Visões do tempo no medievo e a escrita da História/CLIO- Revista de Pesquisa Histórica/2022

No final do século XIX, ao criticar a linha de pensamento do positivismo, o filósofo Friedrich Nietzsche, em seu livro Aurora (1881), diz em seu aforismo de número 307: “Facta! Sim, facta ficta! [Fatos! Sim, fatos fictícios]. – Um historiador não se ocupa do que efetivamente ocorreu, mas dos supostos acontecimentos: pois apenas estes tiveram efeito. E, do mesmo modo, apenas dos supostos heróis. Seu tema, a assim chamada história universal (Weltgeschichte), são opiniões sobre supostas ações e os supostos motivos para elas, que novamente dão ensejo a opiniões e ações cuja realidade (Wirklichkeit) imediatamente se vaporiza e apenas como vapor tem efeito – uma contínua geração e fecundação de fantasmas, sobre as névoas profundas da realidade insondável. Os historiadores falam de coisas que jamais existiram, exceto na representação mental (Vorstellung)”1. Leia Mais

Cavaleiros de cola, papel e plástico: sobre os usos do passado medieval na contemporaneidade | Carlile Lanziere Júnior

Adolf Hitler numa propaganda nazista vestido com uma armadura e empunhando um estandarte com a suástica, manifestantes conservadores armados com escudos e espadas nos Estados Unidos, um cavaleiro com trajes que remetem à Idade Média e falas em latim convocando para atos contra o Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil. Percorrendo décadas de usos (e abusos) da Idade Média por movimentos políticos dos séculos XX e XXI, Cavaleiros de cola, papel e plástico: sobre os usos do passado medieval na contemporaneidade (2021) é expressão da atualidade e, quiçá, urgência dos estudos medievais no mundo contemporâneo, em especial no Brasil.

Em seu sétimo livro, o medievalista brasileiro Carlile Lanzieri Júnior, professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), explora novos domínios da história e da medievalística internacional, indicando a guinada arrojada que caracteriza as suas investigações nos últimos anos. Ainda que enquadrado entre os jovens historiadores brasileiros, Lanzieri Júnior é nome reconhecido entre os medievalistas do país, com dezenas de artigos e capítulos voltados, sobretudo, ao tema da sociedade e educação na Idade Média Central, dos intelectuais medievais e do controverso Renascimento do século XII. No entanto, demonstrando a inquietude que marca os intelectuais, ao menos desde 2016 o autor vem debruçando-se sobre novas abordagens e referenciais teóricos, em especial a História Global e os estudos pós-coloniais.1 Soma-se a tais vias a preocupação recente com os usos do passado medieval nas mídias digitais e na política contemporânea, temática que orientou projeto de pesquisa realizado na UFMT2 e que tem sido explorada nos últimos artigos,3 lives e eventos nacionais. Destarte, pode-se afirmar que Cavaleiros de cola, papel e plástico foi forjado no intenso diálogo acadêmico, estando atento aos problemas do tempo presente. Leia Mais

Resistência cultural, identidades e interações: as religiões monoteístas entre o diálogo e o conflito (período tardo antigo-medieval)  | Dimensões | 2021

O presente dossiê é resultado de um trabalho de interação internacional de mais de uma década. Tendo como líder e mentora a Profa. Dra. Adeline Rucquoi (CNRS – Paris/França), atingimos nosso quarto dossiê, além de outras interações em temáticas medievais, geralmente no âmbito da Península Ibérica medieval. À Dra. Rucquoi, nossa gratidão e amizade.

O primeiro artigo é de autoria dela. Seu título é muito explícito: El “otro” en la España medieval: ¿convertirlo o temerlo? Reflete sobre a percepção do outro, das interações do poder estabelecido com as minorias. Numa análise sutil e focada dirige-se ao tema da conversão das outras religiões, através de séculos de “convivência”. A historiografia dos quinhentos anos da expulsão, tentou ‘dourar’ a realidade, mas Rucquoi reflete sobre esta escrita da história. Leia Mais

Medieval Welsh Genealogy: An Introduction and Textual Study | Ben Guy (R)

This substantial book does two jobs. It undertakes the first full textual study of Welsh genealogical literature in the Middle Ages, and it provides a new critical edition of the most important texts. In the second of these roles it replaces Peter Bartrum’s Early Welsh Genealogical Tracts (1966), the workhorse on which everyone relied till now. In the first role, however, it has no predecessor. Bartrum offered only a modest commentary and apparatus. That cannot be said of Ben Guy’s book. The task of reviewing this imposing volume calls to mind a certain early Welsh poem in which an inferior warrior takes on the hero, like ‘a shrew that scrabbled against a cliffside.’

Readers may want to know what is so important about genealogy, and also why such basic source criticism is still needed in 2021. Genealogical thinking pervaded medieval Welsh views of the past and there was a dedicated literature of genealogy from a quite early date. There is plenty of material, therefore, and the general shortage of historical sources from early medieval Wales means that genealogies play an outsize role in the reconstruction of the country’s political history. As to why the texts were still in such a deplorable state of confusion, that is a consequence of an abundance of material combined with a shortage of investigators. Few historians have the time or inclination for this work. The astonishingly productive Peter Bartrum was an amateur scholar who worked in his professional life for the Meteorological Office. He has had few emulators, though the name of David Thornton deserves honourable mention, and other historians have dealt with individual problems. As a corpus, however, the earliest Welsh genealogical literature has never been reduced to textual order – until now. Leia Mais

Visões da Idade Média | Ricardo Costa

Ricardo da Costa é historiador e trabalha com diversos temas sobre o passado e o presente da humanidade. Especialista em História Medieval, publicou mais de cem trabalhos, originalmente em revistas especializadas no Brasil, assim como no exterior. Formou-se em História, na Universidade Estácio de Sá, e tem Mestrado e Doutorado pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente, é Professor Titular do Departamento de Teoria da Arte e Música da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). É conhecido, sobretudo, por seus estudos acerca de Ramon Llull, tendo traduzido para o português diversas obras do filósofo catalão, o que possibilitou conhecer um pouco mais a respeito desse mundo medieval.

Em Visões da Idade Média, o (a) leitor (a) encontrará bem mais do que artigos, mas entrará em contato com as temáticas do medievo existentes nas fontes históricas, sob a ótica de um historiador, que tem se dedicado há muitos anos ao fortalecimento dos estudos medievais no Brasil. Costa dá vida às fontes pesquisadas e interpretadas, em que enchendo o leitor de curiosidade e questionamento. Cada capítulo mostra uma parcela do mundo medieval, embora não haja ali um enaltecimento do período, almejase na obra desmistificar os conceitos e interpretações equivocadas em relação à Idade Média. Trata-se de um livro instigante, que em suas mais de duzentas páginas brinda o (a) leitor (a) com uma escrita agradável e estimulante.

O livro Visões da Idade Média aborda de maneira interdisciplinar a História, a Literatura, a Filosofia e a Artes. Cada seção contém três artigos, exceto a última secção que consta quatro textos, sobre essas áreas cuja a leitura (sem esgotá-las) conduz-nos a reflexões críticas. Entre eles, há um artigo inédito escrito em coautoria com o Dr. Milton Gustavo Vasconcelos, o qual versa sobre a Inquisição, isto é, tema que, embora já muito comentado e analisado, mostrou-se passivo de interpretações questionáveis, que o apresentavam como uma espécie de resumo da Idade Média.

Neste sentido, o autor traz sua interpretação sobre a Idade Média, indo na contramão de distorções não apenas naturalizadas acerca desse período, mas por vezes aprendidas erroneamente. Trata-se de um período de mil anos, com uma variada história política, cultural, social, econômica que está presente, seja na Europa, seja nas possíveis raízes medievais observadas na história do Brasil (FRANCO JÚNIOR, 2001). Como afirma Marc Bloch, a história não é uma relojoaria, mas “[…] um esforço para um melhor conhecer uma coisa em movimento” (BLOCH, 1965, p. 29).

O texto de abertura é provocativo, porque os autores desfazem alguns mitos a respeito da Inquisição bastante cristalizados no imaginário popular. Iniciam o prólogo, em tom de brincadeira, por meio de um diálogo fictício. Nessa “conversa”, Costa e Vasconcelos são questionados por um sobre veracidade da pesquisa, e os autores prometem dizer apenas a “verdade” sobre a Inquisição. Assim, despertam no (a) leitor (a) a curiosidade de imaginar cada cena descrita no texto, pois, são analisadas com precisão de detalhes, o que torna o texto agradável e imaginativo.

Na seção História, o autor lança uma provocação, ao intitular um de seus capítulos Para que serve a História? Para nada…, através de tal indagação, não somente prende a atenção do (a) leitor (a), mas já o (a) induz a uma possível resposta. Ainda neste capítulo, Costa narra suas experiências pessoais como docente, na tentativa de responder o porquê de estudar essa disciplina tão questionada.

No mesmo capítulo, Ricardo da Costa, diz que a História possui uma grande divergência no que tange às teorias e métodos, pois não haveria um consenso sobre “a razão de ser” dessa disciplina. Para isso, lança mão de sete perguntas, ou melhor, “sete perguntas, ou melhor, sete respostas para sete perguntas criam esse impasse” (p. 64) nas palavras do autor. Em seguida, apresenta seu ponto de vista acerca desse impasse e infere que o “passado não tem relação (nem culpa) com nossas propostas utópicas de futuro. Para termos uma proposta de futuro, não é preciso conhecer o passado. Basta sonhar” (p.72).

O autor cita o historiador Eric Hobsbawm, ao destacar que atualmente a História é “revista ou inventada por gente que não deseja o passado real, mas somente um passado que sirva aos seus objetivos” (p. 72). Para Costa, esse é um ponto muito interessante, pois é defensor de que há um equívoco no uso do passado para a justificativa de uma visão de mundo.

Conclui este capítulo, afirmando que, se o conhecimento histórico não tiver como finalidade tornar melhor os indivíduos e suas relações, sua serventia será apenas de “acirrar conflitos e aumentar conflitos e aumentar a violência de uns contra outros” (p. 72). Expõe então sua opinião sobre a questão central desse capítulo: “quem ama e sempre amou a História não está, nem nunca esteve em crise. Da minha parte, eu nunca estive em crise por causa dela, muito pelo contrário, ela sempre me causou um imenso prazer, o verdadeiro prazer de conhecer” (p. 83).

