Banzo | Roger Silva, Marcela Bonfim, Nego Júnior Wilson Smith, Felipe Santos e Pedro Paulo.

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[Banzo] | Foto: Divulgação/TNH1

Narra a mitologia romana (e a Wikipédia) que na região que hoje é a Itália, havia um homem que tinha trazido riqueza e prosperidade a partir da agricultura e do comércio. Janus era um homem de fisionomia curiosa, pois em sua única cabeça habitavam duas faces, cada uma olhando para lados opostos. Não tardou muito e os romanos logo o alçaram a categoria de deus, impondo a ele diversas manifestações, sendo a mais conhecida a sua relação com as mudanças e transições.

Por ser comumente reproduzido como um homem cuja cabeça tem duas faces em direções opostas, seu poder serviu de alegoria para diversas representações, sendo uma de interesse aqui: a questão do resguardo, enquanto sentinela, de alguma porta ou passagem, em especial a que liga o passado ao futuro e vice-versa. Leia Mais

Laborers and Enslaved Workers: Experiences in Common in the Making of Rio de Janeiro’s Working Class/1850–1920 | Marcelo Badaró Mattos

A versão em inglês do livro de Marcelo Badaró Mattos é um feito da história social brasileira em seu notável esforço de reconhecimento de excelência internacional.1 Debruçado sobre contexto específico – a cidade do Rio de Janeiro entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX –, o livro prossegue com a proposta de E. P. Thompson de derrubar as muralhas separadoras da história da agitação da classe trabalhadora da história cultural e intelectual do resto da nação (como está afirmado na Formação da classe trabalhadora inglesa, em seu prefácio). Como resultado, Mattos protagoniza um momento característico da historiografia brasileira, que é o foco na coexistência de trabalhadores livres e libertos, trabalhadores escravizados, ou não-livres. (Ou, simplesmente, trabalhadores.) Ao considerar a classe como processo e como uma relação – e não como um dado da estrutura social –, Mattos esclarece ser infrutífero voltar atrás no tempo apenas em busca de experiências de trabalhadores livres. Leia Mais

Escravizados e livres: experiências comuns na formação da classe trabalhadora carioca | Marcelo Badaró Mattos

Durante décadas, os pesquisadores avaliaram que o nascimento da classe trabalhadora brasileira foi epifenômeno mecânico das determinações estruturais: o florescimento do capitalismo industrial e a expansão do trabalho assalariado, após o fim do sistema escravista. Essas duas determinações estruturais teriam exacerbado a luta de classes ou, antes, engendrado a própria classe trabalhadora, que, nesse processo, adquiriu consciência de seu papel histórico, fundando sindicatos e partidos classistas na transição do século XIX para o século XX. Portanto, a formação da classe trabalhadora brasileira estava inextricavelmente ligada ao trabalho industrial-fabril e operário. O trabalhador livre e o trabalhador escravo no Brasil eram abordados, quase que invariavelmente, numa relação de dicotomia fixa, como duas categorias antagônicas e dissociadas, que jamais se aproximavam ou entrecruzavam em termos de vivências e experiências político-culturais.

Talvez, por isso, durante um longo tempo os especialistas da história social do trabalho ficaram apartados dos especialistas da história da escravidão. Os primeiros, quando investigavam a formação da classe trabalhadora brasileira, costumavam negligenciar a participação dos escravizados e ex-escravizados no processo. Já os segundos não davam a devida importância às experiências escravas no processo social do trabalho. Felizmente, esse panorama vem mudando, e as falsas dicotomias sendo superadas. Os historiadores estão cada vez mais se convencendo de que essas duas áreas de estudos e pesquisas são confluentes, entrelaçam-se, tecem interconexões, devendo, portanto, ser tematizadas de forma dialógica. Leia Mais