Nazareno Confaloni: arte & modernidade como experiência religiosa | Jacqueline Vigário

É preciso aproximar o artista da realidade vivida pelo povo, caso contrário, o artista viverá desambientado e incompreendido.

Frei Nazareno Confaloni

As produções acadêmicas pela lente da História Cultural têm muitos exemplos interessantes de reflexões historiográficas a partir das imagens, e a obra Nazareno Confaloni. Arte & Modernidade como experiência religiosa é um dos mais recentes deles. Vencedora do prêmio Sandra Jatahy Pesavento do ano de 2018, trata-se da tese de doutorado de Jacqueline Siqueira Vigário, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás em 2017, que acaba de ser publicada pela Edições Verona e discute a modernidade em Goiás a partir da vida e da obra do frei dominicano e artista plástico italiano, Nazareno Confaloni.

Ao longo de seu texto, Vigário nos leva pelos meandros da construção da modernidade em Goiás ao longo das décadas de 1950, 1960 e 1970, a partir das bases, especialmente, da Escola Goiana de Belas Artes (EGBA) e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), na esteira da transferência da capital goiana da cidade de Goiás para Goiânia por Pedro Ludovico Teixeira na década de 1940, sob as bênçãos do Estado Novo. As reformulações culturais do regime de Vargas são a base para o IHGG, que legitima culturalmente o Estado de Goiás em relação ao resto do Brasil, constituindo-se, segundo a autora, em uma instituição legítima no exercício de promoção dos projetos políticos de modernização e construção do imaginário de modernidade para Goiás (VIGÁRIO, 2021, p. 278). Leia Mais

Esportes nos Confins da Civilização: Goiás e Mato Grosso, c.1866-1966 | Cleber Dias

O livro “Esportes nos Confins da Civilização: Goiás e Mato Grosso, c.1866-1966”, publicado em 2018 pela editora 7letras, foi escrito pelo professor Dr. Cleber Dias. A obra em questão se propõe investigar a história do Esporte em regiões menos exploradas pelos pesquisadores que se interessam na respectiva discussão, problematizando ideias e conceitos enraizados sobre o que o autor denominou de “confins da civilização”. Para realizar tal empreitada a autoria utilizou-se de fontes historiográficas como ferramentas de pesquisa, em uma tentativa de ampliar os debates acerca da temática Esporte e cidade.

Cleber Dias se licenciou, no ano de 2004, em Educação Física pela Universidade Castelo Branco (UCB), especializou-se em Educação Física Escolar pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2006. No ano de 2008 se tornou mestre em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em 2010 obteve o título de doutor em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente o pesquisador é docente na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) onde atua no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer, dedicando-se particularmente aos estudos da História do Esporte e do Lazer. Contudo, a pesquisa apresentada no livro foi realizada no período no qual o autor foi professor na Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás. Leia Mais

Mobilidade discursiva: o periodismo político em Goiás | Cristiano Alencar Arrais

O período conhecido na história do Brasil como República Velha é recheado de acontecimentos e fatos que perpassam por uma prática oligárquica de governo. Nessa prática, a questão social é tratada como caso de polícia: greve dos trabalhadores ressoando de sul a nordeste, predomínio agrário na economia nacional, esquema político de continuísmo e manutenção de poder, e assombro da instabilidade econômica mundial. Estes fatores, além da disputa pelo controle do país, concentrada nas regiões Sul e Sudeste, somados à insustentabilidade do modelo liberal, deram vazão ao sentimento que culminou na Revolução de 1930.

Apesar do foco central dos olhares estarem inclinados para o que acontecia nos estados do Sul e do Sudeste, a força desse clima reverberava em todos os entes da federação. Em Goiás, a situação política que há quase duas décadas encontrava- se sob a chefia dos Caiados, tinha no seu bojo uma oposição que avistava no momento revolucionário, a oportunidade para a tomada de poder, e a renovação política no estado. Todavia, este movimento encontrou um governo de situação forte sustentado por uma política de acordos e alianças direcionada a manutenção de poder dos coronéis, que suprimiu os revoltosos, prendendo seu líder, Pedro Ludovico, que só foi solto após a notícia de que a revolução triunfara no eixo político brasileiro. Leia Mais

A dinâmica demográfica de Goiás – CHAVEIRO et al (BGG)

CHAVEIRO, Eguimar Felício; CALAÇA, Manoel; REZENDE, Mônica Cristina da Silva. A dinâmica demográfica de Goiás. Goiânia: Ed. Ellos, 2009. 129 p. Resenha de: RUSEL, Andréia Borges Alencar. Boletim Goiano de Geografia. Goiânia, v. 29 n. 2, jul./dez. 2009.