No capítulo seguinte, o autor afirma que a História é fundamental para as relações cotidianas e amplia as possibilidades de sua compreensão, apresentando questões relevantes para o (a) leitor (a) se questionar e pensar sobre a “crise” dessa disciplina. Costa vai além das explicações consolidadas que concerne à função da História dentro da academia, abrindo assim um leque referente ao papel da História e do historiador. Desta maneira, chama a atenção para a ressignificação da escrita.

No último capítulo dessa seção, o autor analisa crônicas hebraicas e cristãs, por meio de um tema muito debatido na atualidade, a saber, o antijudaísmo. Sabe-se que no decorrer dos períodos históricos há episódios marcados por acontecimentos nem sempre favoráveis a determinados grupos. Nesse trecho da obra, o autor menciona as primeiras perseguições dos judeus, mostra a resistência franca contra este povo e apresenta sucintamente a relação da comunidade judaica com a Igreja Católica e as Cruzadas. Por fim, Costa trata de vários massacres sofridos por esse povo, revelando os rastros dos ressentimentos e preconceitos com o outro ao longo da História.

Na seção Literatura, Costa se debruça sobre as Sete Artes Liberais (c. 1304- 1307), de Dante Alighieri, em que o poeta por meio da alegoria trabalha filosoficamente o tema das Artes Liberais nos complexos e “imaginários céus da Astrologia”. O autor discorre sobre a poesia, a filosofia e o amor de modo reflexivo e crítico, bem como tece comentários, acerca do uso da poesia pelos medievos em seu trato com a ciência e a filosofia.

Em seguida, o autor aborda a relação entre sonho e história, a partir da obra O sonho (1399), de Bernat Metge, trazendo uma reflexão filosófica a respeito de sua relevância para a sociedade medieval. Com base ainda na obra de Metge e na novela Curial e Guelfa (c. 1460), Costa apresenta a condição feminina sobre a perspectiva dos homens, com destaque para opressão sofrida por elas, para sua personalidade medieval e a para a voz das mulheres nesta obra. Diz o pesquisador: “[…] nela são as mulheres as verdadeiras protagonistas do enredo” (p. 176).

Na penúltima seção, intitulada Filosofia, o autor escreve sobre o Inferno, uma temática indispensável para o entendimento do imaginário do homem e da mulher medievais. Diante disso, deparamo-nos com dois espaços essenciais para a compreensão de como pensavam e viviam os habitantes deste período e de suas perspectivas em relação ao Paraíso e o Inferno. A preocupação com destino após a morte era uma indagação no medievo, já que a Igreja Católica, com a sua doutrina, levava os fiéis a crer que o principal objetivo dos homens era aproximar-se do Reino Celeste (ZIERER, 2013, p. 31).

Costa analisa a visão sobre o Inferno na ótica do filósofo Ramon Llull (1232- 1316), o qual dedicou algumas de suas obras ao Além medieval. Para Costa, sem “[…] esse incisivo pano de fundo imagético, perspectiva transcendental, não é possível compreender a mentalidade medieval (grifo do autor, p. 190). Se na Contemporaneidade, e portanto, com o crescimento da laicização a descrição do Inferno ainda desperta medo e tormenta, para uma parcela da sociedade medieval, por sua vez, esse espaço era uma arma utilizada para regular o comportamento humano.

No capítulo seguinte, o autor analisa a terceira parte do Tratado da Obra dos Dias, de Teodorico de Chartres (c.1155), texto em que predomina uma abordagem filosófica acerca do criador, sob a perspectiva cristã. Para analisar a concepção da divindade nesse tratado, Costa retoma a filosofia clássica e se debruça sobre Platão, Sêneca dentre outros, que influenciaram o pensamento de Teodorico, nas questões relativas à esfera divina. Em sua investigação a respeito de Deus, Teodorico conciliaria: “[…] a verdade da Revelação cristã com a verdade científica de seu tempo (isto é, a das sete artes liberais). Para ele, não havia incompatibilidade entre a fé e a razão” (p. 222).

No último capítulo da seção Filosofia, Costa escreve sobre a disputa entre Bernardo de Claraval e Pedro Abelardo, não somente importantíssima no contexto medieval, mas portadora de reflexões interessantes no que se refere ao debate entre homens de natureza tão oposta. Nesse sentido, o autor apresenta o imenso sofrimento de Bernardo frente aos escritos de Pedro Abelardo. De acordo com Visões da Idade Média, Bernardo pediu que os bispos lessem nos escritos, pois “[…] estavam escritas coisas insólitas aos ouvidos e mentes católicas sobre a Santíssima Trindade, a geração do Filho e a precedência do Espírito Santo” (p. 228). Costa apresenta as interpretações da história que envolve Bernardo e Pedro Abelardo, na perspectiva histórica, filosófica e teológica. No mais, finaliza seu texto com o seguinte questionamento: “Até quando distorceremos a Histórica?” (p. 248).

No capítulo que abre a seção Artes, Costa discorre sobre as representações da vida camponesa na arte de Benedetto Antelami (c. 1150-1230). Essa arte dava vida às estações, às colheitas, à labuta do jovem e robusto camponês medieval. Costa ressalta que nessa produção artística há a presença do estilo românico provençal, algo presente nas obras de Antelami. Costa destaca que “[…] a história do campo, do campesinato, é a história de um mundo social quase sem história” (p. 256).

No capítulo seguinte, Costa realiza um estudo das representações do corpo no Retábulo de São João Batista (1425-1430), de Bernat Martorell. Analisa as expressões faciais, os gestos, as mãos, os detalhes de uma verdadeira obra de arte, que parecem ganhar movimento e vida diante de quem a contempla, diante dos sentimentos de medo, admiração, tristeza, dor, alegria e assombro. O penúltimo capítulo da seção Artes, Costa faz uma análise histórica do episódio bíblico de Susana e os anciãos, um texto interessante que versa sobre a contemplação da beleza.

No capítulo que encerra essa seção, o autor chama a atenção dos (as) leitores (as) e historiadores (as) para algo que ele define como importante, pois, quem se dispõe a pesquisar dada temática torna-se imperativo ter “paixão”, afinco, seriedade e não omitir os fatos. Costa ressalta a relevância de se livrar das armadilhas da seleção viciada dos textos, e o cuidado ao querer “ressuscitar” o passado, já que “[…] para se fazer uma boa e apaixonada História, o historiador deve sair de si mesmo, deve se tornar acessível e ir ao encontro do outro” (p. 325). Além disso, quem escreve tem que ter maturidade, saber observar e analisar a cultura de cada época, pois “[…] a História é para maduros” (p. 330).

Costa mantém e dá sequência à estrutura do livro anterior, intitulado Impressões da Idade Média, outra coletânea de artigos, fruto do seu trabalho intenso como pesquisador. A organização do livro contou com o auxílio de alguns dos seus alunos, que o ajudaram na escolha dos artigos e e na seleção dos textos que viriam a compor as quatro divisões da obra: História, Literatura, Filosofia e Artes, que foram divididas em quatro temas: História, Literatura, Filosofia e Artes. O autor coloca em prática, como já havia afirmado em outro texto, que a História pode extrapolar os seus limites através de áreas diversas: “Não só a Política, não só a Economia, mas a História conceitual, a Arqueologia, a Literatura, a Artes, o Clima, o Corpo, enfim, o tempo, em todas as suas ricas contradições, diversidades e paradoxos” (COSTA, 2016, p. 304, grifos do autor).

O autor aborda o que considera os principais temas que fazem parte da sua trajetória acadêmica. Deste modo, apresenta a sua perspectiva sobre a História, a sociedade e a cultura medieval, dentre outras temáticas que nos ajudam a compreender como foi forjada a sociedade ocidental. Os textos reunidos nesta coletânea de artigos têm em comum a preocupação de mostrar as inúmeras formas de interpretar o passado, assim como de compartilhar o conhecimento histórico, fruto de um trabalho árduo e minucioso, levado a cabo por meio de diversas fontes.

Sem dúvida, as reflexões do professor Ricardo da Costa contribuem para novas visões sobre a Idade Média, já que muitos categorizaram esse período como “Idade das Trevas”, negando neste a produção de conhecimentos, e a existência da cultura, do amor etc. Tais interpretações conservadoras apontavam a Igreja como detentora do saber, acusando a de esconder e barrar a ciência, com o intuito de explorar e manter os homens e mulheres medievais na ignorância. Infelizmente, muitos ainda são influenciados por essa visão preconceituosa.

Ademais, ao discorrer sobre o começo de sua trajetória acadêmica, não economiza críticas em relação à academia. Costa via-se como “um bom rebelde „pósaborrescente‟” e fala das “centenas de „leitores de orelha‟ e de resenhas de livros e que nunca leram um livro até o fim” (p. 63). A nosso ver, a afirmação do autor é parcialmente justificável e Costa recai em generalizações. Sabe-se que no Brasil, marcado pelas diversas desigualdades, muitas pessoas carecem de incentivo e condições de levar os estudos adiante, porém isso não é uma condição de escolha, mas fruto da realidade de miséria e falta de recursos.

O autor também fala da importância de relacionar o texto e imagem, sempre, no entanto, com sensibilidade e rigor. Além das ponderações aqui feitas, esta resenha é um convite à leitura da obra completa, para que os leitores tirem suas próprias conclusões e construam as suas próprias intepretações. É nesse sentido que o livro Visões da Idade Média, torna-se uma leitura indispensável para todos aqueles que pesquisam o período medieval, assim como todos (as) que são amantes do conhecimento e admiradores dessa época multifacetada e rica de transformações, conhecida como Idade Média.

Referências

BLOCH, Marc. A Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

COSTA, Ricardo da. As múltiplas Idades Médias de Jacques Le Goff (1924- 2014). Brathair, São Luís, (UEMA), v. 16, n. 2, p. 303-314, 2016.

COSTA, Ricardo da. Impressões da Idade Média. São Paulo: Livraria Resistência cultural, 2017.

FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade média: nascimento do ocidente, São Paulo: Brasiliense, 2001.

LE GOFF, Jacques. O Imaginário Medieval. Lisboa: Estampa, 2004.

