Historiografia e História Intelectual / Varia História / 2015

)Não por acaso, este Dossiê escolheu como tema Historiografia e História Intelectual. O movimento historiográfico com renovado interesse, já há algumas décadas, tem registrado uma produção em uma escala bastante globalizada, marcada pela reivindicação de um alinhamento com a chamada História Intelectual, cuja definição tem comportado diferentes entendimentos, e cujas fronteiras disciplinares têm comportado deslocamentos sistemáticos e bastante e promissores. Em suas margens, delimitadas por variadas tendências, se tocam, se cruzam, se confrontam questões teórico-conceituais de tradições, linhagem e filiação diversas, as quais nem sempre se ocupam do mesmo objeto. O que por vezes confunde e obscurece as incursões dos interessados, já que nem sempre há clareza suficiente dos itinerários e dos percursos a serem seguidos, em um espaço que não se furta a alimentar debates, e tampouco descarta a possibilidade de sua autonomização no interior da disciplina histórica.

Sua geografia inclui espaços nacionais diversos, a exemplo da Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, França, Argentina, em instituições de renome, como as universidades de Cambridge, Oxford, Johns Hopkins, Cornell, Chicago, Yale, Quilmes , os institutos de Sciences Po, CNRS, em que filósofos, lingüistas, epistemólogos, historiadores, sociólogos do direito, enfim, nomes de grande reputação como Reinhard Koselleck, Quentin Skiner, François Sirinelli, François Foucault, M. Abensour , Charles Zarka, Carlos Altamirano, J. A. Pocock, Richard Rorty, Dominique La Capra foram definindo novas epistemologias e espaços de pesquisa. Entre a história intelectual e a história dos intelectuais, a história dos conceitos e a história da historiografia, a abordagem contextual e a reflexão lingüística, a internalidade e a externalidade dos textos vão pontificando os conceitos de semântica histórica, campo semântico, atos de linguagem, lance, formação discursiva, redes, gerações, corpus textuais entre tantos outros. Os avanços, as mudanças e as convergências entre as várias correntes no movimento de sua instituição foram introduzindo novos desafios e outras práticas: dos grandes textos filosóficos, históricos e políticos a outros corpus documentais, como os escritos dos publicistas, os manifestos políticos e culturais, os jornais e revistas, as correspondências, as biografias e autobiografia, dentre outros. Entra em cena a atenção sobre o papel das trocas culturais, a intertextualidade, a dimensão comparativa no âmbito da história conceitual e as inúmeras relações, já apontadas por estudiosos, “entre conceitos e práticas não lingüísticas: o gesto, a imagem, o cênico”. Neste vaivém das trocas entre teoria e empiria, pensamento e texto, o texto e o contexto, a multiplicidade de sentidos e a mobilidade das significações, a natureza histórica das obras e a instabilidade das mesmas, as performances do texto e as interpretações estabelecidas, as regras metodológicas e os processos de pesquisas se cruzam e extrapolam as fronteiras disciplinares, e se reforça a irredutibilidade de busca da historicidade.

O Dossiê aqui proposto pretendeu, entre outros objetivos, acolher reflexões de natureza historiográfica que pudessem trazer pistas ao leitor sobre o “estado da arte” da historiografia nas suas interfaces com o domínio da chamada História Intelectual. Os autores convocados, Jorge Eduardo Myers, Valdei Lopez de Araújo, Verônica Zarate Toscano e Gabriella Pellegrino Soares, conhecidos pela excelência da sua contribuição histórica e científica, aqui se detiveram em criativas e diversificadas análises que mostram como o manuseio de referenciais teórico metodológicos, afinados com a História Intelectual, pode contribuir para desvendar ricos aspectos no campo dos estudos do pensamento, da cultura e das práticas intelectuais, e dar mostras do seu impacto sobre o labor historiográfico e a escrita da história. Os textos tangenciam, quando não atacam diretamente, questões importantes como aquelas dos limites, bem como dos contatos, aproximações e possíveis tensões no interior da historiografia, entre a História Intelectual e a História das Idéias, uma vez que experimentam, na exploração dos seus objetos ou dos balanços que realizam as implicações da opção por uma ou por outra, em termos das aberturas hermenêuticas e / ou dos possíveis déficits epistemológicos.

