou pereça’, mundo muitas vezes alheio às necessidades, racionalidades e linguagens dos grupos sociais que não fazem parte do mundo acadêmico.

História, Ciências, Saúde – Manguinhos já teve uma seção dedicada a museus, que não perdurou, não obstante a presença frequente de artigos dedicados ao tema, inclusive uma edição especial, esgotadíssima – Museus e Ciências (v.12, suplemento de 2005 disponível somente on line, no site da SciELO). Diálogos Entre Ciência e Arte (v.13, suplemento de outubro de 2006) foi outra experiência bem-sucedida da revista, que busca, agora, com a ajuda de Massarani, entronizar de vez, na nossa linha editorial, os estudos sobre a divulgação científica. Eles são importantes para os leitores e colaboradores que já frequentam suas páginas e serão para aqueles que vierem a fazê-lo por força dessa iniciativa. Divulgação científica não constitui uma seção da revista, como foi, por um tempo, Museus. Sua editora incrementará a captação de bons materiais para as seções existentes, estudos – inclusive do tempo presente – sobre a comunicação de temas de ciência e tecnologia através de distintos meios: museus, jornais, internet, televisão, exposições, desenhos animados, filmes, histórias em quadrinhos, eventos de rua, artes plásticas etc.

No Brasil, a divulgação científica vem se aprimorando – cito como exemplo, da melhor qualidade, o Boletim da Fapesp (http: / / bit.ly / 93aU20). Como área acadêmica, tem crescido também. Em 1985 foi defendida apenas uma tese de doutorado sobre o assunto, conforme o banco de dados da Capes; atualmente são cerca de quarenta teses e dissertações a cada ano. Em 2009 a Casa de Oswaldo Cruz, a Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro e o Museu de Astronomia e Ciências Afins, com apoio da Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia da América Latina e do Caribe (Red-Pop), da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência e do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia (Ministério da Ciência e Tecnologia), inauguraram um curso de especialização em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde, que veio se somar a iniciativas educacionais mais antigas, entre elas o Núcleo José Reis, na Universidade de São Paulo, e o programa em Educação, Difusão e Gestão em Biociências do Instituto de Bioquímica Médica, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para mostrar que levamos a coisa a sério, na presente edição da revista reunimos num dossiê três artigos. Em “A ciência na primeira página”, Flavia Natércia da Silva Medeiros, Marina Ramalho e a própria Luisa Massarani analisam as chamadas de capa relativas à ciência e tecnologia veiculadas em 2006 na Folha de S.Paulo, jornal de elite nacional, e em dois jornais regionais: Jornal do Commercio, de Pernambuco, e Zero Hora, do Rio Grande do Sul. “Enquadramentos de transgênicos nos jornais paulistas”, de Danilo Rothberg e Danilo Brancalhão Berbel, trata dos enquadramentos e das agendas construídas pelos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo sobre a segurança de alimentos transgênicos, a fim de avaliar o potencial das informações oferecidas como subsídios à participação política, tendo os autores em mente, especificamente, uma consulta pública a esse respeito, promovida em 2007 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Iara Maria de Almeida Souza e Amanda Muniz Logeto Caitité assinam “A incrível história da fraude dos embriões clonados e o que ela nos diz sobre ciência, tecnologia e mídia”. A partir de notícias publicadas em jornais brasileiros, analisam a fraude cometida pelo cientista sul-coreano Woo Suk Hwang. Habitual-mente a exposição da ciência pela mídia põe em evidência descobertas e promessas de aplicação, mas nesse caso a ciência é mostrada em seu avesso, sendo a sua fabricação desnudada em virtude das tensões entre seus diferentes elementos e dos ilícitos em questão.

Os leitores encontrarão, em outra seção da revista, texto que guarda estreita relação com o tema do dossiê Ciência e Mídia. Trata-se da resenha de livro organizado por Regina Maria Marteleto e Eduardo Navarro Stotz, Informação, saúde e redes sociais: diálogos de conhecimentos nas comunidades da Maré, cujos capítulos estão em consonância com a revisão contemporânea dos processos de divulgação científica, analisando com propriedade as dimensões sociais e coletivas da construção do conhecimento.

Esperamos que essa ‘inauguração’ atraia contribuições igualmente valiosas para História, Ciências, Saúde – Manguinhos, e eu, para terminar, desejo aos leitores e colaboradores grandes alegrias e muita fraternidade no transcurso dos emocionantes jogos da Copa do Mundo. Que vençam os melhores!

Jaime L. Benchimol – Editor


BENCHIMOL, Jaime L. Carta do editor. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.17, n.2, abr. / jun., 2010. Acessar publicação original [DR]

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