ZIERER, Adriana. Da ilha dos bem-aventurados à busca do Santo Graal. São Luís: Ed. UEMA, 2013.

Natasha Nickolly Alhadef Sampaio Mateus – Doutoranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História e Conexões Atlânticas: culturas e poderes (PPGHIS), da UFMA, sob financiamento Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA). Mestra em História, Ensino e Narrativas pelo programa de Pós-Graduação em História, Ensino e Narrativas (PPGHIST), UEMA; licenciada em História (UEMA); licenciada em Pedagogia e Bacharela em Teologia pela FATEH. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9634-665X E-mail: [email protected]


COSTA, Ricardo. Visões da Idade Média. 2ª ed. Santo André, SP: Armada, 2020. Resenha de: MATEUS, Natasha Nickolly Alhadef Sampaio. Brathair – Revista de Estudos Celtas e Germânicos. São Luís, v.20, n.2, p. 275- 259, 2020. Acessar publicação original [DR]

Viagens e Espaços Imaginários na Idade Média | Vânia L. Fróes, Edmar C. Freitas, Sinval C. M. Gonçalves, Miriam C. Coser, Raquel A. Pereira, Ana Carla M. Castro

Sempre houve relatos do contínuo deslocamento da humanidade, sejam nos tempos pré-históricos, passando pelas narrativas Homéricas e relatos de Heródoto, chegando até o medievo, onde o homem desse período saía de seu lar com objetivos diversos, desde um monarca para ver suas terras, até o peregrino em expiação aos pecados.

Essa é a tônica do livro Viagens e espaços imaginários na Idade Média, lançado pela Anpuh Rio no anos de 2018, com textos dos membros do Scriptorium Laboratório de Estudos Medievais e Ibéricos, um dos mais antigos, atuantes e prestigiados grupos de pesquisa em estudos medievais do Brasil, com pesquisas que abrangem vários campos da cultura e do conhecimento do medievo, entre eles literatura, política, imaginário, iconografia e música, assuntos abordados nessa produção de 246 páginas, cuja organizadora principal é a Prof. Dra. Vânia Leite Fróes, fundadora do Scriptorium, laboratório que em 2019 completou 32 anos de existência.

O livro reforça a ideia de que o homem medieval se movimentava bastante, quebrando estereótipos de que os medievos possuíam uma vida restrita ao seu lugar de nascimento, pois segundo Jacques Le Goff:

A imagem construída pela historiografia tradicional, de uma Idade Média imóvel em que o camponês está ligado à terra e a maioria dos homens e mulheres à sua pequena pátria, com exceção de alguns monges viajantes e de aventureiros das cruzadas, foi recentemente substituída pela imagem, certamente mais justa, de uma humanidade medieval móvel, frequentemente a caminho, in via, que encarna a definição cristã do homem como viajante, como peregrino, homo viator”.1

Desta forma, o livro organizado por Fróes reforça o pensamento de Le Goff sobre os indivíduos no medievo e a ideia de viagem. Estes possuíam não somente mobilidade física, mas mobilidade em imaginário e representações, onde estes homens projetavam sua caminhada na terra, numa peregrinação que se encerraria ao chegar ao Além.

O livro está dividido em seis partes, todas tratando de diversas concepções de viagem. Na primeira parte, Viagens e o poder régio, vemos a observação do poder real, com suas várias configurações de viagens, sendo essas imaginárias ou reais, como consolidadoras de imagens úteis em captação de aliados.

A publicação tem como início, após a apresentação da Coordenadora e Pesquisadora do Scriptorium Prof. Dra. Vânia Leite Fróes, o relato da viagem feita pelo Infante D. Pedro no texto de Ana Maria S. A. Rodrigues (Centro de História/Universidade de Lisboa) e o percurso deste nobre da terra Santa até sua ascensão ao trono, numa peregrinação para legitimar e dar credibilidade a sua imagem de governante, na disputa pela memória e honra, contra a sua cunhada, D. Leonor de Aragão.

No texto seguinte, de Douglas Mota Xavier de Lima (UFOPA-Santarém/ Vivarium-Scriptorium) mostra um olhar sobre a diplomacia em Portugal do século XV, no reinado de D. Afonso V, além das próprias viagens do rei à Paris visando se encontrar com o rei Luís XI, em busca de apoio contra o reino de Aragão.

Fechando a primeira parte temos o capítulo de Priscila Aquino Silva (Faculdade de São Bento/Unilasalle, Niterói-Scriptorium), tratando da trajetória de D. João II, o Príncipe Perfeito e sua esposa D. Leonor, a construção de sua identidade régia baseada em sua devoção, onde o casal era unido nas peregrinações, mas oposto em suas posições políticas.

A segunda parte Viagens nas representações iconográficas traz uma série de textos com análises de iconografias e suas diversas significações: padrões estéticos, esculturas miraculosas, representações infernais e gravuras sobre martírio e triunfo. As imagens na Idade Média possuem uma função de formação moral e de atestar a presença e ação de Deus. Trabalham com a ligação entre o humano e o divino, pois passam uma mensagem transcendental. Como afirma Jean Claude Schimtt no seu livro O Corpo das Imagens: A imagem medieval se impõe como uma aparição, entra no visível, torna-se sensível. […] Mediadoras, as imagens estavam entre os homens e o divino.2

Abrindo essa sessão, há dois textos de Tereza Renata Silva Rocha (Scriptorium/ UFF). O primeiro analisa a coletânea cristã Legende Dorée, num percurso explicativo sobre as mudanças nos padrões estético e artístico do medievo, além de fazer uma pertinente observação sobre a luta entre bem e mal pela alma humana e tudo o que esse processo envolve, como os pactos diabólicos.

No segundo texto, a autora traz uma avaliação sobre o Volto Santo, uma escultura atribuída a Nicodemos, o qual, num percurso miraculoso, aparece na Legende Dorée, na sessão intitulada Festes Nouvelles, que traz vidas de santos e o Volto Santo, que atrai peregrinos e fiéis até os dias atuais.

No capítulo seguinte, de Patrícia Marques de Souza (CHA/UFRJ), temos uma análise da versão em latim da Ars Moriendi (Arte do Bem Morrer), e suas gravuras, que tratam da morte, mas também de anjos, santos e da Virgem Maria. A autora também mostra uma observação pormenorizada da representação da Boca do Leviatã como porta do inferno e suas diversas interpretações no medievo.

Ao fim dessa segunda parte, temos o texto de Vinícius de Freitas Morais (CHA/UFRJ/Scriptorium), tecendo uma análise sobre o beato Simão de Trento, nos diversos relatos escritos e imagéticos que tratavam das circunstancias do seu assassinato. As narrativas mencionam que os acontecimentos envolvolveram sequestro, tortura e morte, ocorridos durante a Semana Santa, além de gravuras que retratavam seu martírio e triunfo.

A parte três tem o título Viagens e Peregrinações, remetendo às falas de Jérôme Baschet: “Toda peregrinação é na Idade Média, uma aventura, um risco; se o destino é longínquo, as pessoas redigem o seu testamento antes da partida ou, ao menos, tomam o cuidado de pôr em ordem os seus negócios, como se a viagem fosse sem volta” 3 , mostrando um amplo panorama de deslocamentos expressos nas cantigas, em tradições familiares e as movimentações de uma rainha que foi consorte em duas coroas.

O primeiro texto desta sessão, escrito por Lenora Mendes (Conjunto de Música Antiga da UFF/Scriptorium), traz um a visão acerca das devoções e peregrinações expressas nas cantigas medievais e traça a rota dos principais lugares de peregrinação, especialmente em direção à Santiago de Compostela, significativamente citado nas cantigas de Santa Maria.

O escrito seguinte, de Tomás de Almeida Pessoa (Scriptorium/UFF), relata a tradição da família de Gregório de Tours em empreender peregrinações anuais a Brioude, local onde repousava o corpo decapitado de São Juliano. No texto vê-se que o itinerário da peregrinação era usado como uma jornada na terra para chegar a Deus.

O terceiro texto dessa parte é de autoria de Letícia Simmer (Unirio). Trata de Eleanor de Aquitânia, uma mulher de destaque na França e Inglaterra devido a casamentos com os monarcas dos dois territórios, que vivia em constante movimento desde a Segunda Cruzada, passando pelo território inglês, Jerusalém, Sicília, Navarra, Pisa, Roma, além de muitos territórios da França.

A sessão quatro tem como título Viagens e Escatologias, onde são expressas viagens ao Purgatório, além de como os vivos poderiam ajudar aos mortos nessa jornada, e o percurso de Maomé de Jerusalém ao céu, expresso em traduções Afonsinas.

Essas viagens eram ligadas à salvação e purgação dos pecados, que eram uma preocupação do homem medieval como explica a professora Adriana Zierer no resumo do artigo Paraíso versus Inferno: a Visão de Túndalo e a Viagem Medieval em Busca da Salvação da Alma (séc. XII):

A salvação na Idade Média estava ligada à idéia de viagem. O homem medieval se via como um viajante (homo viator), um caminhante entre dois mundos: a terra efêmera, lugar das tentações e o Paraíso, Reino de Deus e dos seres celestiais. Se o homem conseguisse manter o corpo puro conseguiria a salvação. Se falhasse, sua alma seria condenada, com castigos eternos no Inferno ou provisórios no Purgatório. Era um paradoxo da Idade Média que a alma pudesse ser salva somente pelo corpo, devido à esse sentimento de culpa, proveniente do Pecado Original. Caso o maculasse, sua alma sofreria a danação com castigos eternos no Inferno ou provisórios no Purgatório”. 4

O primeiro texto da parte 4 é de Tereza Renata Silva Rocha (Scriptorium/UFF),onde a autora faz uma exposição sobre o Purgatório de São Patrício na Legenda Áurea, através da jornada de um nobre chamado Nicolau e seu desejo de se penitenciar no Purgatório. Neste contexto, Rocha mostra a construção desse espaço no imaginário medieval ocidental do além, assim como seu destaque deste na Legenda Áurea, sua geografia , igualmente como a descrição do Leviatã e as bocas do Inferno.

Dando sequência, temos o texto de Viviane Azevedo de Jesuz (Cultura Inglesa/ Scriptorium), que traz uma análise sobre as visões da morte na vida cotidiana do homem medieval e qual a participação dos vivos no descanso eterno das almas dos seus. Essa participação era geralmente expressa nos testamentos, nos quais, além de obrigações aos herdeiros, faziam doações e atos de piedade com o intuito de manter a memória do morto para a família e o meio social.