A leitura das contribuições aqui apresentadas aporta aos leitores, por um lado, vários elementos especulativos. De outro, motivam e induzem perguntas e respostas, ainda que nem sempre diretas, e que não podem ser negligenciadas, a exemplo de ser ou não procedente a separação da História Intelectual frente a uma Nova História das Idéias. Que balanço pode ser feito da fortuna crítica nesses domínios, bem como nas interfaces da História Intelectual com a história dos conceitos, com a nova história política e com a história cultural? Como pensar as relações da História Intelectual com a memória e a narratividade da história? Como se complementam História Conceitual e História Social? Os textos publicados neste Dossiê fazem perfilar, nas suas diferenças de abordagem, pistas para se pensarem essas questões, ao tempo em que sinalizam para algumas tendências mais recentes, responsáveis por uma configuração outra da abordagem e da análise dos corpos textuais, sejam historiográficos, sejam do pensamento político, sejam documentais.

O Dossiê se respalda em estudos e análises históricas sobre o tema nos domínios de pesquisa dos convidados, daí contar com explorações mais pontuais, comparações e balanços, que propiciam importantes aportes para a historiografia do Brasil e de outros países também da América Latina, a exemplo do México e da Argentina.

Que os leitores da Varia Historia aproveitem e façam uma boa e proveitosa leitura!

Eliana Regina de Freitas Dutra – Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]


DUTRA, Eliana Regina de Freitas. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.31, n.56, mai. / ago., 2015. Acessar publicação original [DR]

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História intelectual e política / Varia História / 2005

A idéia de um dossiê da Revista Vária História organizado em torno da temática História Intelectual e Política origina-se de duas motivações fundamentais. De um lado alargar o horizonte de referências e, por conseguinte, de compreensão dos interessados no estudo das culturas políticas na história. De outro, destacar a contribuição da história intelectual “nas suas diferentes abordagens e perspectivas” para a análise dos fenômenos políticos, permitindo assim uma maior exploração das várias relações / interações entre a vida cultural e política. Junto aos interesses acima mencionados, este dossiê, como os demais da Vária História, visa assegurar um espaço para os debates historiográficos e o ensaio de novas idéias.

Na trilha do conceito de Direitos Humanos, sua emergência e estatuto no interior do mundo político moderno, o artigo de Lynn Hunt, O Romance e as Origens dos Direitos Humanos. Interseções entre História, Psicologia e Literatura, nos propõem a um só tempo uma reflexão criativa sobre os limites da história intelectual, e as vantagens do alargamento do seu escopo analítico. Nesta linha, a autora empreende uma arqueologia da linguagem dos direitos humanos, sem descurar dos discursos filosóficos e das disputas políticas por direitos, que tiveram como pano de fundo as Revoluções Americana, de 1776, e Francesa, de 1789, para então, via a leitura dos romances epistolares no século XVIII, encontrar na crescente autonomia individual e na noção de “empatia imaginada ” os fundamentos dos direitos humanos. Os efeitos psicológicos e emocionais provocados por esse gênero de leitura, a exemplo da conquista do self guardariam, assim, um dos segredos da ressonância dos direitos humanos.

Em História, eventos e narrativa: incidentes e cultura do quotidiano, Robert Darnton, na sua leitura do livro O Assassinato Sentimental. Amor e Loucura no século XVIII, de John Brewer, vai problematizar, com sua originalidade habitual, a emergência de uma nova história dos incidentes, surgida do interesse dos historiadores por fatos menores, mas nem por isso menos presentes na vida dos homens comuns ” à exemplo de crimes de assassinato, atrocidades, escândalos, entre outros que fazem a alegria da imprensa sensacionalista, ” bem como por sua repercussão pública e formas de apropriação e divulgação na mídia. Do acompanhamento crítico da análise de John Brewer, com seus vários meandros em torno de um crime passional na Londres do século XVIII, e de seus desdobramentos, versões e manipulações sentimentais, Darnton recupera a potencialidade da análise dos incidentes da vida cotidiana través das suas formas de comunicação midiática, o que nos é muito sugestivo para pensar os vários debates de idéias, e que, a seu ver, pode levar os historiadores a buscar e encontrar outras respostas no passado.