A obra intitulada A dinâmica demográfica de Goiás, dos geógrafos Eguimar Felício Chaveiro, Mano­el Calaça e Mônica Cristina da S. Rezende, expõe um estudo acerca da dinâmica demográfica do território goiano. É apresentada, no livro, uma rica exposição de dados secundários sobre a evolução do perfil popula­cional do estado para o período de 1970 a 2004, assim como, um debate especial a respeito das temáticas ser­tão, fronteiras e cidades médias em Goiás.  O livro é estruturado em três capítulos precedi­dos de uma breve introdução. Na introdução os auto­res destacam a importância de se adotar nos estudos demográficos além das clássicas categorias de análise como fecundidade, migração, distribuição da população no território, mortalidade, etariedade, novas categorias como cor­poreidade, gênero, etnia, movimento social, etc. Para os autores a incorpo­ração dessas novas categorias cria um “alargamento temático que desafia a investigação demográfica” (p. 12).  Ainda na introdução é apresentado aos leitores o pressuposto teórico que orientou o desenvolvimento do livro:  Não se entende o território goiano sem a dinâmica demográfica que lhe ins­taura concretude; e não se entende a demografia sem interpretar o território goiano que alimenta a dinâmica da população, em variadas acepções e ver­tentes. (p. 12) O primeiro capítulo intitulado de: território e o sujeito social trata da evolução da população goiana. Nesse momento os autores buscam respon­der às questões como: “tem algum valor compreender a evolução populacio­nal de Goiás? Analisar essa categoria – evolução populacional – tem algum respaldo no pensamento demográfico atualizado? “ (p. 17). Para tal objetivo adota-se dois período de analises: Goiás de 1930 até 1970, “período que se refere ao Goiás das políticas expansionistas (construção de Goiânia, Macha para Oeste, CANG, PNDs, os plano Rodoviários, etc)” (p. 18) e Goiás de 1970 até 2000 que: Representa um outro Goiás, amparado por infra-estrutura consolidada (rodovias, energia elétrica, comunicação), mas cindido (separação de To­cantins); um Goiás que sofre influencia da construção de Brasília; um ter­ritório com uma modernização conservadora que se articula à economia nacional e se prepara, posteriormente, se aglutinar à economia internacio­nal. (p. 19) Para os autores a análise do crescimento populacional do estado, nos dois períodos citados, permite uma compreensão da atual dinâmica popu­lacional, assim como das transformações produzidas por estas mudanças. demográficas.  Ainda no primeiro capítulo é analisado as transformações sociais de­rivadas das transformações espaciais no estado.

Durante a década de 1970, os investimentos realizados em técnicas e em in­fraestrutura como transporte, comunicação energia elétrica e modernização agrícola, concentrando-se na Mesorregião Sul do Estado, impulsionaram a manutenção de elevadas taxas de crescimento populacional, destacando-se a fixação de parcela da população de baixa renda aos arredores do município de Goiânia, principalmente em Aparecida de Goiânia e Entorno do Distrito Federal. (p. 27) No segundo capítulo, intitulado O espaço/tempo da estrutura da po­pulação, os autores destacam a importância do saber demográfico como um “instrumento de interpretação da estrutura e qualidade social” (p. 36). Um saber estratégico que serve tanto ao Estado e às instituições hegemônicas, como também aos setores de resistência da sociedade, especialmente, aos movimentos sociais.  Baseados em dados estatísticos secundários de órgãos oficiais como IBGE e estudos desenvolvidos pelo Programa das Nações Unidas para o De­senvolvimento disponíveis no Atlas do Desenvolvimento Humano no Bra­sil, os autores explicam as principais mudanças ocorridas nos padrões de fecundidade, mortalidade e estrutura etária da população goiana. Assim como as diferentes concepções de juventude e velhice.

O terceiro capítulo intitulado de A demografia e o território: unida­des e diferencialidades apresenta um estudo sobre o efeito e os impactos do processo migratório no crescimento demográfico do estado. Neste capítulo a migração é compreendida como um fenômeno social, conectado aos processo econômicos políticos e culturais.

Os autores apóiam-se em vários estudos teóricos para subsidiar as reflexões entorno da importância do processo migratório no crescimento populacional goiano, especialmente, a partir da década de 1970, período em que se registra queda do crescimento vegetativo em Goiás, fato demonstrado com o capítulo anterior. Apresentam as diferentes modalidades de migração que influenciaram e influenciam a densidade populacional, além de expli­car como a migração ocorre e como o território reage a esta dinâmica.  No terceiro capítulo encontramos informações que nos ajudam a compreender a atual distribuição desigual da população, com tendência a concentrar nos centros econômicos e em seus entornos.  O mapa da distribuição da população nos revela uma desigualdade na dis­tribuição populacional, destacando alguns municípios, o que representa a especificidade econômica, política ou cultural imposta por um modelo de desenvolvimento econômico que deu certo e ainda impõe sua forma hegemô­nica. (p. 87) Os autores apresentam, também, os fatores históricos que influen­ciaram na composição da população, como a vinda dos negros e europeus para suprir a necessidade de mão-de-obra, e o movimento ocasionado pela Revolução Industrial que motivou fortemente a migração mundial.

Os autores encerram o capítulo com uma breve redação quanto à mi­gração dos goianos para os países ricos pós-Atlântico, relatando a situação destes sujeitos expatriados.  O livro é uma obra didática e objetiva que apresenta, com clareza, alguns elementos básicos do saber demográfico e das bases conceituais para compreensão da dinâmica demográfica do estado de Goiás.

Andréia Borges Alencar Rusel – Licenciada em geografia pela Universidade Federal de Goiás.