No terceiro texto dessa quarta parte, Leonardo Fontes (Arquivo Nacional/Scriptorium) apresenta o percurso da viagem escatológica de Maomé por diversos lugares. Estes espaços iam de Jerusalém ao céu, expostos nos arquivos da Corte de Afonso X, através de sua Oficina Tradutória, importante scriptorium de confluência entre diferentes culturas, assim como de valorização dos ensinamentos do rei e de seus súditos, a obra, A -MI AJ, que possu a versões latina, castelhana e francesa. Tal obra difundiu o Islã pelo continente europeu e influenciou diversos escritos importantes, como a Divina Comédia.

A quinta parte do livro é intitulada Viagens e materialidade das narrativas: das bibliotecas régias às estalagens. Aqui, as viagens se iniciam na observação das estalagens e mostram que os livros são meios de expressão de viagens, caças e jogos, que suscitam deslocamentos de várias figuras importantes como D. Dinis e o contato com o Preste João.

Esta sessão traz um rico apanhado de informações sobre os livros de viagem. Conforme nos diz Paulo Lopes, professor do Instituto de Estudos Medievais de Portugal (IEM-FCSH-UNL) em seu artigo Os Livros de Viagens Medievais na revista Medievalista (p. 5): “Os livros de viagens oferecem uma visão bastante clara da concepção do mundo e da realidade na Idade Média, ao mesmo tempo que constituem uma fonte incontornável para compreender aspectos muito diversos da cultura medieval”.5

No primeiro artigo da quinta parte, de Beatris dos Santos Gonçalves (IBMEC /CÂNDIDO MENDES/ Scriptorium), há uma análise de como se dava a dinâmica da hospitalidade nas estalagens portuguesas nos séculos XV-XVI. A autora observa as tensões e cotidianos desses abrigos, além do que estas ofereciam e a quem pertenciam, assim como eram concedidos sua autorização de funcionamento, sua lógica de funcionamento e os benefícios advindos da coroa por estarem bem posicionadas.

O segundo artigo, escrito por Carolina Chaves Ferro (UniCarioca/Scriptorium), apresenta uma observação sobre o gênero de literatura de viagem e seus aspectos reais e imaginários. Dos relatos celebres religiosos e suas origens como a Viagem de São Brandão e a Legenda Aurea, assim como as narrativas presentes nas bibliotecas régias como o Livro da Cartuxa de D. Duarte, Marco Polo em latim e a Conquista d’ultramar, um outro ponto recorrente, segundo o texto, é a questão das índias e o Preste João.

O terceiro texto, de Jonathan Mendes Gomes (UEMG-Carangola|Scriptorium), destaca o papel da caça no contexto dos jogos de cavalaria, nos aspectos de espaço e movimento de folgança e também de deslocamento e itinerância régia. Os livros de caça eram aprovados pelos reis e eram usados como mecanismos de instruir ludicamente e promover o bom lazer, além de suscitar o domínio de espaços de privilégios e domesticação do meio natural, que fortaleceria a presença do monarca, no caso, D. João I.

A sexta e última sessão do livro, intitulada, Da magia à contemporaneidade: viagens no tempo e no espaço, que trabalha com a relação entre o medievo e os tempos atuais, fazendo a análise de Merlin e a magia, assim como se configura a visão do medievo, seus conceitos e estudiosos na contemporaneidade, mostrando que esse período tão rico traz ainda hoje aprendizado e relevância, como diz Hilário Franco Jr, no texto Somos Todos Idade Média, de 2008: “Assim, estudar História Medieval é tão legítimo quanto optar por qualquer outro período. (…). Neste sentido, pode ser estimulante mostrar que, mesmo no Brasil, a Idade Média, de certa forma, continua viva”6.

O artigo que inicia a sexta parte, de Átila Augusto Vilar de Almeida (ex-docente da UEPB/Devry João Pessoa e atualmente professor da UFAM/Scriptorium), propõe uma observação acerca de Merlin, suas representações contemporâneas e sua concepção no medievo especialmente nos textos de Robert de Boron, escritos entre os séculos XII e XIII, que tratavam do rei Artur e do Graal. Um Merlin, construído sob uma concepção cristã, embasando seu nascimento e origem de seus poderes mágicos sob a égide do cristianismo.

O artigo de João Batista da Silva Porto Junior (UNESA/UFF) encerra o livro, abordando o interesse do século XXI pelo medievo, e tal afirmativa se torna evidente quando se vê a produção cultural e acadêmica sobre essa temática, que o autor realiza, fazendo um apanhado de estudiosos medievalistas, assim como dos conceitos e suas ressignificações desta época.

Enfim, o livro é uma rica fonte de referências e um importante conjunto de informações sobre as diversas configurações de viagens, em suas varias formas, sendo físicas, ou simbólicas, concretas ou imaginárias, numa visita de nobres e mártires, homens e mulheres, que se aventuraram além das fronteiras, em busca de conhecimento, redenção ou legitimação.

Num contexto onde, cada vez mais, a ressignificação abre novos leques, e a reafirmação de períodos e temas relevantes são resistências contra os interditos do mundo atual, que tentam isolar, e reduzir os horizontes do conhecimento, num percurso que nem no medievo, apesar dos perigos, ameaças nas estradas e salteadores, enfrentou: o risco de cerceamento da liberdade de viajar através do saber e da ciência.

Notas

1. LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Petrópolis: Vozes, 2010.p.97

2. Schmitt, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Tradução de José Rivair Macedo. Bauru, SP: Edusc, 2007, p.16.

3. BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo: Editora Globo, 2006, p. 351.

4. ZIE E, Adriana. “Para so versus Inferno: A Visão de Túndalo e a Viagem Medieval em Busca da Salvação da Alma (Século XII)”. In: FIDO A, Alexander e PASTOR, Jordi Pardo (coord). Expresar lo Divino: Lenguage, Arte y Mística. Mirabilia. Revista de História Antiga e Medieval. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio/J.W. Goethe-Universität Frankfurt/Universitat Autònoma de Barcelona, v.2, 2003, pp. 137-162. Disponível em: Mirabilia 2 (2002). www.revistamirabilia.com. Acesso em 28 de julho de 2019.

5. LOPES, Paulo. Os Livros de Viagens Medievais. In Medievalista. Lisboa: Ano 2. Nº 2, 2006. p 1-32.

6. FRANCO JÚNIOR, Hilário. Somos todos da Idade Média. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Sabin, ano 3, n. 30, p. 58-60, mar. 2008. Disponível em: http://www.editoradobrasil.com.br/portal_educacional/fundamental2/projeto_apoema/pdf/textos_comple mentares/historia/7_ano/pah7_texto_complementar01.pdf; acesso em 20 de julho de 2019.

Elisângela Coelho Morais – Doutoranda PPGHIS-UFMA/Bolsista Capes. E-mail: [email protected]


FRÓES, Vânia Leite; FREITAS, Edmar Checon de; GONÇALVES, Sinval Carlos Mello; COSER, Miriam Cabral; PEREIRA, Raquel Alvitos; CASTRO, Anna Carla Monteiro de. (Org.) Viagens e Espaços Imaginários na Idade Média. Rio de Janeiro: Anpuh-Rio, 2018. Resenha de: MORAIS, Elisângela Coelho. Brathair – Revista de Estudos Celtas e Germânicos. São Luís, v.19, n.1, p. 275- 282, 2019. Acessar publicação original [DR]

La Edad Media en capítulos. Panorama introductorio a los estudios medievales | Lídia Raquel Miranda