Por outras vias, o artigo de Christophe Prochasson, Emoções e Política: Primeiras Aproximações nos leva também aos sentimentos, em particular ao seu papel na vida política. Alinhado com a perspectiva de uma História Política que contemple, entre outras, as dimensões afetiva e simbólica, tal como possibilitada entre outros, pela aná- lise das culturas políticas, e após realizar um rico percurso historiográfico pelas novas formas de abordagem do político na História, o autor toma o pensamento político de Tocqueville como um caso exemplar a favor de uma história das emoções políticas. As emoções coletivas fundando vínculos políticos entre os indivíduos; a força das paixões, comandando a ordem política, ao lado dos mais legítimos interesses racionais; as cargas emocionais intervindo sobre os comportamentos políticos e as formas de ação; são temas que vão se perfilando na leitura instigante que o autor empreende de A Democracia na América e Lembranças de 1848.

Por seu lado Elías Palti, no seu artigo História das Idéias e História das Linguagens Políticas. Acerca do debate em torno dos usos dos termos “povo” e “povos”, revisita o tema da elaboração do conceito de nação na América Hispânica tomando como referente o discurso independentista e a utilização, no seu interior, de formas diferentes da palavra povo, seja no singular ou no plural, como chave para pensar a alteração das linguagens políticas. Em clara afinidade teórica com os estudiosos das terminologias e conceitos políticos, e em franca colisão com a antiga tradição de uma história das idéias, o autor estabelece um diálogo franco e consistente, com os aportes de uma historiografia que, ao analisar a concepção de nação conformada no discurso político latinoamericano do período da emancipação, acabou por definir uma chave de leitura baseada em antinomias, a exemplo de liberalismo / tradicionalismo, tradição / moderno, informadas pelo teor ideológico dos discursos.

No horizonte da história político-intelectual na Hispanoamérica Maria Helena Capelato, no artigo Cuadernos Hispanoamericanos: IdéiasPolíticas numa Revista de Cultura, acompanha a construção e instrumentalização de um ideal de hispanidad na trajetória de num periódico de cultura criado para circular nos países de língua hispânica, no âmbito de uma política americanista do governo espanhol definida após a segunda grande. Ponto de encontro de intelectuais e homens políticos oriundos das hostes franquistas, simpáticos ao nacionalismo, a revista ainda assim, nos mostra a autora, acolhe um múltiplo e contraditório conjunto discursivo. É justo esse aspecto que o artigo dará relevo, ao se orientar pela busca da relação texto-contexto e dos para-textos culturais, os quais conformam, na referida publicação, os padrões de uma interação das idéias com uma dinâmica político-social marcada pela emergência da Guerra Fria e pelas disputas de poder no interior do regime franquista.

A primeira grande guerra tomada como pano de fundo para uma história dos intelectuais e seus posicionamentos políticos é o tema do artigo de Yael Dagan, Civilizados, Bárbaros e Europeus. Três Homens de Letras em Face do Inimigo. 1914-1925. Nele, a autora segue os escritos e os conflitos pessoais de três importantes intelectuais franceses, a saber, André Gide, Jean Schlumberger e Jacques Rivière, em torno da mobilização patriótica durante a Primeira Guerra Mundial e no imediato pós-guerra, até 1925, período que qualifica da passagem da guerra à paz. Detendo-se nas representações do “inimigo nacional” conquanto elemento forte das representações coletivas da época, e rastreadas numa pesquisa meticulosa dos escritos desses homens, em particular seus textos na La Nouvelle Revue Française (La NRF,) e suas correspondências pessoais, a autora põe a nu os mecanismos de mobilização e de desmobilização cultural no qual esses escritores estiveram engajados, para além das suas experiências com a guerra.

O tema do engajamento, como princípio definidor da figura moderna do intelectual e de sua contrapartida, o silêncio dos intelectuais, é o fio condutor do artigo O Intelectual no “Campo” Cultural Francês: do caso Dreyfus aos Tempos Atuais, de autoria de Helenice Rodrigues. Do acompanhamento da noção de intelectual, remontando à sua origem no final do século XIX, na França . ocasião em essa categoria social faz sua aparição através da sua atuação política no espaço público . passando pelas várias concepções, formas e crises do engajamento dos intelectuais franceses ao longo da história contemporânea do século XX; e chegando ao ocaso de um modelo de representação do intelectual nos anos 80, a autora repõe a urgência de uma reavaliação da função crítica dos intelectuais. Na análise da força, no discurso engajado, de termos como verdade, valores morais, consciência crítica, liberdade; num contraste ente o intelectual engajado e o expert, um quadro vivo da cultura intelectual francesa é aqui traçado.