Este livro é uma introdução geral à cultura medieval, particularmente à sua literatura, destinada aos que, estudantes ou leitores comuns, precisam conhecer os traços fundamentais dessa cultura. O livro está dividido em oito capítulos, cada um deles concluindo com exercícios de análise e interpretação prática: “Manos a obra” prevendo portanto o seu uso em sala de aula ou em grupos de estudo. A Professora Lídia Raquel Miranda, editora e inspiradora da obra, redigiu cinco capítulos, pelos quais começaremos a apresentação. O primeiro tem como título (tradução nossa):” O medievo em metáforas e apreciações: a cultura popular e a cultura acadêmica na encruzilhada”, e discute como formamos mentalmente nossas ideias acerca do passado. As recordações do passado pessoal e familiar são distintas das elaborações acadêmicas acerca da história das culturas e civilizações, mas existe certa contaminação das imagens comuns, por vezes perpassadas de ideologias, mesmo em sala de aula, por preconceitos e noções deturpadas. É o que explica que a palavra Idade Média seja rodeada de conotações estranhas, mesmo entre pessoas instruídas: teria sido uma sociedade violenta, pobre, sem lei, ou então exótica, vivendo na natureza… A historiadora desenvolve a seguir sua argumentação sobre qual seria o modo mais correto de abordar a Idade Média, já que ela se constitui como a matriz do presente. Aqui radica a questão que conclui o capítulo: porque estudar a Idade Média? Mais do que respostas prontas Lídia Raquel levanta reflexões, indica bibliografia variada, e propõe dois exercícios: um de análise de um texto de autoria de um medievalista da Universidade de Córdova (Argentina), e outro de interpretação de um texto de opereta medieval. A mesma historiadora aborda, no capítulo 5º, a tradição do amor cortês na cultura ocidental. A construção e consolidação da cristandade europeia deu-se através de sucessivas realizações e conflitos, e deu origem a uma cultura diferenciada regionalmente, mas que tinha na região central da Europa seu principal foco de criação de dispersão. Foi aí, na França, que se originou um dos complexos culturais mais significativos e quase onipresentes: o amor cortês. Dele a autora descreve e analisa as variantes e características. Destaque especial merece a obra de André Capelão – Os três livros do amor – extensamente descrito e comentado. No 6º capítulo Lídia Raquel trata da retórica medieval introduzindo o tema sob uma ampla teoria semiótica, e ao mesmo tempo atenta à importância prática e às variedades do discurso medieval; para ter em conta esses diversos aspectos a autora aborda questões da retórica clássica grega e romana, da exegese cristã e da pregação dos primeiros séculos, e da posterior arte de pregar, bem como os modelos do discurso escolástico. A retórica é característica da vida pública e na Grécia nasceu com as práticas jurídicas e políticas, passando depois às educacionais; pouco a pouco nela se distinguiram as partes da comunicação, suas operações e formas. Santo Agostinho recomendava que para o orador cristão é mais importante conhecer as Escrituras (exegese) do que usar os artifícios da oratória, princípio que orientou os sermões medievais; mas o capítulo lembra também os poetas laicos, particularmente os jograis, e sua influência na fala religiosa; menos poético, mais formal e estruturado, foi o discurso acadêmico, que conhecemos como escolástica. O capítulo conclui ressaltando a importância da retórica atual, e propondo vários exercícios baseados em texto literários medievais, e sobre o marketing político (coach). No capítulo 7º Lídia Raquel estuda o surgimento dos idiomas românicos, a partir do latim, sua vulgarização e evolução por influência de outros povos que circularam no continente e ilhas. Dois tipos de idiomas se formaram, em toda a Europa romanizada: os regionais, muito variados e mesclados, e o latim erudito, que permitia a comunicação literária entre as novas nações. A autora detém-se na descrição de como se formou a língua castelhana, estudando não só os processos filológicos, mas também os políticos, que conduziram ao predomínio do castelhano como idioma espanhol, tanto na Península como na América Hispânica. Algumas propostas de exercícios, e a bibliografia auxiliam o estudante a aprofundar as questões, nomeadamente a origem dos vocábulos e as ambiguidades fonéticas. O capítulo final (8º), ainda de autoria da organizadora da obra tem como título “Um estudante perdido no museu: à procura das cores e formas do Medioevo” (tradução nossa); propõe-se ser um guia para que o iniciante se oriente no meio dos significados estéticos medievais: as cores e as formas das imagens. Resume em poucos traços o tipo de arte das várias épocas e lugares – primeiros séculos, bizantina, arte das nações germânicas, arte nos mosteiros, românico, gótico. Feita esta apresentação o capítulo discute os valores humanos transmitidos pelas imagens, pelos espaços divididos e organizados. Assim, no que se refere ao simbolismo da cidade, encontra-se a sobreposição ou justaposição de quatro modelos: Jerusalém, Babilônia, Roma e Bizâncio; conforme as intenções e propósitos o mapa medieval, ou a ilustração, trazem um ou mais desses modelos, substituindo deste modo longas explicações. Outras metáforas e símbolos do espaço são explicadas: o castelo, o labirinto, o mar, a floresta, o jardim, a água… O imaginário medieval passa ainda pelas representações de Deus, de Jesus Cristo, e dos santos, e também do homem e do corpo humano em suas atividades. Lugar importante era dado aos animais (os bestiários) e também aos animais mitológicos. Nas propostas de atividades práticas do capítulo destaca-se a intenção de relacionar entre si as diversas artes medievais e a literatura.

Passamos aos três capítulos elaborados por autores convidados. Jorge Luís Ferrari faz um percurso histórico pela economia e pela sociedade medievais (cap. 2º) dos séculos XI ao XV. Em breves pinceladas Ferrari expõe a composição social do Império Romano, seus conflitos de classe, e as causas da decadência, onde o cristianismo se insere. Entretanto os germanos invadiram o mundo romano, e de toda essa mescla surge o sistema político, social e econômico do feudalismo. Este é descrito em sua estrutura e fundamentos ideológicos e em suas fases e modificações, inclusive pela introdução de técnicas agrícolas. Mecanismos e rotas de mercado explicam o apogeu dos séculos finais da Idade Média, mas a crise do século XIV –peste negra e Guerra dos Cem anos – decretaram o declínio da civilização europeia, enquanto o feudalismo estremecia, e o poder real se fortalecia com o apoio da burguesia. Helga Maria Lell, no capítulo (o 3º) sobre as instituições jurídicas e filosóficas da Idade Média, começa por expor o nascimento das instituições do direito romano para em seguida mostrar como elas se alteraram, ou completaram, com o advento do cristianismo. Essa evolução conduz ao estudo da filosofia, e ao seu uso a serviço da religião cristã. A autora dedica então algumas páginas a expor as doutrinas dos dois principais mestres da filosofia cristã – Agostinho e Tomás – feito o que volta à Hispânia Romana, para se deter na relação entre direito, filosofia e religião durante o domínio visigótico, e apenas lembrando a fase seguinte da Península: as peculiaridades da cultura árabe/muçulmana. É também de forma breve que a autora descreve os traços do direito canônico, da organização universitária, e da consolidação do direito hispânico, sobretudo em Castela. Uma linha de tempo, ou cronologia simplificada, permite abranger em síntese rápida os principais traços destacados no capítulo. O exercício final é bastante extenso e completo, baseado na Carta Puebla, ou ordenação de repovoamento, confrontando-a com um texto de Tomás de Aquino. O capítulo 4º é de autoria de David Rodríguez Chaves; nele se descreve e comenta a literatura irlandesa e inglesa medievais, destacando no título duas características: o sincretismo pagão/cristão, e o uso da alegoria e da metáfora. Da literatura irlandesa e sua continuidade bretã são expostos temas mais conhecidos: as viagens para Ocidente e o ciclo arturiano, mas também outro menos citado: o Sonho da Cruz. As viagens dos monges irlandeses, os imrama, eram um derivado da tradição celta da aventura espiritual incerta em direção ao desconhecido; elas são símbolos da busca da perfeição repassados de fantasias, de encontros com animais fabulosos, homens estranhos, gigantes, visões e miragens, fontes milagrosas, seres meio homens meio animais. O autor não diz, mas sugere, ou subentende, que as Viagens de Gulliver podem ser descendentes desta literatura, até porque seu autor, Jonathan Swift (1667-1745) era irlandês. A narrativa de Sir Gawain e o Cavaleiro Verde utiliza outro topo de simbolismo para passar do relato pagão para o cristão: os símbolos referentes aos ciclos da natureza. Neles sobressai a passagem da natureza morta para o mundo dos vivos por ação do Sol (Gawain) e da Deusa Mãe. O caso do Sonho da Cruz é inverso: o evento cristão é visto pela cosmovisão pagã celto/germânica, em que a cruz é a árvore Yggdrasil, e Cristo é um chefe guerreiro. No conjunto da obra este capítulo é importante porque é o que mais clara e consistentemente relaciona o apogeu do cristianismo com seus antecedentes da Antiguidade Tardia e com as religiões proto-históricas. Essa interpretação, realizada em poucas páginas, foi possível não só pela habilidade e conhecimentos do autor mas também pelas características da cultura celta, que manteve até aos dias atuais uma capacidade de inserção no cristianismo que lhe deu durabilidade e pervivência. Os exercícios propostos em Mãos à obra dão sequência a essa ideia de interpenetração cultural, ao usar verbos como relacionar, mesclar, amalgamar, influir apontando não só para comparações de formas externas mas de temáticas, que evoluíram sem perder seu significado original.

O livro cumpre os seus objetivos de forma muito adequada e satisfatória: mostra a grande variedade de expressões da cultura medieval, contrapondo-se à ideia comum de uma Idade Média uniforme e monótona; destaca a vitalidade das realizações medievais, e sua criatividade; sugere e desperta curiosidade para futuros estudos de quem lê o livro. Talvez por necessidade pedagógica de se ater ao que é mais usualmente discutido, e ao que é mais diretamente influente na realidade sul-americana os autores optaram por não desenvolver algumas dessas variáveis, sobretudo as que dizem respeito à primeira fase da Idade Média – ou Alta Idade Média – e as que tratam da cultura medieval na Europa do Norte e do Leste. No entanto os diversos capítulos, e o conjunto da obra, oferecem suficientes indícios para que o estudante procure colmatar essas lacunas.

João Lupi – Docente do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]


MIRANDA, Lídia Raquel (Editora). La Edad Media en capítulos. Panorama introductorio a los estudios medievales. Santa Rosa: Universidad Nacional de La Pampa, 2015. Resenha de: LUPI, João. “La Edad Media en capítulos” por João Lupi. Brathair – Revista de Estudos Celtas e Germânicos. São Luís, v.18, n.2, p. 136- 139, 2018. Acessar publicação original [DR]

Impressões da Idade Média | Ricardo da Costa

Ricardo da Costa é um medievalista de um espírito inquieto.[1] Tendo sido profissional da área da Música por vinte anos, cursou História no Rio de Janeiro, na Universidade Estácio de Sá [2], Mestrado e Doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF) e depois realizou concurso para História Antiga e Medieval no Departamento de História da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), onde ingressou em 2000. Lá esteve nos departamentos de História, de Filosofia e atualmente é lotado no Departamento de Teoria da Arte e Música. Criou nos anos 90, quando a maioria de nós nem conhecia bem a Internet, uma homepage de estudos medievais que até hoje é uma referência nessas investigações e que contém documentos medievais traduzidos e textos publicados do autor em revistas especializadas no Brasil e no exterior [3]. Além disso, criou, com outros pesquisadores, em 2001, a revista Mirabilia, igualmente uma referência nas pesquisas sobre o Medievo e hoje pertencente ao Institut d’Estudis Medievals da Universitat Autònoma de Barcelona [4]. Costa fez três pósdoutorados internacionais [5] e também participa do corpo docente de doutorado internacional na área de Cultura Medieval [6].

Seu livro, Impressões na Idade Média, condensa artigos já foram publicados e contempla alguns textos inéditos. Ao ler a obra, lembrei das concepções de um importante historiador, discípulo do medievalista Jacques Le Goff (1924-2014), Jean Claude-Schmitt (1946-). De acordo com ele, no medievo o imaginário trata das relações dos homens entre si, com Deus e com o invisível. Em suas várias obras Schmitt explica que na Idade Média havia imagens visuais e mentais e que as imagens visuais muitas vezes ajudavam o espectador a se transportar para o mundo da imagem e se aproximar de Deus[7].

Podemos perceber este traço interessantíssimo no livro Impressões da Idade Média, de Ricardo da Costa. O autor possui o mérito de conseguir fazer com que seu leitor saia do “aqui e agora” e se transporte para o momento que os capítulos relatam. É, por exemplo, o caso do primeiro artigo do livro, que trata do luto na Antiguidade. Costa explica que as mulheres muitas vezes se machucavam e ele nos remete para a imagem 4 da obra (Mulheres aos prantos, eremitério de Santo André de Mahamud, Burgos, Espanha, séc. XIII). Ao ler a descrição do autor e observar a imagem, parece que nossa própria face sofre um calor e “sente” a ardência do ferimento do arranhão causado pelas viúvas sofredoras a si próprias.

O autor aproxima História e ficção e faz o leitor (cada um de nós), “viver” em outros momentos históricos, como se transportados numa verdadeira máquina do tempo, para outro momento histórico e para outros lugares. O leitor consegue viajar entusiasmado junto com o nosso autor para as paragens aonde ele nos conduz, de forma eficiente.

Ricardo da Costa escreve de forma agradável, o que nos recorda também a escrita de um importante medievalista brasileiro, que influenciou muitas gerações dos anos 80 até a atualidade: Hilário Franco Jr [8]. Este último, além de redigir de forma séria e ao mesmo tempo saborosa, também se volta para outros campos de interesse, como a História do Futebol. Costa é como ele, pois consegue abordar vários assuntos e temporalidades, sempre com o olhar central voltado para o seu objeto maior de interesse, a Idade Média.

Embora dialogue com a História, a Literatura, a Filosofia, a Arte e a Música – o livro é dividido nessas quatro áreas – Ricardo da Costa é, definitivamente, um historiador. Sua formação em História aparece na maneira de indagação dos documentos, bem como em seu olhar com relação ao momento histórico quando foi composto cada documento que analisa. O aspecto interdisciplinar do livro e da trajetória do autor seguem de perto os pressupostos da chamada Escola dos Annales, criada por Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre (1878-1956) em 1929, e que propunha, desde a fundação da revista Annales, a necessidade de a História dialogar com outras Ciências Sociais [9], como Costa faz com muita propriedade.

Outro elemento relacionado a esse fazer historiográfico dos primeiros annalistes foi a ampliação do uso da documentação do historiador, que considera como documentos outras fontes, como as literárias e artísticas, e a preocupação com os “modos de sentir e pensar”, depois entendidos por Le Goff, da terceira geração deste grupo, como as mentalidades [10]. Na reformulação do conceito realizada por este autor, a mentalidade é substituída pelo “imaginário” que, segundo o medievalista francês, vai além do conceito de representação, com ligações com o ideológico e o simbólico [11]. Ricardo da Costa segue essa direção, adotada por Le Goff e Duby e também trilhada por Hilário Franco Jr., entre outros medievalistas, no Brasil.

Outro traço importante do livro, relacionado à herança dos Annales é a chamada longa duração [12]. Costa consegue perceber muitos elos entre a Antiguidade e o Medievo, ao contrário da noção de ruptura entre esses dois momentos históricos, além da noção de continuidade entre Idade Média e Moderna, concordando assim com pensamento de Le Goff, que nega uma ruptura no chamado “Renascimento” e defende que a Idade Média se estende até a Revolução Francesa [13].

Também importantíssimo para a Escola dos Annales e para Ricardo da Costa é a chamada História-problema, que responde a questionamentos com base nos documentos e na análise do pesquisador; e, muito relevante em todo livro é a preocupação em responder a questões do presente. Marc Bloch em sua obra magistral, a Apologia da História, já dizia que os seres humanos olham o passado buscando compreender o presente, sendo necessário desconfiar dos documentos, fazer questionamentos a eles, além do fato de que há documentos falsos e que mesmo estes precisam ser analisados, além do fato de que o historiador precisa “ouvir” os silêncios e lacunas das fontes. Ricardo da Costa, através da sensibilidade e do uso da Arte, procura se aproximar do passado para compreender a sociedade atual.

Outro mérito do autor é o fato de conseguir dialogar com diferentes momentos históricos. Com certeza um medievalista que consegue analisar e escrever sobre diferentes períodos da História e utilizando a Filosofia, a Arte e a Literatura em suas investigações, tem a possibilidade de oferecer uma visão mais ampla do momento central que analisa, a Idade Média já que ele mesmo possui um campo de visão mais vasto. Os artigos com os quais mais me identifiquei foram os que trataram da História e da Literatura, pela minha predileção natural às relações entre História e Literatura. Mas todo o conteúdo deste livro é interessante.

O livro é harmônico em sua organização. Quatro partes, com três capítulos cada, totalizando doze. Pensando no número três, lembramos que se refere à Trindade, a união das três pessoas divinas, de acordo com o Cristianismo. Coincidência ou uma alusão do autor à religiosidade cristã?

Na primeira parte do livro, intitulada História, Costa analisa o papel do luto, abordando os períodos Antigo e Medieval. A seguir discute a visão de Maomé tecida pelo filósofo catalão Ramon Llull (1232-1316) e a relação dos cristãos no medievo com este filósofo. Já no capítulo 3, relaciona História e Música, trabalhando ao mesmo tempo com As Bodas de Fígaro, de Mozart, a música medieval e a música clássica contemporânea. Sobre este capítulo, o autor afirma a importância da sensibilidade para “recriar o passado com as palavras do presente que se arrojam no futuro” (p. 60).

A segunda parte do livro, Literatura, inicia com uma análise da formação da língua portuguesa e sua relação com o castelhano e o catalão, discutindo as cantigas galego-portuguesas e outros documentos, além de mencionar autores como de diversos momentos históricos como o Conde D. Pedro (século XIII), o Padre Antônio Vieira (século XVII) e o poeta parnasiano Olavo Bilac (séculos XIX-XX). Costa salienta sobre como trabalhar esses diferentes momentos históricos, seguindo o pensamento do medievalista Georges Duby (1919-1996): “a primeira obrigação do historiador, sua principal atividade é a imaginação” (p. 70) (grifo nosso).

No capítulo seguinte, aborda as relações entre História e Literatura na novela de cavalaria Curial e Guelfa, produzida em catalão no século XV. De acordo com o autor, sua proposta foi analisar “os sentimentos dos personagens, suas expressões proverbiais e as citações mitológicas recorrentes ao longo da narrativa” (p. 119), pois o manuscrito incorpora elementos da cultura greco-romana. Além disso, segundo o autor o texto mostra sentimentos das relações feudo-vassálicas, como a amizade e a fraternidade entre os homens desenvolvida no contexto do ideal da cavalaria medieval (p. 121).

No capítulo que fecha a parte Literatura, Costa aborda o gênero epistolar, através das cartas de Bernardo de Claraval (1091-1153). Estas, de acordo com o autor, eram voltadas ao amor ao próximo e contribuíram para o desenvolvimento da história do “Eu”, da individualidade, iniciada na Idade Média Central. Essas cartas eram ditadas, voltadas para vários assuntos e públicos e, segundo Costa, S. Bernardo em seu tempo, mais de uma vez “lamentou […] a pouca recepção de suas palavras.” (p. 143). De acordo com Impressões da Idade Média, a conversão da consciência e o apelo a esta era realizada por Bernardo através do eu amoroso: “Sem o amor, o Eu nada é, nada consegue, pois suas palavras não frutificam, suas lágrimas são inutilmente vertidas.” (p. 145).

Na parte três, intitulada Filosofia, Costa inicia com as raízes clássicas da transcendência medieval, analisando a Filosofia Medieval como profundamente arraigada na da Idade Antiga, havendo uma continuidade entre ambas. Desta forma, aborda de que maneira filósofos gregos (Platão e Aristóteles) e romanos (Sêneca) refletiram sobre Deus. Segundo Costa, para Aristóteles (384-322 a. C.): “Deus existe como bem, e por isso é o Princípio do qual dependem o céu e a natureza” (p. 173-174), concepção depois retomada por Dante Alighieri (1265-1321) em sua obra prima, a Divina Comédia.

Seguindo as reflexões sobre a figura de Deus, o capítulo seguinte do livro trata da eternidade de Deus segundo Ramon Llull. Costa salienta que, em seu propósito de modificação da fé dos islâmicos, o pensador catalão criou uma filosofia de conversão ao catolicismo que possuía a herança das três religiões monoteístas (Cristianismo, Judaísmo, Islamismo), além de absorver e recriar as meditações de Platão, Aristóteles, Agostinho, Anselmo entre outros, e de possuir analogias com as concepções de Bernardo de Claraval (p. 201).

O terceiro capítulo da parte Filosofia é dedicado ao pensamento do semiólogo Umberto Eco (1932-2016), com base em suas ideias tratadas em sua obra Arte e Beleza na Estética Medieval, que resgata o passado através da Arte e discute o simbolismo da luz (claritas) e a ideia estética do universo.

A última parte do livro, parte quatro, é dedicada à Arte. Primeiramente Costa analisa os camponeses, com base nos vitrais góticos das catedrais de Chartres e de Amiens no século XIII. Devido à invisibilidade desses grupos na maior parte das fontes escritas, é muito interessante encontrá-los em profusão nos documentos imagéticos analisados pelo autor. Costa destaca tanto a importância do trabalho do campesinato, estampado nas catedrais, como a importância destas construções e da arte gótica para os estudos de História Medieval.

Os dois últimos capítulos do livro tratam da figura do corpo medieval através da Arte [14]. O penúltimo discute as concepções defendidas por filósofos medievais em seus tratados como Hildegard de Bingen, João de Salisbury, Tomás de Aquino. Analisa o corpo em algumas imagens medievais e também as do corpo ser o cárcere da alma, o corpo como instrumento e também como desregramento.

O último texto do livro analisa o martírio de Thomas Beckett (c. 1118-1170) visto pela Arte, através de iluminuras, de vitrais do século XIII, da representação da morte daquele religioso estampada numa caixa do século XII e da análise do afresco da absidíola de Santa Maria de Terrasa, na Catalunha (1180), em comparação com relatos escritos. O capítulo aborda o corpo martirizado cujo assassinato foi encomendado pelo rei Henrique II (1133-1189), com quem o arcebispo se desentendeu, gerando a seguir essas representações que enfatizaram a lembrança do acontecimento, logo depois a canonização de Beckett e o arrependimento público do monarca.

Saliento sobre a publicação Impressões da Idade Média a qualidade do material de análise e da parte gráfica, com cada capítulo iniciando com uma letra diferente, espécie de letra gótica estilizada e uma faixa vertical com decoração floral, no canto esquerdo da página inicial de cada capítulo. Isso faz o livro lembrar um manuscrito medieval. Também é importante destacar a qualidade do Caderno de Imagens do livro, muito rico e com figuras em excelente resolução.