Diante de tal riqueza e diversidade espera-se que a organização desse Dossiê tenha cumprido seus objetivos.

Belo Horizonte, Verão de 2004 / 2005

Eliana de Freitas Dutra – Organizadora. Departamento História / UFMG. E-mail:
[email protected]


DUTRA, Eliana de Freitas, Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.21, n.34, jul., 2005. Acessar publicação original [DR]

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Fronteiras na História / Varia História / 1992

É fato inconteste que a pesquisa histórica contemporânea tem se efetuado num quadro de renovação da problemática histórica.

A expansão ilimitada da história para fora dos seus domínios tradicionais, não só tem revelado a amplitude das suas interrelações com as outras ciências humanas como revelado um fecundo diálogo conceitual.

No passo dessa “renovação” abriu-se um estimulante espaço de controvérsia pois, afinal, a fisionomia da produção histórica caleidoscopicamente se alterou. Dada a pluralidade dos enfoques, dos referenciais teóricos, e dos constantes e novos contatos de inter- face com outras áreas do conhecimento, Impõe-se a necessidade de um exercício critico-reflexivo voltado para as Interrogações dos historiadores.

Nesse processo, ainda em aberto, de discussão e mudança dos procedimentos históricos, a História está posta em questão através de Indagações que dizem respeito ao campo de trabalho dos historiadores, aos fundamentos epistemológicos da disciplina histórica, à singularidade do oficio do historiador e às novas possibilidades analíticas e heurísticas que se descortinam.

Este número especial da Revista do Departamento de História, é constituído por artigos apresentados no seminário “Fronteiras na História”, por nós organizado enquanto um espaço, multidisciplinar e plural, aberto para o debate sobre as perspectivas atuais do labor historiográfico.

Não estão incluídos neste número os textos das conferências de Maria Rita Kehl, História e Psicanálise e os de Renato Janine Ribeiro e Laura de Mello e Souza, acerca, respectivamente, de História e Política e História e Mentalidades.

No caso de Maria Rita Kehl isto se deveu ao fato do seu texto já estar previamente comprometido com outra publicação. Quanto aos de Renato Janine e Laura M e Souza, Infelizmente, não foi possível viabilizar sua edição por razões alheias à vontade dos coordenadores.

Alguns autores preferiram manter os seus textos na forma como foram apresentados nas conferências.

Muito embora o seminário tenha se realizado em maio de 1991, só agora nos foi possível fazer chegar o presente número às mãos dos nossos leitores, entre outros motivos, pela paralisação das atividades universitárias por mais uma longa greve ocorrida ao longo daquele ano.

A discussão sobre as fronteiras na história tem no texto de Alcir Lenharo, História e Radiofonia, que aqui se publica, uma grande contribuição. Primeiramente, porque ao discutir o próprio significado do titulo do Seminário na Introdução, o autor percorre um etinerárlo importante para a compreensão do conteúdo da produção h1stonográfica atual e de suas tendências no Brasil. Num segundo momento, Lenharo se dedica à reflexão sobre a cultura de massas no Brasil dos anos 50, o que vem sendo objeto de suas pesquisas nos últimos anos.

Ao se perguntar sobre o estatuto historiográfico de um tema como a radiofonia, cuja especificidade se destaca na programação do Seminário, segundo observação do próprio autor, o expositor demonstra exemplarmente a pertinência da preocupação do historiador de hoje com temas até ontem desprezados pela cultura tradicional. Dizemos até ontem porque o texto do Prof. Alcir Lanhara não deixará dúvidas sobre a propriedade da cultura de massa como matéria prima da história.

A história nas histórias de Machado de Assis foi o tema trabalhado por Sydney Chaloub na sua conferência História e Literatura. “Infiltrando-se” no texto de Machado, já que o autor nos reaviva a memória de Helena em sua exposição, Chaloub demonstra com grande eficiência a possibilidade de se trabalhar o texto literário como documento histórico.

A grande novidade da abordagem do autor reside, a nosso ver, na perspectiva com que ele lida com a literatura: não como um produto acabado de seu tempo, mas como algo que admite, ou mesmo requer, leituras ou interpretações renovadas.