*

Passo agora a mencionar algumas discordâncias com o autor de Impressões da Idade Média. Em primeiro lugar, o interessantíssimo artigo sobre Ramon Llull e a questão da conversão dos muçulmanos (cap. 2 na parte 1 do livro). Com certeza, concordo com Costa sobre o fato de que Llull realmente tinha por propósito central converter os islâmicos. No entanto, o fato de ter aprendido árabe para debater com eles e de ter estudado os escritos árabes e relacionados à religião islâmica mostram que Llull apresenta uma visão mais conciliadora que inclusive a adotada nos dias atuais nos conflitos entre religiões, de forma que eu suavizaria as críticas a este pensador no tocante à relação com o Islamismo e sigo a inclinação, defendida por alguns pesquisadores, de que Ramon Llull foi uma espécie de precursor do chamado diálogo inter-religioso [15]. Só o fato de ter ouvido o “outro”, ter debatido com ele e ter procurado compreender a sua cultura, para logicamente, converter o “infiel” ao Cristianismo, demonstram, a meu ver, um certo respeito do maiorquino com relação aos islâmicos.

Outro ponto a ser salientado é que Costa possui alguma tendência à hipérbole, em determinados momentos. É o caso, por exemplo, quando ele afirma tacitamente que “ninguém” estuda música no Brasil [16]. Claro que Costa tem razão, a Música deveria ser mais utilizada pelos historiadores. Mas o que dizer daqueles que trabalham com compositores nacionais em diversos momentos históricos: a Tropicália, Carmem Miranda, a chamada música de protesto no período da Ditadura Militar, o compositor Villa Lobos, entre outras manifestações? Mas já achando que Costa poderia questionar essas formas musicais e esses momentos históricos, aponto aqui o já mencionado e destacado historiador Jean-Claude Schmitt em favor dos meus argumentos. No seu recente livro, Les Rythmes au Moyen Âge (2016), premiado no ano de 2017 como melhor obra historiográfica na França [17], Schmitt cita nos agradecimentos um brasileiro (!), Eduardo Aubert, o que pode ser depreendido pelos estudos sobre a música medieval que o auxiliaram a compor uma parte de sua premiada obra, fornecendo alguns subsídios ao capítulo “Ritmo, Música, Imagens”. [18] De forma que, concordo com Ricardo da Costa que os estudos da Música são pouco realizados no Brasil mas, ao contrário da sua concepção, alguns historiadores brasileiros se dedicam com sucesso a esta área, como apontado pelo renomado historiador francês.

Um último elemento que me levou à inquietação com relação às afirmações do autor do livro são no tocante à educação brasileira na contemporaneidade (sobre isso, especialmente o capítulo 4, da parte Literatura). Para Costa, os alunos são, via de regra, desinteressados e aprendem pouco. Ora, se nós somos professores e os nossos alunos não têm interesse, nem aprendem, será que a culpa não é nossa? É importante destacar que Ricardo da Costa atua neste momento na Graduação em Artes Plásticas e em Artes Visuais (e também na Pós-Graduação), como já atuou na área de Filosofia e História, todos esses cursos da área de Licenciatura. Portanto, isso torna ainda mais “crítico” o nosso papel enquanto docentes, na medida em que cada aluno nosso será também professor e formador de uma quantidade enorme de outros alunos, todos esses que deveriam pensar criticamente sobre o nosso contexto histórico.

Diferentemente de Costa, tenho uma visão mais positiva com relação à educação e mesmo da educação no Brasil e do papel do professor da universidade e das escolas. Uso para fundamentar meus argumentos, o próprio texto de Ricardo da Costa (cap. 4) no qual mostra que desde a Antiguidade, os docentes e filósofos se queixam do desinteresse dos alunos, da decadência moral da sociedade, entre outros incômodos.

Seguem aqui as palavras de Petrônio na obra Satyricon (século I), citadas por Costa no capítulo 4 do seu livro: “Mergulhados em vinhos e prostitutas, não ousamos sequer conhecer as artes apropriadas [….] ensinamos e aprendemos apenas vícios. […] Onde está o caminho esmeradíssimo da Sabedoria?” (p. 69) (grifos nossos). Sinal de que o mundo sofre de problemas morais, corrupção, entre outros, há muito tempo, e que esses males já chamavam a atenção dos educadores desde a Antiguidade. E nem por isso as pessoas deixaram de aprender.

Neste sentido, cito, por exemplo, Ramon Llull e toda a sua preocupação em transmitir valores positivos a Domingos, seu filho, em obra traduzida do catalão ao português por Ricardo da Costa, a Doutrina para Crianças. Neste escrito, Llull pretende através da educação ensinar seu rebento a seguir as virtudes e evitar os vícios, de forma a viver bem em sociedade e atingir a salvação na outra vida [19]. Assim como Ramon Llull ensinava Domingos, os professores nas escolas e nas universidades também têm a função de ensinar e/ou auxiliar os seus alunos a aprenderem ou “despertarem” para o conhecimento e para valores morais positivos: a ética, a bondade, a honestidade, entre outros.

A crise de valores é um problema mundial da atualidade que também atinge a educação. Neste sentido e particularmente na realidade brasileira, a competição com os recursos eletrônicos – Internet, celular e particularmente o whatsapp, bem como outras formas de manifestação da mídia, fazem com que as nossas aulas sejam vistas muitas vezes como maçantes pelos nossos alunos universitários (e a mesma coisa se dá no ensino básico), motivo pelo qual o docente precisa tentar criar e “inventar” estratégias que levem os alunos a se interessarem pelos estudos e pela História, pela Arte, pela Literatura, pela Filosofia, entre outros campos do conhecimento.

O papel que Ricardo da Costa possui com a sua homepage “História Medieval” e com a revista Mirabilia representam uma contribuição importantíssima para a educação e difusão da História Medieval no Brasil e em outros países. É por isso que podemos dizer que Costa por vezes é um pouco exagerado (lembro da canção do músico brasileiro Cazuza) e que, por vezes, suas ações como docente e pesquisador contradizem a visão pessimista que tem sobre a educação no Brasil.

De minha parte, sou uma otimista. Recentemente, uma jovem do Maranhão, Aldina Melo, filha de quebradeira de coco e que enfrentou inúmeras dificuldades para chegar ao ensino superior, mas acabou conseguindo, obteve prêmio de melhor dissertação (referente à turma de 2015) no Mestrado em História da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde leciono20, e foi também aprovada em primeiro lugar (2018) no ingresso ao Doutorado em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Sinal de que, para muitos brasileiros, se tiverem oportunidades, irão estudar e conquistar um lugar melhor no mundo.

*

Seja como for, o certo é que não há como ler o livro Impressões na Idade Média sem sentir um questionamento, uma inquietação, o que é positivo, já que a função da História e do historiador é colocar problemas, procurar responder aos questionamentos para compreender a sociedade do presente e buscar um mundo melhor para os nossos filhos, netos e para as futuras gerações.

Caso deixemos de lado pequenos detalhes quando consideramos que Costa exagera um pouco em algumas concepções, poderemos desfrutar de um livro saboroso, erudito, bem escrito e que contribui com os estudos medievais e sua relação com a contemporaneidade.

Notas

1. Graduada, Mestre e Doutora em História na Universidade Federal Fluminense (UFF). Docente de História do município do Rio de Janeiro, no período de 1988 a 2001. É professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) desde 2003, atuando, no momento, como docente efetiva na PósGraduação em História na mesma instituição e também na Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Estágio Pós-Doutoral na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) junto ao GAHOM (Groupe d’Anthropologie Historique de l’Occident Médieval) no período de 2013-2014. É uma das coordenadoras dos laboratórios de pesquisa Brathair – Grupo de Estudos Celtas e Germânicos e Mnemosyne – Laboratório de História Antiga e Medieval, e atua como editora-chefe da revista Brathair: http://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair e uma das diretoras da revista Mirabilia https://www.revistamirabilia.com/ .

Conheci Ricardo da Costa em 1996 junto ao laboratório Scriptorium, quando do meu ingresso no Mestrado em História, sob a supervisão de Vânia L. Fróes, com quem Costa também realizou o Mestrado, depois publicado em livro (1998). No Doutorado, realizou bolsa sanduíche na Alemanha (1999) e concluiu a tese sob a supervisão de Guilherme Pereira das Neves. Ricardo da Costa e eu produzimos até o momento três artigos acadêmicos juntos (em 2000, 2001 e 2008). Também criamos a revista Mirabilia em 2001, com Moisés Romanazzi Tôrres. O nome da revista, Mirabilia em latim ou “coisas maravilhosas” em português, foi escolhido por mim, em referência ao termo “maravilha”, muito recorrente na novela de cavalaria do século XIII A Demanda do Santo Graal, uma das fontes literárias de minha predileção. Costa e eu realizamos várias parcerias até o presente como, por exemplo, a edição 2018.1, v. 26, da revista Mirabilia, coordenada por nós dois, cuja temática é Sociedade e Cultura em Portugal, com artigos de docentes nacionais e internacionais.

2. Destaca-se o apoio da avó do autor, América da Silveira Sapha, para que ele realizasse este curso em paralelo à sua atividade de músico.

3. Trata-se da homepage “Idade Média”: http://www.ricardocosta.com /

4. A Mirabilia atualmente consiste em quatro revistas em uma: a Mirabilia, a Mirablia Medicinae, Mirabilia Ars e Mirabilia Trans. Todas as quatro se encontram disponíveis na mesma homepage: https://www.revistamirabilia.com /

5. Nas áreas de História Medieval, Filosofia Medieval e Literatura Medieval, na Universitat Internacional de Catalunya (UIC), Barcelona, 2003 e 2005 e Universitat d’Alacant, (UA), em 2017.

6. Programa de Doctorado “Transferencias Interculturales e Históricas en la Europa Medieval Mediterránea” da Facultade de Filosofia e Letras da Universitat d’Alacant (UA-Espanha).

7. Sobre o conceito de imagem para Schmitt, ver SCHMITT, Jean-Claude. O Corpo das Imagens. São Paulo: EDUSC, 2007.

8. Dentre os numerosos livros de Hilário Franco Jr., cito alguns: A Idade Média, Nascimento do Ocidente. 2ª Ed., São Paulo: Brasiliense, 2001; As Utopias Medievais. 1ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1992 (a ser relançado, em edição revista e ampliada em 2018); Cocanha, a História de um País Imaginário. São Paulo; Companhia das Letras, 1998.

9. Sobre os pressupostos desses historiadores, ver FEBVRE, L. Combates pela História. FEBVRE, Lucien. Combates pela História. Lisboa, Presença, 1989; BURKE, P. A História dos Annales. A Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Ed. UNESP, 1991; REIS, José Carlos. Nouvelle Histoire e o Tempo Histórico. A contribuição de Febvre, Bloch e Braudel. São Paulo: Annablume, 2008.

10. LE GOFF, Jacques. LE GOFF, Jacques. “As Mentalidades: Uma História Ambígua”. In: História: Novos Objetos. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976, p. 68-83.

11. Sobre o conceito de imagem para Le Goff, ver LE GOFF, J. O Imaginário Medieval. Lisboa: Estampa, 1994, p. 11-12.

12. BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. Lisboa: Presença, 1989; BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo à Época de Felipe II. Extraído do Prefácio. In: Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1992, p. 13-16.

13. LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008; LE GOFF, Jacques. A História pode ser dividida em pedaços? São Paulo: Ed. UNESP, 2015.

14. Lembremos que o tema do corpo também foi caro a Le Goff no seu livro Historia do Corpo na Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

15. O próprio Ricardo da Costa já defendeu essa concepção de diálogo inter-religioso no passado. Ver: COSTA, Ricardo; PARDO PASTOR, Jordi. Ramon Llull (1232-1316) e o diálogo inter-religioso. Cristãos, judeus e muçulmanos na cultura ibérica medieval. O Livro dos Gentio e dos três sábios e a Vikuah de Nahmânides. In: LEMOS, Maria Teresa Toribio Brittes e LAURIA, Ronaldo Martins (org.). A integração da diversidade racial e cultural do Novo Mundo. Rio de Janeiro, UERJ, 2004. Sobre o diálogo inter-religioso, cf, entre outros: FIDORA, Alexander. Raimundo Lúlio perante a crítica atual ao diálogo inter-religioso: A Arte luliana como proposta para uma “Filosofia das religiões” (2001). Publicação em espanhol em: Revista Española de Filosofia Medieval, 10, 2003, p. 227-243; MAYER, Annemarie C. Ramon Llull y el diálogo indispensable. Quaderns de la Mediterrània 14, 2010.

16. Segundo Costa (2017, p. 45, nt. 5): “Infelizmente, em nosso país, os historiadores ainda não ‘descobriram’ a Música como tema histórico”.

17. Uma síntese desta obra está na seguinte resenha: ZIERER, Adriana. Resenha de Les Rythmes au Moyen Âge, de Jean-Claude Schmitt. In: Mirabilia. Edição Sociedade e Cultura em Portugal. Org. por Adriana Zierer e Ricardo da Costa, v. 26, 2018, v. 1, p. 222-233.

18. Trata-se do estudo de Eduardo Aubert em co-autoria com Jean-Claude Bonne: BONNE, J.C; AUBERT, E.H. Quand voir fait chanter. Images et neumes dans le tonaire du ms. BnF, lat. 1118: entre performance et performativité. In: DIERKENS, A.; BARTHOLEYNS, G.; GOLSENNE, T. (Dir.). La Performance des Images. Bruxelles: Université Livre de Bruxelles, 2009, p. 225-240. (Obra citada por Schmitt, 2016, p. 117). Aubert consta nos agradecimentos do livro de Schmitt, 2016, p. 691.

19. COSTA, Ricardo. Reordenando o conhecimento: a Educação na Idade Média e o conceito de Ciência expresso na obra Doutrina para Crianças (c. 1274-1276) de Ramon Llull. In: COSTA, R. Ensaios de História Medieval. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2009, p. 154-175. Uma dissertação recente abordando esta obra de Llull e a sua importância na formação do ser humano ideal foi realizada por Natasha Mateus: MATEUS, N. Ensino de História Medieval: A obra Doutrina para Crianças, de Ramon Llull e a produção do paradidático “Ramon Llull e a Idade Média”. 246 f. Dissertação de Mestrado em História. São Luís: Universidade Estadual do Maranhão, 2018. Disponível em: http://www.ppghist.uema.br/wpcontent/uploads/2016/12/Natasha-Disserta%C3%A7%C3%A3o-com-as-assinaturas-da-Banca..pdf ; acesso em 05/07/2018.

20. A premiação ocorreu em abril de 2018. A dissertação se encontra disponível para consulta. MELO, Aldina. A África na Sala de Aula. A Reinvenção dos Zulus. 206 f. Dissertação de Mestrado em História. São Luís: Universidade Estadual do Maranhão, 2017. Disponível em: http://www.ppghist.uema.br/wpcontent/uploads/2016/12/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Final-Aldina-Melo-PARA-DEPOSITO-1.pdf ; acesso em 05/07/2018.

Referências

BLOCH, Marc. A Apologia da História ou o Ofício do Históriador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

BONNE, Jean-Claude; AUBERT, Eduardo H. Quand voir fait chanter. Images et neumes dans le tonaire du ms. BnF, lat. 1118: entre performance et performativité. In: DIERKENS, A.; BARTHOLEYNS, G.; GOLSENNE, T. (Dir.). La Performance des Images. Bruxelles: Université Livre de Bruxelles, 2009, p. 225- 240.

BURKE, P. A História dos Annales. A Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Ed. UNESP, 1991.

COSTA, Ricardo; PARDO PASTOR, Jordi. Ramon Llull (1232-1316) e o diálogo interreligioso. Cristãos, judeus e muçulmanos na cultura ibérica medieval. O Livro dos Gentio e dos três sábios e a Vikuah de Nahmânides. In: LEMOS, Maria Teresa Toribio Brittes; LAURIA, Ronaldo Martins (org.). A integração da diversidade racial e cultural do Novo Mundo. Rio de Janeiro, UERJ, 2004. COSTA, Ricardo. Reordenando o conhecimento: a Educação na Idade Média e o conceito de Ciência expresso na obra Doutrina para Crianças (c. 1274-1276) de Ramon Llull. In: COSTA, R. Ensaios de História Medieval. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2009, p. 154-175. FRANCO JR., Hilário. A Idade Média, Nascimento do Ocidente. 2ª Ed., São Paulo: Brasiliense, 2001.

FRANCO JR. As Utopias Medievais. 1ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1992 (a ser relançado, em edição revista e ampliada em 2018).

FRANCO JR., Hilário. Cocanha, a História de um País Imaginário. São Paulo; Companhia das Letras, 1998.

FEBVRE, Lucien. Combates pela História. Lisboa, Presença, 1989.

FIDORA, Alexander. Raimundo Lúlio perante a crítica atual ao diálogo inter-religioso: A Arte luliana como proposta para uma “Filosofia das religiões” (2001). Disponível em: http://www.ramonllull.net/sw_comvirt/index.php?option=com_content&view=artic le&id=164%3Araimundo-lulio-perante-a-critica-atual-ao-dialogo-interreligioso&catid=50%3Adialogo-inter-religioso&Itemid=79&lang=germany; acesso em 04/04/2018; Publicação em espanhol em: Revista Española de Filosofia Medieval, 10, 2003, p. 227-243. Idade Média. Homepage de Ricardo da Costa: http://www.ricardocosta.com /; acesso em 05/07/2018. MAYER, Annemarie C. Ramon Llull y el diálogo indispensable. Quaderns de la Mediterrània 14, 2010.

LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

LE GOFF, Jacques. A História pode ser dividida em pedaços? São Paulo: Ed. UNESP, 2015.

LE GOFF, Jacques. “As Mentalidades: Uma História Ambígua”. In: História: Novos Objetos. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976, p. 68-83.

LE GOFF, Jacques. O Imaginário Medieval. Lisboa: Estampa, 2004.

LE GOFF, Jacques. Uma História do Corpo na Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

MATEUS, Natasha N. Ensino de História Medieval: A obra Doutrina para Crianças, de Ramon Llull e a produção do paradidático “Ramon Llull e a Idade Média”. 246 f. Dissertação de Mestrado em História. São Luís: Universidade Estadual do Maranhão, 2018. Disponível em: http://www.ppghist.uema.br/wp-content/uploads/2016/12/NatashaDisserta%C3%A7%C3%A3o-com-as-assinaturas-da-Banca..pdf; acesso em 05/07/2018.

MELO, Aldina. A África na Sala de Aula. A Reinvenção dos Zulus. 206 f. Dissertação de Mestrado em História. São Luís: Universidade Estadual do Maranhão, 2017. Disponível em: http://www.ppghist.uema.br/wpcontent/uploads/2016/12/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Final-Aldina-Melo-PARADEPOSITO-1.pdf ; acesso em 05/07/2018.

REIS, José Carlos. Nouvelle Histoire e o Tempo Histórico. A contribuição de Febvre, Bloch e Braudel. São Paulo: Annablume, 2008.

SCHMITT, Jean-Claude. O Corpo das Imagens. São Paulo: EDUSC, 2008.

SCHMITT, Jean-Claude. Les Rythmes au Moyen Âge. Paris: Gallimard, 2016.

ZIERER, Adriana. Resenha de Les Rythmes au Moyen Âge, de Jean-Claude Schmitt. In: Mirabilia. Edição Sociedade e Cultura em Portugal. Org. por Adriana Zierer e Ricardo da Costa, Barcelona, (UAB), v. 26, 2018, jan-jun, p. 222-233. Disponível em: https://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/14.pdf ; acesso em 15/07/2018.

Adriana Zierer – Graduada, Mestre e Doutora em História na Universidade Federal Fluminense (UFF). Docente de História do município do Rio de Janeiro, no período de 1988 a 2001. Docente UEMA-PPGHIST/UFMA-PPGHIS. E-mail: [email protected]


COSTA, Ricardo da. Impressões da Idade Média. São Paulo: Livraria Resistência Cultural, 2017. Resenha de: ZIERER, Adriana. Brathair – Revista de Estudos Celtas e Germânicos. São Luís, v.18, n.1, p. 260 – 272, 2018. Acessar publicação original [DR]