O que estimula a análise de Chaloub é sobretudo o que ele apreende das entrelinhas do texto machadiano. Dai sua constatação de que Machado tem como foco de seu romance “a lógica de dominação que era hegemônica e organizava as relações sociais no Antigo Regime”, mesmo que sua “esperteza” faça parecer que no palco da Corte a escravidão tenha papel secundário.

A visão crítica do autor sobre os trabalhos de Schwarz e Gledson, dois autores que se dedicam à análise da obra de Machado, evidencia, como se verá, a especificidade do olhar do historiador sobre o objeto literário.

Foot Hardman, com sensibilidade, nos aponta as possibilidades do uso da fotografia como fonte frágil, fragmentária e que mesmo revelando pouco e escondendo muito, ou quase tudo, é capaz de sugerir “gestos expressivos, vozes inteligíveis, paisagens e fisionomias revolvidas (…) experiências dignas de serem reescritas e transmitidas.”

Com as fotos do fotógrafo Dana Merril sobre a construção da estrada de ferro Madeira-Mamará, ele torna visível um momento da construção de uma certa história nacional, que não prescindiu das imagens fotográficas não só enquanto um registro, de autoridade, dos acontecimentos históricos da época, mas enquanto registro em si mesmo da sintonia brasileira com a modernidade.

Foot nos fala das afinidades entre a História e Imagem, a prosa narrativa, o objeto e a figura, das ilusões da fotografia e, ao mesmo tempo, da sua capacidade de se deslocar de seu lugar e de seu tempo e de restaurar espaço, temporalidades, guardando, restaurando e evocando memórias.

As fotos de Dana Merril ficaram, ele nos diz, como um fio narrativo capaz de quebrar o Silêncio em torno do drama da Madeira-Mamoré.

E é sobre “narrativa” e contra o silêncio dos historiadores acerca da sua relação com a história que Ricardo Benzaquem escreve seu artigo.

Enfrentando a discussão, sobre História-Narrativa, a partir do pressuposto do que esta não cancela “as formas mais tradicionais de se trabalhar a história”, Benzaquem situa-se nesse debate ressaltando que a preocupação trazida pela questão da narrativa deve reverter em enriquecimento da reflexão sobre os tipos de história praticada.

Nesse sentido, o caminho escolhido para a sua reflexão foi percorrido, com sagacidade e erudição, tomando como norte principal o desenvolvimento do método crítico pelos historiadores da Escola Histórica Alemã.

Ao longo do seu percurso se esclarece a relação Intrínseca entre história e narrativa e como o recurso a essa última consolidou a concepção moderna de História que, por sua vez, se firmou contra a literatura. É, portanto, para a fronteira entre a história e a literatura que o tema da narrativa, tal como abordado por Benzaquem, vai nos conduzir.

Entre caminhos e fronteiras, finalizando o volume, o texto de José Sérgio l e1te Lopes reconstrói o itinerário histórico da relação entre História e Antropologia. Dos desencontros entre ambas, onde se destacam a recusa da História tradicional e do evolucionismo pela moderna antropologia, aos encontros e convergências a partir dos anos 60, através da valorização da história cultural e sua ênfase renovada nos anos 80 nas tradições, nas mentalidades, no simbólico, na arqueologia da vida material e na cultura popular entre outras, um profícuo diálogo teórico-conceitual se sedimentou.

Na história dessa aproximação entre História e Antropologia, José Sérgio destaca, com pertinência, por um lado o papel do grupo dos Annales e dos historiadores da sua última geração e, por outro, os de Evans Pritchard e Geertz no campo da antropologia e os de Pierre Bordieu e Norbert Elias, no da sociologia.

Da sua experiência como “antropólogo de fronteira”, dedicado a estudos já considerados clássicos, sobre trabalho e vida de “grupos de operários”, José Sérgio nos mostra como numa tradição antropológica faz história social e, ao fazê-lo refaz, na prática, a trajetória dos encontros possíveis entre História e Antropologia.

Eliana Regina de Freitas Dutra

Thaís Veloso Cougo Pimentel


DUTRA, Eliana Regina de Freitas; PIMENTEL, Thaís Veloso Cougo. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.8, n.11, jul., 1992. Acessar publicação original [DR]

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